[EVENTO] - Desventuras do Reino de Fogo

O menino mal havia chegado de Alola e já partia para uma nova experiência; eu diria um novo mundo. Se outrora ele desbravava nova fauna e flora, agora descobria nova forma de viver; atuando. Ou melhor, descobriria porque, até então, Joul não sabia nada sobre o assunto. Foi até o teatro e lá encontrou uma lindíssima moça de Kimono, cujo nome era desconhecido mas, em seu crachá, era intitulada como Kimono Girl. Auto-explicativo, eu diria; a moça parecia gostar de seu apelido, visto que no pouco tempo que o rapaz chegara ali, ela só era chamada desta forma. Apresentou-se para as recepcionistas e logo esta mulher que tanto falei foi ao seu encontro, já dizendo apressada:
- Então ande logo!! Precisamos de um soldado no palco agora, para a apresentação das três e meia - Disse, já puxando o garoto pela mão - Seu papel não é muito importante, mas como é uma peça no estilo teatro do oprimido, talvez o coringa improvise e te faça ser. Boa sorte!

Lá ia o treinador sendo arrastado para o palco, em poucos segundos já tinha que colocar sua fantasia e pular para o tablado sem nem saber o que era um Teatro do Oprimido. Bem, explicarei aqui em linhas curtas; esta é uma técnica criada por um exilado da ditadura brasileira, onde consiste em criar um ambiente comum, com temática inicial; há um personagem central, chamado Coringa, que congela a peça quando quiser e interage com a plateia; a partir disto, ele muda os personagens de lugar, tentando resolver uma problemática ou criar uma, e recomeça tudo de novo. A peça termina quando uma moral for passada; os personagens improvisarão da forma que acharem certa para desenvolver o clímax.

Talvez o protagonista desta rota precise saber mais que isto para desenvolvê-la, ou não. Descobriremos nas linhas seguintes; não é como se o personagem soubesse de algo útil para atuar em artes cênicas. Suas únicas informações era que o tema da peça era invasão ao reino inseto e ele era apenas um soldado.

OFF: Oi, vamos dar uma revolucionada nesse evento aqui que to cansada de clichê. Vou usar meu certificado de oficina de teatro do oprimido pra alguma coisa.

Estava no palco, junto de seu grupo de soldados-idênticos. Todos com a mesma fantasia; eram três! Joul, Manny e Hector. Todos usavam os nomes reais naquela trama, isto porque era muito mais fácil improvisar sabendo o nome do parceiro. Não que Joul soubesse o nome de alguém ali, de fato ninguém havia sido apresentado, muito menos ele para os outros, provavelmente ganharia um nome substituto caso fosse chamado, sendo assim, era melhor que ficasse alerta.

A cena inicial era corriqueira; o contexto era uma pós-invasão, cujo reino de fogo já havia dominado o reino inimigo e, agora, conversavam sobre o que fazer; o coringa andava pelo palco entediado, atravessando personagens sem nada falar e uma conversa ocorria de forma improvisada e espontânea; iniciada pelo Rei de Fogo com o General; ambos muito bem vestidos para um teatro simples como aquele:
- Você conhece este território? Os cidadãos inimigos não irão querer se submeter a nosso império se nada os oferecer - Explicou a majestade - Podemos tratar com violência ou diplomacia. Não tenho certeza de qual é melhor.
- Senhor, não acho que devamos destruir mais nossa nova terra; atear fogo nas lavouras só a deixarão inférteis - Instruiu o General - Além do que, a guerra já está ganha; faça um pronunciamento.
- Não estou tão certo de que posso confiar nisso - Replicou o rei.

Tal diálogo poderia ir para frente? Poderia, mas não o fez; agora o primeiro soldado de fila, Manny, corria palco a frente. Hector o seguia; os dois trotavam em direção ao rei, fingindo portar cavalos e, ao chegarem mais perto, o primeiro cochichou algo inaudível no ouvido do rei; sabe-se lá se era de fato palavras. Segundos depois Manny gritou:
- É mesmo, eu vi com meus próprios olhos! - Afastou-se por alguns segundos e pôs a mãos na cabeça.
Em cena, estava o General, já citado, a Majestade, igualmente falada, os três soldados coadjuvantes, o coringa andarilho, o diplomata, o conselheiro do rei e os dois príncipes, que portavam espadas; um era tão velho quanto Joul e o outro parecia ter 6 ou 7 anos a menos; uma criança que brincava de guerrear.

OFF: Perdão pela demora, final de semana dei um pulo por sua terra!!!!

- Manter um império nunca é fácil, mas não cheguei aqui por pura sorte -
Bradou a majestade - Se querem tomar de mim o que conquistei, perderão mais -
Finalizou.

E com esta frase o Coringa vê a deixa para congelar toda e qualquer atuação.
O responsável pela manipulação do grupo então, em um pulo, vai ao centro do palco e cutuca o soldado cochichador, logo depois sinalizando com o dedo para que venha para mais perto. Manny o seguia, um pouco trêmulo, parecia tão pouco experiente naquele tipo de atuação que não sabia ao certo se estava fazendo direito. O Joker não se importou; passou na frente do convidado e olhou para a plateia com a visão semi-cerrada, indagando-os:
- Mas quem diabos é este soldado mesmo? Quem botará a mão no fogo apostando na veracidade de suas palavras inaudíveis? - Questionou - Mais fácil que enganar a plateia, é enganar os próprios atores. Vocês nem sequer sabem o que ele disse, não há o que contradizer, já no palco não estou tão certo disso.

Manny olhava ao redor meio perdido, não achava que devia falar algo, então não o fez, ao invés disso, manteve o silêncio até que o coringa estalasse os dedos mais uma vez e o rei bradasse em alto e bom som:
- Vá verificar isto para mim, Joseph - Disse ao filho mais velho.

Agora, se Joul olhasse melhor, o Joker havia pego o capacete de Manny e colocado sob sua própria cabeça, estava logo atrás da fila de soldados, fingindo ser um quarto, camuflado e, aproveitando o silêncio mórbido da cena, quebrado apenas pelo trotar de Joseph, olhou para o treinador de Cinnabar e indagou mais uma vez, porém agora para uma só pessoa:
- O que ele disse?

Ouvir a resposta de Joul fizeram o coringa revirar-se por dentro, mas não só por dentro; os olhos e a boca também. Deixara claro seu descontentamento com aquela afirmação e ainda respondera a altura de alguém descontente:
- Você é um ator ou um filósofo? - Criticou - Quem cria a dúvida aqui sou eu, você a história. Quer trocar de lugar? - Disse de forma ríspida; para a plateia aquilo fazia parte da trama; até riram, mas para quem estava no palco, ficara bem claro que não era disso que se tratava. Ainda assim, o homem continuou - Já que não sabes faremos de duas formas. Primeiro cogitaremos que seja verdade, independente do que foi dito - Consertou a gafe de Joul, batendo palmas e indicando o iniciar de uma nova história.

O bater de palmas ecoou na sala extensa, ao fim do eco, Joseph voltou, em conjunto de uma música heroica, com um segundo capacete em mãos, de cor verde musgo:
- Nossa mães está em apuros - Gritou o rapaz - Não tenho mais esferas para lutar; enquanto invadíamos o reino, o Warlord daqui planejara um cerco pelo nosso castelo e tudo foi tomado; batalhei com quem pude mas nada consegui além de salvar minha própria vida. Não temos para onde voltar e este reino está repleto de infiéis à tua palavra.
Fora com esta informação que o filho mais novo empunhara a pequenina espada e apontou-a para frente; junto dela havia uma esfera vermelha que, sem dúvida alguma, detinha um pokemon, mas não importara qual. O pequenino então secou uma lágrima imaginária do canto do rosto e disse:
- Está falsa invasão foi um truque para nos distrair; precisamos retomar nossas terras, caso contrário, o império de vossa majestade ruirá. Reino algum dobrará para o dominador que perde sua própria terra.

E então o Joker estala os dedos e a cena pausa. O personagem chave então pega o capacete, que tirou de Manny cenas atrás, joga para trás da cortina e encara Joul olho no olho, um pouco rancoroso do acontecimento anterior; morde o próprio lábio de forma descontente, aproxima-se demais e, quando está bastante perto do ouvido do treinador, gesticula com a mão uma explosão e diz bem baixo:
- Resolva isto - Ordenou, apenas para o ator temporário ouvir, se afastando logo depois e direcionando a voz para plateia - Resolva isto! - Gritou e estalou os dedos, anunciando a continuação da cena e dando a deixa para Joul dar prosseguimento.

E com as palavras de Joul as luzes se apagaram; única coisa ouvida era a risada do coringa, que a usava para chamar atenção a si, e não aos barulhos de troca de cenário. O plano de fundo, que antes era verde musgo, agora era uma saleta vermelha, representando o reino de fogo. Os personagens não eram o mesmo, Joul estava no centro da cena enquanto um soldado inimigo o encarava e outro vigiava a rainha, amordaçada e amarrada, no canto do palco:
- És tu que vai nos enfrentar? - Proclamou o soldado a sua frente - Então vamos ver do que tu é capaz!

Dito isso, de uma forma pouquíssimo teatral, jogou uma esfera ao ar. Seu cabelo ia contra o vento artificial e seu sotaque de Sinnoh era fortíssimo; falava cantando,
puxado, como se tivesse sempre proclamando poemas, por mais fúteis que fosse as falas. Andava de jeito rebuscado e tosco, era tão excêntrico que Joul não saberia dizer se todo aquele maneirismo se tratava do personagem ou do próprio ator. Porque não os dois? Bem, enquanto o recém-protagonista tomava o tempo para analisar suas oportunidades, o pokemon inseto do inimigo se materializava em cena e, ao que tudo indicava, uma batalha estava prestes a começar.