03 - Um ralts dança melhor que um volbeat

Erica não sabia se podia só entrar pela porta da frente, se a rádio era um espaço somente profissional ou o público externo poderia participar das atividades que lá ocorriam. Algumas pessoas vestidas casualmente, em especial os treinadores com seus pokémons, davam a deixa de que aquele espaço era aberto a todos. Mesmo assim, Erica resolveu se sentar nas cadeiras de espera e ser chamada para o atendimento.

O clima lá era agitado, mas era mais calmo que a rua e Erica sentia que poderia descansar um pouco. Reconhecia algumas das pessoas que lá transitavam por ter assistido alguns programas de cuidados pokémon e outros sobre culinária. Era muito estranho estar tão perto das celebridades e sub famosos. Erica ficava imaginando que tipo de conversa teria com elas e o que será que elas diriam. Se seriam educadas ou se sequer teriam tempo para falar com ela. Ao mesmo tempo, talvez ela mesma não teria nada de interessante que quisesse conversar.

Ao perceber que ninguém a chamaria caso ela não fosse ela mesma procurar ajuda, resolveu se levantar e ir até o balcão de atendimento.

- Oi. É... licença - pigarreou - Eu queria saber se tem como eu conversar com... Alyssa. Acho que ela trabalha aqui na rádio. É uma jornalista investigativa. Sabe se ela tá por aqui ou algo assim?

Off:

Erica encarou a recepcionista com a boca meio aberta em espanto, mas não deixou de pegar o cartão que lhe fora oferecido. Tinha medo que de dizer qualquer outra coisa e ser enxotada para fora do prédio. Passou com pressa por todas as catracas e portas e sabia com certeza que não tinha ideia de qual seria o caminho de volta para a entrada. Um problema que se preocuparia depois. Estava intrigada, queria saber o que conseguiria descobrir estando lá.

Chegou na porta de Alyssa e se questionou se deveria bater ou se deveria ficar a vista até que a jornalista a visse, mas ninguém naquele prédio parecia estar acostumado a conversar com pessoas a não ser que realmente precisasse. Esperava ser tratada um pouco melhor do que na recepção e que não ter uma hora marcada não lhe impedisse de nada.

Erica se assustou com Alyssa falando com ela e de novo quando colocou o crachá em sua blusa - Eu... que? - Assessora do que ela seria? Ajudante de detetive? Por mais que esse fosse o cenário de seus romances da adolescência, parecia falso agora que acontecia de verdade. E ainda havia a questão de receber por seja lá o que ela tivesse que fazer. Erica não entendia o porquê, mas ela se sentia meio culpada por estar ganhando esse dinheiro. Se é que ganharia.

Ao mesmo tempo, Erica ainda estava engatilhada em ser jogada de um lado para o outro, cada vez mais distante de sua busca. Mas se, nesse momento, isso significava ir investigar um suposto pokémon lendário, quem sabe algo de interessante poderia acontecer. Já passara por um ninetales fantasma que quase a matou na noite anterior. Esperava pelo menos que Alyssa pudesse garantir sua segurança.

- Então... vamos. Meu nome é Erica, alias. - gritou para Alyssa enquanto a seguia - Muito prazer!

Erica não tinha ideia do que queria dizer na prática encontrar um pokémon lendário. Conhecia algumas das histórias de criação do mundo, e os folclores de criaturas fantásticas que a cada rugido faziam vulcões entrar em erupção. Mas não acreditava por inteiro que fossem verdade. É certo que pokémons colossais e mais fortes do que podia imaginar existiam. Mas mais que isso beirava a mágica e Erica não estava tão disposta a dar esse passo. Para além disso, o que significava que um lendário fora avistado? Algum pokémon causando destruição pela cidade? Ou então uma multidão interessada em tentar capturar ela mesma, lutando contra pesquisadores que querem trancafiar o pokémon num laboratório?

Alyssa se vestira como uma espiã e, por mais elegante que estivesse, fazia um calor absurdo na rua e Erica mesma estava com suas roupas padrão de treinadora. Então se ela queria discrição, era provável que conseguisse o oposto. Ainda assim, não seria Erica que diria isso para Alyssa, que preferia que ficassem em silêncio.

Estava movida por curiosidade mais do que por qualquer outra coisa. Aquela parte da cidade era bem menos movimentada e barulhenta e Erica estava muito grata por isso. A essa altura, qualquer intenção de encontrar seus irmãos fora adiada. Tentaria ir para alguma outra cidade, mas estava bastante desesperançosa. Quem sabe a medida que se tornasse uma treinadora mais experiente, poderia conhecer algum outro treinador que pudesse lhe dar respostas. Quem sabe até ir a uma academia ranger ela mesma.

Não sabia o que de suspeito havia naquela peça retorcida, então preferiu pronunciar um zumbido genérico de questionamento do que se comprometer. Ainda não entendia exatamente o que estava fazendo lá, mas anotou no bloco as características do bloco de ferro. Olhou em volta tentando encontrar qualquer coisa que de fato estivesse fora do normal.

Off:

Erica não tinha certeza se era algo importante ou não, mas uma trilha de metal derretido não é algo tão comum quanto um bloco de metal. Não na rua, pelo menos. Imaginava se seria um pokémon metálico, talvez, mas não conseguia se lembrar de nenhum que tivesse um corpo fluido. Sabia do ditto, mas ele era do tipo normal. Tentava levantar outras hipóteses do que poderia deixar um rastro desses.

Foi quando ouviu o barulho na grama e tinha quase certeza de que se tratava de um pokémon. Não sabia se seria o tal do pokémon lendário, mas por via das dúvidas pegou a pokébola de Ezra. Se fosse de fato um pokémon metálico, gostaria de no mínimo ter alguma vantagem. Mas a verdade é que estava um pouco assustada. E se os mitos fossem verdade? E se ela fosse transformada em estátua só com o olhar do pokémon? Sabia que era bobagem, mas havia uma superstição de fundo que não podia só deixar de lado.

- Ei, ahn, Alyssa... Olha aqui. - Sussurrava, apontando para o gramado.