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O ambiente continuava a ser preenchido pela fumaça cada vez mais, e nada podia ser visto pelas pessoas dentro daquele estábulo. Aiko começava a sentir um desespero que parecia consumi-la cada vez mais. Nenhum dos dois Pokémon farejadores conseguiam sentir nada devido ao cheiro intragável da fumaça e a Vaporeon muito menos conseguia enxergar algo, até mesmo pulando absurdos metros.

Aiko estranhou uma pequena partícula daquele ambiente parecer incandescente, mas a garota mal sabia que se tratava de um ataque; para a sua sorte, Vaporeon velozmente saltou a sua frente, utilizando um de seus movimentos para extinguir a chama.

A despedida debochada do homem e um grito de Luke amedrontou os ouvidos da heroína - seria ela realmente uma heroína? - e talvez iria continuar por toda a eternidade. Aiko não conseguia ter noção de nada o que acontecia, e aquilo a fazia se sentir prepotente. Mal percebeu a ação da salamandra, inteligentemente abrindo as portas do estábulo. A fumaça se dissipou e junto dela, as forças de Aiko que caía de joelhos tampando a sua boca, com os olhos arregalados; a sua frente, Luke ainda encontrava-se amarrado, mas o problema jamais seria aquele. Em seu peito, uma traiçoeira adaga mantinha-se inerte, assim como o corpo do garoto em uma poça de seu próprio sangue. Assistir a cena de Julie chorando ajoelhada em frente a seu filho fez com que uma ira preenchesse todas as veias da garota.

Lágrimas rolavam pelas maças de seu rosto, mas não eram de tristeza; representavam o mais simples e puro ódio e toda a raiva que alguém poderia sentir em relação a outra pessoa.
— DESGRAÇADO! — Desvencilhou-se de algo que a envolvia, mal percebendo que era a sua companheira de milianos. Com um impulso, já estava de pé e apenas conseguia sentir o vento bater contra o seu rosto enquanto corria para fora do estábulo, gritando em plenos pulmões. Seu único objetivo era achar o maldito homem. Não fazia ideia do que estava fazendo, mas seguia apenas uma coisa: o seu instinto.

Flashes de Luke recorriam a sua mente enquanto estava no campo aberto, procurando por qualquer traço ou rastro deixado pelo maldito homem. O susto em que dera na garota, o episódio do arranhão que levara na face da Pokémon de fogo, a sua incrível capacidade de irritar qualquer um. Mal o conhecia, mas a sua dor era real. Ainda mais por conhecer sua mãe, uma mulher incrível.

— Apareça! Eu vou acabar com a sua vida! — Talvez ouvir isso da garota faria o bandido gargalhar - assim como Luke, pensou - dela. O que uma mulher faria contra um homem de seu porte? É biológico; não teria qualquer chance. Mas a raiva fazia a garota perder a noção das palavras e de sua capacidade.

Mesmo que os gritos em plenos pulmões da garota fossem fora do comum, de nada adiantaria; o homem já nem sequer devia ouvir a garota mais. Caiu de joelhos no chão, sentindo-o ainda molhado devido a chuva. Sentou-se largada em cima de seus dois calcanhares, agarrando um punhado de grama do chão. As unhas cravadas na mão já não provocavam dor mais na menina anestesiada pela raiva e pela culpa. A garota tentava não chorar de forma que a fizesse parecer fraca, pelo contrário; tentava ao máximo engolir o choro.

Os dois corpos que aproximaram-se da garota pelas costas mal foram percebidos por ela, mas pode sentir que tratava-se de Mandy pelos tapas de conforto em suas costas. Aiko virou-se, agarrando a mesma em um abraço apertado, como se tentasse aliviar o seu peso. Olhou para o pequeno Porygon, abraçando-o também - não da mesma forma e intensidade que abraçou a sua companheira - sentindo-se mal por ele; viver com tanto sofrimento com um treinador desonesto e mal como aquele homem não era de merecimento de nenhum monstrinho de bolso.

Aiko levantou a cabeça, assustada, ao ouvir o grito de Julie, informando a situação de Luke. Da mesma forma que as forças da garota se esvaíram, em uma única recarga essas voltaram de uma vez. Em um salto, a garota já estava em pé, enxugando as lágrimas e em um outro salto já estava ao lado da mãe do garoto, ajoelhada ao seu lado.

A garota se sentia em uma batedeira de emoções; confusão, felicidade pela vida do garoto, tristeza pelo seu estado, raiva do homem - e agora, ao ver que o rapaz estava vivo, sentia também uma ponta de raiva pela sua burrice - que ocasionara aquilo tudo. Ao horizonte, lanternas iluminavam os céus e algumas eram apontadas em direção ao estábulo onde estavam. Possivelmente era a suposta ajuda, que já era pra ter chegado milianos atrás.

Com os comentários de Julie, Aiko foi obrigada a olhar para o Pokémon normal. De fato, havia gostado dele. Seria um sentimento recíproco? Aiko sorriu para ele, esquecendo por um momento de Luke.
— Ei, você quer entrar pro time? — Retirou uma esfera bicolor do bolso, deixando-a no chão. — Se quiser, é só entrar. Se não quiser eu entendo, juro. Só quero o melhor para você. — Assim que a garota terminou de falar, observou a captura do Pokémon elétrico, aumentando o time de Julie.  A garota atendeu o pedido da mulher, levantando-se e pegando a sua Premium Ball.

— Aqui, Julie. — Estendeu a mão, dando-a o seu objeto. Olhava fixamente para Luke, fitando cada um de seus detalhes com uma certa preocupação. A própria mãe do rapaz a tirou de seus pensamentos, oferecendo a menina um presente, que por sua vez, não ousou recusar.
— Obrigado Julie, de verdade. — Levou a mão ao bolso, retirando o PokéNav do primeiro capanga que as duas enfrentaram na noite. — O que faremos com isso? Será que a gente pode usá-lo pra encontrar aquele desgraçado? — A garota parecia determinada a acabar com aquele homem.

Julie tomou o aparelho da mão da garota, justificando que o entregaria como evidência. Aiko apenas aceitou, ainda mais vendo Luke ainda com vida. Talvez, buscar uma vingança não seria a melhor escolha.

Observou calmamente a "conversa" entre os dois Pokémon; Mandy e Porygon. A garota admitia que estava um pouco ansiosa. Mandy sempre foi e sempre será a sua primeira, mas a garota não havia capturado ela e sim presenteada. Ela conseguia viver com isso - na verdade, nem se importava - mas ainda queria sentir a "vitória" de ter o seu primeiro Pokémon capturado por ela mesma.

Um sorriso se formou em seu rosto quando a garota assistiu o Pokémon normal ser sugado para dentro da Pokébola, confirmando a captura com um clique. A garota se aproximou, pegando a Pokébola e guardando-a no bolso, observando um pouco assustada com toda a multidão de curiosos e policiais entrando no recinto, alguns indo diretamente até Luke para ajudá-lo.

Julie e Aiko acabaram sendo brevemente abordadas por uma policial mulher negra, e antes mesmo que Aiko pudesse responder, Julie tomou a frente, mentindo para a oficial que a garota havia chegado a pouco tempo e de nada sabia. A treinadora ficou sem entender bulhufas, mas conseguiu ler nos olhos da mãe de Luke o que ela queria passar.

A mulher negra passou os olhos rapidamente pelas duas interrogadas, liberando Aiko para sair da área. A garota, mesmo contra sua vontade, estava a sair de prontidão quando foi surpreendida por um abraço de Julie. Aiko ainda se sentia muito mal e nervosa pelo caso de Luke, mas ao sentir aqueles braços a envolvendo, sentir o doce aroma perfumado de Julie, conseguiu relaxar brevemente, envolvendo-a também em um caloroso abraço. A mulher agradeceu-a falando em sussurros em seu ouvido. A garota tentou dizer algo, mas parecia ter desaprendido a falar. Apenas assentiu com a cabeça enquanto via a socialização de Mandy com o Vaporeon de Julie.

— Calma, já estamos indo. — Disse a garota enquanto revirava os olhos para o policial que a enxotava as pressas do estábulo. Agora, não seria apenas ela e a sua Mandy. Com a nova adesão no time, a garota acreditou que teria mais força. Caminhou em direção a floresta, com o único objetivo de pegar a encomenda de Lily no correio.
— A ENCOMENDA! — Gritou a garota, surpresa; já tinha passado do horário de fechamento dos Correios. O que faria ela não sabia, mas continuou o seu rumo, nem que fosse necessário se desculpar com a velha senhora.