Jack of Spades!

Ato final!

A reunião continuava e Chesire, Tomoe e seus lutadores continuavam ao lado de Jack. Rocky prestava atenção em toda a explicação de Ryota, enquanto Hawk parecia mais preocupado com as reações de seu treinador. O felino ouvia o que Will pedia a ele e rapidamente desaparecia em meio ao ar.

— Estamos bem... Digo, ainda não somos o que éramos quando crianças, mas parece que ele entendeu que não foi minha culpa. — Tomoe abaixou a cabeça — Apesar de eu ainda me culpar por tudo que aconteceu. É difícil, mas espero que um dia eu tire esse sentimento ruim de dentro de mim, sabe?

A loira terminava sua frase com um leve susto ao ver Chesire reaparecer novamente, dessa vez no ombro de Jack. Em suas mãos uma corda de poucos metros estava enrolada e o felino tentava escondê-la atrás de suas costas:

— Tem certeza disso, Capitão? — seu tom de voz parecia preocupado — E se ela escapar? E se algo acontecer? — bufou — Tenho medo do que possa acontecer... — de uma risada — Tenho medo de poucas coisas nesse mundo... E aquela megera é uma delas.

A conversa era interrompida por um último grito de guerra, declarando o fim das estratégias e a saída para a guerra.

Faltavam poucos minutos.

Após caminharem por algum tempo, finalmente chegavam próximos ao castelo de Copas. Ryota sinalizava para que Jack, Tomoe e Chesire entrassem na floresta e fossem pelo flanco, como planejado. Poucos segundos depois, os majestosos portões do Reino dominante se abriam e com eles diversos de seus servos zumbis saíam em disparada. O jovem líder da resistência e os demais corriam para onde vieram, atraindo os servos para que a entrada ficasse livre para nossos heróis. E assim aconteceu.

O portão começava a fechar aos poucos e os servos sanguinários já estavam bem ao longe. Assim que passassem pelo portão, estariam em frente a um belíssimo jardim de rosas vermelhas, com imensas árvores e arbustos bem cuidados, completamente diferente do restante do País das Maravilhas. Seu enorme castelo de pedras negras era  bem cuidado e repleto de corações rubros, possuindo uma enorme entrada fechada e gradeada e uma pequena por trás, provavelmente pertencente aos servos não-zumbis. Aliás, não havia sinal de ninguém: nem um morador, nem um servo, nada. O silêncio tomava conta.

— Melhor não chegarmos batendo na porta, certo? Não sabemos o que nos espera lá dentro. — Tomoe sussurrava — Que tal aquela pequena porta? Tentamos não faz-

A fala da loira era interrompida por Hawk, que a pegou no colo e saltou para trás, assim como Rocky fez com Will e Chesire. Um esfera negra voava em uma velocidade tão grande que nossos heróis somente conseguiram ouvir o estrondo que houve no solo que antes estavam. De fato, os lutadores de Will eram muito bem treinados.

Ao longe, uma figura já conhecida batia diversas palmas: Chapeleiro Maluco estava lá, afinal, por que não estaria? O louco gargalhava e ao seu lado estava seu temível Cofagrigus, o que fez com que Hawk cerrasse os dentes e os punhos de ódio, buscando vingança.

— Olha quem apareceu! — continuou rindo — Estava esperando por vocês! — abriu os braços — QUE A DIVERSÃO COMECE!

Mas logo o lutador era surpreendido por Tomoe, que colocava a mão em seu ombro e sorria:

— Sei que quer sua vingança, mas eu que preciso dela. — sacou sua esfera já conhecida — Deixe que vingo a você também. — abriu um sorriso determinado — Jack, siga por aquela porta... Nós seguramos ele. — sua expressão deixava de ser amigável e se tornava odiosa, sombria — Xerneas, surja!

Assim, a loira jogava sua esfera para o alto, liberando mais uma vez o magnífico e lendário Pokémon fada. A brecha para o Capitão seguir com Chesire estava ali... O que restava era torcer para que Tomoe o derrotasse, caso contrário, nosso herói poderia ser pego desprevenido dentro do assombroso castelo.

— Vão logo! — sorriu para Jack, correndo até o rapaz e lhe roubando um demorado beijo — Eu diria boa sorte, mas você não precisa dela... — piscou e reverenciou o carateca como nas forças armadas — Boa caçada, Capitão!

Parte da batalha final pelo País das Maravilhas se iniciava ali.

Mas a guerra estava só começando.

Ato final!

Deixando Tomoe e Xerneas para trás na batalha contra Chapeleiro, nossos heróis seguiam em meio a estrondo de Moonblast e Shadow Ball para a pequena porta que levava ao castelo. Adentrando-a, chegavam a uma cozinha que dava ao belo e luxuoso hall do Império de Copas: um tapete de veludo vermelho ocupava todo o piso, suas janelas eram douradas, com vidros em forma de coração. No teto, bandeiras com a foto da Rainha de costas estampavam cada metro quadrado possível, sem contar todos a mobília banhada em ouro. A iluminação não era das melhores, afinal, o sol ainda estava nascendo e nenhuma das luzes estava ligada; o que tornava possível uma leve visualização do ambiente eram os tímidos raios da estrela central do universo que aos poucos mostrava a sua cara.

— Capitão Jack... — uma voz feminina ecoava do alto da escada principal do local — Nos encontramos novamente. — passos de salto alto agora sobressaíam a voz enquanto desciam a escada de piso frio — Apesar de que não lembra de nada, não é?

Finalmente os raios solares iluminavam a belíssima mulher, dona de todo o Reino de Copas: caucasiana, com um longo cabelo azulado e vestes vermelhas, a jovem erguia o queixo e sorria enquanto sacava de suas costas uma Pokéball.

— Se desistir, deixo que vá embora de volta para seu mundo.  — com a outra mão buscou uma chave e girou-a em meio ao ar, dando lugar a um enorme portal azulado que surgiu do seu lado direito — Sem luta, sem problemas. Siga sua vida. — jogou a esfera bicolor para o alto — Se não, terá que me enfrentar e eu destruo a chave, destruindo suas chances de voltar para casa para sempre.

A Pokéball se abria no ar e com um feixe prateado formou uma bela Pokémon psíquica, Gardevoir. Esta, porém, com uma coloração diferente das comuns: seu vestido e partes ornamentais da cabeça eram azuladas. Em seu pescoço um cordão, com um pingente que reluzia até mesmo a fraca luz disponível no local.


— O que deseja, Will Allstar? — jogou seus longos cabelos para trás — Ficará para lutar uma luta que não lhe pertence e desistirá de sua própria vida lá fora ou finalmente, pela primeira vez em sua vida, colocará seu bem estar em primeiro lugar? — A Rainha ajeitou a pulseira com um pingente semelhante à da psíquica que estava em seu pulso — Pense bem. Nunca mais verá sua família. Drako. Todos seus outros Pokémon. — bufou — É uma oportunidade única, afinal, sei que você possui meios para me derrotar...

Mas e depois?

Ato final!

A Rainha não parecia feliz com a escolha de Will, fechando a cara logo após as frases do rapaz. Com a mesma mão que abrira o portal, o fechou, guardando a chave entre seus seios, tornando a tarefa que o carateca deu a Chesire um pouco mais difícil. Após guardar o valioso item, sacou outra esfera metálica, liberando outro Pokémon, mas esse não parecia destinado ao nosso herói.

— Se é assim que quer, assim será. — apontou para a frente — Acaba de destruir sua única chance de voltar para casa! — o Pokémon da outra esfera se materializava, mostrando ser uma Mawile. — Ma, se o gato tentar se intrometer, dê um jeito nele! — abriu um sorriso — No mais, vamos a batalha! Gardevoir, Moonblast!

Colocando seu pé direito sobre seu joelho esquerdo, a Rainha fechou seus olhos e juntou as mãos em sua frente, agindo quase como uma meditação às pressas. Rapidamente o pingente em seu pulso começava a brilhar como o sol, bem como o que estava no cordão de Gardevoir, reluzindo ao ponto de envolver a psíquica em uma energia púrpura, que cresceu até explodir e dar lugar à sua versão mega-evoluída.

Chesire saía em disparada para fora do castelo e Mawile ia atrás. Talvez o felino tivesse alguma estratégia... Ou não.

Já preparado, Will começava a batalha com tudo: com uma dança, ativava o Z-Move de Rocky, partindo para cima da adversária com tudo que conseguia. O corpo do lutador se envolvia em puro fogo e com um único soco no chão, o solo começava a se abrir até formar uma enorme esfera de fogo, que iluminava todo o hall e até mesmo colocava fogo nas bandeiras no teto. Mega-Gardevoir era arremessada nas escadas, levantando com muitíssima dificuldade.

A psíquica cerrava os olhos com raiva e criava uma enorme esfera cor-de-rosa, quase tão bonita quanto a antes vista por Xerneas, acertando Rocky com toda sua potência. Assim que se desvencilhava do ataque super-efetivo, o lutador partia para cima da fada, acertando-a mais uma vez com o punho, dessa vez elétrico.

— Will, tem certeza da escolha que fez? — respirou fundo — Lhe dou mais uma chance. — cerrou os punhos — Caso contrário, Gardevoir, siga com mais dois Moonblast!

Ato final!

A imperialista de Copas fechava ainda mais sua expressão. Gardevoir parecia exausta, ofegante e por muito pouco se mantendo em pé, mas ainda assim possuía um sorriso confiante em seu rosto, talvez tentando passar uma mensagem de resiliência para sua treinadora. Em um ato desesperado, a Rainha retirou a chave dos seios, abriu a boca e engoliu o artefato místico.

— O que quer que aconteça comigo... — fechou os olhos — Será somente o que o destino possui reservado para mim. — abriu os olhos, fitando Will — Mas e você? Abdicou de sua vida lá fora para salvar pessoas que sequer conhece. — balançou a cabeça negativamente — Nunca mais verá sua família e seus outros Pokémon... Valeu a pena, Will?

A batalha continuava e antes mesmo que Gardevoir pudesse atacar Rocky, o carateca o substituía por Katana. Assim que saía da esfera metálica, a lutadora já era surpreendida por um poderoso Moonblast, que a atingia em cheio. A psíquica já seguia para o segundo ataque repetido, mas rapidamente Lucario formava sua barreira protetora, impedindo de ser alvejada novamente.

Ato final!

— Gardevoir, utilize seu Moonblast! Acabe com essa lutadora com força total!

A Rainha cerrava os punhos de raiva e sua psíquica seguia seus comandos: apesar de acertar Lucario em cheio, com somente um único pisão no chão, a lutadora utilizava das frechas já abertas no solo por Inferno Overdrive e terminava de aniquilar a adversária. Mais uma vitória para Katana.

Hawk corria junto com Will, mas obviamente o ultrapassava. Com um enorme salto reto à distância, o Pokémon estava quase se aproximando da Rainha, até ser surpreendido: a tirana retirou a verdadeira chave de dentro do busto, abrindo o portal bem ao seu lado. Graças a sua enorme aceleração, o lutador não conseguia parar, mas aproveitou para tentar imobilizá-la: Hawk conseguia segurar os braços da mulher e derrubá-la no chão, mas não contava que com os pés livres, a Rainha de Copas o chutaria para dentro do portal.

— E agora, Will? Não sou a dona do País das Maravilhas por coincidência! — a tirana gargalhava — E só estamos começando... Olhe para trás, meu rapaz.

Rapidamente a enorme porta do castelo se abria. Graças aos raios solares, somente uma silhueta era vista: a de Tomoe. Mas não a que o carateca deixara lá fora. A aura negra estava de volta sobre todo o corpo da jovem, que parava como um zumbi. Atrás dela, diversos dos servos sanguinários zumbis de Copas. Mais para trás, era possível ver somente a silhueta de Xerneas, com mais dezenas de servos consumindo a carne pura do Pokémon. Chapeleiro surgia carregando o caixão de Cofagrigus e ao seu lado, Mawile, com a boca acima de sua cabeça repleta de sangue. A surpresa vinha da última pessoa na linha: Ryota, com um sorriso estampado no rosto.

Não demorou muito e Chesire surgia ao lado de Will com lágrimas nos olhos e completamente ensanguentado. Suas duas patas traseiras completamente dilaceradas e com a vida já se esvaindo de si.

— E-era uma em-emboscada, Capitão. — o felino agora miava de dor entre as palavras — E-eles que-queriam que nos separássemos. — deitou no chão, com as lágrimas escorrendo por seus olhos púrpuros — Te-tentei meu máximo. Me perdoa. — Chesire engoliu seco e sua voz falhou por uma última vez — Ao. Reino. De. Espadas. Para. Sem-

A Rainha abria um sorriso de orelha a orelha ao assistir a morte do felino, porém hesitante do que Will pudesse fazer com ela. Olhou dentro dos olhos do carateca, ainda caída no chão:

— Vamos, vamos ver se tem o que necessário em você para matar alguém! — a mulher gritava descontrolada — SE O QUE PRECISA É DE MAIS INCENTIVO, OLHE PARA TRÁS UMA ÚLTIMA VEZ!

A cena a seguir era a pior de todas: o fantasma que possuía Tomoe a fez bater a cabeça no chão diversas vezes, somente o necessário para que não ficasse inconsciente mas também não pudesse utilizar seus poderes. Deixou de possuí-la e tomou a forma de sarcófago novamente. Diversos servos se dispuseram na frente para que Will ou seus Pokémon não pudesse intervir, afinal, a única que poderia fazê-lo era Katana, já que infelizmente o carateca havia retornado Rocky e Hawk já estava do outro lado do portal.

Com uma de suas mãos fantasmagóricas, Cofagrigus erguia a loira no alto pela cabeça e com a outra buscava uma das lanças ensanguentadas dos servos-zumbis. Lançou o braço para longe, trazendo de volta na direção do pescoço da jovem em uma velocidade surpreendente:

— JAAAAAAAACK!

E assim a cabeça da jovem era cortada para fora de seu corpo. Suas roupas, após um leve brilho, se tornavam outras, talvez as que Tomoe utilizava quando "surgiu" no País das Maravilhas.


Assim que Cofagrigus despejava o corpo da garota no chão, algumas das tropas de Copas começavam a devorá-lo, enquanto outras, junto com o Chapeleiro e Mawile, corriam na direção de Will e Katana, bem semelhante ao final do clássico filme para crianças inspirado no País das Maravilhas — este, claro, sem nenhum de seus aspectos sangrentos.

— VAMOS, WILL! SEI QUE QUER FAZER ISSO ANTES DE IR EMBORA! — a Rainha gritava e gargalhava ao mesmo tempo, com sua expressão já completamente enlouquecida — VAMOS, ME MATE! VOCÊ NÃO TEM MAIS NADA A PERDER!