6 - Vermilion

A mulher que os recebeu não pareceu se importar com a pressa do trio, o que era um alívio. Will que tinha iniciado a conversa, prosseguiu dando o nome de cada. Depois aguardou pelas instruções. Ansioso feito uma criança, esticou o pescoço tentando ler a lista que a mulher usava. Seu tio lhe deu um tapinha no ombro e fez uma expressão com o rosto como se dissesse “Se comporte”.

O Carateca deu de ombros e se ajeitou, aguardando pela resposta da moça, mas a presença de um Ranger se aproximando capitou a atenção do grupo.

“Avenida Aaron?” – Pensou surpreso – “Eu conheço esse lugar” – A não ser que fosse outra avenida da qual ele desconhecia, aquela devia ser a rua principal que dava para a Rua do Dojô de seu Avô, a rua Machamp.

Dojô Allstar, uma estrutura tradicional do estilo japonês. A escola de Karatê de Drake ficava na parte norte da cidade, em uma Rua sem saída que dava de frente para o Dojô, em uma das partes mais altas de Vermilion. Will ainda conseguia se lembrar da grande estrutura de dois andares e do imenso pátio por onde ele tanto correu em volta antes de entrar para treinar técnicas no tatame.

Pensar nesse lugar o fez lembrar de sua época treinando lá. Como será que estava o Dojô? Destruído? Ou ainda estaria inteiro? Talvez a água do mar não tenha avançado tão ao norte da cidade, ainda mais com o Dojô localizado bem acima do nível do mar. E seu avô? Aquele velhinho teimoso provavelmente estaria por ai ajudando na reconstrução de Kanto, ele era o único da família até então que ele imaginava estar na Região. Seus pais já tinham se instalado em Unova e pareciam muito bem por lá.

- Nós vamos! – Levantou a mão empolgado como se aquele gesto contribuísse para mostrar sua disposição. – Não temos medo de trabalho braçal.

Blade cruzou os braços e balançou a cabeça, concordando. – Melhor do que ficar aqui esperando. – Will não fazia ideia do que passava na cabeça de seu tio. Era a primeira vez em anos que ele retornava para Vermilion, e logo de cara poderia ter a chance de encarar o Dojô onde cresceu. Ele partiu por divergências com seu pai adotivo, o avô do Carateca, e por se achar um estorvo para a família, mas agora algo nele parecia ter mudado e o jovem podia sentir que ele estava pronto para renovar os laços com a família que o adotou.

- Obrigado, Ellie! – Despediu-se da jovem com uma piscadela e se apressou para a tenda de equipamentos. Apesar da fila na distribuição das ferramentas, o pessoal ali era bem eficiente, não demoraram para reunir o material necessário e se juntarem ao Ranger Joel.

Will pulou para o banco de trás assim que Blade pegou o lugar do carona na frente. O caminho se provou um verdadeiro obstáculo, ver toda aquela destruição fez o Carateca se lembrar de antes, de como sua cidade funcionavam tão bem quanto uma engrenagem bem lubrificada.

Para se distrair e reprimir a sensação de revolta que nascia sempre que vi algo familiar destruído, Will começou a questionar Joel. – Então Joel, quanto tempo você já está por aqui? Você só pega esse tipo de serviço ou está fazendo “tudão”?

O tempo passou de forma mais agradável com a conversa no Jeep, apesar dos solavancos devido ao mal estado da estrada. Então, finalmente avistaram o caminhão tombado. Will assobiou impressionado ao ver o tamanho do “bicho”.

Fora Blade que tocou seu ombro e apontou para a estrutura da antiga lanchonete na esquina da rua. Eles estavam de fato bem próximos do Dojô de seu avô. – Nós costumávamos treinar bem no fim daquela rua! – Comentou o negro para Merle que se afastava para começar a trabalhar.

- Quando terminarmos aqui, vamos lá dar uma olhada se o Joel permitir. – Will olhou para o Ranger esperando que ele compreendesse essa necessidade. – Como será que está o Dojô do vovô?

- Quem sabe? Aquele lugar sempre foi resistente. O muro de concreto em volta poderia suportar facilmente um soco de Machamp, mas o portão, por outro lado... Apesar do ponto estratégico, melhor não criar expectativas. Será que Drake está aí? – Blade retirou seus óculos escuro e o guardou no bolso, deixando seus olhos marejados visíveis.

- Ele amava esse lugar. Se não estiver aqui, provavelmente está em alguma parte da cidade ajudando – O Carateca se virou e começou a caminhar na direção do caminhão. – Vamos tio, quanto mais rápido acabarmos, mais rápido poderemos ir lá conferir o lugar.

Ao se aproximar do Ranger, Will liberou todos os seus Pokémon, mesmo o mais fraco fisicamente, ainda era bem forte se comparado a um humano - Joel!? Onde devemos colocar essas coisas? Podemos só reunir tudo em um lugar separado por material? – Arregaçou as mangas até o cotovelo e esperou pela resposta. Já seu tio, liberou Grovyle, Corphish e Sneasel enquanto repetia o gesto do seu sobrinho.

- Pau pra toda obra! – Disse as palavras achando graça da sigla. – Sei bem o que é isso.

A área que o trio pegou já estava com o serviço bem adiantado, aparentemente estavam na fase de reconstrução. Saber disso deixou o treinador entusiasmado, pois em sua concepção, limpar os entulhos compunha 40% de todo o serviço. Sabendo que os materiais tinham um destino certo ali próximo, Will se preparou junto de seus Pokémon para começar a pegar no pesado. Mas um idoso apareceu pedindo por ajuda.

O Dojo? Então nem ele se salvou. Mas espera aí, tinha um senhor vasculhando o lugar? – “Velho teimoso!” – Pensou angustiado com o que poderia acontecer. Will e Blade trocaram um olhar comprometedor. – Pessoal, quero que ajudem a carregar esse material até ali – Instruiu os seus Pokémon apontando para o local que deveriam colocar os materiais. – Deixem os materiais separados lá. Madeiras em um canto, ferragem em outro e assim por diante. Se for algo muito pesado, façam duplas para carregar, não quero que se machuquem, temos muito trabalho pela frente... Katana, venha comigo! – Então, o jovem voltou até o Ranger. – Joel, tem problema eu ir até lá falar com esse senhor? Ele pode ser o meu avô. Se o Dojo estiver muito comprometido, talvez seja bom eu falar com ele. - Aquilo era estranho, seu avô amava o Dojo, é verdade, mas nunca se arriscaria se não fosse por algo muito importante.

Blade que deu instruções parecidas para os seus Pokémon, se juntou ao sobrinho na conversa. – Eu tomo conta dos Pokémon dele. Acho que já temos um número bom de "trabalhadores" aqui!

Merle se aproximou de Blade com uma proposta inesperada. Mas o que o rapaz não sabia, era que aquele encontro era algo que Danniel queria evitar o máximo que pudesse. Ele saiu fugido de Hoenn, depois de abandonar o Karatê do estilo Allstar. Era fato que ele deseja se reconciliar com seu pai adotivo, mas não se sentia pronto, pois não tinha ideia do que diria ao homem. – Não precisa se preocupar, Merle. Will é um rapaz sensato, não se colocaria em perigo à toa. Confio plenamente no seu julgamento... Além de que, se existe algo que Drake ame mais do que aquele Dojo, é o seu neto. Ele nunca colocaria esse garoto em perigo... Você deve entender que Will é o homem que vai carregar o Karatê do estilo Allstar para a posteridade. Houve uma época que esse fardo era meu, mas o abandonei. – Blade suspirou sem saber se aquela explicação seria suficiente para convencer o companheiro. – Mas meu sobrinho não tem essa opção. Ele é a esperança do avô. – Danniel não disse mais nada, alguns poderiam falar que ele estava fugindo, mas ele achava que ajudaria muito mais ali, carregando os materiais.

Will que estava alheio a conversa dos dois, enquanto conversava com o próprio Joel, virou-se para Merle quando o rapaz se aproximou oferecendo seus Pokémon. – Tem certeza, cara? Agradeço a ajuda. Mas será que eles vão me obedecer sem nunca terem me visto? – Will levantou a questão sem querer ofender o companheiro. Tinha escolhido Lucario justamente por isso, além de ser sua Pokémon mais esguia, ela era bem forte fisicamente e com um Psychic poderoso. Arrastaria o “velho” dali nem que fosse a força.

Se Merle insistisse, Will aceitaria os Pokémon extra de bom grado. – E então Joel, posso ir lá?