[Recrutamento de aprendiz] Gray Fox

Gray tinha a palavra mais uma vez, posto pra contactar o espírito e tentar acalmá-lo. Veio então mais uma sucessão de palavras cantadas, essas ainda mais prolixas que as anteriores, fazendo uma combinação complexa com "V" de vingança que deixou até Morty meio confuso, unindo as sobrancelhas quando sua mente trabalhou pra traduzir a mensagem.

Novamente o espírito seguiu em seu silêncio que antecedia a resposta, porém esse instante durou mais do que o normal. Talvez a própria alma estivesse processando o que responder. O líder já engolia em seco na expectativa, mas Doll ainda tinha o olhar perdido no além o que significava que a entidade ainda estava por ali.

"Sim" e "Não" foram as chamas que se agitaram de repente, ao mesmo tempo. Que espírito complicado aquele...

– Por essa eu não esperava... – Morty tinha uma leve decepção na voz, pois ansiava por respostas mais claras – Deve ser uma alma tão antiga que os propósitos que a mantiveram entre nós já estão nublados até para ela. Ou então sua mensagem não ficou tão clara. Ou, ainda, você conseguiu deixar ele reflexivo sobre as motivações que o prendem... Isso seria interessante. Vamos lá, continue, continue. Isso tá ficando bom! – sorria de novo, animado com o evento.

Gray – Tarde | 23°C – Ecruteak Gym

Na nova mensagem transmitida ao espírito, Gray foi mais direto, levando sua pergunta pra um outro caminho, agora instigando a entidade a identificar quem foi no passado. Pra um espírito antigo talvez aquilo fosse difícil, mas sem dúvida algo nos "instintos" dessa alma soube trazer de volta sua identidade. Então, três coisas intensas aconteceram em seguida...

Primeiro a vela de "Sim" se agitou quase ao mesmo tempo em que a palavra "vingança" era escrita, dessa vez com todas as letras, sem se perder no caminho. Era uma confirmação, sem dúvida. A terceira manifestação foi de novo aquela viagem caótica da alma pela sala, agitando todas as velas em sequência, como se desenhasse um círculo. Foi algo tão forte que as chamas nitidamente aumentaram mais que o normal antes de acontecer, algumas áreas das mesas e bancadas onde estavam até chamuscaram, e isso incluía uma das tags que guarneciam os equipamentos dos visitantes. Aparentemente, nada grave, e que talvez eles nem notassem graças às surpresas das revelações.

– Nossa! Será que foi uma confirmação sobre ser viking? Ou sobre a vingança? Ou ambos? – a mente de Morty trabalhava à mil com tanta coisa – Bem, as coisas se encaixam eu não posso negar. A idade do espírito, combinando com a identidade de uma cultura há muito esquecida, uma que valorizava guerreiros e, portanto, instintos vingativos... Fora as mortes dolorosas... O que vocês acham? Tô viajando? – perguntava aos seus companheiros naquele evento – Será que ainda temos mais o que perguntar? Acho melhor não remoermos mais lembranças e sim tentarmos acalmá-lo de vez... – seria isso possível depois de fazer aquela alma sofrida reviver o passado?

Gray – Tarde | 23°C – Ecruteak Gym

Não tinha como negar que Gray possuía uma abordagem incomum, ou no mínimo diferente daquela adotada por Morty e os cultistas que o seguiam. Provavelmente foi isso que levou o ritual atual para outro rumo, pois de outra forma, se seguissem o estilo tranquilo do líder talvez o espírito até nem resolvesse se manifestar, quem sabe?! Só outros pares de pessoas numa linha temporal paralela com um rumo alternativo poderiam nos dizer o que poderia ter sido desse encontro. Como eles não estão, seguimos...

É claro que Morty estranhou a forma como a guitarra veio até as mãos do músico, mas ele não teria tempo de esboçar isso já que logo na primeira estrofe a alma reagiu à canção, afinal era uma que lhe trazia elementos familiares como o chifre soprado, além do próprio tributo ao caos. Palavras como essa desencadearam uma liberdade diferente para essa entidade antiga. As velas que seguiam se agitando de modo caótico estavam ali para comprovar. Ele até ousou apagar algumas delas, como as das palavras "Sim" e "Vida". Mostrava-se fechado para acordos, certamente desgostoso do que fora sua vida.

– Céus, o que... ?! – Morty estava nitidamente atônito, porque mesmo em sua vasta experiência nunca tinha presenciado algo parecido antes; dividia-se entre a curiosidade para ver no que ia dar e o receio, também sobre no que aquilo podia terminar.

Quando a última estrofe vinha para trazer o fechamento, o espírito também concluía sua passagem. Todas as chamas ainda acesas aumentaram, tão altas que o calor também aumentou subitamente. Doll deu uma risadinha debochada e divertida entre a sua parte no canto. Todas as chamas então se apagaram ao mesmo tempo; assim, de repente; do nada! Tudo ficou escuro. Ouviram-se apenas o som de várias das velas derrubadas no chão, junto como alguns dos pertences de Gray... Mas não vou me prolongar. Esperemos alguém acender uma luz pra vermos tudo o que o caos do espírito proporcionou.

Gray – Tarde | 23°C – Ecruteak Gym

A luz que se fez em meio a escuridão não veio de nenhuma vela, lanterna ou poder Pokémon; era um brilho azulado e oval que vinha exatamente de um dos ovos que Gray trazia consigo em sua visita ao Gym. Assim que o reconheceu, Morty gelou e seus olhos se arregalaram de espanto.

– Ah, não... ah, não! São... São ovos Pokémon? – por uma fração de segundos fez menção de sair de sua posição, mas aquilo quebraria a conexão com o espírito se ele ainda estivesse ali, portanto o líder olhava aflito pela sala em busca de qualquer sinal disso – Como eu fui tolo em não perguntar isso! Não podemos fazer esse tipo de sessão com ovos na sala, são vidas ainda em formação, se conectando com o mundo... É, no mínimo, perigoso! – Morty então fechava os olhos e murmurava coisas, tentando fechar o canal que tinham aberto com o mundo espiritual.

Enquanto isso, o bichinho de Gray nascia; a casca se rompia de vez depois de um "crack!" e todos eram novamente engolidos pela escuridão total. Pelo menos não havia silêncio, já que Yamask reproduzia seu cry algumas vezes, tentando entender porque saiu de uma escuridão apertada pra uma espaçosa... Onde estava? [Yamask Cry]

Gray – Tarde | 23°C – Ecruteak Gym

Beowulf, o Yamask, respondia rápido à voz que reconheceu como sendo daquele que lhe carregou enquanto ainda estava somente dentro do ovo. O fantasminha já estava nos braços do especialista quando Morty finalmente trouxe luz ao espaço acendendo uma vela. Beowulf não gostou daquilo, então logo fez cara feia e resmungou. Não era a luz que lhe incomodava, mas sim a vela...

– Uh! – o líder se permitia ficar surpreso ao ver um espécime exótico diante de seus olhos, até ignorando a cara feia que o bichinho fazia – Pela pedra que ele carrega e os olhos eu diria que é a variante de Gal... A pedra!

Os olhos experientes de Morty perceberiam algo agora, mesmo à fraca luz. O fragmento que Yamask carregava não tinha só o desenho típico em traços vermelhos, trazia também inscrito nela, em baixo relevo e de forma rústica, um símbolo, parecido com um S diferente, uma...

– Uma Runa antiga?! Isso não me cheira bem... Eu nunca tinha visto ou sabido desse tipo de símbolo nos fragmentos carregados por essa espécie. A não ser que... Não, não é possível. Será?! – Morty parecia preocupado à medida que os pontos iam se ligando em sua cabeça; deu passos largos até a porta e a abriu, pondo parte do corpo para fora, para o meio do ciclo de sacerdotes que ainda "oravam" por lá – Muito obrigado, mas podem parar. Algo aconteceu com o espírito, mas ele não está mais em sua forma padrão, eu sinto. Alguém pode, por favor, ir buscar meu telefone? Eu preciso consultar umas coisas... – retornava mais uma vez seu olhar desconfiado para o Yamask.

O que será que Morty cogitava que pudesse ter acontecido de tão grave que o pusesse assim, desconfiado e inseguro?

Gray – Tarde | 23°C – Ecruteak Gym