#10 - Castform Mania!

Olááá!:

---

Pra esse horário da manhã tudo ainda estaria bastante agradável: a temperatura que se mantinha amena enquanto o sol ainda se espreguiçava após nascer; as nuvens volumosas que trafegavam pelo céu com uma tranquilidade admirável; o vento fresco que agitava a grama e trazia o aroma de terra úmida dos resquícios de orvalho e das redondezas dos vários lagos espalhados pela rota.

Por falar nela, a 120 não era uma rota assim tão longa, mas com certeza pra quem estava ali a impressão era outra. Isso, graças a diversidade de ambientes que tinha. Trechos densos de árvore se espalhavam pelas margens, além de algumas árvores em si dispersas pela paisagem. O que mais predominava nos arredores da trilha principal era grama, de alturas diversas; mas que naqueles primeiros metros ainda seria baixa o suficiente para atingir as canelas de Ryousuke.

De fato, Youma já antecipava a ausência de humanos por perto. Entretanto, não só de água e folhas se formava a sinfonia da manhã naquela Rota, porque os Pokémon selvagem já estavam despertos e agindo, ainda que distantes ou se distanciando dos visitantes. Vislumbres de vermelhos, amarelos e castanhos ligeiros com certeza podiam atrair a atenção de vez em quando, mas nada branquinho parecendo nuvens, ainda...

Assim, a trilha de terra seguiria mais pro Sul, tortuosa é claro, com umas curvas mais abruptas que outras, inclusive um longo desvio para a direita, logo depois dos primeiros minutos de caminhada da dupla. Era um desvio necessário na trilha, para contornar um lago. Mas entre as árvores dava pra ver que o obstáculo também poderia ser atravessado por uma ponte estreita de madeira, caso o caminhante tivesse pressa em seguir reto.

Motivado por sua intuição o treinador preferiu contornar o lago a atravessá-lo usando a ponte. Dusclops de certa forma até agradecia, pois se fossem pelo outro caminho ele não poderia se divertir com a água na beirada, e também teria que enfrentar o sol direto, sendo que por enquanto ainda podia desfrutar da sombra das árvores.

Contudo, era uma pena que Ryousuke não estivesse muito inclinado a se aproximar do lago pois, diferente da mata densa lá atrás, as criaturas aquáticas estavam plenas para se mostrarem às câmeras. Um Magikarp até veio brincar "beliscando" o dedo do fantasma; um trio curioso de esferas azuis e reluzentes boiavam debaixo da ponte, até que um Marill pôs a cabeça para fora d'água pra observar os pedestres; algumas folhas largas flutuavam preguiçosamente sobre a superfície do lago, buscando o sol, Vitórias-régias um tanto "diferentes".

Nada ainda se mostrava hostil ou territorialista o suficiente para querer avançar nos visitantes. Mas é uma verdade que provavelmente a maioria das pessoas prefiram o atalho do meio, sobre o lago. Digo isso porque era perceptível ao longo do desvio que ele não era usado havia um tempo, pois permitiu que a grama voltasse a crescer ao longo da trilha, consequentemente o mato que a ladeava também crescia, e muito! Já quase formava uma mureta vegetal na altura do peito do garoto. Só pela agitação dava pra supor que muita coisa se escondia por ali.

E assim aquele caminho seguiria, mais e mais adiante; até não ser mais curva, até não contornar mais o lago e voltar a ser uma trilha de terra batida, com a grama lateral mais baixa. Mas, sobretudo, ainda sem sinal algum de Castform ou de outros humanos.

Ryousuke – Manhã | 22°C – Rota120

Logo Dusclops teria que deixar seus colegas aquáticos para trás, quando ele precisasse acompanhar Ryousuke que seguia mais adiante pela trilha. Então, progressivamente ele foi ficando um pouco mais desconfiado, difícil dizer se era porque precisou abandonar algo divertido ou se porque seus instintos mais sensíveis já antecipavam o que o treinador viria (ou não) a perceber só depois que estendesse sua atenção ao ambiente: sinais humanos.

Deviam ter caminhado no mínimo uns quinze minutos desde o início da rota, e só agora algo além de vegetação e lago se mostrava. Bem na borda da trilha, mesmo que ainda estivesse a quase dez metros de distância e entre arbustos, era impossível não reconhecer o cata-vento alto e vermelho que rodopiava no sentido do vento. Digo isso não só porque era um objeto que destoava daquela natureza, mas também porque um canídeo de pelagem verde e amarela tentava se por sobre as patas traseiras, curioso, fuçando o objeto estranho e "animado".

Na outra margem da trilha, do lado oposto ao cata-vento, dava pra ver que a mata alta tinha estava revirada, amassada, como se algo ou alguém tivesse passado por ali; alguém que não tinha todo o traquejo que uma criatura selvagem tinha em se deslocar pela vegetação sem deixar tantas pistas. E no meio de tantos sinais... Click! click! click! Fez o som discreto e mecânico, vindo de lá, e que só seria notado quando se aproximassem mais um pouco. Lembrava o som do diafragma de uma máquina fotográfica agindo. Será que tinha alguém ali?

Ryousuke – Manhã | 22°C – Rota120

Off escreveu:Oláá! Poxa, tinha sumido mesmo hein :/
Bem vindo de volta \o/

O mistério por trás do "combo" de estranhezas estava por se resolver, pois a aproximação da dupla chamou a atenção de Electrike que, no susto ao ver os estranhos, correu de volta para o meio do mato. Eis então que do lado oposto ao cata-vento, no lugar do som de "clicks" veio uma voz doce e feminina.

– Ei! Volta aqui! – e o mato se mexia no mesmo lugar – Ai que saco...

Uma garota baixa saía do mato, voltando pra estrada e olhando com desapontamento na direção pra onde o selvagem tinha escapado. Ela limpava o jeans na altura dos joelhos, sujos de terra, e contrastando com sua camisa branca tinha pendurada uma câmera fotográfica, daquele tipo profissional com uma lente bem específica.

Tinha o rosto delicado e vivos olhos verdes, agora espantados ao ver que não estava mais sozinha na rota. Olhou desconcertada de Ryou para Youma, levando instintivamente uma das mãos até os cabelos lilás, pondo uma larga mecha para trás da orelha. [imagem ilustrativa]

– Erh... Oi. Desculpa a gritaria. Foi a primeira vez em horas aqui que eu consegui achar alguma coisa pra fotografar, e agora ele escapou. – girou os olhos na órbita, suspirando.

Ryousuke – Manhã | 22°C – Rota120

O jeitinho desconcertado de Ryousuke era contagiante, tanto que a menina também demonstrava uma leve timidez pela surpresa do encontro. Toda sorte é que o rapaz puxou assunto, um que por acaso ela poderia participar e responder, trazendo até uma pitada de empolgação pro diálogo que se iniciava.

– Uhm, então você notou também?! Meu palpite é que eles estejam assim mais tímidos porque hoje mais cedo passou um grupo grande de gente, por aqui. Eles espalharam alguns desses, inclusive. – apontou o cata-vento – Pelo que entendi da breve conversa que tivemos, são metro... Metreo... Mete-o-rologistas. Isso! – enrubesceu na maçã do rosto, por ter tido que "soletrar" uma palavra na frente de um estranho.

Ora, estudiosos do clima nos locais onde o Pokémon climático costuma aparecer? Talvez não seja uma coincidência. Só que se em algum momento eles estavam em um grupo grande, ou sabem ser muito silenciosos, ou incrivelmente organizados pra se dispersar e adentrar na mata, porque até ali não houve sinal de ninguém.

– Não sou uma deles, mas me acompanharam até aqui. Então... Ah, não precisa se desculpar pelo Pokémon, eu só encontrei ele por acaso e quis aproveitar o momento. – agora indicou a câmera no pescoço – Eu me chamo Cha... Me samo Sa... – mais maçãs do rosto avermelhadas; um suspiro pra recuperar a paciência – Meu nome é Sasha. – poderia ter sido uma meiga apresentação finalizada com um sorriso delicado, mas só tinha uma súbita timidez por enquanto.

Ryousuke – Manhã | 22°C – Rota120