[MISSÃO ROCKET] 020 — i know the end

— Talvez... — os dedos passaram gentilmente a pequena bola de gude pelo chifre direito da metálica — Seja aqui?

...

Eram horas e mais horas desde que cheguei em Cinnabar e treinava na parte de trás do Centro Pokémon com meus pequenos. O objetivo, nesse exato momento, era descobrir como fazer a Aggronite que encontrei funcionar com Sashimi, mas nem eu e muito menos ela sabíamos como fazê-lo. Os outros monstrinhos observavam tudo gargalhando de nós duas, principalmente Ivy, que parava de voar pelo ares para exclusivamente tirar uma com a nossa cara. Pançudinha abusada.

Outra questão era que a ilha vulcânica não me era estranha: essa seria a segunda missão Rocket que faria na cidade em um curto período de tempo. Talvez a primeira há alguns meses tenha dado tão certo que a Organização decidiu me mandar de volta pro mesmo lugar? Bom, de qualquer maneira, a missão foi um sucesso, então, nada a reclamar.

— Olha, esse negócio tinha que vir com um manual, filha. — sentei no chão, encostada na barriga da metálica, que também aproveitava para sentar com as perninhas pra frente, com Aggronite na sua mão direita — Ainda mandei fazer um brinco pra colocar a Mega Stone, mas de quê adianta se não sei? — dedilhei o Mega Earring, colocando-o na orelha direita com a Key Stone acoplada — Já tentamos lutar, socar, mas... — era quase como se acendesse aquela lâmpada em cima da cabeça, sabe? — E se tentássemos meditar?

E assim fizemos. Cruzei as pernas e peguei meu violino que há muito não tocava, fechando os olhos em seguida para me concentrar. Posicionei-o sobre meu colo, segurando o instrumento com uma mão e o arco com a outra. Era necessário fortalecer a conexão entre nós duas; passamos bons bocados juntas desde que a estabanada era uma pequenina Aron, então, é algo que temos de sobra. Só precisamos saber como externalizar tudo isso.

— Preciso que feche os olhos, filha. Lembre de tudo que passamos juntas. — sussurrei para Aggron, ainda de olhos fechados — Limpe sua mente. Pense em nós duas e em como nossa sinergia já nos salvou diversas vezes. — posicionei o violino sob o queixo e o arco sobre o espelho, ainda de olhos fechados — Vamos, Sashimi... — aos poucos, comecei a tocar uma música que a metálica ouviu pela primeira vez após encontrarmos Ivy em Dragon's Den — ...

Abri os olhos de imediato ao perceber uma luz estranha originando-se próxima a mim: o Mega Earring brilhava em cinza cintilante, de forma como algo que nunca vi na vida. Continuei tocando a música, agora com um sorriso estampado no rosto e, assim que chegamos na ponte da canção, a Key Stone conectou-se com a Aggronite de Sashimi, a qual agora a segurava na cabeça. O corpo da metálica envolveu-se em uma espécie de carapaça mágica e, em questão de segundos, Mega Aggron era revelada diante dos meus olhos.


— Ai! — coloquei o violino e o arco no chão e engatinhei até a gigantona; devo ressaltar que assim que vi que Aggron estava mega evoluindo, me afastei já que não sabia muito bem o que ia acontecer — Como você tá linda, filha. E ainda por cima ficou maior! Vai derrubar tudo dos lugares agora. Que orgulho.

Diria que é um bom começo, né?

Off:

Enrolar é o meu lema. Tudo bem que só voltei para Cinnabar por causa dessa missão, mas estava tão gostoso brincar com as minhas pequenas e esquecer por alguns momentos que sou uma criminosa. Longe de mim reclamar, amo minha Organização, mas sinto falta de ser só uma monotreinadora, passeando por aí e se metendo em enrascadas bobas.

— Hora de ir, crianças. — retornei Ivy, ainda fitando Sashimi toda grandalhona com sua mega-evolução — C-omo... — levei o indicador a boca, semicerrando os olhos e buscando alguma coisa no rosto da Pokémon — Como que desliga isso?

Não sabia exatamente o que fazer, mas acabou que a metálica deu uma risada e desligou seja-lá-qual-for a engrenagem que girava dentro do seu corpo para acabar com o efeito. Abracei-a, dando alguns beijinhos antes de também retorná-la e seguir viagem. Por "seguir viagem", significa antes passar no Centro Pokémon, trocar de roupa e colocar algo mais confortável e menos escandaloso que a saia cor-de-rosa que estava vestindo. Prendi as madeixas em um rabo-de-cavalo e, AGORA SIM, pronta para seguir na direção do porto.

— Huh? — levei a mão até a bolsa, buscando meu PokéNav — Talvez seja algum enigma da Organização. — parei, respirei fundo e bati o pé direito no chão — Eu já avisei que não sou boa com essas coisas!

Mas tudo bem...

Vamos lá.

Cinnabar é uma cidade... Diferente. Já disse isso da primeira vez que fiz missão aqui, mas as pessoas parecem ser mais aconchegantes do que no resto de Kanto. Acredito que algo sobre morar perto de um vulcão e ser extremamente turística com belas praias ajude, mas é interessante ver como só de andar na rua algumas pessoas te cumprimentam sem segundas intenções. Acho que se um dia me aposentar, posso vir morar aqui.

Caminhei em passos calmos, porém rápidos, já que o navio poderia chegar a qualquer momento. Olhei, olhei mais poucos, disfarcei e... Nada. O porto até que estava um pouco cheio, mas o que eu queria e precisava não estava por ali.

— ... — algo parecia me chamar, mas demorei para achar de onde vinha o barulho — Er... Oi. — esquisito demais essa mulher no meio das caixas, o que fez com que já fechasse a cara; não sou boba — Que que é? — ao seu ladO ESTAVA UM TORCHIC GORDINHO PARECIA O KENMA SÓ QUE SE NÃO SE EXERCITASSE — Ai, que mocinho mais lindo. Parece meu filho que o pai sequestrou. — agachei para falar com o ígneo, voltando meu olhar para a mulher — O que você tem de bom aí?

Não que eu fosse comprar algo, mas sou curiosa.

Apesar daquele Torchic não lembrar o Kenma em personalidade, acho que a saudade de Simba e do meu filho tá começando a machucar. Sei que o ruivo tá lá treinando com o Hayto e conversamos por mensagem, mas não é a mesma coisa. E quER SABER DE UMA COISA: A CULPA É DELE! Não tem cafuné e carinho, aí tenho que ficar fazendo missão de criminosa e adentrando cada vez mais a barriga da besta. Isso mesmo, a culpa é minha e eu jogo em quem quiser - a vítima da vez é o implicantezinho.

E aí já me irritei. Entenda, minha cabeça funciona de uma forma diferenciada: nesses poucos segundos, já saí de amor para saudade para ódio. Raiva de não poder estar com o garoto que eu gosto e estar aqui, onde muito provavelmente vou ter que matar alguém para ser bem sucedida no meu plano. Não que eu ligue... É uma boa forma de extravasar a raiva.

E testar a força da Mega-Sashimi.

— Só se existisse um item forte pra curar minha irritação. — resmunguei, revirando os olhos — Recipiente... Água? Chá? — demorei pra pegar o fio da meada, mas me dá um desconto, ok? — Eu quero um chá de camomila com doze gotas de adoçante. — suspirei — Ah, em uma xícara de barro, de preferência.

— É, bem específico. — respondi, erguendo uma das sobrancelhas — Imagino quem escreveu isso, né? Doze gotas é realmente um exagero. A diabete lá no alto.

Brinquei, mas acredito que o setor de inteligência esteja um pouco prejudicado, né? Se é pra fazer roteiro pros Agentes seguirem, que ao menos elaborassem algo crível caso fôssemos pegos pelos Rangers. Se bem que, pensando melhor, os resgatadores de Meowth em árvores nunca nem descobriram nosso cassino em Celadon... Então, não me parecem tão brilhantes assim. Desculpa Simba e Ty.

— ... — agachei para segurar o pacote de chá da velha, ouvindo atentamente o que dizia — Sim, sou a nova contratada. Espero fazer um bom trabalho. — dei uma risada sem graça, segurando o uniforme — Já estou caminhando para lá.

Até me despediria da velha, mas ela resolveu usar o velho truque da bomba de fumaça. Nunca dá certo, mas os mais antigos cismam em continuar fazendo isso... Só polui o ambiente e faz a gente tossir. A gargalhada escapou com a pobre tropeçando no Kenma obeso, mas minha preocupação era outra: precisava me trocar. Não sou lá a pessoa mais tímida do mundo, então, por que não aqui mesmo nessas caixas? Liberei Sashimi na minha frente para fazer cabaninha e voilà! Pronta para mais uma missão.

— Retorna, filha. Preciso parecer uma peoa. — ajeitei o uniforme, um pouco apertado na região dorsal, mas qual não é, né? já viu algum anime não ter roupa colada? — Hora de ir.

Onde está esse diacho desse navio?