GRAVEYARD - Endless Night

off:

Podia até não ser primeiro de abril, mas foi com um trote suave que os pés - ou melhor, os cascos - adentraram os portões enferrujados que resguardavam o caminho dos além-túmulo que descansavam naquele território amaldiçoado por seu próprio significado.

— ...Sabe, — Foi o sussurro torto que deixou escapar, as orelhas do unicórnio-montaria se movimentando com discrição em um sinal de reconhecimento às palavras emitidas. — eu realmente não precisava me enfiar nesse tipo de lugar pra atrair ainda mais desgraça pra minha vida. — Um suspiro escapou, cansado, e a cabeça se balançou com suavidade enquanto os dedos tomavam para si alguns dos longos fios coloridos que escorriam da crina da quadrúpede, trançando-os devagar para que pudesse ocupar não só as mãos, como também os pensamentos. — ...Pelo menos você começa a se acostumar melhor sobre como as coisas funcionam do meu lado. — Um sorrisinho curto, debochado, que foi retribuído com um relinchar baixo, contido e de tom protestante da equina faérica.

O riso que escapou a seguir, você deve imaginar, foi inevitável.

— É, minha filha... Acabou a moleza, vai achando que não. — Provocou, liberando uma das mãos para afagar com delicadeza o pescoço do animal - esta, por sua vez, virou brevemente o focinho para o lado, os olhos cerúleos se apertando em sua direção em uma óbvia censura nada contente. — Ah, não me culpe! — Outro riso curto, e os dedos recuaram para voltar a trabalhar em sua crina, relaxados. — Não sou eu quem decido, no fim das contas. Envia sua reclamação pra ele lá, ó. — A cabeça se movimentou com sutileza, apontando para o céu em uma acusação sigilosa ao próprio Arceus - e um sorriso pequeno foi só o que restou quando, com um revirar de olhos quase teatral, a égua voltou a atenção para a frente, esquivando pacientemente dos túmulos que brotavam do chão aqui e ali.

Eu adoraria que estava ali à toa ou até mesmo por conta própria - mas a realidade era que, se fosse o caso, sequer estaria ali. Então... Por que diabos estava, você me pergunta? Eu te respondo, meu querido senhor, que sua presença se devia simplesmente por conta de um convite inesperado de certo guitarrista que, reza a lenda, é mais que especialista no universo fantasmagórico que rodeia o mundo pokémon. E já fazia um bom tempo desde a primeira vez que havia espiado a foto do mapa enviado por mensagem por conta do rapaz - e, depois de tanto tempo lidando com um monte deles, pode ter certeza que não era tão complicado assim se encontrar no meio do tempo com o auxílio de algum.

...pocotó.
..pocotó.
.pocotó.

...

— ...Huh, eu não sabia que estrelas do rock eram comuns por aqui. — Foi o cumprimento que deixou escapar quando, após algum tempo de caminhada trotada, sem pressa, pôde alcançar o mausoléu que se impunha, sombrio, nas vísceras do cemitério da cidade amaldiçoada - quase tanto quanto a própria vida, aliás. — Gracinhas como você aparecem sempre por essas bandas ou eu só dei sorte? — Brincou com o monotreinador, inclinando-se sobre o corpo da Rapidash e apoiando os dois braços sobre o pescoço do animal, dando uma piscadela para o platinado e acenando para Srta.Doll com as pontas dos dedos de uma mão, relaxada. A própria equina bateu de leve com o casco contra o solo macio, morto, em um jeito quieto de dizer um "olá".

Sinceramente? Não era o tipo de encontro muito inteligente, se quiser saber minha opinião - não em primeira vista, levando em consideração cada centelha de azar que parecia perseguir o caminho das duas figuras por sabe-se lá quanto tempo, por sabe-se lá quantas profundezas conceituais.

Mas...
Dizem também que negativo com negativo dá positivo, certo?
Vamos ver, então. Não custa nada tentar.

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off:

Que tal se a gente abrir um espacinho pequenininho aqui só pra eu reclamar que o fórum não me manda notificações e mencionar que, durante essa trotada relaxada e antes de dar de cara com um doppelganger que ainda não tinha sido desmascarado, a ruiva ainda aproveitou pra poder mexer um pouquinho no aparelho alaranjado que ainda devia algumas mensagens pra uma certa loira doida psicopata que, de alguma maneira, não tinha tomado uma prisão perpétua ainda:

Para Karinna escreveu:@Karinna;
"QUE VINGANÇA O QUÊ, VOCÊ VAI É APANHAR, PIRRALHA SEM VERGONHA
e QUE HISTÓRIA É ESSA QUE VOCÊ TOMOU UM SOCÃO, QUEM QUE DEIXOU
... ... ...meu deus foi porque eu falei aquilo do zuby pra você né????
EU NUNCA MAIS VOU TE CONTAR NADA, KARINNA BLEY

inclusive, o ariel ficou tímido com os elogios, mas ele ficou feliz <3
E EU NÃO NEGLIGENCIO ELE, PARA COM ISSOOOOOOOOOOOOOOOO
mas não se preocupe, eu quem vou te eletrocutar SE CONTINUAR FAZENDO PALHAÇADA COMIGO

Tô aqui no cemitério, vindo visitar O AMOR QUE VOCÊ TINHA POR MIM, QUE DEVE TER MORRIDO FAZ ALGUMAS SEMANAS, SUA SIRIGAITA
Onde que porra que tu tá? Resolveu a missão?"

...enfim, é sobre isso. Agora, voltando pra parte presente do rolê...

Chamem de intuição feminina ou talvez de calejada, mas admito que alguma coisa naquela dupla e no seu jeito de reagir às suas palavras iniciais a deixaram com uma pequena pulguinha atrás da orelha. Na verdade, eu até sei dizer qual foi a maior estranheza - sensação essa que a fez evitar dar a mão para a figura à frente, e isso que eu nem falei do fato de que a equina emitiu outro relincho curto, recuando os passos e encarando o par em uma atitude que, certamente, não emitia uma boa aura amigável.

...sua treinadora, porém, sequer ponderou censurá-la.

— ...Hmm... — Devagar, então, endireitou a coluna sobre a montaria, os dedos enfiando o Pokénav no bolso e se agarrando à uma das esferas sobre o cinto, movendo-a com suavidade entre os dedos, em uma discreta atitude preventiva que tão bem podia se passar por tique de treinadora. — Então, qual que é a boa? — Um sorriso curto, o olhar repentinamente atento que quase deixou passar a impressão de ter enxergado uma cópia daqueles dois senhores por meio de visão periférica - fato esse, porém, que só serviu para incrustar uma sensação ruim em seu coração.

E eu explico o motivo dela, senhores.
Podia até não ter tanta intimidade e conhecimento sobre Gray...
Mas, se havia aprendido uma coisa, era que o rapaz com toda a certeza não era do tipo silencioso.

.... .... ....

— ...Sr.Príncipe, — Ergueu a voz, um sorriso simplista se estampando nos lábios. — nós temos algum plano pra hoje? Ou só viemos visitar um mausoléu de família? — ...e esperou a resposta.

Resposta que, tinha a impressão, poderia ou não já dar um corte rápido - ou concordância silenciosa - ao peso de sua anômala impressão.

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...Sabe...
Mesmo que tecnicamente fosse bom, às vezes queria simplesmente não estar certa.

Acabou que nem precisava colocar tantas armadilhas cuidadosamente montadas pelo meio do caminho - afinal, todo mundo sabe que Sr.Gray está bem, bem longe de ser um Príncipe, digamos assim -, porque bastou um empurrãozinho a mais para que a caricata figura à sua frente se mostrasse mais anômala do que a original costumava ser.

Mas essa ameaça de morte?
Ele precisava fazer um pouco mais.

— Ah, filho... — Um riso oco, sem emoção, e um balançar de cabeça resumiu bem os sentimentos daquele momento. — Já me prometeram isso tantas vezes que eu já tô ficando quase cansada de esperar. — Debochou, mas tinha consciência de que ainda não conhecia plenamente a situação na qual estava metida e, por isso, a melhor coisa que podia fazer era simplesmente manter uma linha, por mais tênue que fosse, de seriedade.

E ela veio em boa hora, pois a movimentação estranha da terra e dos túmulos, que rachavam suas entranhas para poder oferecer liberdade aos decrépitos moradores daquela belíssima região esquecida pelo tempo. A equina quase que imediatamente empinou no processo, recuando alguns passos e restando para que a treinadora se agarrasse ao animal para que não saísse rolando para as mãos dos cadáveres pútridos que galgavam seu caminho através do inferno - ou do limbo, se assim preferir.

— Tch... — Reclamou em um murmúrio estalado, enfim largando mão da esfera que os dedos pressionavam e permitindo a liberdade de seu gorducho pokémon que, com uma bundada eficiente, auxiliou o corte do terreno que já se encontrava em processo de evolução. — Bem vinda ao grupo, mocinha. — Debochou à corcel, mas a atenção quase que instantaneamente foi roubada pelo sonoro ecoar dos acordes de uma guitarra mais distante.

... ...Ah, ali estava ele.

— ...Ei, grandão. — Chamou o Normal que, preguiçosamente, já coçava a barrigona enquanto considerava um cochilo momentâneo. — ... ...earthquake. — Suspirou a ordem ao animal - ora, se eles estavam tão bem enterrados, não custava nada ajudar a piorar ainda mais a situação, né?

...e, claro, ver se Cindy conseguia aproveitar algum caminho aberto para se juntar ao guitarrista.

Vejamos.

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