RESUMINDO: TRANSPORTE GRATUITO DO EVENTO - SOOTOPOLIS > FORINA
Não sabia nem que era possível ter um dia tão maravilhoso assim… Não me divertia desta forma desde que meus pais me levavam ao Parque, quando eu ainda era uma criança e isso lá em Unova. Sabe-se lá há quantos anos atrás. Mas enfim, uma coisa era certa, meu sorriso se mantinha praticamente pintado em meu rosto, num êxtase inexplicável... E ao lado de Natalie não poderia ser diferente… Comemos muita batata frita na hora do almoço, talvez eu até tenha exagerado demais, pois saí quase rolando do restaurante. Entretanto, realmente me encontrava satisfeito e acima de tudo, contente, que é o importante. O único contratempo é que tive de esperar bastante para ter espaço para o Milk Shake, por isso resolvemos andar um pouquinho pela região portuária antes da sobremesa, para ao menos digerir tanto carboidrato.
O Porto era dividido em diversos Cais, alguns deles remodelados para servirem de chegada dos passageiros de Transatlânticos, quase como o Saguão de um Aeroporto. Contudo, o exterior ainda rústico, revelava seu uso passado na estocagem de grãos e outros produtos de exportação. Na frente deles, um grande Boulevard se estendia para os dois lados, com um belo jardim e espaço para caminhada, por onde seguimos. Eu sabia que em uma das pontas desse Passeio, havia um Píer que avançava alguns bons metros mar à dentro. Ali, além de servir de ponto para pesca, também havia um Mirante, não tão bonito como o da noite passada, mas no mínimo interessante. Caminhamos até lá como último destino da “voltinha” que ficamos de dar em Sootopolis para nos despedirmos. Curiosamente, não haviam Sorveteiros nem mesmo ali. Ora onde já se viu… Felizmente, havíamos comprado o Milk Shake antes de subir lá e sentar em um dos bancos locais, sentindo a brisa marítima, o cheiro de maresia carregado de memória e as carícias um do outro era tudo o que alguém podia pedir aos céus.
Infelizmente, o tempo passava e logo mais o Crepúsculo veio nos visitar novamente. Entretanto, antes mesmo do Sol cair no mar como uma gota de tinta amarela sobre a tela salpicada de tons diferentes de azul, tivemos que nos levantar e apressamo-nos até o Portão de Embarque 3, de onde o Navio para Forina zarparia. Chegamos bem em cima da hora e só não houveram maiores problemas, pois a fila de embarque estava gigantesca! Parece que, devido ao Evento do Teatro, muitos treinadores e coordenadores estavam se deslocando para a Cidade, assim como nós. Ainda mais se considerarmos que a passagem era SIMPLESMENTE de graça, para quem já se inscrevesse para atuar na hora de retirar o ticket, uma jogada de mestre dos organizadores, que certamente iriam recuperar todo esse dinheiro de volta em patrocínios, souveniers e lanchinhos bastante caros vendidos exclusivamente no momento das apresentações.
Assim que conseguimos embarcar finalmente, o Sol já havia se despedido, deixando uma escuridão nos céus. Até que não foi muito difícil para nós encontrarmos algum cantinho para nos “empoleirar”. Este em que sentamos era próximo da janela, mas bastante reservado com apenas dois lugares solitários. Apesar de ser fácil para nós conseguirmos sentar ali, havia notado que não existiam muitos outros bancos deste tipo além deste em que estamos, evidenciando uma grande sorte nossa, mais uma para essa semana abençoada! A janela, ao nosso lado, encontrava-se aberta e não era do tipo que se fechava com o trabalho de uma única pessoa, por isso acabaríamos tendo que suportar o frio mesmo. Não que fosse impossível, afinal Natalie utilizava o cachecol que eu havia dado para ela e eu mesmo abrigava-se em um abraço acalorado com a ruiva, que também compartilhava do meu calor.
Antes mesmo do ronco do motor ser ouvido e iniciarmos o movimento, Natalie me chamou, puxando levemente a barra da minha camisa, mas ainda amparando-se em meu corpo — Diga, meu anjo... — Questionei, alisando seu rosto e acariciando seus cabelos, enquanto uma sonolenta Naty me questionava se ainda restaria muito até o nosso destino. Sorri, pois sua pergunta parecia a de uma criança saindo em viagem com os pais e adormecendo no carro, sem qualquer noção de tempo — Eu não sei exatamente… Mas… A única coisa que me lembro é que Forina fica bem perto daqui… É mais rápido do que chegar em Lilycove, eu diria… Então… Umas 2 horas, no máximo. Isso se o Capitão não for um enrolão! — Respondi à ruiva, sorrindo em seguida. Minha noção de tempo não era lá a das melhores, mas acredito (e espero) que não leve mais tempo do que isso para alcançar Forina, afinal tínhamos de dormir cedo para acordar cedo e treinarmos bastante antes do Evento começar.
Notei, porém, que a garota já estava sonolenta demais para compreender minha longa explicação. Ela coçava seus próprios olhos de uma maneira tão encantadora, tão fofa, tão linda, tão maravilhosa, falando coisa com coisa sobre uma suposta Teoria da Conspiração Sorvetística. Derreti completamente, ainda mais quando ela questionou sobre eu estar sentindo frio e retirou o cachecol de seu pescoço para compartilhar um pouco comigo também. Uma volta a menos para ela para que eu recebesse um pouco do pano... Eu só não a esmagava em um abraço apertado, enchendo-a de beijos agora mesmo porque destruiria sua boa noite de sono. — Naty… Você quer deitar no meu colo? Se quiser, coloca a cabeça na minha perna. Vou ficar acordado até a gente chegar lá mesmo, ainda estou digerindo toda aquela batata frita... — Comentei devagar, ainda acariciando sua face com bastante suavidade para não fazê-la despertar de sobressalto. Entretanto, não obtive resposta alguma, além de uma respiração pesada que indicava que ela havia apagado completamente.
— Acho que um Munna usou Hypnosis nessa menina… Finalmente vou poder te ver dormindo como um passarinho… … Meu amor… — Sussurrei, mais para mim do que para ela, já que não estava mais escutando nada que eu dizia. Depois de tanto tempo segurando isso, finalmente pude chamar ela de “amor”, sem parecer um louco que já ama uma pessoa que conheceu no mesmo dia, mas apesar dela não poder ouvir, sentia-me mais leve e com o coração confortavelmente aquecido. Não haveria vento que pudesse levar esse calor do meu peito, da minha alma… Dei um beijo em sua cabeça, a altura de meus lábios e depois observei a escuridão do mar pela janela, afinal ainda tinha um bom caminho pela frente até Forina. Começava a me perguntar se eu mesmo aguentaria manter-me acordado até lá como prometi, pois o mesmo “pózinho de sono” lançado sobre a ruiva, parecia agora fazer efeito sobre as minhas pálpebras, cada vez mais pesadas. Bocejei, inevitavelmente, nem ao menos colocando a mão na frente, para não fazer movimentos bruscos… Aos poucos, sentia que a visão diminuía… E diminuía, conforme meu queixo abaixava-se, até pousar sobre meu próprio tórax. Será que… resistiria…?
Horas depois, que passaram como um relâmpago pela minha vida, desperto repentinamente com o baque da plataforma e um dedo, bastante inesperado, cutucando meu braço. Demorei a conseguir abrir os olhos, mas tive uma reação instantânea de prender as mochilas com minhas pernas, caso alguém estivesse tentando roubá-las, o que felizmente não era o caso, pois se fosse já as teria perdido. Quem me chamava era um dos funcionários do navio, afirmando que havíamos chegado em Forina e o serviço de bordo, encerrado. Confirmei com a cabeça, ainda sonolento demais para expressar-me verbalmente, mas movi a cabeça para o lado, afrouxando o cachecol involuntariamente. De forma inevitável, Natalie foi despertada, apesar de ainda demorar bastante tempo para entender o que se passava, levantar e enfim sairmos da embarcação. Contudo, assim que conseguimos, após umas boas dezenas de minutos, fomos recebidos por uma cidade litorânea agradável, de ares bucólicos, apesar do frio que ainda mantinha-se por ser noite. Além do mais, a decoração para o Teatro era evidente, com muitas referências óbvias à Alice e outras nem tanto, que seriam melhor visualizadas durante o dia. Para nossa sorte, havia muita sinalização e iluminação adequada, desde a porta do navio até o local onde deveríamos ir, afinal haveria uma espécie de pousada apenas para os competidores como nós, além de um Centro Pokémon próprio. Com nossas mochilas e nossos corpinhos arrastados, seguimos então nesta direção em busca de abrigo e uma cama, para o descanso merecido.