Holi Park - Quantas cores existem?

Tudo bem, eu podia conviver por ter mandado mal na entrada, mas podia consertar ainda. Eu tinha tempo. Não muito, mas tinha. Winnie me estudou demais e pensei ter sido descoberto. A fantasia era boa e só mostrava meus olhos, pois o cabelo eu normalmente penteava. Quantos garotos loiros de olhos claros existiam no mundo? Ela enfim pareceu ter desistido, levantando para me cumprimentar, um pouco mais que merecia, confesso. Beijo e abraço. Retribui sem ser muito abusado.

Bati continência para o garoto como se eu tivesse vontade de seguir carreira militar um dia. Então não iríamos dançar. Ficar e conversar? Com o garoto que ela acabou de conhecer? Hamtaro puxou um punhado de fios da minha cabeça tentando me avisar que era furada, mas gostei do desafio. Pedi licença e sentaria ao lado de Winnie, com o tronco meio relaxado para trás.

- Estavam conversando sobre algo interessante? - perguntei nada curioso - A gente podia jogar um jogo... O que acham?

Chegara o momento de tensão, Laerta já deixava claro seu descontentamento com a chegada de Matthew em só uma frase, alegando que uma conversa inexistente estava interessante sim; esse incomodo parecia ser recíproco já que,  na primeira proposta do reconhecido, me chamara para sair dali e dançar. Revirei os olhos, tentando juntamente a eles demonstrar minha indignação pela situação; aquilo era uma disputa pela minha atenção. Segurando-me para não infantilizar as duas crianças ao meu lado sentei no chão e, com bastante medo da resposta, perguntei a Matt:
- Que jogo? - Minha fala fora devagar, extremamente pausada, me dando margem a troca de assunto a cada sílaba, ainda assim terminei a frase, não era mais tão importante, Laerte acabara de pergunta a mesma coisa, então logo em seguida disse outra - Mas antes me diga; você vai a Verdanturf depois? - Perguntei, tentando em fim tirar minha dúvida se este era o tal Thito que enfrentei.

Ao final da indagação, olhei para Laerte, tentei reparar em sua fisionomia e seu sentimento de incomodo; não queria ter que lidar com isso agora, talvez mais tarde conversaríamos.

Toda a situação poderia até ser um pouco incômoda, porém, havia ganhado a atenção da já conhecida e do rival recém apresentado. Já estava quase revelando o que pensei quando Winnie me impediu de falar perguntando se eu iria para a cidade onde Daisuke me esperava. Tinha uma questão a mais na pergunta. A cidade seria sede do próximo concurso e com aquilo eu tive certeza de que ela estaria lá. Tentei não sorrir e estragar meu jogo, respondendo da forma mais corriqueira que podia:

- Talvez. Tenho um amigo que estava aqui no show e foi para lá e está me esperando. Por quê?

Me fazia de desentendido, dando a esperança dela me encontrar por lá. Thito ainda seria algo único e escondido de tudo por um tempo. A máscara e armadura eram formas de fugir das batalhas e entrar em palco sem pressão. Fazia aquilo apenas por diversão.

Quando fosse respondido diria e ditaria as regras do jogo:

- Verdade ou desafio. Funciona assim: Quando for a sua vez, você escolhe alguém e pergunta se ela quer verdade ou desafio. Dependendo da escolha a pessoa responde ou enfrenta o desafio. Se ela se recusar perde. Se fizer o correto, é a vez dela, mas se for escolhida de novo não pode ser a mesma coisa, como duas verdades seguidas. Deve ser uma verdade e um desafio, na ordem de escolha, claro. - fiz uma pausa para as reações e então continuei - Quem quer começar?

Remeti-me aos tempos de escola com as brincadeiras propostas por Matthew, mas não é como se eu tivesse crescido tanto assim, o problema com esse tipo de coisa era que, em qualquer hipótese, eu terminava completamente encabulada; dei de ombros, não era como se alguém ali já me conhecesse e, se criassem uma imagem ruim de mim. Que seja! Pensava. Não dando a mínima e, mais uma vez, dando lugar a novas experiências, virei ao menino e lhe disse firmemente:
- Eu começo, quero Verdade! - afirmei.

Sem ideia do que iriam perguntar me calei, dando espaço a resposta de qualquer um dos rapazes; quem iria decidir o que eu responderia? Não sei bem as regras do jogo, mas me parecia justo ser quem falasse primeiro. Olhei para Matthew e convidei para que se sentasse conosco, dando leves batidinhas na grama a frente.

E como esperado, a brincadeira era aceita e de dança estaríamos jogando verdade ou desafio. Winnie começava. Cheguei a sentar no gramado junto deles. Ela queria verdade e eu já tinha uma boa, só que fui brutalmente interrompido por uma verdade bem menos interessante e que, sem sombra de dúvidas, deixaria a menina no mínimo encabulada por ser descoberta de forma tão rasteira. Laerte tinha perguntado se ela sentia-se incomodada desde a minha chegada. Eu ficaria, contudo, me mantive calado esperando reação da mesma. Ela contaria mesmo a verdade?

Pensando um pouco mais, aquilo começava a ferir um pouco a mim como se a resposta da garota "escolhesse" ou desse preferência a um de nós dois. Mas não podia negar que tinha sido uma pergunta rude, que poderia ser sanada com um simples sim ou não.

Ao ouvir a pergunta arregalei os olhos e engoli frio, o que Laerte queria de mim? Olhei para os lados e demorei responder, não por não saber a resposta que iria dar, mas sim por não ter esperado nada do tipo. Este não é o menino simpático de outrora, a ideia de vê-lo sendo gentil só comigo me irritou o suficiente para me tirar do estado de inercia, depois de muito silêncio de crise interna eu finalmente resolvi me posicionar e responder a pergunta com as palavras que me veio em mente, sem muito pudor, soltando as palavras:
- Não, o que me irrita são homens que só conseguem ser simpáticos com uma mulher - dito isso, dei de ombros e levantei rapidamente do chão, mostrando uma indiferença que acabara de criar - infelizmente não estou interessada em pegar crianças para criar.

Dei as costas aos dois e andei em direção a saída, infelizmente deixei óbvio que meu próximo destino era Verdanturf e isso poderia me dar dor de cabeças se qualquer um dos dois realmente fosse para lá. Caminhei não tão rápido, olhando fixamente o visor do "celular", tentando centralizar minha atenção, assim não viraria a cabeça e ver o resultado que meus atos causaram a dupla de rivais. Usando o PokeGear, mandei uma mensagem para Vicent, contando que queria encontrá-lo e, ainda vasculhando a agenda curta, me deparo com o número do tal Thito que havia enfrentado no Contest, apertei em discar para comprovar minha teoria de que este era Matthew e coloquei o aparelho no ouvido, esperando alguma resposta; estava quase no guichê onde eu pegaria de volta meus pertences e pokemons.

Tudo o que fiz foi aparecer e me apresentar. Disse meu real nome e me sentei para uma brincadeira, disposto a jogar tanto com a guria de madeiras rosadas quanto com o emo encrenqueiro. Logo via suas reais intenções. Ele estava sendo petulante e inconveniente, mas até então tolerável. Bom, ao menos em parte, pois Winnie se mostrou incrivelmente incomodada inclusive comigo por estar competindo com o rapaz por sua atenção. Talvez eu não devesse ter aparecido. Ou talvez sim, sendo companhia melhor que Laerte. O fato era que ela levantou e foi embora nos deixando apenas a ideia de suas palavras. Eu olhei para o garoto de preto e fiz uma expressão que demonstrava o quanto ele tinha vacilado.

Levantei-me e tentei correr atrás da guria. Em vão, claro. Ela tinha se misturado com aquele mundo de pessoas, todas coloridas por tinta do evento. Ela era apenas mais uma na multidão e logo eu também me tornaria se a seguisse. Fiquei encarando os participantes do evento até que meu celular tocou e eu fiquei em estado de choque como se o Dedenne tivesse tal habilidade. O visor da p-gear dizia que era Winnie ligando para Thito.

Minha mente, insistentemente dizia não, enquanto meus dedos e o órgão de pulsação vital ficavam agoniados querendo atenter a chamada. Se eu assim a fizesse, a música e minha voz revelariam tudo. Se não atendesse, ainda a deixaria com dúvidas.

"Matthew, é só uma garota" - me repreendia, tentando colocar as ideias no lugar.

Quão ruim aquilo poderia ser? Outra pessoa prestes a descobrir um segredo que eu não tinha a intenção de revelar, ao menos não tão cedo.

Mordi o lábio inferior e tomei minha decisão. Apertei o botão junto com o coração e larguei o mundo num impulso adolescente e disse colocando o telefone no ouvido.

- Volta. Por favor...

Ainda não estava acreditando que confiei a garota um segredo e ainda não a conhecia direito. Iríamos nos encontrar em Verdanturf novamente, disto eu tinha certeza, mas não queria terminar ali, hoje, de tal forma. Com ela chateado e eu agoniado. Ela tinha a opção de me responder ou desligar o telefone. Esperava que não tomasse uma atitude que me fizesse arrepender da minha.

Assim que a mesma voz me respondeu ao telefone, meu primeiro reflexo fora olhar para trás; era impossível localizar Matthew naquela situação. Olhei no rosto de qualquer um e, mesmo procurando uma postura específica (alguém conversando no celular), era inútil. Dei-me conta da perda de tempo que seria tentar encontrá-lo aqui de novo e, junto a isso, reparei o quão grossa havia sido com o menino que, apesar de tudo, tinha tentado. Segurei firme no celular e, depois de muito pensar em minhas palavras, botei a segunda mão no cabelo, como quem passa a mão na cabeça para um erro bobo e disse:
- Eu sabia que era você! - Comentei, como seo episódio anterior não houvesse acontecido - Não da para voltar, até nos encontrarmos perderei o Contest. Me encontra em Verdanturf se for realmente passar por lá? - Convidei.

Ao fim, ligar para o menino me fazia me sentir mais leve; ouvi-lo pedir para voltar me tirava um grande peso das costas, aquela pesada culpa e arrependimento de, provavelmente, não ter lidado do melhor jeito com a situação. Sobre Laerte, provavelmente nos encontraremos, mas precisarei ser delicada com a situação, ele realmente me ofendera com seu modo de agir. Ainda com o celular na mão, agora parando de olhar em volta, chegava ao guichê que entrei, entregando meus documento e pegando de volta o que me pertence.

O que antes era pesado e conflituoso se tornou mais calmo de uma forma tranquila. Apenas de ouvir o tom de voz dela eu me fazia valer a pena ter atendido a ligação. Infelizmente ela não voltaria para me ver, contudo, me convidava para encontrá-la na cidade sede do próximo Contest.

- Tipo um encontro? - tentei fazer ela ficar rubra, mesmo que sem poder ver a expressão dela. Eu amava deixar garotas com aquela expressão fofa, mas logo me apressava - Eu aceito. Depois do concurso te levo pra jantar. Pode ser?

Aguardava por sua resposta, já me dando por satisfeito. Não a via como rival. Seria até divertido se tivéssemos a chance de batalhar de novo, mas eu cairia num dilema de cavalheirismo versos o guerreiro. Dar o meu melhor afim de vencer ou entregar a vitória pela felicidade dela? Talvez fosse melhor não pensar em possibilidades complicadas ainda.

A resposta do menino era determinada, não esperava nem um pouco aquilo; será que concretizarei minha primeira amizade enquanto treinadora? Sentia falta de alguém próximo. Ao som de sua proposição ruborizei, meu rosto esquentava e, ao mesmo tempo, combinava com minhas madeixas, esperei o efeito passar para então respondê-lo com mais racionalidade, não que isso fosse mudar alguma coisa, mas me sentia menos idiota.
- Não tinha pensado nisso - Pausei ao meio do pensamento - mas, porque não, né? - Completei.

Dito isso, despedi e desliguei o celular, esperando que Matthew não tivesse nada muito importante a falar, já que eu precisava dar atenção ao moço do Guichê, que me chamava a atenção desde que eu apresentei minha identidade, agora de orelhas livres, dei-lhe a atenção. Meio apressado e sem jeito, ele me entregara as coisas e com muito cuidado o ovo do Elekid, dizendo bastante animado que ele havia se mexido um pouco. Perdi isso! Pensei entristecida, mas logo o sentimento passara, me dando um ar de renovação, lidar com um dois novos laços, um nascimento próximo e mais um Contest - agora, deixando bem claro, que irei sabendo o que estou fazendo - estavam renovando alguns dos meus antigos ânimos desaparecidos. Agradeci ao atendente e fui, bastante satisfeita com o dia de hoje.

OFF: Desculpa os postes fracos de modo geral gente