A New Beginning

É fato que escolhi iniciar minha jornada pokémon, sair por aí, de cidade em cidade, vivenciando as experiências mais plurais possíveis, as situações mais inesperadas, encarando todo tipo de aventura que se possa imaginar; mas nunca passou pela minha cabeça estar onde estou, pelos motivos que se sucederam. Kanto, minha região natal, fora inundada por um pokémon lendário e, agora, encontrava-me em Hoenn, sem qualquer notícia de minha mãe, estava, talvez, sozinho novamente em minha jornada. Liza, a garota que me acompanhava, também ficara para trás. Estávamos Febo e eu, como no início, um para com o outro. O charmeleon andava ao meu lado, fora da pokébola e, tentávamos aproveitar o que o destino nos reservara da melhor maneira possível. Explorávamos a nova cidade, trazendo a curiosidade em nossos olhos, andávamos de rua em rua, encontrando as espécies de pokémon mais inusitadas e algumas até mesmo inéditas a coleção de dois novos aventureiros.

Como todo treinador, esperava encontrar alguma criatura selvagem que pudesse se aliar aos nossos objetivos e, caminhando de um lado a outro próximo à feira da cidade, misturávamos à população local, algumas com sacolas, denunciando seus gastos nas lojinhas expostas a céu aberto. O clima da região pouco lembrava a metrópole que cresci, agora, estávamos em uma cidade portuária e isso refletia em sua arquitetura e ambientação. Em suma, alternávamos entre a areia da praia em si e o calçamento das ruas civilizadas, mas possuía consciência, também, de uma rota que levava a uma outra cidade, ao norte, área ainda não explorada por mim.

Além do pokémon, carregava comigo também minha mochila, a mesma que utilizo desde que sai da casa de minha mãe, nela, itens básicos de um treinador, assim como algumas pokébolas para eventuais capturas - nunca saia sem garantir a posse de algumas delas. Por um momento, incomodei-me com o silêncio de Febo, que caminhava portanto uma expressão séria e agitava sua cauda a cada passo, espalhando, como sempre, algumas fagulhas pelo ar. -Então, Febo, o que acha que encontraremos? o pokémon não emitiu nenhum som, apenas me olhou e assentiu, de uma maneira incerta.

Considerava o temperamento um pouco incerto de Febo como resposta à brusca mudança que fomos forçados a fazer, entendia-o completamente, já que também me esforçava para me adaptar à nova região. A mim, apenas restava deixar o tempo realizar sua tarefa e trazer, para Charmeleon, a adaptação necessária. Um dia estávamos batalhando pelas ruas de Viridian, em outro, estávamos preso ao S. S. Anne, rumo ao, praticamente, desconhecido.

Desejei parar para conversar um pouco com meu pokémon, assim como fazia quando era um pequeno charmander; não consegui, porém, pois uma movimentação chamou minha atenção - um pequeno pompom rosa; pequeno, mas muito ágil. Direcionava-se para um beco próximo, o que resgatou minha memória da última vez que adentrei um beco, ainda em Viridian; simplesmente nos vimos em meio a criminosos - e sabe-se lá, ao certo, como escapamos intactos.

Antes de tomar qualquer decisão por conta própria, direcionei-me para Febo, desejava saber sua opinião, afinal, prezava mais pelo cuidado do “meu pequeno”, do que minha própria segurança. -O que você acha, garoto, seguimos? Entramos nessa mais uma vez? o pokémon olhou para mim, muito diretamente, e o fogo de sua cauda queimava ainda mais intensamente. Observei seu punho, cerrado, da mesma forma que assumia quando recebia meus comandos em combate; a resposta foi clara, o charmeleon ansiava por uma batalha; desde que nos separamos de Liza, afinal, ele nunca mais pudera testar suas habilidades, uma vez que era meu único pokémon e ainda não havíamos deixado a segurança da cidade, restringindo suas opções.

Imediatamente, corremos na direção do pokémon, mas ainda sim discretos, para que não o afugentássemos. Estava sedento para combater algum pokémon nativo da região, para ter um contato mais direto com as espécies; afinal, minha mãe raramente recebia algum pokémon de fora de Kanto e Johto para que ficasse em seus cuidados. .

Assim que adentramos no beco, deparamo-nos com uma baixa luminosidade, devido, talvez, aos prédios que criavam o beco em si. A cena a nossa frente, porém, ainda sim era nítida: o pompom em cima de uma lata de lixo; podemos, agora, adicionar novas características do pokémon, como suas orelhas pontudas, e com uma rosto amigável, sorridente. Observando com mais cuidado, notava-se que, em sua boca, havia um fruto também rosa, assim como a criatura. Saquei a pokedex do bolso e pedi informações a respeito.

Febo mostrava-se despreocupado a respeito do pokémon, que agora nos observava curioso, com seu rosto pendendo para o lado direito do rosto -posição que me fez sorrir de banco de boca, involuntariamente. Diante do pokémon, não pude pensar em qualquer movimentação ofensiva, afinal, ele parecia ser muito adorável para querer qualquer tipo de confusão, ou seja, ele não parecia que causaria problemas a Febo ou a mim.

Tratava-se, então, de um Skitty, segundo as informações da pokédex; e o temperamento descrito fazia jus ao que ele apresentava. Logo saltou de sua base, a lata de lixo, e aproximou-se de Febo, que, em primeiro momento virou o rosto para o pokémon gato. Não que o charmeleon quisesse ignorar o pequeno que estava ali, mas sim, desviar o olhar para que não saísse de seu tom sério. Bastou, porém, que o Skitty lhe oferecesse a berry para que Febo se entregasse ao felino, dando uma pequena mordiscada na fruta oferecida; de uma forma até mesmo cordial. Foi quando os ronronos se iniciaram, deixando meu pokémon embaraçado.

Já havia desistido de uma batalha, então ajoelhei-me próximo ao novo pokémon e acariciei seu pêlo, afagando-o. Quem sabe aquele fosse o momento de descontração necessário para todos nós. Não pude deixar de pensar em Liza, ela iria gostar de encontrar um pokémon daqueles - e o provavelmente o espantaria com gritos de “óia o bichano”, ela não o faria por mal, mas sim por ser calorosa demais. Estaríamos juntos, mas Liza, momentos antes de embarcar, decidiu que voltaria para trás, para a origem de nosso encontro - a fazenda de seus pais. Não pude sequer cogitar impedi-la, afinal, tratava-se de sua família. E eu sabia, no fundo, que tudo estava bem, tanto com ela, como com seus pais, seus pokémons e até mesmo minha mãe.

Estava mergulhado tão profundamente em meus pensamentos que nem me dei conta que Skitty voltara a brincar nas pernas de Febo, que mostrava-se um pouco mais participativo em relação às brincadeiras do pokémon gato. -E o que faremos com você? Muito provavelmente não batalharíamos, mas também não sabia dizer se deveria capturá-lo; ele era realmente muito divertido, mas não tinha certeza, ainda, se aquele pokémon me agradava como um possível companheiro… Mas estaria eu pensando em apenas status, ao invés de uma relação verdadeira entre treinador e pokémon?

Continuei a observar ambos os pokémons, esperando quais surpresas Skitty estava guardando para nós. Não pensava, agora, no que era certo ou errado, se deveria ou não tomar posse do pokémon, estava apenas curtindo a cena que se desenrolava, minha atenção era principalmente de Febo, que começava a se mostrar cada vez mais relaxado.

Então o pokémon selvagem voltou sua atenção para mim, fitando-me; novamente, acariciava o pelo de Skitty, sentia-me, porém, um tanto quanto estranho, já que não senti nenhuma grande conexão com aquela criatura. Lembrava-me a primeira vez que vira Febo, a euforia em possuir meu primeiro pokémon, nas aspirações que já desejava para aquela recém dupla; com Skitty, porém, não havia nada disso. Não que eu não gostasse do pokémon, muito pelo contrário, mas apenas não houve uma conexão forte o suficiente para “desejá-lo”. Sejamos sinceros - um treinador e seu companheiro devem estabelecer esse tipo de vínculo, ou a chama que os movimenta, que os incentiva a seguir em frente logo se extinguirá.

Desejava seguir em frente, mas o receio de Skitty ser o único pokémon a ser encontrado fez com que me demorasse com a criatura. Talvez, pudesse aproveitar a oportunidade e sugerir uma batalha - mesmo que eu continuasse achando que não era essa a vontade do pokémon e, também, não conseguia imaginar o pequeno gatinho desmaiado devido aos ataques de Febo. E se… -Skitty, precisamos seguir em frente, ainda temos muito o que explorar…Digo, Febo e eu… Talvez você queira continuar seu rumo, não? tentava escolher as palavras com máximo cuidado para não ferir o pokémon, sentimentalmente -Ou quem sabe queira nos acompanhar… Por ora. Não desejava, verdadeiramente, que SKitty fosse minha responsabilidade, mas, se assim fosse sua vontade, assumiria seu cuidado momentaneamente.