01 - Uma wooper entre vulcões

Erica soltou um suspiro audível de alívio quando percebeu que, no final, a situação se resolveu de uma maneira ainda melhor do que esperava. Ainda que fosse improvável, um pokémon com pouca vitalidade, mas ainda acordado poderia lutar contra uma captura. Desacordado, isso seria muito mais simples.

Ela pega uma pokébola vazia da mala e aperta o botão central, expandindo-a. A textura em sua mão é confortável, a ciência e tecnologia por trás garantindo que fosse o mais ergonômica o possível. Aquela era sua primeira captura, havia certa beleza nisso.

Erica lançou a pokébola em direção a zigzagoon, esperando que fosse uma captura suave.

- Você lutou muito bem, Frida! Eu tô muito orgulhosa de você! - exclamou, sem tirar os olhos da pokébola.

Frida dá um saltinho, alegre, mas dá um gemido leve de dor e cansaço quando pousa. Estando cansada da batalha, qualquer esforço era um pouco mais exigente. Erica se aproxima dela, lembrando de não tocar diretamente nela, e se abaixa em seu nível.

- Você tá bem cansada, né? Eu tenho uma ideia, mas não sei se vai dar certo. Tenta jogar água por cima de você mesma. Com sua habilidade, talvez você consiga recuperar um pouco da sua força.

Mesmo depois de nocauteada, a zigzagoon teimava em ser capturada. Erica chegou a cogitar se deveria só deixá-la lá, se recuperando sozinha e seguindo sua vida selvagem. Ponderou o quanto fazia sentido ficar forçando um pokémon a seguir jornada com ela, o quanto aquele sistema de tirar pokémons de seu habitat natural era ou não saudável e como isso impactava na produção de subjetividade do pokémon, que acabava por criar uma síndrome de Estocolmo.

Pegou uma outra pokébola na mochila e lançou na direção da zigzagoon. Queria, sim e afinal, que viesse em jornada com ela.

- Mas essa daí é durona, hein, Frida? - riu Erica enquanto torcia para que a pokébola firmasse a captura. Pegou a primeira pokébola, agora em pedaços, para jogar fora assim que chegasse na cidade e evitar lixo.

Frida concorda, mas ainda fraca demais para qualquer ação mais expressiva. Ela estava bem cansada e era nítido o esforço que fazia para se manter de pé. Talvez a precisasse de mais água para que ela pudesse ter alguma mudança intensa na vitalidade. assim que pudesse, iria andar com garrafas para enchê-las e garantir que Frida passasse pelo minimo de sufoco necessário. Erica alcançou a oran berry ao pé da árvore e estendeu para Frida, que mordiscou de leve antes de comer com mais vigor.

- Isso, acho que agora você vai se sentir melhor.

Erica olhou para a copa da árvore, tentando identificar se havia mais frutas que pudesse pegar. Tentaria guardar na mochila o máximo que pudesse. Não tinha certeza o quanto demoraria até Mauville nem quantos embates teria até lá. Com apenas uma potion na mala, Erica não queria correr riscos evitáveis.

Irritada, Erica contemplou rapidamente colocar o pokémon a força dentro da pokébola e garantir que não se soltasse. Será que havia alguma associação protetora dos pokémons? Nunca ouviu falar sobre isso e, de qualquer maneira, não havia ninguém por lá para censurá-la. Qual era a chance de uma pokémon nocauteada não conseguir ser capturada? Quantas pokébolas ela teria que gastar?

Ela decidiu que duas era o suficiente.

- Frida, vamos! Não vale a pena todo esse esforço. - bufou Erica, pisando os pés pela rota.

Frida, agora revigorada, gritou animada, ainda que tenha tardado olhando a zigzagoon caída no chão. Já tinha aceitado que teria uma nova companheira de equipe. Ao mesmo tempo, não fazia tanta questão. Agora que estava com toda a vitalidade, Frida voltava a saltitar na frente de Erica, curtindo estar ao ar livre. Ela parava vez em quando para que Erica pudesse alcança-la, antes de voltar a correr rota adentro. Era uma wooper especialmente energética.

Ainda havia um bom percurso até chegar a Rota 111 e, de lá, até Mauville. Não possuía muitas pokébolas agora e tomaria mais cuidado com os próximos selvagens que encontrasse. Erica tinha uma noção leve de quais pokémons poderia encontrar nas próximas rotas, só esperava não ter que dedicar tanta energia emocional para aumentar sua equipe.

Erica andava tão presa em seus pensamentos emburrados que ela demorou ara perceber que estava escurecendo rápido demais. Frida, por outro lado, foi andando cada vez mais devagar até se aproximar de Erica, buscando proteção. Foi quando de fato Frida parou e Erica tropeçou, indo ambas ao chão, que ela percebeu a névoa. Uma névoa espessa e que ia escurecendo cada vez mais a luz do dia. Não havia nem como pensar que eram as copas das arvores, que elas não eram tão próximas a ponto de desiluminar a Rota.

O medo coçando a garganta, leve demais para sair pelos poros, mas agudo o suficiente para não passar desapercebido. Erica se perguntava se algum pokémon estava provocando aquilo, uma névoa tão pouco natural para aquela região vulcânica. Se fosse, seria só uma questão de batalhar e resolver o mistério. Mas e se fosse outro o motivo? Não sabia o que poderia ser, mas e se fosse algo além? Ela conseguia ver o céu sobre ela, mas nada quando olhava para qualquer outra direção.

Frida gemia baixinho, acompanhando Erica bem perto de seu pé, fazendo-a tropeçar cá e lá. A coragem que mostrava antes, contra a zigzagoon, agora já se dissipara. Erica tentava se manter corajosa por ambas e seguia em frente.

- Vamos ficar atentas. a gente não sabe o que pode surgir e nem de onde. Fica perto de mim, tá? - sussurrou Erica.

Poemas melancólicos e repletos podridão e desamparo passavam verso a verso na mente de Erica, que murmura baixinho, como se fossem mantras para continuar a caminhada sem correr pelo caminho que viera. Isso se conseguisse encontra-lo, agora que a névoa era tão espessa que qualquer direção era a mesma. Seguiu em frente até chegar na clareira, que não trazia qualquer tipo de conforto. Um rochedo imponente e sinistro agregava estranheza a situação.

- Frida, water gun perto da região da placa. - balbuciou Erica. Frida soltou um gemido fraco e obedeceu ao comando. Frida também não estava nada confortável com aquela situação, estando acostumada a uma taxa alta de luminosidade.

Talvez a água conseguisse limpar um pouco da névoa e ela conseguisse ler o que estava escrito. Mas se não desse, ela também não fazia tanta questão de ficar lá para descobrir e voltaria a caminhar até conseguir sair de lá. Não fazia o menor sentido aquela névoa, sobretudo se não era produzida por um pokémon. E, se fosse, talvez ela não quisesse encontrar esse selvagem. Erica nunca fora conhecida por bravura. Era esquentada e impaciente, mas corajosa era um trato que não lhe era marcante. Frida tinha mais coragem que ela, mas mesmo nesse cenário não tinha uma performance muito melhor.