[Ruas] Um Novo Começo!

Um Novo Começo!

Era um dia calmo em Oldale, podia se dizer que fosse cotidiano, já que em nada afetava a visita de uma jovem demasiadamente cansada aquela vilania, ou talvez até ajudasse alguns comerciantes ambulantes que pareciam querer vender itens aos turistas, alguns tinham preços bem salgados, e Lynn estava mal da grana.
Na verdade eu estava saturada de tudo e a todos, essa minha velha mania de mudar a fala de pessoa, sou uma péssima narradora, diga-se de passagem. Contudo minha perspicácia levava a pensar que talvez chegasse a hora de trabalhar, arrumar um trampo em troca de trocados, e os únicos serviços que posso oferecer são culinários, talvez garçonete num café fosse a opção mais viável.
Da região que venho tem um conto antigo que as crianças ouvem, é sobre borboletas negras que vagam pela noite efêmera, elas levam consigo desejos e sonhos para uma nova geração a ser acolhida, protegendo-os do frio ao aquecer seus corações. Se tal fato fosse real, onde elas estariam agora? Justo quando preciso delas.
Continuo a vagar pelas ruas, elas eram simpáticas e acolhedoras, bem visíveis e bonitas, Oldale se enfeitava para acolher quem precisasse de um abraço numa hora difícil, e ainda que se notasse pelas avenidas uma leve baderna e conversaiada todos tentavam a deixar colorida, o suficiente para que o monótono preto e branco se distanciasse.
- Você ia gostar daqui pai. – Minha boca se move por vontade própria.
Por que me lembro dele? Achei que tudo tinha ficado no passado, desde o fatídico incidente, o inferno que marcou o encontro do tempo e da morte, tudo aquilo se tornava presente ultimamente, trazendo consigo um começo de desventuras.
Por oras mudo o pensar e foco naquilo que inicialmente eu deveria estar fazendo, corro até um banco da praça, subo nele e encho o peito com todo ar que tenho, o suficiente para minha respiração ser alterada.
- Oi gente! Alguém precisa de uma garçonete!  - Gritei com todas as minhas forças, era uma ocasião de deixar energias negativas para trás.
O vento soprou pelo meu cabelo e se distanciou, uma brisa que passou em calmaria e que deixasse uma garota acenando enlouquecida e sorrindo, com certeza o destino estava por ali tecendo suas linhas e as borboletas a voar.

Um Novo Começo!

Em meio a uma cena roubada, uma outrora se sucedeu, e fosse justo uma briga de bar, da qual em vida cansei de presenciar, talvez pelo passado de cozinheira, ou simplesmente pelo fato de que o destino tende a brincar comigo.
Arregacei as mangas da camisa, ajeitei o cabelo com um balançar, queria parecer bem vestida, se bem que em termos de moda, meus gostos fossem diferentes dos demais. Desde novinha que Lynn fugia do monótono comum.
Uma característica minha me puxou para onde a conversa acontecerá, se chama instinto, era lá que eu deveria trabalhar, aquele lugar me roubaste a atenção que fizeram meus passos acelerarem junto às batidas do coração.
Pulei uma mesa que ficava no caminho, apoiei a palma da mão sobre sua superfície e saltei para perto do gerente, queria agarrar aquela oportunidade mais que tudo nesse momento. Aterrissei a poucos centímetros de sua figura que possuía um semblante pessimista.
- Parece que surgiu uma vaga e justamente a de garçonete. – Acariciei um dos seus ombros, precisamente o direito.
Trocamos rápidos olhares que fossem como um cumprimento informal, ele não demonstrava ter muitas opções nessa situação, estávamos no mesmo barco que ficava suspenso sobre a água, todavia prestes a afundar.
A fama do bar só piorava pela aquela cidade, era o que dizia os boatos captados por meus ouvidos, não haveria muita gente interessada em se estressar a um preço baixo, porém não quer dizer que ninguém aturaria um serviço daqueles.
Prossegui de pé e sorridente,  quis deixar ali uma impressão duradoura e de confiança, que Lynn resolveria e superaria qualquer obstáculo, a vida é uma montanha que precisa ser escalada, ainda que a queda seja mortal.
- E Bang! - Apontei lhe uma arma feita com base num gesto de mão, simbolizando um ultimato.

Um Novo Começo!

Corri ao vestuário do local para trocar de roupa, não que eu fosse adepta de usar vestimenta laranja com uma saia curta, contudo fosse meu uniforme de trabalho e precisava o por sobre o corpo.
Depois de me arrumar conforme mandava a casa, peguei um bloquinho de anotações que trago comigo aonde vou, geralmente descarto as folhas ao queimá-las num ritual próprio que simboliza o desapegar.
Apressei os passos após reparar num relógio do bar que talvez Lynn estivesse um pouco atrasada, parece que há uma enorme diferença entre ser a garçonete e a cozinheira, infelizmente só me dei por conta dessa circunstância ao me deparar nela.
Coloquei um sorriso bobo no rosto, gorjetas são sempre bem-vindas, dinheiro não pode ser recusados na minha situação e o melhor jeito de adquiri-lo é um bom atendimento, espero que os clientes gostem de cair no meu joguinho.
As pessoas acham que estão a jogar comigo sempre, pensam que cai na brincadeira delas, contudo na verdade são elas que são manipuladas a embarcar numa partida contra quem não irá perder, nesse passatempo muitos são os que apostam alto.
Manipulei a caneta para que transitasse em meio aos dedos, como uma maneira de provocação, talvez conseguisse roubar o “pombinho” da “pombinha”, não que o desejasse, todavia seria divertido.
Eles tagaleravam sobre algum assunto que desconhecia, era ruim de escutar também, já que o ambiente estava agitado, a localização atraia pessoas com certa facilidade, porém essa peculiaridade fosse capaz de me arranjar momentos novos.
- Olá, para esse lindo casal. – Mexi com a língua, a fazer circular entre os lábios. – Desejariam uma bebida ou estariam interessados em nosso cardápio. – Apontei para um impresso que ficava sobre a mesa, colocando-me próxima ao moço.  – Posso realizar seus pedidos? – Pronunciei numa forma de sussurro que os permitia ouvir.
Cruzei as pernas a apreciei o vento, seria embaraçoso se ele soprasse forte, só que por outro lado, seria legal ver a cara de espanto da multidão. Com certeza se poderia dar boas risadas.

Um Novo Começo!

Anotei os pedidos enquanto acenava com a cabeça em sinal de positivo. Era notório o ar do ambiente em especial vindo daquela mesa, a jovem demonstrava não ter gostado das minhas ações e o moço abobado para com aquela situação, tudo ia conforme o plano.
– Pedido anotado, volto em alguns instantes. – Pisquei para eles como uma maneira de gracejo.
Realmente eles tinham minha atenção, curto conhecer coisas novas que me levaram a sabores exóticos, que tipo de gosto essa brincadeira teria? Foi com esses pensamentos que me aproximei do balcão de atendimento e entreguei a anotação.
Retirei uma latão do congelador, um detalhe importante sobre líquidos é que não se deve segurar embaixo para não esquentá-lo, o melhor é segurar pelo bico na parte de cima, assim a temperatura não é tão afetada.
Posteriormente servi em um copo, o pus sobre uma bandeja e a levei até o casal. Coloquei a estrutura de vidro próxima a ele, sorri para ambos, mostrando uma faceta alegre que lembrava entusiasmo e empolgação.
– O resto já vem, peço um pouquinho de paciência.  – Girei a bandeja na mão, utilizando de um dedo indicador.
Segui então para onde havia se sentado um senhor elegante com terno, desde que entrasse no estabelecimento tinha notado sua presença, ela estava inquieto, talvez incomodado com a baderna ao lado.
– Não gostaria de uma outra mesa? Ou de realizar algum pedido senhor? – Perguntei com um tom educado.
O jogo estava dando certo, tudo ia ocorrendo conforme as regras, isso era bom, significava que no fim, as pessoas desse continente não eram tão diferentes daquele qual nasci, ambas estavam apegadas demais ao monótono diário, o que tornava entediante ter de conviver com eles, todavia as vezes era legal ver onde essas histórias iam acabar, que momentos marcantes elas iriam criar.

Um Novo Começo!

Meu braço era puxado por uma adolescente que queria ser atendida, ela dizia ter chegado primeiro e como se tivesse muita pressa já ia pedindo sem pestanejar, essas pessoas que acham que os outros não têm mais o que fazer.
- Certo irei solicitar os pedidos, e já trago assim que possível! – Sorri para elas de maneira amigável, mesmo que por dentro estivesse furiosa.
Anotei os pedidos no bloquinho que carrego, a letra cursiva e uma grafia que não era das melhores, no fim reposicionei a caneta junta a orelha e reparei no semblante do homem, queria ver sua reação.
Acenei para o senhor num sinal de calma e pisquei para ele, era óbvio que ia lhe dar preferência, ele tivesse sido bem educado. Caminhei em passos rápidos em direção ao interior do bar, olhei em volta e procurei uma mesa, ao obter a resposta, fiquei a suspirar fundo.
Subitamente rumei ao balcão, lá solicitei as sodas e o coquetel, tive de esperar que o último fosse feito e com ferocidade os joguei sobre a bandeja e comecei a girá-la demasiadamente sem cessar, esse movimento reduzia o estresse dos membros superiores do corpo.
Cheguei na mesa das “patricinhas” e servi elas com delicadeza, não gostaria que elas descobrissem o que se passava na minha cabeça, afinal coisas como : “Morra!” “Não deseja que um caminhão lhe atropele também?” Iam acabar espantando elas do estabelecimento, e tal alto ia ser bem terrível.
- Okay, estão atendidas, gostaria de mais alguma coisa? Talvez algo de acompanhamento, o menu tem bastante opções. – Parei para pensar e sem querer em rápido deslize deixei escapar. – Eu acho... – Tapei a boca e dei um relance ao redor. - Já volto para atender, só um instante! - Abaixei a cabeça num sinal de pedido de desculpa, geralmente seria evitado e em especial odiava me curvar.
E então como num passe de mágica(ou nem tanto) lá estava euzinha falando com o elegante homem sobre a possibilidade de leva-lo para o interior  do estabelecimento. Acabei tendo de fuçar da caixinha de memórias, se havia ou não um assento disponível.