Hangover

Muito aconteceu em Mountrock para mim; por mais que quantitativamente pouco passei naquela cidade desta vez, muito me atravessou. Infelizmente não estava no clima de lidar, nem mesmo olhar, para meus pokemons. Queria ficar sozinha e pensar um pouco mais sobre mim; auto-análise é um luxo que raramente me dou, mas este era um tempo ótimo para isso. Botei a mochila nas costas, sai do centro pokemon chutada e, ao pisar na fronteira nativa da cidade, encarei uma enorme placa sobre o misterioso ponto turístico local; não era em Mountrock, mas era bem perto. Estive aqui um dia e não quis passar pela tão famosa "Meteor Falls" por pura preguiça ou falta de interesse, mas agora - sem rumo, confusa e bastante cabisbaixa -, uma cachoeira, um sossego e uma areia fina grudando na pele pareciam vir a calhar.

Apertei as alças da mochila, prendi o cabelo em um rabo de cavalo curto e segui trilha; era quatorze e meia quando fiz isso, as dezesseis eu já pretendia estar lá, e assim ocorreu. Encarei o sol da tarde com um adeus; ele já ia se por, e eu? Bem, eu já já iria embora para dentro do complexo de roxas. Subi algumas formações rochosas estranhas e ignorei toda e qualquer placa de história do local; eu já sabia que ali era um espaço interrogativo, ninguém sabia com segurança como isto fora formado ou como permaneceu assim. Não há história que justifique a complexa formação geográfica presente neste terreno, logo, não há porque eu ler mais sobre a dúvida dos outros, além de que, pouco me importa.

Continuei o trabalho árduo de ultrapassar as pedras da cordilheira rapidamente, tratando de encontrar o mais rápido possível uma entrada subterrânea que me desse a melhor visão possível da cachoeira submersa.

OFF: Olá narrador(a)!! Estou aqui a caminho do  Valley of Steel, visando o Swarm, então estou procurando uma rota bem rápida. Espero que seja divertido anyway <3

Minha paz e minha trilha fora incomodada por um barulho um tanto quanto estranho; eu devia saber o que isso significa? Inicialmente pensei em dor ou algum tipo de sofrimento e imediatamente comecei a trotar, visando velocidade e firmeza para passar por aquelas pedras, mas logo parei. Não posso dizer sobre o som, mas em meus devaneios cogitei que aquilo não fosse nada além de barulhos indefinidos. O padrão, a amplitude, o local, o ritmo; normal ou não, não consegui assimilar a algo de fato importante e até cogitei contorná-lo, fugir de encontros desnecessários. Olhei em volta procurando um segundo, terceiro ou quarto caminho, mas ao que tudo indicava, para entrar nas tais cachoeiras eu precisava pisar em direção ao som. Oh deus; o que diabos me espera? Melhor não pensar nisso.

Decidi voltar mover os pés; não mais em trote e nem em caminhada, mas em passos rígidos e esquisitos. Eu não estava devagar e nem rápido; não estava ansiosa nem relaxada; não estava travada nem flexível, eu estava apenas... estranha, sabe? Pisava forte mas pegava pouco impulso, não dobrava os joelhos completamente e quase arrastava a sandália no chão hora ou outra. Era-me custoso enfrentar aquele som e, quanto mais perto eu chegava, mais forte meu passo ficava; era como se eu marchasse por obrigação, com um desanimo inevitável, porém cumprindo a velocidade mínima por sentir-me no dever de ir à frente.

OFF: Hey U <3

Movimentei-me forçadamente até sentir o cheiro apaixonante; pela quarta vez nesta pequena rota meus passos mudaram. Voltei ao trote, porém não com velocidade, mas sim um saltitar. Um misto de sentimentos me viera a tona quando aquela essência chegou ao meu nariz, filha de cozinheiros sabe bem o quão saborosa uma comida está só pelo cheiro! Fui a frente eufórica; era o primeiro sentimento extremo que tive durante está trilha, e o aproveitaria bem. Atravessei até o topo mais animada e, já com uma vista privilegiada, pude fitar o guisado e o homem que sofria; meu primeiro palpite estava certo, em contra partida, minha decisão final, relativa ao gemido, estava completamente errada. Apressei-me numa corrida morro abaixo, mudando o ritmo pela quinta vez; não sabia qual instinto estava seguindo, o de proteção e maternalismo ou o da simples fome.

Tentei chegar o mais rápido o possível naquele homem, mas não sem antes anunciar minha chegada; ele estava de costas, não iria incomodá-lo apenas na hora da aproximação, era bom anunciar que a ajuda estava a caminho, ou ao menos, tentava estar:
- Está tudo bem??? - Gritei de longe, ofegante porque corria - Estou indo ai!! O que aconteceu??? Eu te ajudo!! - Intercalei as pontuações.

Encarei o velhaco com melhor porte físico que eu; para conseguir subir aquele terreno ingrime com esta idade, certamente o homem tinha um preparo e condicionamento físico invejável. Aproximei-me devagar e observei sua mão pouco manchada, realmente não parecia ser grave, então destencionei. Caminhei mais devagar ao encontro do homem e aceitei seu convite com um sorriso meigo e um balançar de cabeças positivo, sem ver necessidade de abrir a boca e comentar algo sobre, ocupando-a com outro assunto:

- Você quer ajuda pra cuidar dessa mão? Tenho uns panos velhos na bolsa... e água também - Propus, mesmo reparando que, para fazer um guisado, a pessoa deveria ter bem mais água que eu, então o segundo elemento não era lá tão raro - Inclusive, está aqui fazendo trilha também?? - Indaguei, iniciando um diálogo.

Minha preocupação abafara a proposta anterior do velho; em minha cabeça eu já havia dito sim, mas esqueci de externar a decisão. Felizmente o velhaco percebeu e me deu um prato bem cheio, e me oferecera um pãozinho que aceitei com gratidão e grande sorriso. Comi devagar; não sei ao certo se aquilo estava bom, mas com minha fome, qualquer coisa me satisfaria:
- Oh, obrigada por isso - Disse, sobre o guisado - Eu to indo pro mesmo lugar... Acho que não nos apresentamos ainda, né? Meu nome é Winnie - Inseri três frases seguidas, de forma pausada.

Eu convidaria o moço para ir comigo até o Valey, mas ainda não o conhecia o suficiente para achá-lo uma boa companhia; nem julgá-lo confiável. Preferia trocar mais algumas palavras e contar com mais algumas informações sobre ele; além disso, vim nesta viagem com o único objetivo de sossego, se não for para ter paz, não há porque prosseguir nesta direção.

- Winnie? - O velho pareceu pensativo. - Eu conheço esse nome de algum lugar. - Continuou pensativo e então seu rosto se iluminou. - Oh, isso mesmo. Que surpresa. Blake me falou de você, ele disse que lhe recrutou junto com mais dois rapazes para a sociedade. Eu sou Charles Netero, líder da Circulus Virtutum. É um prazer conhecê-la pessoalmente. - O homem parecia muito feliz e surpreso. - Nunca achei que encontraria um dos novos membros por aqui.