O Cavaleiro dos Dragões chegou: Katakuri e o Teatro Draconiano!

Ora... Talvez Katakuri realmente soubesse agir como um cavalheiro quando lhe convinha; apesar de sempre existir a possibilidade de estar simplesmente a imitar algum conhecido... Ou talvez não, pois simplesmente não detinha lá uma mente minimamente brilhante para pensar em tal estratégia, de forma que acabara por convencer este que o narra de sua mínima decência. De qualquer forma, suas palavras pareciam ter algum efeito positivo sobre a garota, que mesmo estando atormentada pelo vento frio da noite - Que alias, aos poucos parecia diminuir, justamente para que o público pudesse dar mais foco ao casal em cena - conseguia esboçar um belo sorriso em sua pele pálida, apesar de suas bochechas terem sido maquiadas com pó vermelho para simular a sensação de frio. Ela o observou por um instante, e após deduzir como verdadeira a fala do rapaz. - Me chamo Selena. - Respondia à moça, um tanto timidamente, agora que o efeito de neve enfim cessara. - Como pode ver... Sou uma dos Cartolas. - Anunciava a moça, se desvencilhando de Stantler por um instante para ajeitar a própria cartola. Alias, estranho como parecia haver todo um clã de criadores de cartolas... Pelo visto cartolas era algo muito comum pela região.

Stantler, apenas de forma a proteger sua mestra, se colocava frente a esta, assim permanecendo entre Selena e Dawn, não sem antes liberar ao jovem um olhar um tanto duvidoso, questionando a real integridade do moço, afinal, sequer o havia visto antes. - Ah, o Jaguadarte?! - A moça repetia, ao se lembrar da tal missão que o rapaz dizia ter sido enviado. Havia um tom de temor em sua voz, a deixar claro que a ferocidade da criatura lhe causava espanto - Uma fera terrível, dizem! Deves mesmo ser um bravo cavalheiro... Sequer imagino, eu, frente a uma criatura destas; minha cartola tremeria igual gelatina. - Continuara ela, abafando um risinho, ao imaginar uma cartola feita de gelatina, mas logo sua feição mudara pois realmente deduzira que era uma possibilidade. - Hum... Até que seria uma opção interessante... Usaria uma cartola de gelatina, Sr. Ornstein? - Dizia a moça, no que poderia parecer um pouco de devaneio, mas era simplesmente um membro do clã da cartola sendo o que era: Um pouco... Maluco.

- Enfim... Não fora minha intenção estar aqui... Na verdade, estou perdida. - Continuava a moça após alguns instantes, finalmente a responder o que estaria a fazer naquele local inóspito, durante a noite. - Recebi uma nova encomenda, uma cartola para funeral, em que o cliente pediu que constasse um pequeno ramalhete de flores de Maractus. Então, saí pela manha, rumo às Montanhas da Divisão, que é onde tais flores florescem, apenas sob os picos mais altos... Mas, me distraí com o Coelho Branco e então quando vi... Me perdi, e estou perdida desde então.- Contava ela a história de forma a desviar por várias vezes seu olhar a seus pés. Era claro que apesar de um tanto confusa e bela, a moça também era tímida, e parecia querer fugir dos olhares do jovem. Enfim... Como aquela interação teria andamento?

Katakuri parecia um tanto confuso com as palavras de Selena. A moça realmente não era o melhor exemplo de sanidade; mas como dizer o que era insano ou não em um universo onde cogumelos poderiam ser usados de trampolim, as flores eram gigantes e falavam, e os flocos de neve tinham gosto de sorvete de menta? O país das maravilhas por si só era um lugar decididamente insano, onde nada era o que parecia ser, e tudo o que parecia ser, não o era. De qualquer forma, apesar das dúvidas levantadas por Stantler, que continuava a observar o rapaz com olhos duvidosos, Selena parecia confiar no jovem cavalheiro. - Ah, nunca ouviu falar do clã da Cartola? Estranho... Somos nós quem confeccionamos a todos os chapéus e apetrechos para cabeças de todos do reino. Inclusive, a coroa da rainha de copas é uma criação nossa... Mas, bem... Vejamos como posso colocar em palavras mais fáceis... - Dizia a moça um tanto empolgada quando o assunto eram suas cartolas e chapéus. - Bom... Toda minha família, desde meus antepassados, foram chapeleiros. Todos de minha família foram, são, e serão, chapeleiros. Fazemos chapéus a todas as situações, formais ou não, que ditam certo código de vestimenta. Somos assim, o clã da cartola. Nunca ouviu falar do Chapeleiro Maluco? Ele é meu primo. - Continuava ela, ajeitando uma vez mais sua própria cartola.

Contudo, conforme a conversa fluía, uma sensação estranha dominava a garota. Parecia sentir-se extremamente envergonhada quando o rapaz dizia que estaria em segurança a seu lado, e que poderia seguí-lo se desejasse, afinal, pareciam ter ao menos uma parte do trajeto em comum. Não parecia estar acostumada a tal cavalheirismo, principalmente vindo de alguém que acabara de conhecer... Mas, ainda assim, parecia querer confiar no jovem, de forma que mantendo seus olhos em seus pés, a moça demonstrara um desajeitado aceno positivo, concordando com a oportunidade dada pelo rapaz. - Se não for lhe causar incômodo... Eu aceito a ajuda. - Continuava ela, timidamente. Pois é... A não ser que o assunto fosse cartolas, a timidez da garota parecia dominá-la, como se houvessem duas Selenas em cena, uma empolgada e a outra receosa, com uma alterando a outra com a simples menção de alguns determinados assuntos.

Contudo... Nem tudo era um mar de rosas... Sons e estalidos começavam a ser ouvidos de um aglomerado de árvores cenográficas mais ao fundo, como se galhos estivessem sendo quebrados ao serem pisados... Poderia ter alguém por ali a vigiá-los? Um pokémon, quem sabe? Poderia até mesmo ser um novo libélula a ameaçá-los. De qualquer forma, Selena fora a primeira a ouvir os sons, e sua imediata reação fora a de se abraçar a Stantler, que imediatamente se voltara até até o lugar de onde os sons vieram. - Vo - Você escutou isto, Sr. Ornstein? - Dizia a garota, em um tom amedrontado e temeroso.

Katakuri parecia não compreender com excelência a sublime arte de um verdadeiro Cartoleiro. Ora... Tanto a ética, quanto o código de vestimenta em si, ditam certas regras que são mau vistas diante dos olhos da sociedade como um todo. Ir a um evento de gala, ou um bom jantar dançante, ao menos no universo do país das maravilhas, sem uma bela e adequada cartola, seria o equivalente a sair de casa sem calças; se é possíve? Sim, mas altamente reprovável. Mas, bem, o que mais se poderia esperar diante de tamanha estupideza que era Katakuri? No entanto, ao menos tivera a decência de não revelar seu desconhecimento sobre a arte e o que seu ofício representava, ao invés disso dizendo belas palavras à moça, que se ruborizara toda ao ouví-las. Eis que, antes de escutar os barulhos já narrados, a moça tivera a chance de dar uma última resposta ao moço. - Acho que não, sempre quis ser uma Cartoleira. Ah! Minto! Quando tinha seis anos quis ser uma cartola!


Ha Ha Ha! - Gargalhava uma voz, cujo dono ainda se mantinha oculto por trás das sombras proporcionadas pela árvore. Pouco depois pôde ser vista uma mãozorra a se envolver ao tronco de uma das diversas e secas árvores invernais. Eis que, usando da árvore de apoio, impulsionara-se à frente, fazendo com que toda sua figura saísse das sombras e enfim alcançassem o foco de luz, permitindo assim que não apenas Katakuri o avistasse, mas também a toda a plateia. - Ha ha ha! - Continuava ele a gargalhar. Apesar de sua estatura avantajada, perto do rapaz, Katakuri era derrotado por seu físico. O homem, que apesar da pouca idade, mantinha uma expressão de seriedade e maturidade, com seus 1.90m. conseguia ser ainda maior que o jovem, além de possuir também maior massa corporal. É... Se o físico era o que Katakuri tinha para demonstrar, havia sido derrotado desde já. - A Luz da justiça, é? - Pronunciou-se enfim, interrompendo bruscamente seu gargalhar, adotando finalmente uma postura ainda mais séria.

Suas vestes não eram muito diferente da que estava acostumada a ver com outros suditos de classe mais baixa; era simples, mas ainda assim lhe trazia um aspecto rústico e interessante. - Que discurso de bosta, meu rapaz! - Continuava ele, a caminhar lentamente na direção da dupla. - Ora, não deveriam caminhar por este bosque durante a noite... Pode ser perigoso. Mas, vejo que foram estúpidos o suficiente para fazê-o... Então, agora que arquem com suas consequências. - E assim, o homem dera início a uma corrida até Dawn, que tentava uma estocada com sua lança, porém o homem conseguia se desvencilhar por um triz, e ainda se jogar contra Dawn, e impactá-lo com um forte chute em seu peito, fazendo com que o rapaz recuasse, sentindo um baque em seu peito. Ora... Talvez aquele ator estivesse a pegar pesado demais; não era para ter sido apenas uma simulação? De qualquer forma... O homem estava logo ali, e lhe representava perigo. Como reagiria?

O rapaz parecia entender que havia utilizado de uma quantia decididamente exagerada de força para uma mera encenação, porém pouco se importara com isto, já que esboçara até mesmo o fantasma de um sorriso em sua face quando os olhos do rapaz procuraram pelo diretor. - Ow... A bebezão vai querer ir chorar para a mamãe só por que levou um tapinha? Chorão. - Pensou o rapaz consigo mesmo, enquanto se colocava a esperar o prosseguimento das falas do mesmo para que pudesse enfim prosseguir. - Ora, pois. Haja como um homem, rapaz. - Continuava ele, limitando-se apenas a seus próprios pensamentos, já que dizê-los em voz alto iria acabar por prejudicar o desempenho da encenação. Contudo, apesar do abalo inicial, Dawn se recompusera e então dera prosseguimento.

- Ha Ha Ha! - Gargalhava o homem, ao ver os companheiros de Katakuri a serem trazidos para o campo de batalha. A draconídea azulada parecia consideravelmente pequena com o que estava acostumado a ver tal criatura, apesar de não ser um espécime comum em Kanto, ou Hoenn, regiões por onde o rapaz já estivera, enquanto o segundo, ironicamente, também não passava de um inseto. - Eu sou um mero inseto, é isto que você diz, seu merda? - Claramente a ofensa gratuita não estava escrita no roteiro, mas o público não parecia se importar, pelo contrário, transmitia maior naturalidade à encenação, além de exibir um pouco mais da personalidade do próprio ator, e principalmente, como não tinham acesso ao roteiro, simplesmente deduziam que deveria estar presente na encenação. - Curioso, pois não seria esta sua própria criatura um inseto? - Prosseguia ele, ao mesmo tempo em que suas mãos eram levadas até o cinto de sua calça, de onde retirara duas esferas, que de imediato eram lançadas ao ar.

No momento seguinte, as esferas se abriam em meio ao ar, disparando lampejos avermelhados que ao tocar o solo começaram a mudar de forma, até que decididamente possuíssem formas física, revelando assim uma criatura em tons sombrios, porém garras e partes metálicas que refletiam a luz do holofote que o iluminava, enquanto o outro, acima de sua cabeça, tinha um corpo bem menor, porem um olhar tão ameaçador quanto o do primeiro. Eram Excadrill e Gligar. - Acha mesmo que pode me parar? Isto vai ser engraçado de se ver... Pois, sequer precisarei usar Excadril em batalha para vencê-lo! - Terminara o rapaz a bradar. - Escolha apenas um dos seus para combater a Gligar. O outro, Excadrill levará a um "passeio divertido".

Richard Mercier, o ator a interpretar o gatuno, sentira uma pontada de prazer ao notar o olhar curioso de Katakuri, de forma que um rápido sorriso de vitória e triunfo preenchera sua face diante de tal situação, porém esta logo fora substituída por uma expressão de confusão e incredulidade. A estúpida criatura estava mesmo a sair tão bruscamente do roteiro? Tá que o próprio Richard o fizera, mas suas mudanças pouco influenciavam num resultado final; agora, ao sacar sua Pokedex em meio à apresentação lhe parecera realmente uma grande burrice, vez que tal aparelho deveria ser inexistente naquele universo. De qualquer forma, apesar de decidido a manter o roteiro, era necessário prosseguir a encenação sem trazer mais estranheza ao erro de Dawn. Assim, optara por simplesmente realizar uma encenação teatral, como se não entendesse de onde vinha a voz mecânica, se pondo a girar em seus calcanhares na falsa tentativa de encontrá-lo. - O que é isto? Desde quando cavalheiros são permitidos a realizar bruxarias? - Concluíra o homem, a se voltar contra Dawn, um olhar ameaçador em sua face.

Contudo, assim como a voz surgira tão repentinamente, da mesma forma ela desaparecia, voltando a permitir que Dawn continuasse com seu discurso heroico. Porém, o jovem parecia se confundir um pouco com seus dizeres, o que uma vez mais trazia certo desconforto a Richard, que o observava. - Ora, guardinha... Deveria se focar em dizer as coisas com mais clareza. Se é com Druddigon que batalhará, deveria deixar isto claro; pois ao tanto mencionar esta sua insectóide imunda, já estava a deduzir que seria ela a escolhida... De qualquer forma... - Finalizara o jovem, a realizar um rápido aceno de sua mão, apenas para liberar Druddigon, que avançava bruscamente contra Vibrava, que era surpreendida e forçada a se retirar do palco diante do golpe brusco que sofrera. Detalhes a parte, Druddigon havia sido o escolhido, e uma vez que seus comandos já haviam sido dados, não demorou muito mais para que Richard também se colocasse a bradar os comandos de seu parceiro venenoso. - Iniciemos com Poison Sting e então Knock Off! - Era curto e grosso, ríspido, porém suas ordens eram de fácil entendimento, sem grandes complexidades.

Assim que os comandos haviam sido dados, Gligar já partiu, veloz, para o ataque. Enquanto avançava contra Druddigon, a ponta de sua cauda se iluminou em um tom púrpuro, tóxico, e assim que se aproximara o suficiente, se mobilizara de forma a deixar seu ferrão em riste ao oponente, atingindo-o com a mesma, que agora graças a uma pica-da eficaz, estava envenenado. Manchas de aspecto roxo, como o visto ainda a pouco, começavam a surgir na extensão do corpo do libélula, o que fazia a plateia liberar um acústico "Uuh!", como de pena da criatura, que não possuía forma alguma de se desvencilhar do prejuízo. De qualquer forma, ao menos o dano causado imediatamente fora mínimo.

Em resposta a este primeiro ataque, o dragãozinho apenas se colocara a encarar seu oponente, um olhar ameaçador, assustador, que por um momento fizera o voador recuar - e estranhamente ter suas defesas reduzidas - apesar de imediatamente dar início à sua nova execução: Knock Off. A criatura voltava a avançar contra Druddigon, mas desta vez o próprio visual da criatura era mais ameaçador, voava com maior velocidade... Sabe-se lá o que viria, certamente seria mais potente que o primeiro golpe. Dito e feito... Com um brusco golpe de sua pinça, a criatura não apenas causou a liberação do fruto a ser segurado pela criatura de Dawn, como também resultara em uma porcentagem consideravelmente maior de dano, apesar de ainda assim resistir arduamente. Porém, em continuidade, também não realizara grandes feitos, vez que voltara a fitar o oponente com os mesmos olhos ameaçadores. Repetições eram absolutamente válidas, mas apenas observar seu oponente não parecera uma estratégia muito válida para a plateia, que estava ali não apenas pela encenação, mas também por bons duelos.

- DUPLO ACROBATICS! - Bradava o homem, bruscamente, animado.

Pontos:

KATAKURI: 10 / 50
RICHARD: 8 / 50