A Gray Opening Wings

A paisagem da Rota 121 não era das mais convidativas. O céu nublado tornava impossível de se ver o sol, além do mais, a forte chuva acabava por castigar qualquer aventureiro que ousasse lá entrar, com seus densos pingos, que incomodavam ao contato. Mesmo com todo esse cenário desafiador, muitos treinadores resolviam se aventurar pela paisagem, sendo, um deles, Ren Hughes. O treinador mal adentrou a rota e já concluía algo: Era melhor ter companhia a passar por tudo aquilo sozinho. E, imbuído do fato de que a chuva era agradável para Pokémon aquático, resolveu por escolher Dandara como sua fiel acompanhante na dura empreitada que viria a enfrentar.

No entanto, os desafios podiam esperar. Ren tinha outros planos por agora. Sem se atribuir de qualquer procrastinação, o jovem buscava na rota um espaço adequado para treinar seus queridos Pokémon, até que finalmente encontrara uma tímida clareira. O espaço perfeito. Não tardando em seus feitos, já liberava Hokori, o seu mímico inicial, e Ísis, a última fada adquirida, para a então clareira. Os comandos eram efetuados e suas intenções eram claras: treinar novos movimentos que, outrora, uma admirável treinadora havia lhe feito o favor de ensinar a seus Pokémon.

Com os olhos no prêmio, seu primeiro comando era simples: Criar um espaço apropriado para a dança da chuva, afinal, como ele faria chover se já ocorria toda aquela densa tempestade? Hokori, seu fiel inicial, não tardava em criar alguns degraus invisíveis com sua mímica e subir até uma altura que considerou adequada para um teto triangular, tornando visível para qualquer um que a água iria escorrer, e deixando a clara a existência da barreira. Terminado o trabalho de construtor, o alegre Mr. Mime batia as mãos, de forma que as limpasse, sinalizando que havia terminado por ali. Ele desceu e então a verdadeira mágica começava.

O mímico começava colocando as mãos em sua frente, formando algo com uma parede transparente e fazia isso, de cima a baixo e esperava um ataque, para saber se o movimento havia sido um sucesso. Enquanto isso, a Flabébé juntava energia na ramificação mais alta de sua flor, e brilhava verde mas… ela não conseguia fazer nada com aquilo, juntava a energia exaustivamente e aparentemente, ao invés de absorver energia, ela aparentava… Perder? Nada acontecia, parece que o estigma de sua flor brilhava em tom esverdeado, mas não fazia muito mais que isso. Talvez, acumular energia no estigma seria melhor para concentrar para onde a energia iria. Em dúvida, Hokori olhava para a cena e não sabia o que fazer. Não tinha nada para defender com o Protect. O movimento havia falhado.

A primeira tentativa havia falhado. Mas era hora da segunda. Flabébé havia observado os movimentos de Mr. Mime e se sentia pronta para imitar o movimento de seu colega. Não fosse a forma distinta de utilizar o movimento, claro. A pequena Isis juntava energia em seu corpo, contudo, no auge de sua concentração, ela perdia altitude. Aparentemente, concentrar a energia que a mesma usava para flutuar não era uma boa ideia, no entanto, ela conseguia, de fato, acumulá-la. Era necessário saber se conseguia expressá-la da forma correta, e, para isso, Hokori entrava em ação. Inicialmente, o Pokémon fazia seus olhos e mãos ganharem uma aura rosada e algumas circunferências energéticas se projetavam na direção de Isis, mas elas se desintegravam na direção da Pokémon fada, e, novamente, nenhum dos Pokémon conseguia completar nenhum dos movimentos. Dessa forma, assim que Isis tinha a extremidade inferior de sua flor tocando no chão, ela parava de acumular energia e começava a ofegar, no mesmo ritmo, Hokori caia de bunda no chão e se apoiava com as mãos para trás, ofegante. Aparentemente, haviam sido muitos golpes de uma vez. Para aquilo dar certo, Ren deveria investir em um movimento por vez, com cada um de seus Pokémon, ou não importava quantas ordens e o quão detalhadas elas estivessem. O aprendizado seria nulo.

Prova disso, fora Dandara. A roedora aquática vinha encontrando uma forma de acumular as moléculas de água no ar ao redor de seu corpo, que começava a formar uma nuvem bem pequena ao seu redor. Mas nada muito grande como uma garoa, e, percebendo que não importava quanto de líquido acumulasse, formar uma garoa se provava impossível para a Marill, que olhou para Ren balançando a cabeça negativamente.

Era necessário pensar mais, então, quais seriam os próximos comandos de Ren?

O treino, desgastante para os Pokémon, envolvia um processo metódico de observação e aprendizagem do treinador. Ora, sua orientação não podia ser rasa, ele tinha que avaliar os pontos positivos, os negativos, as formas que ele adaptaria o treino e tudo o mais. Estando ciente disso, Ren observava cada passo da execução dos comandos de seu Pokémon enquanto estava sentado numa pedra e coberto por uma capa preta, que falhara em proteger sua franja de se molhar. Avaliando os resultados, o jovem Hughes ficara empolgado com Dandara ir tão bem logo em sua primeira execução de comandos e se dirige até ela, coordenando uma dança, afinal, era impossível fazer a dança da chuva sem dançar.

Para Hokori e Isis, era hora de mudar de estratégia. Um movimento por vez, seria melhor, e, assim sendo, ordenou ao seu Mr. Mime e sua Floette dois comandos distintos da vez passada.

A começar com Dandara, a Marill começava a se lembrar dos seus passos antigos e da aventura na Rota 104, onde conhecera Ren, aprendera a dançar… Aquilo tudo não fazia muito tempo, mas a deixava nostálgica. A roedora aquática levantou o pé esquerdo para a lateral e começava a girar, como num clássico movimento de ballet, o a la second turn. Durante seus giros, Dandara acumulava mais e mais umidade do ar, até que uma nuvem novamente se formava ao redor de seu corpo, porém, ainda mais condensada e mais densa.

Acada vez que a Marill completava 360º de rotação ao redor de seu corpo, a nuvem ficava mais densa e a pequena Dandara tentava buscar um ponto para concentrar tudo isso, mas não conseguia. Estava perdida. Meio desorientada, até que, pouco tempo depois de começar, a pokémon azulada para de girar e se apoia no dois pés, para, em seguida, executar um salto-mortal para frente, e, assim, estalar sua calda no ar como um chicote enquanto, sem querer, dispersava toda a umidade acumulada, formando uma chuva momentânea e rápida. Faltava um ponto em que a Marill pudesse concentrar. Ela estava inspirada e ofegava com um sorriso nítido no rosto. Valeu a pena aprender a dançar.

Para Hokori e Isis, as coisas pareciam ir bem, mas não tão bem quanto para Dandara.

O Mr. Mime de Ren observava bem as pedras que seu treinador estava sentado anteriormente. Elas seriam seus alvos. O Pokémon respirou fundo e começou sua mágica. Seus olhos brilhavam em coloração rosa juntamente com as mãos, enquanto as girava em movimento circular, uma no sentido horário, a outra no sentido anti-horário. Hokori olhava fixamente para a pedra e começava a enviar seus anéis psíquicos rosados na direção da pedra, no entanto, logo que os anéis tocaram no elemento rochoso da paisagem, ela se quebrava completamente. O movimento era muito poderoso, no entanto, Hokori aparentava estar usando mais um Confusion do que um Psychic. A saída era uma só. A energia psíquica deveria ser concentrada de outra forma. E, por poucos detalhes, o Pokémon tinha mais uma tentativa de movimento frustrada.

Isis fazia exatamente como seu treinador mandava. Ela ia até a flor apontada pelo treinador, flutuando o mais rápido que conseguia e fincava o caule de sua pequena flor naquela que agraciava os ares da, agora enlameada, Rota 121. O estigma de sua flor emitia um brilho verde assim como o caule dela, e, de fato, Isis conseguia sugar a energia das plantas. No entanto… Seu golpe era Giga Drain, um golpe especial, e isso que ela fizera foi físico! E pior, a drenagem foi tão pequena, que a flor sequer se mexera, ou perdia um pouco de sua característica cor. Ela ainda estava perfeita, sem ter aparentado perder qualquer traço de energia. Faltava potência e mais do que isso, energia! O golpe tinha de se estender, de se esticar e acertar o alvo para que a Flabébé absorvesse sua força.

Como Ren se portaria agora?

Enquanto o treinamento se desenrolava, o jovem treinador era assolado com lembranças do passado, das quais ele fazia questão de deixar para trás, como uma sombra. Ren seguia em frente no seu caminho apenas com a certeza de que daria amor para aqueles em sua volta. Com sua mente decidida, ele se voltava para o treino, descrevendo, com maestria, qual seria o próximo passo que Hokori, Dandara e Isis precisariam fazer.

Os comandos da roedora azulada não eram simples, no entanto, eles se tornavam intuitivos para ela. Com uma pitada de incentivo e a canalização correta, a Marill voltava a girar executando um a la second turn e acumulando a exacerbada umidade que o ar da Rota 121 continha. Enquanto o fazia, ela era coberta por uma densa nuvem, ao ponto que depois de um segundo girando, era quase impossível ver a forma da Marill por debaixo daquele “véu” de umidade que a mesma criara. Dessa forma, Dandara começava a condensar a nuvem numa pequena esfera redonda na ponta de sua cauda, e, em seguida, ela juntava os dois pés no chão num rápido movimento e saltava. Durante o salto, a aquática começava a executar um mortal para trás, e, quando sua cauda ficava voltada para cima, com toda a nuvem condensada em sua ponta, a Marill do monotreinador estalava a sua cauda e arremessava a nuvem condensada para o alto, e, instantaneamente após acertar a proteção invisível feita por Hokori, ela se dispersava numa carregada nuvem e, assim, voltava a chover por lá. Dandara havia aprendido o Rain Dance.

Para Isis, as coisas caminharam melhor depois da última instrução recebida. Ciente da sua capacidade de absorção, a mesma começava uma cantiga serena e baixa, quase como se fosse uma sereia encantando os guerreiros nos mitos antigos para irem até a costa, e, da mesma forma, ela chamava pelos nutrientes, fazendo com eles se estendessem até o caule de sua flor num extenso chicote verde de energia. E, ao chegar no caule, a energia verde se estendia até a estigma de sua flor e um brilho amarelado era liberado de sua ponta, o que poderia curá-la em casos de necessidade, o que não era o caso, mas foi a pitada final e determinante para provar que o Giga Drain havia sido masterizado pela fada.

Já Hokori tinha para si a tarefa de ser menos destrutivo. Tentando nutrir mais concentração em seu movimento, seus olhos agora brilhavam em um tom azulado em conjunto com suas mãos, já apresentando uma diferença logo de cara. Após isso, pequenos anéis psíquicos foram se formando, mas ele se concentravam logo e formavam uma esfera, que, ao colidir com a pedra conseguia levitá-la e a deixar sob o controle do psíquico. Feliz com seu feito, ele testava sua habilidade, balançando a pedra no ar de um lado pro outro e provando que finalmente havia masterizado Psychic, colocando a rocha no chão com bastante cuidado em seguida.

Seus Pokémon haviam aprendido seus respectivos movimentos. Ren continuaria treinando ou prosseguiria na rota?