[Battle Tower] Primeira Fase Profissional: Luta A2

Eram bastidores e ainda assim conseguia ouvir o tumulto. Aquilo me fazia suar frio por completo; cada vez que alguém gritava um nome-aleatório e decretava uma torcida, eu morria mais por dentro. Minha pele transpirava, meu rosto estava quente e minhas mãos?! Ah, essas eram as piores. Espero que Nicholas não invente de andar de mãos-dadas numa hora dessas. Apoiei-me numa pilastra qualquer e olhei ao redor, tentando ao máximo me apegar a uma distração. Quando enfim era hora de entrarmos, fui até o ruivo, fechei a mão e dei um pequeno soquinho em seu ombro:
- Boa sorte - Falei. Eu não conseguia fazer frases longas - Me desculpa qualquer coisa - Adiantei as gafes.

Era hora de andar. Na tela já estavam os pokemons selecionados, até porque, tínhamos que escolher antes e só podíamos entrar no ambiente com duas esferas apenas. É, regras são regras, né?! Pois bem, começaram o tagarelar e eu já começava a me preocupar (ainda mais) com a situação que me coloquei.

O juiz e o narrador de confundiam; eu não sabia quem era quem. Ok, sejamos sinceros: não tem muito o que julgar. Diferente de UFCs ou outros confrontos corporais, aqui não há pontos ou faltas; há só nocautes e não nocautes. Sem golpes banidos, infrações graves e nada do tipo. Batalhas pokemons são verdadeiras rinhas sem regras. Isso me entristecera: eu sabia que não estava lá tão bem assim. De qualquer modo meus pokemons iam se machucar e, se eu voltasse nesse confronto ético, eu iria me perder mais uma vez.

Felizmente o ambiente não me permitiu devanear: eu precisava entrar ao lado de Nicholas, e não conseguia por uma expressão muito confiante no rosto. Meu nervosismo dava o ar-da-graça em meu semblante e, a cada passo que dava em direção ao campo, meu coração pulava mais. Oh deus; isso de novo não! Eu ainda odiava plateias. Odiava, odiava e odiava! Cacei da bolsa um fone de ouvido e pluguei no meu PokeNav; abri um aplicativo de música e coloquei qualquer coisa para ouvir. Qualquer coisa mesmo! Eu ainda não havia posicionado o aparelho em meu ouvido; nem faria sem antes pedir permissão a Nicholas. Seria rude da minha parte só tapar os ouvidos. Mostrei a ele o fone e disse:
- Se importa se eu usar?! - Era uma pergunta cautelosa.

Tudo isso era feito enquanto aterrizávamos na beirada do campo. Digo isso porque de fato voei. Não lembro a caminhada que fiz até chegar aqui; nesse ponto eu já estava no automático. Olhei ao fundo e, bem lá longe, vi um garoto de idade próxima. Acenei para ele um pouco nervosa e apenas sorri. Poderia gritar alguma apresentação e esperar que minha voz viajasse o campo... mas não queria chamar tanta atenção. Ao invés disso, apenas olhei a Nicholas e ao campo até que.... claro, ordenei os golpes:
- Vili, vamos usar Thunder Wave no Pangoro. Se falhar repita, caso contrário, Swagger no mesmo alvo.

Furfrou nunca fora uma opção para dar dano; seu moveset quase todo era feito para suporte e ela fora feita para ser mais chata do que qualquer outra coisa. Esse era o principal motivo para ter que tirar Weavile: o Taunt dela, por si só, era problemático. Eu não podia confirmar que aquele pokemon, em específico, tinha Taunt mas... bem, digamos que é um golpe comum da espécie. Eu sabia disso e, ao que tudo indicava, Nicholas também. Não precisamos falar muito para nos comunicar; ele entendera o plano tão rápido quanto eu. Deu certo. Deu muito certo. Eu comemorei por dentro até ver, ao fundo, a imagem devastadora de Lysander.

Ele havia perdido um companheiro rápido demais.

O sorriso que começou a se esboçar em meu rosto foi efêmero e, como quem já não lembrava porque diabos aquilo seria bom, encarei o campo meio mórbida. Vili estava intacta e assim ficaria até o final. Provavelmente. Lysander não só estava em desvantagem numérica como focava o maior dano do time: Robb. Nicholas não parecia se importar com as mesmas coisas que eu; felizmente. Tentava ao máximo não sentir a angústia do adversário. Tentava ao máximo não lembrar das minhas derrotas e, mais do que tudo isso: tentava ao máximo não me expressar demais. Falhei; assim que o garoto anunciara o nome de seu pokemon, estremeci por completo.

Weasel era um nome lindo. Ilustrava, tracejava e coloria a história que o pokemon tinha com Lysander. Ok, eu não sei disso mas... ah, o nome remete ao seu passado e seu futuro. Não há como não ser simbólico; não havia como acreditar não ser. Com um breve suspirar encantado, disse sem muito pestanejar: por alguns segundos eu esqueci completamente que existiam pessoas vendo:
- Ei, o nome do seu pokemon é lindo - Introduzi e... por falta de coragem, parei por ali. Era triste vê-lo sofrer mas, ao mesmo tempo, eu sentia uma certa satisfação pelo ato. Não serei hipócrita demais: ganhar é lindo.

Voltei o olhar ao campo e, assim que tive oportunidade, dei ordens breves de golpes ofensivos. O dano era simbólico?! Provavelmente mas... ah, dano nunca é demais:
- Duplo Headbutt.