[Battle Tower] Terceira Fase Profissional: Luta A2

Battle Tower!

Winnie & Nicholas VS Robin!

E mais um dia se iniciava em Mu Island.

O relógio mal marcava seis da manhã e toda ilha já parecia estar em polvorosa: do lado de fora do Centro Pokémon, dezenas de torcedores aguardavam a saída dos treinadores para a última fase da Battle Tower. Os que se aventuraram a ficar nos hotéis pé-sujos da cidade tinham ainda um pouco mais de privacidade, já que nem todo mundo se arriscava a caminhar por aquelas áreas antes do sol raiar.

Diferente dos dias anteriores, hoje a ínsula amanheceu nevoada, com um tímido sol tentando aparecer dentre a grande quantidade de nuvens que enfeitavam o céu. "Uma chuva vem por aí! Preparem seus guarda-chuvas para o final da tarde!" indicava o repórter do único canal que possuía um jornal diário na esquecida cidade. Em suas ruas, nada de muito diferente, a não ser pela preferência do público em vendinhas especiais da Battle Tower: trainer-cards e posters de treinadores invictos eram sem dúvidas os mais requisitados, dentre eles os de Winnie e Nicholas. Apesar de aparentemente invencíveis, algumas pessoas, em especial figuras masculinas e acima de trinta anos, tendiam a rasgar a parte da garota de seus posteres e dizer por aí em alto e bom som que sozinha ela não teria conquistado todas essas vitórias. Ah, o machismo nosso de cada dia.

Lojas e lanchonetes terminavam de abrir suas portas e, com pressa, a maioria dos torcedores corriam para pegar um bom lugar na arquibancada para assistir a primeira batalha. Com um fã clube já consolidado, sua maioria por adolescentes, Robin e sua Blissey já eram consideradas umas das duplas mais carimáticas a passar pelo evento: apesar de ter utilizado a monstrinha do tipo Normal somente na primeira fase, sua resiliência parecia ter marcado as jovens, que agora até mesmo vinham fantasiadas de Chansey para mostrar seu apoio à criadora.

Finalmente, a Battle Tower.

Um grande telão na entrada do edifício mostrava as chaves já percorridas e quem havia ganhado-as ou não, bem como a primeiro embate do dia: Winnie e Nicholas contra Robin, marcado para seis e meia em ponto. Mumurinhos sobre quem teria coragem de participar da fase extra contra uma poderosa treinadora era um assunto que se espalhava aos poucos: não era sabido ainda pelo público quais Pokémon ela utilizaria, o que tornava tudo muito mais excitante e misterioso para os torcedores. O camarim pela primeira vez era visto vazio, a não ser pelos garçons que se preparavam para distribuir os comes-e-bebes e as faxineiras que terminavam de passar pano; talvez os outros competidores estavam atrasados ou simplesmente descobriram de alguma forma que não seriam os primeiros a batalhar naquela manhã.

O relógio marcou seis e vinte e cinto. Era possível ver nas diversas televisões distribuídas por todos os locais do edifício que o apresentador já se encontrava no palco:

— Bom dia, Mu Island! Me chamo Emmet e serei o apresentador de vocês hoje! — o rapaz moreno de porte médio estava extremamente animado e a platéia respondia igualmente — Preparados para a primeira batalha do dia? — ergueu as mãos e apontou para o telão circular que fica no alto — Hoje temos Winnie e Nicholas contra Robin! Para quem vai a torcida de vocês? — começou a caminhar pela arquibancada — Treinadores, venham até seus postos!

Dito isso, o apresentador se encaminhou até a fervorosa plateia para interagir. Do lado direito, pareciam estar os torcedores da dupla, enquanto do esquerdo as adolescentes que torciam para Robin faziam um alvoroço.

— Enquanto aguardamos eles chegarem, vamos ter um papo com o público. — Emmet selecionou um dos rapazes e estendeu o microfone. — Você aí! Parece que você está animado para ver Nicholas e Winnie em campo!

Um homem caucasiano e já grisalho com um cartaz fechado na mão se aproximou:

— Nicholas e Winnie contra Robin o meu ovo! Era mais fácil ter deixado o garoto fazer uma demonstração de força sozinho! — deu uma risada debochada e segurou o microfone, já que Emmet parecia querer impedi-lo de continuar — Aquela garota só ganhou porque foi carregada, se não estaria aí ó, igual essa Robin, sem nenhuma vitória.

O homem não esperava o que viria a seguir: ao ouvi-lo cagar pela boca, as adolescentes torcedoras de Robin começavam a gritar e xinga-lo em coro. Movidos pela atitude das meninas, a galera que torcia exclusivamente para Winnie ou para o casal também começava a enxotá-lo. Com a cabeça erguida e com o orgulho que só um homem branco, velho e de classe alta tem, ele retrucou. E aí a merda estava feita: todos começaram a se juntar e agredi-lo.

Com tamanha comoção, os Machamp seguranças do evento começavam a correr para separar a briga enquanto Emmet pulava a arquibancada para não acabar sendo agredido também.

— Outra briga? Puta merda. — o apresentador bufou — Robin e Winnie, sinto muito por isso. —  balançou a cabeça negativamente algumas vezes enquanto assistia os lutadores separarem o linchamento — Devo dizer que pelo menos aqui fizeram alguma coisa, normalmente narro eventos e as pessoas tendem a concordar com esse ser humano imbecil.

Por fim, após alguns minutos os Pokémon conseguiam retirar o homem todo ensanguentado de lá e escoltá-lo para fora do estádio.

— Vamos lá, então! — Emmet assistia os treinadores liberarem seus monstrinhos — Claydol e Infernape contra Rhydon e Fraxure! — se posicionou ao lado do juiz — Comecem!

Eu nunca entendi a lógica desse Battle Tower… eu ganho e subo andares, certo?! Mas porque agora meu desafio está num andar mais embaixo?! Não faz sentido algum. Conte rápido comigo: eu estou no vigésimo andar. Fora difícil subir de elevador até aqui, sabia?!  Parecera um metrô-para-cima. De ora em ora eu parava numa estação diferente para subir e descer pessoas. Tão intermitente quanto essa parada era a péssima sensação de que eu teria que subir vinte andares a pé... ao menos se aquele elevador quebrasse de alguma forma.

Deus me livre.

Seja lá quem foi que inventou essa torre, não entende nada de logística. Imagina como era para trazer cimento e areia aqui para cima?! Ou pior: lá para cima, no andar de Anabel. Oh deus, darei essa “liberdade poética” ao organizador desse evento… ou puramente ao gestor que, baseado em Hunter X Hiato decidiu que essa seria uma boa ideia.

Pois não é. Estou aqui nesse elevador a minutos e minutos, presa com Nicholas, tentando chegar a sabe-se lá onde. E nem sei se vou gostar do que verei; fora logo no térreo que descobri que, pela primeira vez em um evento oficial, enfrentarei uma garota (não NPC, mas falar isso seria quebrar quarta parede). Eu definitivamente não queria enfrentar uma garota.

A parte de mim que reclamava não sabia nem sequer responder uma pergunta simples: o problema era eu ou ela?! Em compensação, o lado que estava em paz com o fato sabia muito bem o que dizer; nenhuma das duas. O problema nunca estivera em nós e… bem, acho que o mundo me provara isso hoje. Com um custo muito grande: à custo da paz que me rondava. Podia não entender isso agora mas entenderia mais tarde (se deus quiser o feminismo e Angela Davis chega no mundo pokemon).

Não seria a primeira vez que eu era alvo disso. Nem de nenhum outro tipo de assédio. Também não seria a primeira vez que questionam minha legitimidade mas… ah, era a primeira vez que alguém me chamava de fraca em um microfone.

Nem naquela batalha contra Gabriel Paiva a anos atrás eu ouvi isso. Nem lá, onde eu fui verdadeiramente fracassada.

Os atos aconteceram de maneira sucessória; os comentaristas me mandaram entrar, entrei e, ao pisar no campo, o desagradável aconteceu. Um homem velho-demais-para-estar-ali… estava. Pegou o microfone e basicamente dedilhou meu ego. Eu não nego; isso é algo que passa por mim à todo o momento. Nicholas é estupidamente forte com seu Infernape e… eu?! Eu não passou de uma garota que o prendeu à mim sem nem o convidar antes.

Se lembram de como foi?! Eu apenas nos inscrevi… nem lhe dei a chance de dizer não. Avisei-o do fato em cima da hora, quando saiu do Monte Pyre. Eu estava realmente usando o garoto?! Bem provável que sim. Sozinha eu não ganharia de ninguém, né? Argh! Talvez esse é o momento que eu mais odeio plateias; quando elas tem voz. Nunca gostei disso mas, a segundos atrás, eu estava conformada com meu medo de público; ora ou outra o "Holli Park" volta a me assombrar mas, em geral, eu estava indo até bem. De fato estava, conjugado passado; aqui eu só quis correr e chorar. Olhei para o semblante de Nicholas de relance, nem fora por tempo o suficiente para ler sua resposta ao acontecido; fora só para lembrar que, por causa dele, eu não poderia ir embora.

O que aconteceu em seguida perdera importância: se me defenderam, se brigaram, se concordaram ou não… não importava. Agora eu liberava Fafnir com uma lágrima sobre o rosto e duvidando de minha própria capacidade. Eu não merecia estar aqui. Eu não DEVERIA estar aqui. Talvez meu lugar fosse no andar mais baixo, ou ainda na arquibancada... vendo. Sentia no âmago uma gigantesca vontade de desistir e apenas murmurei o óbvio “eu não vou mais fazer dupla com ninguém”. Depois disso murmurei o não tão óbvio: nunca mais participarei de eventos assim.

Eu podia não ser tão pesada assim... ah, mas como era horrível sentir aquilo! Ser um peso, ainda que leve; quase um saco de areia que há de ser descartado para que o balão suba. Éramos eu e Robin contra aquilo e eu simplesmente queria mudar de lado. Queria ir ao encontro daquela moça e verdadeiramente chamá-la pela mão para batalhar comigo. Ninguém nos confrontaria; ninguém questionaria nosso talento. Eu acreditava fielmente nessa mentira. Seu Fraxure em campo me provava seu valor: um pokemon tão exótico e tão difícil de treinar. Era inevitável passar por essa onda de questões e opiniões; se ora eu queria correr dali, outra ora eu queria provar meu valor. Mas como?! Com esse Infernape... bem... na... minha... frente.

Desculpe por isso Robin, mas terei que aparecer da forma mais patética possível para ti. Passei uma das mãos no rosto para enxugar a lágrima grossa - porém solitária - que descera até meu queixo. Dali emendei três palavras bobas, que simplesmente não queriam sair:
- Reflect e Psychic em Rhydon - Fora no gaguejar e no ardor da garganta que minha voz tosca saiu. Provavelmente o microfone não pegara; mas Fafnir entendeu.

Talvez essa seja a melhor-pior-escolha que fiz para a situação. Este meu pokemon nunca soube lidar com sentimento alheio então apenas o ignorava; isso era perfeito para o momento. Se fosse Loki, Hati ou Tyr, certamente eu teria uma pausa de afago que seria completamente desnecessária para aquele cenário. Se fosse Jormungand então!? Ele certamente gastaria minutos me olhando decepcionado pelo meu choro fraco.

Nem para chorar eu sirvo. Incrível isso.

Battle Tower!

Winnie & Nicholas VS Robin!

Após turbulentos dez primeiros minutos, o embate finalmente dava início.

Mais rápido em campo, o belíssimo símio já começava demonstrando o porquê de ser considerado o Pokémon mais forte da competição inteira: absorvendo a energia proveniente do Z-Crystal preso no anel de Nicholas, Robb envolveu ambos seus punhos em uma aura alaranjada e começou a desferir socos na direção do terrestre inimigo. Infernape sequer precisou se mexer: de seus movimentos projetaram-se diversas mãos que acertavam Rhydon uma, duas, três... dez vezes. Mais uma batalha Therion era punido por ser tão pesado e lento para tentar desviar dos ataques.

Em meio a lágrimas e múltiplos receios em relação a sua dupla, Winnie conseguia comandar Fafnir para agir logo em seguida. O psíquico até fitou e observou a situação de sua treinadora, mas daria de ombros se os tivesse: aproveitou ainda para balançar a enorme cabeça negativamente algumas vezes antes de erguer seu Reflect, desaprovando o modo como a jovem de cabelos cor-de-rosa agia. O que esperar de um Incel, certo?

Com movimentos graciosos, diferindo completamente de sua aparência intimidadora, Fraxure dançava para os deuses dragões e aumentava seu já poderoso ataque e sua velocidade. Rhydon, apesar de já exausto pelo gigantesco dano que levou, conseguia absorver a energia do Rockium-Z de Robin e conjurava seu clássico Continental Crush: com um único pisão no solo, o terrestre conseguia retirar uma enorme porção do terreno de batalha e lança-lo sobre Infernape. A rocha que Therion retirava era tão colossal que criava uma cratera no meio do campo e em seu centro era possível até mesmo ver o andar de baixo, que começava a ser interditado para que ninguém se machucasse. Ao ver a gigantesca pedra vir em seu caminho, Robb tentou se proteger com os braços, mas o peso era tão grande que não importou. Talvez Rhydon tivesse colocado mais força em seus braços por pura vingança, mas o dano era crítico! Se Claydol não tivesse erguido a barreira que envolvia seu corpo, o lutador provavelmente seria esmagado.

— Que força, meus amigos! — Emmet gritava para a platéia — Robin e seu Rhydon mostraram que podem devolver na mesma moeda!

Extasiados ao assistir tamanho poderio, o público ia ao delírio. Era como se aquela fosse a final de um campeonato, mesmo com os treinadores em uma série de derrotas e vitórias diretamente proporcional. Agora com uma cratera dentre os dois times, Robb aproveitava para usar Earthquake: com um único soco no solo, dessa vez crateras surgiam embaixo dos adversários e causavam danos massivos, destruindo ainda mais o que restava do campo. Agora mais rápido, Fraxure mesmo debilitado correu dentre a destruição para acertar dois fortes arranhões sobre Claydol, mas que pareciam não causar muito dano. Ignorando completamente a presença do dragão, Fafnir seguia e com uma única onda psíquica que contorceu todo o âmago de Therion, terminou de derrubar o terrestre de Robin. Tranquilo, o psíquico aproveitou e recuperou parte de sua vitalidade com Leftovers.

— E mais uma vez o pobre Rhydon é focado e está fora de combate! Com apenas um único Pokémon, será que Robin conseguirá derrotar ao menos um dos monstrinhos da dupla imbatível?

Battle Tower!

Winnie & Nicholas VS Robin!

Bom... Tudo aconteceu como esperado.

Vai entender a força que esse símio tem ou se Arceus rege mais por ele que pelos outros: como se já não bastasse seu verdadeiro poderio, seu último ataque ainda era crítico. Com o terreno de batalhas já completamente destruído, Robb terminava de derrotar Fraxure e dar mais uma vitória ao casal. A platéia vibrava, mas não como durante uma batalha difícil ou um embate que era vitória certa e se tornou empate (a/c Gaul vs Gold), mas como algo que já era sabido que ia acontecer. Apesar da legião de fãs, era óbvio que ninguém conseguia aguentar as porradas do lutador e nada mais era surpreendente.

Emmet anunciava a vitória e erguia os braços de Winnie e Nicholas pela terceira vez seguida. "Uma win streak", eles diziam dentre burburinhinhos na platéia, já começando a criar suas apostas para o embate seguinte da dupla. Se existia alguém possível de derrotá-los, era a também invicta Anabel, que surgia na Battle Tower como um mau presságio, colocando todos os treinadores participantes completamente amedrontados. E, bom, não era para menos: dizem as más línguas que a jovem possui uma mega-stone! Resta descobrir agora para qual Pokémon.

— Obrigado pela batalha! Agora iremos interditar esse andar e fiquem a vontade para descansar até amanhã, quando o verdeiro desafio começa. — apertou a mão dos três treinadores — Boa sorte, vocês vão precisar.