5 - Slateport

Optou pelo mais próximo; a praça bem diante de seus olhos. Atravessou a ciclovia movimentada, o asfalto quente e chegou até a calçada movimentada. Pisando ali, já podíamos afirmar; ele estava na praça central de Slateport. Ao centro uma estátua de algum presidente da república que ninguém mais se importa; em volta dele?! Gente. Muita gente. O local estava tomado por uma movimentação mais que cotidiana; era uma movimentação comercial. O local abrigava diversos "camelôs" e serviços a se prestar. Não havia nem mesmo dois minutos que Merle pisara ali e já fora interceptado por dois prestadores de serviço.

Ao mesmo tempo!

Quem vinha a esquerda era uma mulher na meia-idade, de cabelo longo e preto, que tinha em sua cabeça um pano levemente transparente, repleto de lantejoulas e predrinhas. Quem vinha a sua direita era um adolescente de cabelo raspado e barba inexistente. Em suas mãos uma câmera fotográfica. Ambos alcançaram o alvo ao mesmo tempo e atropelaram o próprio protagonista ao meio de suas propostas:
- Posso ler sua sorte de hoje, rapaz?! Algo me diz que vai ser um dia bom - Falou a mulher, em voz baixa e próxima-demais de Merle - Uma foto sua naquela estátua para recordar a viagem a Slateport... o que acha?! Faço um precinho bom para você.

A fala de Merle deixou o fotografo até um pouco abatido; será que todos pensavam assim?! Isso seria explicação mais que o suficiente para explicar o fiasco de seu trabalho naquela região. Bem, respirou fundo e observou a resposta da moça que viera em paralelo a ele, já esperando que sairia ainda mais triste do que chegou:
- Oh rapaz, não precisa nem ser cigana pra saber que a sorte dele não ta das melhores - Falara isso e jogara uma das mãos para trás, gargalhando do rapaz que foi rejeitado. Ainda mais magoado que antes, o homem deu as costas e saiu de cena aos poucos, enquanto a mulher continuava sua pechincha - Veja só, você não pode me pedir para trabalhar duas vezes e pagar só uma, mas vou te dar uma introdução... você passou a manhã na beira do mar... acertei?!

Bem, talvez isso não fosse suficiente, mas a moça estava certa de que ao menos fisgaria um pouco da atenção de Merle com essa pequena frase.

- Ah... meu jovem, eu mesma não leio nada não! Mas que bom que me deu sua mão - E ao dizer isso, a moça jogou uma esfera ao ar.
Quando a esfera começou a pousar, um brilho rosado revelou uma humanóide de um metro e meio. Seus cabelos loiros iam até a cintura e seu lábio grosso era "signature" do pokemon em questão. Sim, uma Jynx! A pokemon pousou no chão e viu Merle, o agraciando com um sorriso simpático.

Agora sim, a psíquica responsável por ler seu futuro estava presente. Num ato levemente invasivo, ela tocou a mão de Merle, apoiou-a na sua, aproximou o rosto e a cheirou. O odor de maresia adentrou suas narinas e nesse exato momento a paranormal sentia; ele era um pescador. Ao entender isso, deu um beijo na mão de Merle, mas nada muito profundo aconteceu.

Ao menos não até agora.
Ponto para o ceticismo do rapaz, não é?!

A mulher ouviu as frases de Merle e deu para trás. Colocou a mão na cintura bastante desconsertada mas evitou falar a princípio. Antes de opinar ou responder, esperou que Jynx a permitisse comentar algo:
- Menino, você já viu alguém lendo sorte passada?? - Fora uma resposta bastante congruente; não se lê sorte se não for do futuro. Não existe sorte de algo que está em curso ou já passou - Além disso, eu não conseguia a Jynx, ela que me escolheu. Pois bem, ela já vai te passar o que você precisa saber.

Fora durante toda essa discussão que a pokemon decidiu soltar a mão de Merle e se afastar. Quando pegou distância, alvejou o garoto e usou um golpe pouco comum, chamado Telekinesis. A princípio o pescador viu suas roupas começarem a levantar e, de repente, ele como um todo estava mais leve! Não chegou a flutuar, mas sentia que ao menos havia perdido trinta à quarenta quilos. O efeito durou por um tempo e quando enfim sentiu-se no peso normal, algumas memórias vieram a tona em sua mente.

A primeira delas era de uma batalha contra uma Jynx, que perderia inevitavelmente. A segunda delas era um túnel fechado, que inevitavelmente teria que passar. A terceira um grupo de soldados o atravessaria, inevitavelmente. O quarto? A bandeira de Tohjo seria arqueada ao meio da rua em que estava, inevitavelmente. A quinta? Bem, a quinta e última era o número 250, que não sairia da sua cabeça... inevitavelmente. Ao fim sua leitura da sorte; Merle seria um rapaz de sorte ao fim do dia, mas só ao fim dele. De modo geral, seu memorar não fora de todo agradável; talvez ficasse receoso se essa sorte de fato chegaria.
- Pois é isso rapaz, e o dinheiro?! - pediu, sem muito pudor.

A cigana agora tinha uma surpresa agradável; em geral os clientes acabam conversando sobre suas visões como se a moça soubesse do que se tratava. Nunca é o caso! A mulher nunca sabe o que Jynx passou para eles; a menos que Jynx resolva compartilhar consigo também as memórias... o que, bem, nunca acontece. Fora com essa surpresa agradável que ela ouviu o relato breve de Merle e respondeu:
- Não sei se há alguma outra Jynx por ai, mas se quiser testar o destino, pode tentar comigo mesmo - A moça então olhava para Jynx e perguntava se ela toparia o desafio; ela apenas disse que sim - Você pode sim ir contra o destino, não tem problema algum... há quem acredite que isso é possível, é importante você seguir suas crenças, menino. Mas desafiar uma Jynx não é inevitavelmente dar chance ao destino?! Talvez a forma mais fácil de mudar isso é ir ao seu quarto e dormir o resto do dia.

A moça então olha em volta, vê que a movimentação da quadra parece diminuta e aponta para um espaço vago ao canto, de baixo de algumas árvores recém podadas e extremamente feias (justamente por isso):
- Se quiser batalhar, pode ser ali. Um versus um, né? Não tenho outro pokemon comigo... ou melhor, nenhum outro pokemon me tem - E dito isso, a moça começou a caminhar em direção ao campo - Mas não deixarei simples. Se você ganhar, não precisa me pagar, já que vai ter mudado seu futuro e minha projeção foi inútil. Se eu ganhar, quero não só que você me pague, mas que faça um favor para mim.