O Primeiro Voo da Andorinha

A batalha havia sido dura, mas finalmente chegava ao fim. O ataque de mordida do poochyena havia machucado bastante, mas Wurple conseguira revidar, derrubando-o. O canino que antes estava bem agitado, parecia finalmente se acalmar. Eu me lembrava de como estava puxando briga com os Wurples da árvore no começo e começava a pensar que talvez aquela fosse apenas a personalidade dele. Talvez ele também pudesse ser uma boa adição ao time...

— Vai pokébola! — Dizia ao pegar mais um dos objetos esféricos da mochila e arremessar no poochyena caído.

Após observar o desfecho da tentativa de captura, voltava a atenção ao meu pokémon:

— Wurple, você está bem?!? Obrigado por me proteger antes... E você saiu muito bem na batalha também! — Me aproximava da lagarta e me abaixava para verificar suas condições. Apesar da minha preocupação e de estar bastante machucada, a Wurple parecia bem feliz com sua vitória, isto pelo menos até algo estranho começar a acontecer... — Wurple?!? O que tá acontecendo com você?!? — Eu observava a lagarta começar a brilhar e assumir uma forma diferente do seu normal. — Pera... será que... — Logo minha suposição se mostraria verdadeira, pois a Wurple terminava de evoluir, assumindo a forma de um casulo. — WOOOW!! Sensacional!!! Parabéns, Wurple!! Quer dizer... Acho que você não é mais uma wurple né? hahaha Mas, nossa, não esperava que você fosse evoluir tão rápido! Digo, nem mesmo o Wolf evoluiu ainda! — Eu havia presenciado minha primeira evolução e o sentimento era incrível; podia sentir que eu como treinador havia contribuído para o crescimento do pokémon, e que ambos havíamos ganhado com isso! — Parando pra pensar... eu ainda não te dei um apelido, né? Tenho que pensar em um... Mas por enquanto vou te chamar de casulo, tá?

A casulo e o poochy estavam bem fadigados da batalha e agora, sem nenhuma ameaça, eu conseguia olhar com calma ao redor e perceber a abundância de frutas que havia no local.

"Humm, talvez eu poderia pegar algumas dessas para melhorar a situação deles? É por uma boa causa, então espero que a senhorinha não se importe..."

Embora fosse um iniciante, eu possuía um smartphone, o qual utilizei para pesquisar qual dos berrys seria o mais indicado para restaurar a vitalidade dos pokémons.

"Parace que esses azuis aqui — os Orans — podem ajudar..."

Eu pegaria quantos Orans conseguisse encontrar ali (poupando os três que sabia estar na lista) e alimentaria a casulo e o poochyena (independente se capturado ou não) até que se sentissem satisfeitos e revigorados. Após isso, ainda havia uma tarefa a ser completada e indo de árvore em árvore — e novamente com o auxílio do smartphone para identificação — Eu ia atrás de duas amarelas (sitrus), mais três azuis (oran), um verde (Lum) e três vermelhos (Tamato).

— Pronto! Acho que estão todos aqui!

Mas ainda havia muitos outros berrys das mais variadas cores naquela horta...

"Talvez eu devesse levar mais alguns para a senhorinha por precaução? caso tenha mudado de planos? É, parece uma boa ideia! Tem tantos que acho que mal não vai fazer..."

Então eu começava a passear novamente pela horta e escolher mais alguns berrys aleatoriamente. Com uma mochila cheia de Berrys, eu esperava alguns minutos por Wolf e Ciri (caso ainda não tivessem chegado), afinal não queria que nos desencontrássemos. Se eles demorassem muito a aparecer, então voltaria para a casa da senhorinha, supondo que eles me procurariam por lá.

"Nossa, demorei mais do que esperava... Espero que a senhorinha não esteja muito impaciente..." — Pensava conforme caminhava de volta a casa dela, depois de retornar todos os pokémons para suas pokébolas.

Com alguns berrys extras na mochila, eu me planejava para voltar para a casa da senhorinha. Entretanto, logo no início da caminhada, eu notava que a placa de sua horta estava caída.

"Acho que o mínimo que eu posso fazer pelos berrys que dei a casulo e ao poochy é tentar ajeitar isso aqui"

Pensava, pegando a placa do chão e tentando fixá-la da melhor maneira que conseguisse, mesmo com as habilidades manuais não sendo meu forte.

"Vó Ma... Espero que seja um apelido e não um adjetivo! hahaha Mas se fosse um adjetivo, acho que não faria muito sentido ter uma placa hehe Me pergunto qual o nome dela? Maria? Talvez Magali?"

Meus pensamentos divagavam enquanto caminhava pela floresta de volta para a casa. Em algum momento do trajeto, Wolf e Ciri me reencontravam.

— Hey, vocês dois, temos um novo companheiro! E a "Wurple" tem uma novidade para mostrar também! Mas podemos deixar isso para depois, a senhorinha ainda está esperando! — Com a pokébola, eu retornava os dois pokémons, voltando a caminhar "sozinho" pela floresta.

Após caminhar um tempo, eu já podia ver a cabana novamente. Apressando o passo, eu me aproximava da porta e batia nela duas vezes. *TOC TOC

— Ei, sou eu! O menino! Eu trouxe os berrys! Peguei alguns extras também caso a senhora tenha mudado de ideia! — Me identificava pelo lado de fora.

— Ó, olá, Machop! Espero que não estejamos muito atrasados! — Dizia ao ver o pokémon abrir a porta para me receber.

Embora a mesa já estivesse posta, podia ver que a senhorinha ainda finalizava alguns preparos, o que me deixava mais tranquilo quanto ao fato deles terem ficado esperando. Assim que a senhorinha notava minha chegada, interrompia o que estava fazendo e me fitava por alguns segundos, me analisando de cima a baixo. Naquele momento, a situação toda — o pedido repentino — ficava mais clara; a senhora havia me confundido com seu neto, chamado Daniel. Parecia um pouco triste diante da descoberta, o que levava o Machop a consolá-la.

— Ah, desculpe, infelizmente não sou ele mesmo... Meu nome é Sousuke Ren. — Me apresentava um pouco sem graça diante do mal entendido. — Mas bom, trouxe as frutas de qualquer jeito! Ah, e peguei algumas extras, se não se importar! — Eu me abaixava e pegava as frutas da lista de dentro da mochila para entregar ao Machop. A senhorinha então terminava uma linda salada com as berrys picadas e depois me convidava para se juntar a mesa.

— Não vou fazer cerimônias, a comida parece deliciosa! Aceito sim, seria um prazer! — Dizia, me sentando na mesa junto deles. A senhorinha finalmente esclarecia minha dúvida quanto a seu nome, revelando se chamar Marcela. Após colocar um pouco da salada de berrys no prato, eu me oferecia para ajudá-la quanto a situação: — Então, Dona Ma, como é o seu neto? Tenho algumas coisas para resolver primeiro, mas depois talvez possa tentar ajudar a encontrá-lo! — Se tiver uma foto dele seria melhor ainda! Afinal posso acabar cruzando com ele por ai e assim poderia reconhecê-lo...

Almoçaria com Ma e seu Machop e depois passaria o resto da tarde fazendo companhia para a triste senhora. Tentaria entretê-la com algumas das minhas histórias ou ajudar em algumas tarefas que ela e o Machop pudessem ter dificuldades em realizar sozinhos. Quando o final da tarde chegasse, me despediria da dupla e me prepararia para cruzar a floresta e voltar para Slateport.

— Que isso, sem problemas! Espero que consigamos encontrá-lo! Aliás, tenho certeza que conseguiremos! — Dizia de modo otimista após Marcela se desculpar por ter me confundido com seu neto.

— Que legal da sua parte, Ma! Eu tinha entendido tudo errado ^^' encontrei um poochyena lá e achei que era seu pokémon guardião da horta! hahahha — Respondia em relação ao comentário da senhorinha sobre a horta ser para todos — pessoas e pokémons — sem distinção. — Mesmo assim, muito obrigado pelas frutas, certamente serão de muita ajuda!

O machop trazia uma torta à mesa que, mais uma vez, parecia deliciosa. A senhorinha me explicava ser uma torta de tamato e oran: doce, mas com um leve ardor no fundo. Eu pegava um pedaço de torta e experimentava. Coisas apimentadas definitivamente não estavam entre minhas preferências, mas o sutil toque presente na torta era bastante agradável. A combinação de sabores demonstrava que dona Ma era uma cozinheira de mão cheia.

— O Daniel deve ser mesmo um cara de sorte, a sua comida é deliciosa! — Dizia levando a mão a frente da boca, pois ainda não havia terminado de mastigar.

A senhorinha então me mostrava uma foto de seu neto, um jovem loiro e alto de olhos azuis. Não era nem um pouco parecido comigo, o que me levava a pensar que Ma deveria estar com tanta saudades do neto que já estava o enxergando em qualquer rapaz na mesma faixa de idade. Prestava bastante atenção na foto, tentando memorizar os principais detalhes que poderiam me ajudar a reconhecer Daniel, caso o visse. Ma então relatava que não podia se afastar muito da cabana e pedia se poderia ajudá-la a encontrá-lo. Depois, complementava dizendo que as últimas notícias que tinha do rapaz, é de que ele tinha a intenção de desafiar Roxanne, a lider do ginásio de Rustboro. Eu era um novato na região de Hoenn e nem sequer sabia para que lado ficava a tal cidade de Rustboro. Mas aquilo não era problema, só significava que eu precisaria perguntar por ai e viajar até a cidade.

— Pode deixar comigo, dona Ma! Irei desafiar essa Roxanne e descobrir se ela sabe algo sobre o seu neto! E se ele tiver passado lá, talvez já consiga uma boa pista de onde procurá-lo!

A senhorinha fazia um sinal para Machop, que desaparecia e depois voltava com algo nas mãos. Depois, ela me explicava que se tratavam de shards; ainda não tinha muita certeza de para que serviam, mas a senhorinha disse que eram valiosas para treinadores, então com certeza mais cedo ou mais tarde, elas viriam a calhar.

— Mais uma vez, muito obrigado, dona Ma! E pode deixar que eu trarei notícias do Daniel, senão o próprio, para você!

— Hahaha Fique a vontade dona Ma! — A respondia quando ela dizia que me chamaria de netinho e me dava sua benção.

Quando já estava me preparando para partir, a senhorinha me surpreendia novamente com um novo embrulho. Dentro dele, mais um pedaço da deliciosa torta de Oran e Tamato.

— Ó, não precisava se dar ao trabalho, mas muito obrigado! — Agradecia diante da gentiliza. Depois, parava hesitante por um segundo. — ... Humm... a propósito, Dona Ma... A senhora teria algum telefone pra contato? Assim, logo que eu descobrisse alguma coisa, poderia ligar para dar notícias! — Questionava se havia algum meio de comunicação com a senhorinha, mesmo pretendendo retornar ali pessoalmente. Ter algum meio de entrar em contato com Marcela poderia ser útil tanto para lhe dar informações adiantadas quanto para perguntar alguma informação que viesse a se tornar necessária futuramente.

Independente da existência de um meio de comunicação ou não, eu arrumava o embrulho da torta cuidadosamente na mochila (para que não fosse "destruído" durante a viagem) e então preparava-me para partir. Já na porta, eu me despedia de Marcela e seu companheiro Machop.

— Até mais, Dona Ma! Machop! Espero logo estar de volta!

Era final de tarde, quando eu tomava meu rumo pela floresta novamente com o objetivo de voltar a Slateport pelo mesmo caminho que viera.