[Gym Battle] Vs Roxanne #44

Não é novidade para ninguém quão contrastantes podem ser os universos de treinadores e coordenadores - afinal, enquanto um busca o poder e a maestria perante todos os que se oporem a si, o outro carrega no peito a flâmula delicada que arde pelo desejo de apresentar as mais belas e espontâneas apresentações da pura, simples (ou talvez não tanto, dependendo de qual e quem) e "inofensiva" arte. Tendo tudo isto em consideração, não chega a ser exatamente comum, apesar de não impossível, que os líderes de ginásio recebessem em suas desafiadoras arenas aqueles que se dedicavam exclusivamente ao espetáculo da coisa, deixando de lado (pelo menos na maior parte do tempo) os tantos treinamentos que os duelistas comuns se exigiam concluir - o que não necessariamente significava que essas pequenas pérolas eram mal recebidas: Oh, não, muito que pelo contrário!

A maior prova disso se via logo na recepção, quando uma secretária baixinha sorriu e o cumprimentou diante de sua chegada, pedindo unicamente seu nome e um pouco de paciência enquanto checava a disponibilidade da líder. Felizmente, a sorte parecia ao lado do rapaz, e a jovem o encaminhou para um sofá em uma pequena sala de espera enquanto se retirava em busca da maestra do ginásio de pedra, Tsutsuji. É nesse ponto, inclusive, que Odayakana provavelmente teria o maior espaço de tempo para admirar os fósseis e estátuas que visavam reconstruir espécimes que há muito não existiam em grande número pelo planeta - mas não tanto, visto que logo a voz singela que o recepcionou outrora o convidou para se encaminhar para a arena construída aos fundos do museu.

— Você deve ser o Haruki? — Chamou, então, uma figura próxima ao campo que resguardava inúmeros pedregulhos, tanto dentro de seus limites, quanto fora. Chegava a ser engraçado como a mulher trazia no rosto um aspecto tão adulto, ao mesmo tempo que seus trajes concediam um "quê" jovial para sua pessoa, por assim dizer. — Eu sou Roxanne. Desculpe a demora, estava terminando de etiquetar alguns fósseis... — Comentou, com um sorriso breve enquanto o cumprimentava com um breve aceno de cabeça. — Por favor, fique à vontade. — Acrescentou, estendendo a mão para o lado oposto do campo, enquanto os pés se encaminhavam tranquilamente na pequena área extrema de uma das pontas. — Diga, o que tem pra mim? Espero que um bom desafio! — Sorriu, serena, retirando do bolso uma pequena esfera bicolor e a girando nos dedos antes que o objeto se abrisse, liberando um feixe esbranquiçado que rasgou o ar e atingiu o piso irregular, materializando um pequeno formato pontudo que em pouco tempo recebeu sua paleta de cores quase monocromática.

Uma das tantas outras diferenças do mundo dos ginásios para o de contests, vale afirmar, era o ritmo relativamente rápido no qual as coisas ocorriam - o que era possível perceber só pelo fato de que logo o convite para o início de uma batalha foi feito, quando a professora lançou seu companheiro em campo e aguardou o oponente com o qual teria de lutar; Um sorriso simples se abriu em seus lábios, então, quando os olhos avermelhados encontraram a imagem humanoide da psíquica liberta pelo coordenador.

— O prazer é meu. — Respondeu, educada. — Bem, tenho certeza que tem muita coisa para me mostrar! — Acrescentou, com um sorriso gentil, analisando a lolita que encarava, cheia de si, o narigudo azulado. — É uma Gothorita? Faz tempo desde que vi uma pela última vez. — Comentou, relaxada, volvendo a atenção para o próprio pokémon. — Nosepass, comece com Sandstorm e aplique um Thunder Wave. — Instruiu, sem pressa, cruzando os braços em frente ao peito e se limitando a assistir ao combate que logo tratava de iniciar.

Aquela não era uma batalha que impressionava pela velocidade - longe disso, para falar a verdade. Mesmo assim, porém, sem ninguém que superasse os dois vagarosos pokémons, a primeira a agir foi a relaxada Gothorita, ao estender as mãos e materializar uma pequena esfera de energia luminosa, moldando-a aos poucos e acumulando-a até que uma tonalidade esverdeada tingisse seu pulsar, antes de arremessá-la em cheio no nariz do pedregulho, que cambaleou para trás e balançou desesperadamente seus bracinhos para que pudesse manter o equilíbrio. O acerto, porém, não fez com que o rochoso titubeasse e, sacudindo-se de um lado para o outro, uma forte ventania dominou o campo, erguendo pedrinhas do chão e levantando uma potente nuvem de poeira, fazendo com que a observação do ambiente se tornasse uma tarefa bem mais complicada.

O clima não impediu que a psíquica ousasse arremessar uma nova esfera pulsante de energia: Apesar de que, dessa vez, o rodopiar da brisa pareceu tornar a ofensiva um pouco mais fraca, e o pokémon-bússola malmente se mexeu diante dela. Talvez não pudesse ser visto por conta da grande poeira que se ergueu no ambiente, mas o pedregulho aproveitou o breve descanso pra fazer um lanchinho e botar pra dentro uma pequena frutinha azul que segurava, recuperando alguns pontos de sua energia. Em seguida, sua única reação foi encolher-se, tanto quanto era possível naquele corpo cubista, e um raio repentino pulsou da ponta de seu nariz, acertando em cheio o corpo de Clementine e a fazendo recuar, apenas para ser cumprimentada com uma dolorosa estática que correu por suas veias e forçou-lhe a ficar no lugar.

Infelizmente, bem... Isso também contribuiu para que algumas pedras da tempestade de areia acertassem a monstrinha gótica, causando-lhe alguns arranhões - mas nada muito sofrido, para a sorte do contesteiro.


— Ouch, essa foi sofrida. Diga, Haruki, nós nos conhecemos de algum lugar? — Perguntou Roxanne, abrindo um sorriso manso mais uma vez. — Tenho a impressão de que você é familiar, mas não tenho certeza de onde. — Comentou, ajeitando uma madeixa dos cabelos escuros antes de voltar a atenção para a batalha. — Aguente firme, Nosepass! Duplo Rock Tomb!

— Ah? E quem é a irmã, você tem alguma outra Gothorita? — Quis saber, incentivando a continuidade ao diálogo entre ambos. Era difícil dizer se por reparar no nervosismo do coordenador e tentar ajudá-lo a lidar com isso, ou se simplesmente por interesse de fato mas, bem, mal não poderia fazer. — Nós estamos juntos há um bom tempo. Ele costuma ajudar bastante nos desafios por aqui. — Comentou, com um sorriso tranquilo... E então, estalou os dedos, suave, como se se recordasse de alguma coisa de repente. — ...Contests! Você é o garoto que se apresenta com aquela Delcatty, por acaso?

Mas, sim, voltemos ao que importa: O combate. É interessante observar a maneira como a ordem das coisas deu um giro de 180º com um único movimento realizado pelo pedregulho e, de repente, era ele o responsável por iniciar a rodada que nascia - não com muito sucesso, admito, pois o pedregulho até tentou arremessar algumas rochas na direção de Clementine, mas parecia que a tempestade de areia também o havia prejudicado... Isso, ou o narigudo era muito ruim de mira, pois as pedras voaram de um lado para o outro, sem alvo e sem efetividade. A psíquica, por outro lado, foi capaz de ignorar a estática que a assolava, lançando uma certeira esfera de energia que arrancou mais um pedaço da vitalidade de Nosepass.

Nesse troca-troca, a estatueta pareceu perceber que não podia ficar só de brincadeira, ou acabaria levando a pior; Mais uma vez, tentou repetir a saraivada de pedras de outrora, e foi com sucesso que machucou a gótica suave que agia em nome de Odayakana - inclusive, uma das rochas até esmagou o pé da coitada e, fosse por isso ou pela paralisia, a pobre Gothorita não atacou daquela vez e até sofreu com um cisco que caiu no olho, por conta de toda a poeira que dançava pelo ar.

A parte boa de tudo aquilo, bem, é que a competitividade da mocinha pareceu fazê-la levar essa palhaçada pro lado pessoal. O narigudo que se cuide, pois estava mais que claro que viria bomba pela frente.

— Uma Gothorita e uma Lilligant? Com certeza não é o que se costuma pensar quando alguém fala de "irmãs!" — A mulher retrucou, dando um riso relaxado enquanto observava os pokémons - e um leve torcer de canto de boca foi sua única reação ao reparar no fortalecimento repentino da psíquica em resposta ao golpe realizado pela estatueta. — Ah, isso é um problema. — Comentou para si mesma, deixando escapar um suspiro manso e movendo o pescoço de um lado para o outro. — Nosepass, fique firme! Dê um último Spark e, se possível, repita. — Pediu, antes de voltar a observar o coordenador com o qual batalhava. — Isso, a Wallace Cup. — Outro sorriso, seguido de um acenar de cabeça em concordância, como se quisesse assegurar as próprias palavras. — Tiveram muitas apresentações interessantes, e tiveram muito mais pessoas querendo participar, fosse pelo prêmio ou por quererem arriscar algo novo. — Comentou, com um dar de ombros. — Apesar de que, cá entre nós, também tiveram algumas coisas um pouco decepcionantes... — Acrescentou, com um breve torcer do canto de boca; Entretanto, não deu continuidade ao assunto - talvez o fazendeiro precisasse dar um pouquinho de corda, se quisesse tirar alguns dois centavos dos pensamentos de Tsutsuji?

Qualquer das maneiras, válido dizer que foi nesse momento que o combate recebeu sua continuidade e, claro, Nosepass permaneceu sendo o primeiro a se movimentar. O pedregulho balançou as mãozinhas de maneira veloz, e um raio disparou de suas pontas na direção de Clementine; Com a velocidade debilitada pela paralisia e com dores musculares, a psíquica não foi capaz de esquivar-se mas, para a felicidade de Odayakana, uma esfera extra de uma pulsante energia esverdeada se provou suficiente para dar cabo do narigudo que simplesmente tombou para trás, desfalecido, como um tronco de árvore que cede diante da lâmina do machado.


— Tsc... — A morena deixou escapar, e estendeu a esfera do pobre azulado para que pudesse retirá-lo de campo, sem demora. — Obrigada pela ajuda, Nosepass. Você fez o suficiente. — Disse, antes de recuperar outra pokéball do bolso e lançá-la em campo, libertando um simpático fóssil olhudo, que assistiu sua oponente com curiosidade.


— É com você, Anorith! Duplo Fury Cutter! — Instruiu a mulher. Enquanto isso, a tempestade de areia invocada anteriormente por Nosepass já fraquejava, indicando seu fim iminente e, bem, uma certa vantagem para Haruki - afinal, sem todo aquele baile de poeira, tanto seus pokémons teriam mais visibilidade, quanto os de Roxanne perderiam seu poderio defensivo... Como será que as coisas desenrolariam, a partir de então?

— Isso é, com certeza. — A moça sorriu, tranquila, observando a pokémon que batia as pinças, animada para o combate. Entretanto, quando Clementine foi capaz de superar a paralisia para erguer uma tela protetora diante de si, a inseto sequer fez questão de se mover do lugar, observando com atenção o momento que o bloqueio se esvairia. — Dura na queda, hein? — Comentou, mencionando o quase inexistente turno em que a gótica havia se deixado abater pela estática que corria em suas veias. Apesar da proteção, porém, a psíquica não foi capaz de evitar o dano residual causado pelo resquício da tempestade invocada por Nosepass.

Esse turno, então, foi marcado unicamente pelo movimento rápido de Anorith, que bateu as pinças uma na outra e, com um avanço veloz, cruzou-as em corte sobre o corpo de Gothorita, que encolheu-se em dor - não brutal, porém, certamente incômoda. Ela até poderia ter revidado, inclusive, não fosse a boca santa de Roxanne, que fez com que a eletricidade acumulada em seu corpo se ativasse mais uma vez, inutilizando-a naquele turno do combate.