Ruas de Goldenrod - Come Back with Style!

Assim que iniciaram a se apresentar, me cumprimentando um por vez, os nomes tinham tanta fluidez que já imaginava como narraria os créditos finais, apresentando o elenco, técnicos, direção e patrocínios.

- Yago, esse é o Allgemien, apelidado de Allgie - chamei o Spinarak Shiny para que Machado pudesse conhecê-lo. - A princípio ele será nosso vilão, mas você vai ver que ele só foi injustiçado. Isso não impede ele de ser venenoso, mas de uma forma menos literal. O Allgie é bem estouradinho e malicioso, e apesar de começar como o vilão da história, vai se mostrars bem manipulável.

Luiza já vinha até mim me parecendo um problema. Ainda bem que Tikki era bem centrada e poderia ajudar a mulher com seu papel. Estalei os dedos e minha garota chegou junto para conhecer a humana que daria voz ao seu personagem.

- Luiza, conheça a Tikki verdadeira. O personagem é bem centrado. É a menos interessada nessa coisa toda de competição, mas está sempre buscando dar o seu melhor em busca de créditos extras, configurando ela uma figura estrategista e sensata. Ela é meio ignorada, mas está sempre de olho em tudo. Acho que é até um pouco apática... Bastante, na real.

- Flávia, essa é Azula... - Eu dizia, esperando que a cleptomaníaca ainda estivesse no estúdio. - Bem, Azula inicia como a personagem destaque da novela. É uma garota popular, bem badass girl, rainha do baile, sabe? Empoderada, cheia de atitude e com um namorado oficial que é bem cômico, o Hamtaro, mas com o detalhe que pega escondido o monitor e vai ter que lidar com chantagem e exposição no meio do concurso. Ela vai acabar se perdendo e perdendo outras coisas que no imaginário dela não faz sentido não estar mais ao seu alcance.

- André, eu to muito contente com a sua energia! O Hamtaro é bem assim - chamei o Dedenne para ter um contato maior com o ator. - Ele é um personagem meigo e divertido, bem inocente até. Faz bem o tipo que é amigo da galera, mas sofre bullying por ser gordo e baixinho. Na maioria das vezes Azula, a namorada, acaba comprando as brigas dele e vencendo. Então ele tem um sentimento muito forte por ela e vai se recusar a acreditar que ela poderia traí-lo ou que o relacionamento deles possa ser abusivo. Você e a Flávia vão interagir bastante e é legal que consigam transmitir essa relação em poucos minutos pros nossos ouvintes. Acho muito importante falar sobre relacionamentos tóxicos e outros assuntos que fazem parte da bolha dos jovens e adolescentes. E até uma galera mais adulta que talvez nunca teve a chance de parar para refletir sobre isso.

Depois que mostrei levemente que meu roteiro, sem explicar, dialogava com questões atuais, me sentia bem orgulhoso. Será que ganharíamos um prêmio de produção? Bem, não era o foco conquistar nada além do contrato, mas seria interessante acompanhar a repercussão disso em outro momento.

- Sylvia, essa é a pequena Ymir - apontava para a gentil Alolan Vulpix aos meus pés. - O seu personagem vai se apresentar como uma boa moça, gentil, educada e com um leve crush no monitor. Ela vai passar bom tempo da narrativa como um personagem sem sal, mas cada pequena ação dela vai ser importante pro desfecho final. Eu só gostaria de acrescentar que irei evoluir Ymir para uma belíssima Alolan Ninetales no último ato do episódio final. Quando ler o roteiro acho que vai concordar comigo que ela vai ter mudado bastante com essas pequenas ações. O que eu acho legal nela é que com o desenvolvimento e com a rixa com Azula, ela ainda tem sororidade pela elétrica quando Hamtaro termina com ela no meio da escola toda. Acho um dos momentos mais bonitos da obra.

Depois que deixei eles conhecerem os personagens que dariam voz, perguntei a Phoebe se ela poderia conferir com o advogado se ele tinha preparado o termo de confidencialidade que pedi e acrescentei que se ela fosse participar como assistente de produção, que deveria pedir um a mais para ela também. Não queria que NADA vazasse e em breve anunciaria o sexto ator, mas antes disso, eles precisavam assinar.

Assim que me certifique que todos tinham assinado o termo de confidencialidade, inclusive Phoebe, revelei com certa dificuldade o que que estava previsto.

- O Thito sou eu...

Veja bem, eu não disse que eu sou o coordenador famoso pelo mistério e a dramaticidade em suas performances artísticas. Eu dizia que ele era... eu. Uma parte de mim. O que dava a ele uma certa individualidade. Como trabalharíamos juntos (isso não só incluía os atores, mas eu e ELE), era bom que soubéssemos administrar as coisas.

Ah claro. Nós conversamos muito sobre essa pequena "exposição", já que era a única saída para conseguir administrar o tempo de direção com atuação-narração. Então estávamos de acordo.

- Sinto muito ter que fazer vocês assinarem isso, mas não quero ser exposto sem que seja uma decisão minha. O Thito fará o papel do monitor e coordenador de sucesso, Eros, o Sylveon.

Então liberava um dos meus melhores amigos desde que fomos para Hoenn para o elenco conhecer.

Aquela era uma situação... Inusitada. Eu tinha evitado todo jornalista, fã, paparazzi ou qualquer pessoa que ameaçasse invadir o meu espaço pessoal só por fazer parte do mundo pop, mas Thito comentava algo sobre o ditado da lenda Hanna Montana: "tenho que aproveitar o melhor dos dois mundos". E se Luiza se comprometia a assegurar que os colegas não arruinassem minha peruca, digo, a "máscara", então talvez fosse melhor manter ela próxima ao invés de afastar, como era o impulso de costume.

Sendo assim, aliviei minha expressão que era um pouco assustada antes de raciocinar, e dei um sorriso, assinando o que ela me pedia.


Era estranho escrever aquilo. Thito também achava. Normalmente preenchíamos formulários online.

- Acho que por hoje é só. Primeiro eu vou gravar o áudio dos movimentos das patas de cada um e depois cada um dos 6 golpes que eles podem fazer. Vou enviar para vocês para terem em mente suas habilidades caso queiram usar alguma de acordo com o roteiro. Por isso peço que estudem suas partes. Se não quiserem acompanhar o processo, estão liberados.




Assim que Matthew liberou o elenco, Thito assumiu por um instante e piscou para Luiza. Queria ter certeza que ela ficaria um tempo a mais. Olhou então para Phoebe e perguntou:

- Podemos começar?

Como a gravação durou o dia inteiro, pude almoçar com Phoebe, como combinado, e de quebra Luiza ia conosco.

Foi divertido gravar e catalogar os movimentos de cada Pokémon. Não que já não tivesse acesso a eles. A pokédex me fornecia tal informação, mas era diferente ver e ter gravado cada um deles. Tratava de enviar um arquivo para cada ator e atriz que fazia parte do elenco. Sendo assim, quando acharem pertinente usar um movimento, eles saberiam o leque de possibilidades que tinham. Eu poderia ter feito uma alteração nos moves de alguns, mas não era disso que se tratava a história.

Assim que o dia terminou e Thito se despediu de Luiza, informei a minha mãe que não voltaria pra casa do campo hoje. Nossa casa foi reconstruída durante a ação voluntária. Ainda não tinha muita coisa, mas era mais perto do centro e me evitaria ter que ficar fazendo trocas ou pegar transporte.

- Obrigado pela ajuda hoje Phoebe, foi muito importante ter alguém conhecido pra me dar um apoio. - Sorriso, um tanto cansado, mas ainda empolgado pelo dia seguinte. - Te vejo amanhã?

Chegar na casa antiga era esquisito por diversas razões. Ela ainda não estava 100% concluída, apesar de ter portas e janelas, mas não tinha pisos e móveis. Mesmo assim a planta era a mesma e me trazia lembranças da infância. Lembranças da família. Lembranças do meu pai.

Durante um instante me conectei com Matte.

Goldenrod já foi uma cidade brilhante, mas depois do desaparecimento de Joseph Monclar, ela nunca mais foi a mesma. E hoje, saber que estou tão perto de uma verdade, e ainda assim tão longe, me traz muitas incertezas. Minha mente começa a entrar em conflito e vejo que não foi a melhor decisão. É. Dormir sozinho naquele lugar foi um erro...


No dia seguinte eu já estava de pé quando o expediente da torre de rádio começava. Não só excitação pelo trabalho, mas principalmente porque não queria dormir e deixar Matte assimilar mais e mais coisas enquanto descansava. Sentia que acessar memórias que tinham conexão com o incidente deixavam ele mais presente e eu sempre me sentia amedrontrado quando deixava a persona dele se manifestar. Não gostava nem de discutir, então era preferível me ocupar. Caso contrário, ele poderia pegar o próximo navio para Hoenn e cumprir as primeiras três missões que nos passaram.

De toda forma, eu era um dos primeiros funcionários da torre. Só esperei até que alguém pudesse abrir a porta do estúdio para que eu pudesse me preparar.