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Foi perto do meio dia que Tony Dragneel desembarcou à porta do Restaurante Lua Nova, do qual era sócio-proprietário. Mas, antes de entrar, liberou dois de seus canideos de fogo, o grande Garm e a ainda pequena Espoleta, que se mostraram bastante animados diante da fachada de um novo lugar e a proposta de testemunharem algo único.

Para a surpresa dos Pokémon, a novidade que presenciariam não era uma batalha, um desafio ou qualquer coisa parecida. Tratava-se de uma transformação: a oportunidade de Espoleta evoluir! E tudo aconteceu muito depressa, com empolgação de todas as partes. Afinal, evolução é sinal de progresso e força entre os Pokémon. Agora uma Arcanine, ela tratou de experimentar a exuberância da nova "juba", recebendo olhares de admiração e suspiros das poucas pessoas que passavam por ali e, obviamente de Garm.

Depois de tudo é que Tony enfim retornou Garm para que pudessem entrar no restaurante. A proposta agora era de se acomodarem para o almoço, antes de cuidarem de quaisquer que fossem os problemas do estabelecimento da The Wolves. O que o rapaz não contava é que tivesse seu trajeto pelo restaurante interrompido abruptamente, antes mesmo de terminar de cruzar o saguão de entrada.

– Ei, ei! Ow! Sinhô! Não pode ir entrando assim! – uma voz masculina, um tanto rebelde, dirigia-se a ele – Digo... – o rapaz respirava fundo para controlar os próprios impulsos e corrigir a falta de modos.

A julgar pela jovialidade, o recepcionista tinha quase a mesma idade de Tony. Vestia o uniforme padrão de Lua Nova, apesar de ter o avental mal colocado na cintura. A boina desajeitada na cabeça mostrava algum esforço em favor do rapaz, para ficar mais apresentável no ambiente de trabalho. Ainda assim, seus cabelos azuis eram visíveis pelos lados da cabeça e na nuca. Além disso, os olhos de um azul falso transpareciam cansaço.

– Bom dia, senhor. Me desculpa, em que posso ajudar? É que... Bem... – ele olhou indiscretamente para Espoleta e seus quase dois metros de imponência – Só temos lugar na área privada por enquanto, se não se importa de esperar um pouco e guardar ela.

Além de não ter muito tato para lidar com o visitante, o funcionário também parecia nervoso e atrapalhado. Frequentemente olhava para os lados, provavelmente em busca do apoio de qualquer outro colega. Pelas roupas que usava, recepcionar claramente não era sua função e, obviamente, ele não (re)conhecia a pessoa à sua frente. Entretanto, o esforço do garoto em ser prestativo e corrigir os próprios erros era louvável. Isso não tem como negar.

-1 Fire Stone
+1 Bottle Cap por evoluir Pokémon entre Lv 7-16
Arcanine evoluiu, aprendendo Extreme Speed e recebendo +10 de happiness.

Tony não se incomodava com os pequenos deslizes do atendente. Ao contrário, via no fato de não ser reconhecido uma oportunidade para avaliar o estabelecimento na perspectiva de um cliente; aceitando, inclusive, retornar Espoleta para a Pokébola.

Aliviado com a cooperação, o recepcionista logo se dirigiu para um par de cadernos finos deixados sobre um púlpito ali perto da entrada. Até para consultar o material ele parecia um pouco enrolado. Era compreensível, pois um caderno continha as reservas organizadas conforme a hora do dia. No outro, o cardápio. Além disso, obviamente não tinha sido ele a preparar os documentos.

– Ah, o almoço é sempre mais movimentado aqui. – comentava – Nem tamo cheios ainda, só com uma reserva grande e problemas pequenos numa das áreas. – depois de muito procurar, deu-se por satisfeito (ou vencido?) e fechou ambos os cadernos – Então, mestre, pode me acompanhar, por favor? Achei um lugar pro sinhô.

Deixando o saguão Tony finalmente conseguiria ter alguns vislumbres do que acontecia no Lua Nova naquela manhã. A primeira área, o ambiente casual, tinha algumas das cadeiras formando uma barreira provisória impedindo a passagem. Assim, aquela parte estava completamente vazia, com os móveis todos em desordem e alguns barulhos sutis, baixos e repetitivos. O ambiente de encontros também estava vazio quando eles passaram por lá. Contudo, estava em perfeita ordem e arrumação, com plaquinhas de "Reservado" postas sobre as mesas.

– Hoje o cardápio é tropical, mestre. A maioria dos pratos leva frutas frescas, peixe... E de bebidas temos o de sempre. Promoção do dia são sucos e clericot. – o atendente ia contando enquanto avançavam pelo corredor.

Para contrastar com todas as outras áreas, esta mais privada estava quase completamente cheia. De longe Tony conseguiria ouvir os murmúrios das conversas íntimas, quase sussurradas, uma música ambiente bastante tranquila e sentiria o cheirinho de comida quente e aromas frutados.

– Se não se importar, tem aquela mesa vazia ali quase no fundo. – apontava o local sem levá-lo diretamente até lá – Tem um cardápio em cima da mesa já. Posso te ajudar em mais alguma coisa, mestre?! – a cordialidade era ensaiada, mas os olhos do garoto quase suplicavam para que Tony não tivesse qualquer solicitação; ou pelo menos, não uma que o rapaz não soubesse como resolver.

Tony - Restaurante Lua Nova - Manhã nublada

– Ah, desculpa, esqueci de apresentar os ambientes... – o rapaz respirava fundo ao constatar mais um deslize da sua parte – O primeiro é o ambiente casual, pra receber mais gente duma vez tipo famílias, amigos. Só que hoje tamo com problemas lá e precisamos isolar. Não é reforma não. No maior ali do meio é pra reunião, grandes grupos, mas não sei quem vem hoje não, foi mal. Esse aqui é o ambiente privado. Mais pra casal, pessoas sozinha e tal. – tentava explicar da melhor forma – Bom, vou te deixar a vontade aí pra olhar o cardápio. Qualquer coisa só chamar, eu sou o Morty. – cumprimentou com um sorriso sem jeito e um par de dedos na testa, simulando o comando militar de "sentido".

Apesar dos claros problemas detectados, Tony não veria isto refletido na satisfação dos clientes pois todos os pares que se sentavam ali na parte privada pareciam tranquilos e bem atendidos. Comiam, bebiam, conversavam, riam. A comida parecia impecável e, portanto, os clientes claramente não se incomodavam com as outras coisas.

O único problema poderia ficar por conta da ausência de um do público alvo ao qual o salão isolado era destinado. Afinal, nenhuma família era vista por ali, tampouco mesas com mais de duas pessoas. E, apesar de não ser necessariamente uma política do restaurante, nenhum Pokémon também acompanhava os donos.

Levou alguns minutos até que Morty voltasse para aquele salão, trazendo consigo uma bandeja com os pedidos de algumas das mesas, que ele entregava com eficiência antes de se dirigir novamente à Tony. Na mesa do treinador o rapaz já deixava uma jarra com água fresca e uma taça, antes de anotar o pedido e sumir de vista em seguida.

Morty parecia mais confortável naquela função, apesar da sua imagem um pouco desleixada e sem postura. Mas o curioso é: só o rapaz atendeu na entrada, levou o suposto cliente para dentro, anotou os pedidos e ainda os entregou? Quer dizer, ele faz tudo? E enquanto estava atendendo, quem recebia? E enquanto recebia, quem atendia? Confuso...

Depois de deixar o salão, Morty não demorou mais do que quinze minutos para retornar com o pedido de Tony. Entregou na mesa do treinador uma travessa com uma variedade de canapés, uma cestinha delicada cheia de torradinhas, e dois potinhos pequenos com patês, um rosado e outro lilás. Em uma taça comprida vinha um suco de laranja, decorado com um pedacinho da fruta na borda.

– Mestre, tem canapé de presunto, de frango e esses aqui são os caprese. – apontava para os pãezinhos de apresentação elegante – Aqui é cortesia da casa e pra acompanhar um patê de atum e outro de azeitona preta. – indicava agora os potinhos individuais ao lado do cesto de torradas – Deseja adiantar o pedido da refeição? – já tinha a caderneta novamente em mãos para anotar, se preciso.

Tony - Restaurante Lua Nova - Manhã nublada

Quando Morty retornou, tinha a expectativa de tomar nota dos pedidos para o almoço, mas Tony o aguardava com a solicitação para o fechamento da conta. Assim, o atendente-garçom levou o treinador até o caixa para que pudessem encerrar tudo.

– Desculpa se não atendi bem o sinhô. A gente realmente tá com uns probleminhas de última hora. – ele ia se explicando quando Tony evidenciou tais problemas – Que isso, não precisa se oferecer não sinhô...

Morty tentaria rebater a oferta de Dragneel para dar apoio no restaurante. Porém, sua surpresa ao ver a pulseira foi bem maior, tanto que ele a ficou encarando por longos segundos, boquiaberto. Quase era possível ver as engrenagens trabalhando dentro de sua cabeça.

– Ô sinhô Tony, me desculpa. Ai, eu te tratei como cliente... – o rapaz ficava visivelmente nervoso; tirando e recolocando a boina, enxugando as mãos no avental.

Depois de retribuir o aperto de mão, ele saiu de trás do caixa. Estava aflito, mas era difícil definir se por conta da surpresa, ou de reconhecer as gafes que cometeu com alguém importante, ou ainda por tentar improvisar as ações a partir dali, sabendo que Tony realmente poderia ajudar nos problemas do dia.

– Bom, nem sei por onde começar... – coçava a nuca, sem jeito, ponderando que queixa Tony gostaria de escutar primeiro.

Tony - Restaurante Lua Nova - Manhã nublada

Tony era bastante empático e educado diante do nervosismo de Morty. Isso se refletia também no comportamento do rapaz, que ficava cada vez mais à vontade. Ele claramente se sentiu aliviado por ser dispensado das formalidades, que não eram seu forte; também da tarefa de elencar uma prioridade dentro dos problemas que enfrentavam.

– Ufa... Achei que tivesse feito besteira de não te reconhecer. – esboçou até um sorriso sutil em resposta – É eu tô tentando cobrir tudo que consigo pra ajudar o pessoal... Os dois problemas tão ligados, sabe?! – com um aceno de cabeça, Morty indicava um corredor, o mesmo para o qual ele começou a caminhar, esperando que Tony o seguisse – De manhã a gente tava organizando pra abrir e o pessoal escutou uns barulhos lá no outro salão, o que tá fechado. O Alfred foi com eles ver o que era aí todos foram atacados, acredita?! – ele próprio esboçava surpresa na voz.

O corredor não era tão longo e os levava para uma parte bem mais barulhenta do restaurante: a cozinha. Mas não me entenda mal. O barulho era do trabalho intenso que se desenvolvia ali. Panelas, talheres, louças. Tudo tilintando como uma sinfonia. De vozes em si não se ouvia praticamente nada, exceto algumas palavras de ordem, vez e outra, gritadas para instruir comandos ou alertar que algo quente passava de um lado para outro. Os cozinheiros estavam plenos fazendo seu trabalho, bem concentrados. Até o Chef Gusteau tinha a barriga colada num fogão e nem prestou atenção na chegada do Lobo.

Noutro canto, Morty fez questão de apontar para Tony ver, estavam sentados Alfred, o real maître do restaurante, e dois outros funcionários com uniformes de garçons. Todos estavam muito estranhos, com a pele num tom de roxo empalidecido, parecendo quase zumbis, com as cabeças pendendo para o lado ou para frente. Um dos garçons inclusive tinha um balde entre as pernas, onde vomitava. Diante da cena Morty simplesmente suspirou, sem palavras.

[Imagem do Chef Gusteau]
[Imagem do maître Alfred]

Tony - Restaurante Lua Nova - Manhã nublada