#Cinnabar - Pleiteando um estágio!

O professor era um bocado expressivo, por isso seu rosto mudava da atenção pra reflexão, depois da curiosidade pra compreensão, e assim por diante. Importa é que era um bom sinal, pois significava estar absorvendo completamente as palavras do rapaz, apesar de sua postura em si não ser tão séria quanto a de Ayzen. Acostumado àquela rotina, conduzia uma entrevista com naturalidade.

– Ah, não! Nem comece a se depreciar por não ter uma formação. Já tive alunos formados incrivelmente burros, e voluntários maravilhosamente produtivos. Alguns, inclusive, são grandes colegas hoje em dia. Além do mais... – fez uma careta típica de quem tenta acessar uma área remota da própria memória – Você disse que se chama Kitshomo, não é? Mãe geneticista Pokémon. Isso me soa muito familiar. É bem possível que eu conheça sua mãe de algum evento, ou no mínimo de algum artigo ou coisa parecida. Por falar nisso, com os pais que você tem eu posso imaginar que as referências do seu estudo foram muito boas.

Roger bebia um gole da própria água antes de voltar a sorrir e remexer em mais algumas gavetas, de onde tiraria mais alguns papéis, empilhando-os debaixo do monte que ele já havia começado.

– Pois bem, senhor Kitshomo. Arrisco dizer que meu Klefki te trouxe exatamente para onde o senhor deveria estar! Apesar de eu não trabalhar diretamente com esta parte de relações entre Pokémon e humanos, tenho pesquisas na área em parceria com Samuel, de Pallet. Como bom Celadense eu imagino que saiba de quem tô falando. – um giro sutil na cadeira permitiria que Roger pudesse olhar melhor para os quadros na parede a sua direita, apontaria para um deles em que posava ao lado do Professor Oak; depois, seu dedo gordinho apontava para a prateleira mais ao lado, onde itens evolutivos estavam expostos – A minha área é a Evolução, mas há um tempo já que as descobertas vem nos mostrando que não temos como falar desse processo sem meter o bedelho na relação entre Pokémon e os humanos com quem se relacionam. Tanto é que as pesquisas são praticamente unânimes a respeito de algumas linhas evolutivas que parecem ter nessa relação o gatilho para despertar o processo evolutivo nos Pokémon. Apesar de alguns ainda acharem isso tudo muito abstrato, mas... Uhum! É por isso que eu acho que você veio ao lugar certo!

Distrações à parte, Roger tinha um sorriso largo e muito simpático, que infelizmente veio a transicionar mais uma vez. Agora o estopim para a mudança foi seu olhar levado quase que em modo automático até o relógio que tirava do bolso, o mesmo que Ayzen viu balançar perigosamente quando o homem correu pela rua.

– Ai ai ai! É tarde. É tarde! Eu e perdi no horário... – se pôs de pé, apressado – Sinto muito, tenho uma reunião importante acontecendo... Eu acho que ainda está, pelo menos... Venha, venha, me acompanhe, por favor. E leve isto. – pegou a pilha de documentos e deslizou sobre a mesa na direção de Ayzen.

Roger já se dirigia até a porta, enfiando uma das chaves do Klefki na fechadura, sinalizando que trancaria tudo assim que deixasse a sala. Logo estariam de volta aos corredores monótonos e brancos, de salas fechadas e cheiro de café.

– Perdoa a pressa. Mas, diga, você tá interessado neste campo? Caso não, podemos agora mesmo achar outro colega numa área que lhe interesse mais. – tinha agora um sorriso sem graça, mas podia ser só da pressa, ou por não estar confortável em ter transformado a situação em algo tão corrido...

Ayzen – De Capitão à Estagiário – Cinnabar

Uma fez que Ayzen também saísse da sala, o professor a trancaria e, mais uma vez, se certificaria de deixar Klefki bem seguro dentro do bolso desta vez. Já caminhavam pelo corredor quando ele soltou uma gargalhada leve para a resposta que recebeu do rapaz. Soava contente.

– Aaah, que ótimo! Sinto que posso esperar boas coisas de você. Boa tarde, Xeno! – cumprimentava o mesmo pesquisador cabeludo que Ayzen vira há pouco e que agora voltava para a própria sala.

Visto de frente, "Xeno" - ou seja lá qual for seu nome real - tinha uma expressão estranha, como se tivesse ligado no 220V. Seu visual excêntrico ainda era complementado pelo pesado pingente que ele trazia balançando num cordão ao peito. O pesquisador acenou de volta, desta vez incluindo Ayzen no cumprimento. Sem dizer nada, fechou sua sala em seguida..

– Assinar?! Ah, pois então. Esse formulário aí no topo é seu. Preencha e entregue na secretaria, no segundo andar. Peça a eles o comprovante, porque você vai precisar entregar na recepção lá embaixo pra tirar uma nova credencial. – estavam de frente para o elevador, esperando que ele chegasse e as portas se abrissem para entrarem – Eu infelizmente não vou poder te dar mais atenção por hoje. Mas fique à vontade para desfrutar da biblioteca, ou explorar as outras partes do laboratório, se tiver curiosidade. – as portas se abriram quando o elevador chegou.

A primeira coisa que Roger fez ao entrar foi passar seu próprio cartão no dispositivo abaixo do painel, isso liberou para que ele pudesse pressionar os botões vermelhos restritos à staff. Também apertou o número 2, onde tinha dito que Ayzen deveria ir. Segurou a porta para o Ranger entrar.

– Eu te dei aí também alguns artigos interessantes, mas leia no seu tempo, não estamos em prova nem nada do tipo. Amanhã eu devo chegar às 7:30h. Vou estar mais livre pra gente conversar e te apresentar as coisas. Enquanto isso, já foi se divertir no Festival do Fogo? Começou recentemente, ainda devem ter coisas interessantes para explorar à noite.

O segundo andar estava próximo. Ali eles deveriam se despedir já que Ayzen precisava entregar o formulário na secretaria e se considerar oficialmente um estagiário voluntário no Laboratório de Cinnabar. Fácil assim, como uma sucessão de felizes coincidências.

– Ah! Traga um bom time amanhã! – completaria o professor antes das portas se fecharem para que ele continuasse descendo até seu compromisso.

Ayzen – De Capitão à Estagiário – Cinnabar

Com um fluxo alto de informações e acontecimentos, além de tudo estar acontecendo naquela aura de pressas e atrasos, talvez fosse interessante Ayzen começar a rezar para que seu futuro orientador só estivesse vivendo um dia atípico e que ele não fosse o coelho branco da Alice o tempo todo! Ou então, precisaria se acostumar àquele ritmo se quisesse acompanhá-lo por mais tempo.

Enfim, a porta do elevador se fechava com Roger dando um último aceno e sorriso "até logo". Aí o ranger voltava a ficar só. Agora no segundo andar que era muito diferente do quarto de onde ele acabara de sair. Este aqui era claramente dividido em dois grandes blocos. A sua esquerda, tomando quase todo o espaço do andar estava a biblioteca, toda com paredes de vidro que deixavam ver um fluxo até que alto lá dentro, revelando que havia sim vida naquele lugar, apesar do saguão muito quieto.

Do outro lado, a direita, uma parede longa e branca com apenas três portas ao longo dela. As duas do fim, pelas plaquinhas no topo, seriam os banheiros daquele andar, enquanto a primeira porta, dupla, larga, feita em madeira lustrosa, estava indicada como sendo a Secretaria. As portas estavam ambas abertas.

O lugar tinha mais ou menos as dimensões do escritório do Dr. White, mas bem menos mobiliado. Havia um destaque para a mesa de seis lugares no centro, além de um armário de arquivos na parede oposta à porta e a própria mesa do secretário, na outra parede. De dentro da sala vinha apenas o som de dedinhos nervosos digitando, além de um aroma levemente adocicado que lembrava maracujá.

Ah! Sobre o formulário não havia mistério. Ele pedia apenas informações básicas, que incluíam um telefone para contato, uma pesquisa de interesses na área da ciência, além de um breve histórico sobre si mesmo e o tempo disponível para se dedicar ao estágio e, por fim, um item para assinalar: Deseja concorrer à cota no programa de bolsas? [ ] Sim. [ ] Não.

Ayzen – De Capitão à Estagiário – Cinnabar

Mesmo com a porta aberta e a cabeça atulhada de informações, Ayzen ainda tinha a educação e a cordialidade ligados e operando. Foi com isso que entrou educadamente no recinto da secretaria, ainda que o secretário em si se mantivesse de costas para ele, digitando, enquanto o ranger acomodava suas coisas e preenchia o formulário.

O secretário era um homem muito... Peculiar. Sentava-se muito ereto na cadeira, o que dava uma impressão de ser bem alto. Usava um terninho que combinava com sua gravata borboleta e dava um ar levemente formal, complementado pelo chapéu baixo, quase uma cartola, que trazia na cabeça e contrastava com seu cabelo crespo, ruivo e muito armado para os lados. Trabalhava com um sorriso bobo no rosto e só tirava as mãos do teclado para bebericar de sua xícara com chá de maracujá. [imagem ilustrativa]

Mantendo aquele ar sorridente e bobão o secretário girou na cadeira só quando Ayzen finalmente se aproximou fazendo uma pergunta direta. Aí ele parou para olhar o rapaz ao mesmo tempo que erguia a própria xícara para beber. A mão livre era estendida para receber o formulário e levantar a questão de "ele realmente tava prestando atenção em tudo?".

– Qual a semelhança entre um Corviknight e uma escrivaninha? – questionou ao loiro, sem mais nem menos; tendo a própria tela do computador repleta de imagens aleatórias de escrivaninhas – Aceita um chá? – ofereceu, apontando para uma mesinha de apoio num canto, onde haviam xícaras de diversos modelos, uma caixinha com vários chás em sachê e uma garrafa térmica – O coelho branco pode ser um homem apressado, às vezes. Bom, sempre. Apressado, às vezes. Espero que seja um bom estagiário, pois o último... – bebeu do chá com os olhos arregalados e observadores, ainda esperando a ficha de Ayzen pousar em sua mão.

Ayzen – De Capitão à Estagiário – Cinnabar

– Obrigado. – o homem respondeu quando finalmente pegou o formulário.

Ele voltou sua atenção para a própria escrivaninha e de uma gaveta - sim, outra - tirou um bloquinho menor, onde rabiscou algumas coisas, carimbou e assinou em cima, para entregar à Ayzen. Era o comprovante que o loiro havia esquecido de pedir, mas o secretário maluco ao menos havia lembrado de dar.

– Entregue para a moça na portaria ao sair. – entregou e logo voltou ao seu próprio computador, com os dedos nervosos atuando, mas não abafando suas últimas palavras – Há um Storage no primeiro andar, perto da cafeteria. Seja bem vindo. – sem mais, permaneceu de costas em seu lugar.

No primeiro andar, caso Kitshomo ainda precisasse dele, a cafeteria seria facilmente localizada por ser totalmente aberta, isolada de um outro grupo de salas fechadas, e também facilmente rastreável pelo cheiro de... Café - mas também vendia outras bebidas, lanches e doces.

Depois, de volta ao térreo, a recepcionista receberia o comprovante ainda com aquele ar levemente intrigado, mas sorriria. Pediria de volta o crachá de visitante e prometia à Ayzen entregar-lhe o novo, de estagiário, na manhã seguinte quando aparecesse por lá. Ela também se despediria com um "seja bem vindo", acrescido de um "e boa sorte"...

Off: Livre pra solicitar seus ajustes de box e dar a saidinha :B

Ayzen – De Capitão à Estagiário – Cinnabar