Diamante Negro!

- Certo! – Cerrei os punhos ativamente e esperei alguns instantes antes de descer. Precisava criar uma distância entre mim e ele, porém não tão perto ao ponto de nos encontrarem e nem tão longe ao ponto de me perder. Eu precisava chegar no ponto de ônibus em sete minutos também. – Vamos, Kvasir. Nós temos de ser bem espertas! – Falei para a Sentret, que me olhava energeticamente.

Desci as escadas, dessa vez foi bem mais fácil, e passei pelo beco estreito. Me lembrava do caminho de volta ao ponto, porém tomei alguns cuidados para não chamar muita atenção. Não estava correndo, mas também não estava andando. Estava atenta a minha volta, olhando para todos os lados, inclusive pelas portas e janelas, caso houvesse alguma. Chegando na rua tentaria avistar Akise, disfarçaria quando o encontrasse, e me dirigiria ao ponto de ônibus. – Ele tinha comentado algo sobre as câmeras, tenho que tomar cuidado com isso também. – Me alertei em um sussurro. Em seguida dei uma breve olhada pelas ruas, procurando as tais câmeras que o garoto comentou. Caso encontrasse me esquivaria delas.

Caminharia com a Sentret próxima a mim de volta ao ponto. Tomaria cuidado para não ficar próxima demais do Akise e nem distante demais para não o perder de vista. Pensei também nos problemas que ele poderia ter quando pego pelos funcionários de seu pai e, no pior dos casos, pelo próprio pai. – Sigh... – Suspirei. Ele estava colocando muita coisa em jogo por um simples pedido meu, não queria deixa-lo encrencado.

Chegando no ponto eu aguardaria o ônibus. Evitaria contato com aquelas pessoas que faziam comentários negativos e me olhavam de forma julgativa, também deixaria Kvasir em meu colo por precaução. Sei lá o que se passa na cabeça daquelas pessoas de índole questionável. Pelo que Akise me falou elas não eram confiáveis. – Vai ficar tudo bem, garota... – Acariciei Kvasir enquanto aguardávamos o ônibus. Quando ele chegasse eu seria bem rápida em entrar e buscar um banco mais ao fundo. Poderia ser involuntário, mas a esfera de Hórus estaria em uma parte de fácil acesso em minha bolsa.

Felizmente a viagem fora tranquila. Akise conseguiu cuidar para que tudo corresse bem, inclusive nossa fuga secreta. Me senti naqueles filmes de espiões que os agentes especiais desapareciam como as sombras. – Hihi, foi divertido. – Sorri para o garoto enquanto admirava a paisagem do bosque que estávamos para chegar.

Ele se sentou ao meu lado e eu me senti um pouco envergonhada. Era raro casos como estes acontecendo, me lembrei até de um namorico que tive em Sinnoh nos meus tempos de escola. Me rendeu um sorriso bobo, mas tentei apagar estas memórias por enquanto para focar no que realmente importava. – Obrigado por me acompanhar, Akise-san. – Olhei para o garoto com o semblante agradecido. – Eu imagino quantas coisas você deve estar arriscando por isso, eu agradeço de coração. – Foi o que consegui falar na hora.

Descemos do ônibus após alguns minutos e logo de cara fiquei encantada com o local. Os arcos altos e decorados e as flores pelo jardim eram lindos. Kvasir observava tudo com atenção, assim como eu que também não conseguia parar de admirar aquela paisagem. Realmente Blackthorn guarda coisas impressionantes! – Uau! – Exclamei sem perceber. Caminhei pelo arco me dirigindo até o Bosque das Sombras. Por um momento até esqueci de minha missão de capturar o Houndour.

– Por onde começamos? – Perguntei ao Akise. – Você disse que deve ser rápido? – Indaguei mais uma vez. Estava não só ansiosa como também curiosa para o que estava a acontecer.

Cada detalhe do Bosque das Sombras me deixava mais fascinada! Era impressionante a reação natural dos Pokémon em seu local costumeiro. Até a Sentret se sentia mais livre, correndo para lá e para cá com alegria e energia. Queria liberar meus outros Pokémon, mas por hora me contentei apenas com Noctowl. – Hórus! – Disse lançando a esfera vermelho e branca para o alto. – Sinta-se em casa! – Falei, relembrando da pequena área florestal em Newbark quando o capturei.

A coruja estava bem alegre. Se espreguiçou, coçou algumas penas pelo seu corpo e começou a levantar voo. Ela se mantinha a uma altura considerável, mas que eu ainda conseguia ver e que ele conseguiria descer com facilidade. Ele era enorme mesmo sendo visto de longe. – Heh... – Sorri como a treinadora boba que era.

- Certo, Akise-san, vamos indo. – Exclamei. Ele falou sobre áreas mais escuras e tal, mas não prestei tanto a atenção assim quando vi o Dante fora da Pokébola. Devo admitir que os Pokémon de gelo são minha paixão, mas os Pokémon de trevas não ficam tão longe assim. O cachorro diabólico era impressionantemente grande e parecia ter uma aura ameaçadora. Me senti amedrontada por alguns instantes vendo-o em um lugar menos iluminado, mas ainda tive coragem de seguir em frente. – Quero que meu Houndour seja um Houndoom assim como você, Dante! – Elogiei o Pokémon de fogo.

Mesmo impressionada com cada coisinha, mínima que seja, do bosque eu ainda tinha que encontrar o Pokémon que procurava. – Onde ele deve estar? – Comecei finalmente minha busca. Observava entre as árvores próximas e as mais distantes também. Me atentei aos barulhos, talvez similares aos de Dante. Até me concentrei em procurar nas regiões onde havia menos incidência de luz e iluminação. Caminharia de um lado para o outro, assim como Hórus que voava acima de mim, procurando especificamente pela espécie do Houndour.

Me movia lentamente, como uma aranha prestes a devorar a presa. Também tive o cuidado de deixar o Noctowl planando baixo em alguns momentos antes de irmos para dentro da barreira de folhas. Mas as cenas que se prosseguiram quando Dante se posicionou e aquela Houndoom gigante saiu de algum lugar fora demais para mim.

Quase deixei escapar um suspiro de surpresa. A líder da matilha era imponente, forte e muito amedrontadora. Hórus refreou seu voo, pousando em um galho, e eu me vi cerrando os punhos instintivamente. Como era possível um Pokémon ter apenas uma aura poderosa assim? Mesmo após a interação dela com o Dante, permitindo nossa entrada, ainda estava bem receosa quanto a isso. Será se era realmente seguro ou nós estávamos apenas caminhando na direção de nossa morte?

Ouvi Akise. – C-certo... – Falei, mas minha cabeça girava de tanto medo.

Caminhamos, eu estava sempre bem pertinho do Akise, e chegamos a um ponto que esperamos o que quer que fosse acontecer. Ele havia falado de outros cães virem nos cheirar, imaginei que ela também pudesse querer fazer isso, o que me deixou ainda mais tensa. Comparei ela com o Dante e realmente os chifres e o rabo dela eram muito mais mortais do que o Pokémon que vi anteriormente, além de ter toda aquela intimidação natural.

- Nossa... – Sussurrei observando o ambiente a nossa volta, além de ficar sempre de olho na Houndoom líder. Aguardava a entrada dos outros Pokémon, como esperado, além de que eu também esperava que todos nós fossemos “aceitos” a ficar ali. Hórus estava calado, no topo de uma árvore observando tudo com atenção. Seus olhos pareciam brilhar naquela escuridão das árvores. O olhei de canto de olho, queria checar se ele estava bem, mas minha preocupação maior era mesmo a Houndoom e o resto da matilha.

Eu me senti ameaçada, realmente, além de um pouco assustada. Ver Kvasir se dando bem com a líder da matilha me acalmou um pouco, mas quando vi os filhotes brincando com a Sentret e com Akise me senti bem melhor. – Eles não podem ser tão maus assim, né? – Tentei emular um sorriso de canto de boca, mas a aproximação da Houndoom líder me deixava um pouco desconfortável.

Confesso que estava tremendo, mas decidi me acalmar. Respirei fundo, olhei para Akise, para Kvasir e também para Hórus. Por fim me permiti a aquela situação. Me sentei de pernas cruzadas assim como o garoto. Ver a cadela diabólica desaparecendo e ressurgindo das sombras me deixava impressionada. Chegou ao ponto onde eu pensei que um daqueles Houndour fofinhos que vinham aos montes com os pais poderia ser meu, o que de fato eu queria muito.

Deixei a Houndoom líder se aproximar de mim, ela não parecia tão ameaçadora, ou pelo menos tão sanguinária, quanto dava a perceber. Vi que ela tratou bem Kvasir e isso me tranquilizava. Não me movi bruscamente nem nada disso, apenas aguardei a sua chegada calmamente. Esperei ela me cheirar e me rodear, além de me analisar também. Queria dar uma primeira boa impressão. Sorri para ela, tentando parecer o mais natural possível.

Estava também verdadeiramente ansiosa para o que poderia acontecer após isso. Os cãezinhos demoníacos pulariam em mim e começariam a brincar também? Que maravilha! Mas a presença de tantos Houndoom era bem pressionante. Lembro de ter lido em alguns livros que filmes de terror e horror utilizavam da presença de Houndoom para dar aquele ar mais macabro. Vendo-os vividamente não era bem assim. Eles pareciam uma verdadeira família! Os casais cuidavam de vários filhotes e agiam como um grupo sociável. Era bem bonito de se ver e imaginar, além de perceber como eles pareciam cuidar uns dos outros. Gostaria também de analisar cada detalhe da aparência deles. Os chifres, os rabos e também as presas. Provavelmente eles eram treinados para o combate na natureza, mas sem dúvidas eles pareciam bem tranquilos.

- Akise-san. – Falei baixinho. – Será que ela gostou de mim?