[Recrutamento de Aprendiz] Nakeisha Laouali

– Pouco menos de uma hora?! – o tempo era pouco pra alguém perfeccionista, mas toda sorte que eu me antecipei em alguns detalhes então seria o suficiente pra aparar as arestas – Ah, dá sim. Claro. É o tempo dele voltar e encontrar tudo pronto. – tentava imprimir a animação que sentia.

Agora vendo de perto, o palco também tinha sido preparado de uma forma até que simples, clássica e elegante. Uma arte tendo as torres de Ecruteak como foco seriam o fundo da apresentação. Sim, eu conhecia a lenda. Não só por ser da região, mas também por tratar de uma grande e lendária ave deste mundo, conteúdo que inevitavelmente tive contato em meio as tantas outras coisas de voadores que li e pesquisei desde a infância.

Enfim, me dirigi até o palco pro ensaio com Pidgeotto. Coitadinho, o fiz saltitar e sobrevoar de um lado a outro várias vezes, medindo seus movimentos. Tinha Rotom Phone na mão, pra que pudesse registrar detalhes importantes e também executar a música escolhida pra termos ideia do tempo das coisas. Fora isso, é claro que precisei observar os pontos de luminosidade, pra depois conversar com quem fosse operar os holofotes e fazer alguns pedidos, incluindo lhe passar a música.

Apesar dos muitos pequenos detalhes pra orquestrar, suponho que tenha conseguido por tudo do meu agrado dentro de uma meia horinha. Então, avisei à moça que já tinha tudo pronto da minha parte. Gastaria os últimos minutos de volta no camarim, antes de ser chamada ao palco. Ali trataria de arrumar uma maquiagem e cabelo adequados para o traje, com base nas referências que pesquisei; providenciaria uns acessórios e deixaria que Pidgeotto me ajudasse a alinhar suas penas.

Agora é só esperar e apresentar!

(Flame Body)
Murkrow [08/40]
Oricorio [08/40]
 Happiny [08/60]

A assistente me pegou finalizando a maquiagem, observando Pidgeotto pelo espelho, enquanto ele treinava uma das partes que tinha que executar. É, nossa relação ainda não era tão estreita quanto eu gostaria, mas tinha conquistado a amizade e confiança do pássaro desde que o conheci, e por mais que agora não estivéssemos literalmente em uma batalha - algo que eu sabia que o atraía - me esforcei pra trabalhar nele a ideia de que aquilo não estava longe de um treinamento. Precisávamos de sincronia, comunicação e execução de movimentos e golpes, afinal de contas.

– Ah, perfeito! Deixa eu ver aqui... – me dirigi à mulher, pegando um dispositivo portátil em que carregava a música – Vou usar essa música aqui. Já tenho minhas anotações da iluminação, então... Vamos lá. – finalizei o que deu da maquiagem em segundos e logo corri até a ave – Pidgeotto, querido, precisamos ir. Não se preocupe, está perfeito e vai ser incrível. Só precisamos relaxar e executar tudo. Já ensaiou um monte, agora deixe acontecer! – lhe dei um carinho e permiti que me acompanhasse de volta ao auditório. Acredito que devolver pra Pokébola só o deixaria mais ansioso sem saber o que se passava.

Deixei a moça me guiar para resolver o que precisava: entregar a música, repassar as informações da iluminação. Durante o ensaio eu tinha alertado a equipe que precisaria de algo impermeável no chão, já que acabaria molhando um pouco o piso do palco. Também aproveitei pra checar um acessório que peguei emprestado só pra essa apresentação, um guarda-chuva de papel oleado. Com tudo pronto, restava a mim e meu companheiro aguardarmos a abertura para fazermos nossa entrada!

(Flame Body)
Murkrow [10/40]
Oricorio [10/40]
 Happiny [10/60]

Por mais que ela tivesse me pedido, não consegui deixar de lado a ansiedade. Era inevitável. Vi que meu público era uma bocado eclético, jovem, que podiam ter muitos critérios ou nenhum mas, sobretudo, por virem de lugares diversos, deviam ter conhecimento igualmente diverso sobre o assunto. Até mesmo experiências únicas e novas sobre o universo dos Contest, que deixei de viver tem um tempinho. Mas, pronto. Não vou deixar que isso me abale. Vou executar o que planejei e espero cativar a todos. É a minha deixa!


O palco, antes iluminado pelo discurso da apresentadora, começou a ver a luz minguar, com apenas as duas torres opostas em foco por um holofote fraco em cada. Sob as primeiras notas do piano, havia apenas uma penumbra azulada, simulando a noite. Foram vinte segundos preciosos que criaram expectativa e clima para que Kiki entrasse.

Seus passos eram curtos e lentos naquele traje especial, seguindo o ritmo do instrumento de fundo. Ela vinha do lado esquerdo do palco, junto à imagem da Brass Tower que outrora fora erguida em homenagem à Lugia. Atuava, olhando ora para outra extremidade do palco, ora para o fundo com as torres, ora para o céu fictício, mas nunca para a plateia. Aquilo não durou nem meio minuto, quando ela enfim parou bem em frente à Brass, cruzou os braços diante do corpo e baixou a cabeça - um sinal para seu Pokémon.

Foi então que, num ciclo do refrão instrumental, Pidgeotto apareceu, pelo lado direito, o da Bell Tower de Ho-oh. Ganhou um holofote só para si quando cruzou o palco até o lado oposto. Trazia consigo uma generosa lufada de vento e brilho (Whirlwind + Glitter Powder). Ele fez uma curva fechada, planando, e voltou, fazendo o vento parar. O voador pousou numa barra translúcida que havia sido colocada a certa altura do chão, naquele lado, simulando como se ele, fazendo papel do lendário, tivesse pousado no topo da sua própria torre. Era Pidgeotto quem encarava o público. Ele devia estar sério e altivo, mas era possível reconhecer uma curiosidade genuína por ver tanta gente a observá-lo.


As luzes voltaram a se apagar sobre todos no palco. Foi então que no clímax das notas tristes da música uma luz vermelha e tremulante se acendeu apenas sobre a Brass Tower. Veio o som baixo do fogo a crepitar [clique], sem se sobrepor ou anular a música de fundo; apenas o suficiente para representar a torre a queimar, lenta e incessantemente.

Kiki, que até então estivera ali em frente a torre, pôs-se a caminhar mais uma vez, agora ia para o centro do palco, sob a luz de um holofote tênue. Tomava distância da torre e em sua face buscava representar a tristeza e temor pelo que ocorria lá. Quando ela parou, bem no meio do cenário, o som de chuva e raios também veio mesclar-se baixinho com o do fogo [clique]. Ela então abriu sua sombrinha de papel oleado e tornou a baixar a cabeça, ocultando-se quase por completo com o acessório.

Aquilo representaria o que houve no passado, o incêndio na torre. Duraria longos segundos, para nos lembrar da tragédia. Até que Pidgeotto, em seu poleiro, piou baixou e bateu as asas ligeiramente, fazendo garoar de verdade ali (Rain Dance).


Com a chuva, o som do fogo e dos raios cessaram. Antes da música tornar aos seus tons mais alegres, Pidgeotto bateu as asas mais uma vez, mas agora para voar. Cruzou o palco devagar, praticamente só planando. Enquanto o fazia, uma luz vinha tomar conta do cenário novamente. Mas não era nenhum dos artifícios do auditório; não, era uma luz própria e quente, criada pelo voador (Sunny Day). Só isso podia provocar, em combinação com a fraca chuva, o efeito lindo de um arco-íris verdadeiro, pelo qual Pidgeotto passava, de um lado a outro, como se ele próprio estivesse desenhando o arco-íris, assim como Ho-oh.

Enquanto isso acontecia, Kiki tornava aos passos lentos, agora enfim na direção da Bell Tower, a única iluminada com luz intensa uma vez que a Brass recebia um tom mais escuro de um holofote especial sobre ela, representando seu estado queimado. A moça tinha o semblante mais pacífico quando parou diante da torre à direita. Ali ela se sentou sobre as pernas, serena, tornando a baixar a cabeça.

Numa última volta aérea, Pidgeotto fez a chuva cessar, então logo o arco-íris também sumiria do ar. Mas a ave não voltou ao seu poleiro. Ao invés disso, ele se lançou sobre a pequena plateia, planando e sobrevoando a cabeça de todos, lançando partículas brilhosas e rosadas (Hidden Power Fairy) que espalhou com ventos leves (Whirlwind).


Nos momentos finais da música, Kiki ficava de pé, a sombrinha já fechada. Finalmente ela olhava para o público e assim Pidgeotto sabia que tinha que vir ao seu encontro. Ele pousou ao lado da treinadora, piou e bateu asas. Ela lhe estendeu a mão e lhe acariciou as penas carmesim no topo da cabeça. Kiki sorria quando voltou a andar, agora indo para fora do palco, saindo de cena. Pidgeotto voou uma vez mais, para a última volta no palco, antes de sumir de vista na mesma direção em que a treinadora fora.

As cortinas caíam e assim acabavam os atos, e os dois podiam respirar fundo e se abraçar nos bastidores, enquanto aguardavam as reações mais imediatas do público.

(Flame Body)
Murkrow [12/40]
Oricorio [12/40]
 Happiny [12/60]

Tinha um jeito esquisito de reagir a esse tipo de situação, tanto que só agora é que consegui sentir os sinais do nervosismo, como as mãos suando e tremendo. Pode ser também porque, dessa vez, eu fiz pouco no palco, mais atuei do que cantei, que é minha real especialidade e me ajuda a pôr pra fora o que sinto.

Pidgeotto ainda parecia um pouco perdido com o que tava acontecendo. Tinha recém saído da vida selvagem e encontrado humanos malvados, até tive medo que ele pudesse se descontrolar e machucar alguém com seus movimentos, mas no fim deu tudo certo e sua obediência e controle foram exemplares!

- Obrigada, Atsuko! Espero mesmo que ele tenha gostado. - não tinha como me esquecer da pessoa que mais eu precisava impressionar ali hoje.

Falkner não demorou em se juntar a nós nos bastidores, onde eu mantinha Pidgeotto recebendo afagos na cabeça. Daí, eu só pude sorrir muito, até pras bochechas comprimirem um pouco as pálpebras e evitarem que lágrimas escorressem borrando a maquiagem. Com toda certeza estava contente pelo resultado e pela aprovação do líder, e emocionada com a reação do público, sobretudo da criança que ele contou ter se cativado. Me senti representada por ela...

- Eu é que agradeço a oportunidade! E saber que todos gostaram é a melhor recompensa que a gente pode ter. - falava por mim e por meu Pidgeotto.

Agora vinha outro momento de expectativa, que era receber o símbolo oficial de reconhecimento como aprendiz daquele Gym. Eu ia voltar ao camarim correndo pra trocar de roupa e devolver o traje da apresentação. Tinha sido uma experiência incrível vesti-lo, também. A maquiagem, como era leve, continuaria. E assim que estivesse nas minhas roupas novamente ia ao encontro de Falkner; Pidgeotto ainda ao meu lado pra poder participar de tudo até o fim!

(Flame Body)
Murkrow [14/40]
Oricorio [14/40]
 Happiny [14/60]

Quando encontrei Falkner no escritório dele, já tinha me recuperado das emoções afloradas da apresentação e as substituí por ânimo e empolgação novamente. Só que é óbvio que alguma vontade de chorar ainda estava ali escondida em algum lugar, porque no fundo eu sabia que ainda tinha um último momento intenso para viver.

Aquele pin era tão pequeno, mas tão simbólico e importante pra mim. Significava muita coisa! Tão importante quanto Woobie, minha inicial, ou Pic, minha protetora, ou meu certificado de Especialista, tanto quanto meu diploma de Criadora... Era um símbolo único e que deixava registrada uma nova conquista dentro das minhas ambições. Um passo importantíssimo.

- Olha... Eu com certeza não tenho palavras pra dizer o quanto esperei por isso e tudo que significa pra mim. - peguei o pin nas duas mãos juntas e o pressionei contra o peito como se fosse uma joia preciosa; respirei fundo pra manter o foco, já que ainda não tínhamos acabado tudo. Mais tarefas? Só vamos! - Na verdade, pra ser sincera eu mal posso esperar por colaborar em alguma tarefa! Então, se tiver algo pra mim, tô prontíssima! - okay, as emoções conseguiram "sair" na forma de um largo sorriso de alegria e empolgação. Tudo sob controle, Kiki... Não chorou.

(Flame Body)
Murkrow [16/40]
Oricorio [16/40]
 Happiny [16/60]