(018) — liability

Após fazer algumas merecidas comprinhas aqui e ali, finalmente tomei vergonha na cara e vim até Pewter. Fazia um tempinho desde que pisava aqui após derrotar Brock, mas não tive muito tempo de explorar a cidade naquele dia: tudo que sabia é que havia um museu que poderia me ajudar. Aliás, deixo depositada aqui minha irritação com a Organização não possuir sequer uma unidade de cientista que pode me ajudar com isso. Quer dizer, passei ontem o dia inteiro limpando a base de Celadon e eles não podem me ajudar com esse negocinho? Não tô vendo benefício nenhum.

Mas, bom, era o que tínhamos para hoje, né? Busquei a esfera de Ivy para liberá-la e deixar que caminhasse comigo por aí, já que a pequena Dratini adorava explorar para lá e para cá e lembro de que havia gostado da grama de Pewter. Para minha surpresa, sua esfera estava no fundo da bolsa, incomum já que tendo a usá-la bastante em batalhas. Dei de ombros, apertando o botão central e liberando a dragão... Somente para arregalar os olhos quando vi o que vi.

Ivy não era mais uma Dratini. Ivy agora era uma Dragonair.

— ... — levei a mão direita até a boca, tapando a expressão abobalhada e espantada que surgiu no rosto — Fi-filha, como assim!? — ainda estava em choque, mas aproveitei para abraçá-la, mexendo em suas novas asinhas e observando cada detalhe — Você tava com pressa e evoluiu dentro da Pokéball, é isso? Eu queria tanto ver.

Por algum motivo de força maior, Drati- digo, Dragonair havia evoluído dentro de sua esfera bicolor. Não sei se o treino durante a limpeza Rocket a deixou tão cansada que ela só dormiu e acordou assim, mas estava impressionada. Ivy estava gigante e... TÃO LINDA!

— Vem, aproveita que agora você é mais rápida e posso finalmente apressar o passo. — a pequena semi-cerrou os olhos, rindo — Não podia falar que você era lerda, né? Fica feio. — acariciei sua cabeça, dando uma risada também — Vem, vamos procurar esse museu.

Sinceramente, não me lembro de Tohjo ser tão chuvosa assim. Já é a quarta vez que chego em algum lugar e as nuvens chuvosas estão me esperando; não que eu ache ruim, amo chuva, mas é curioso! Inclusive, a felicidade da recém-evoluída Ivy é o que me contagiava: dava para ver que ela estava extremamente contente por estar maior, mais forte e mais ágil.

— Vai devagar, cuidado pra não assustar as pessoas.

E é verdade: não só Dragonair são raros, como também são gigantes! Pode ser que ela acabe esbarrando sem querer em alguém e me dê dor de cabeça. Mas não adiantou falar, já que ela continuou correndo na frente, o que me fez apressar o passo. Assim, chegamos no Museu de Pewter em menos de quinze minutos: Ivy belíssima e eu toda suada e descabelada. Balancei a cabeça negativamente e dei uma risada, aproveitando para prender as madeixas loiras em um longo rabo-de-cavalo.

— Ivy, museus são importantes! Não toque em nada, que se quebrar vou ter que sair correndo. — adentrei o edifício, procurando algum funcionário — Olá, alguém pode me ajudar a encontrar o especialista em Mega Stones?

Vamos ver se encontro alguém para me ajudar, então, né?

Tudo bem. Parece que mesmo falando com as pessoas, tudo estava tão caótico e lotado que não consegui chamar atenção de ninguém. Não dava para ficar na fila e esperar, tudo bem, então não havia outra solução: fingir um machucado. É a melhor maneira de furar filas ou chamar atenção, juro! Pisquei para Ivy, que já balançou sua cabeça negativamente sabendo o que eu faria logo em seguir. Apesar de fingir que não, Dragonair adora entrar nessas palhaçadas junto comigo.

— AI, NÃO! — esbarrei em uma das pessoas da fila, me jogando no chão de imediato — ME EMPURRARAM, MEU TORNOZELO! TORCERAM MEU TORNOZELO! — Ivy fazia uma cara triste e vinha me acolher, usando seu corpo para apoiar o meu tronco — NÃO TEM NINGUÉM NESSE MUSEU PRA AJUDAR? EU SÓ QUERIA FAZER UMA PERGUNTA E AGORA TÔ ACIDENTADA! — levei os dígitos esquerdos até o tornozelo esquerdo, tateando-o — Que dor!

Nada como um ótimo papelão para chamar atenção, huh?

Quase deu tudo errado. Não só meu fingimento causou um caos no Museu, mas também quase terminou comigo sendo pisoteada por todo mundo. Pelo menos Ivy estava ali para me proteger, mas não do grito daquele Exploud que quase estourou meus tímpanos. Mas, okay, não posso negar que gosto de ver o caos acontecendo e, bom, de ver que no final das contas consegui chamar atenção.

Após tapar os ouvidos e fechar os olhos, os abri lentamente somente para ver Dragonair me observando um pouco sentida pelo ataque do Pokémon gritante. Um rapaz, de terno, de repente aparecia do meu lado e eu já percebia que se tratava da segurança. Por sorte, dava para tentar continuar o drama e ver se conseguia o que queria:

— Obrigada pela gentileza, mas um simples obrigada não é nada. — aceitei a mão direita do rapaz, levantando e erguendo o pé "machucado", me apoiando em Ivy — Posso ir ao hospital depois, tenho um Braviary que me leva muito mais rápido que qualquer ambulância. — rangi os dentes, fingindo estar irritada — O que aconteceu aqui é inadmissível. Uma bagunça sem organização nenhuma e que causou meu acidente. — fechei a cara, erguendo a sobrancelha com "dor" — O mínimo que vocês podem fazer para eu não processá-los é me atender rapidamente para que eu possa ir ao hospital o mais rápido possível sem precisar voltar aqui depois. — a pobre da Ivy até passava a acreditar que eu estava, de fato, machucada — Desculpa, sei que não é sua culpa e sim dos seus empregadores, mas não tem como não ficar chateada.

E eu achando que ia conseguir intimidar o pobre do segurança, mas não adiantou. De repente uma superior apareceu, arrancando uma revirada de olhos que quase não deixou as orbes cerúleas voltarem pro lugar. Esperar na fila seria tortura, mas não tinha outro jeito, né? Mas pode certeza que ao menos responderia na altura.

— Essa arrogância toda e sua equipe é incapaz de controlar pessoas dentro de um Museu. Uma passando por cima da outra. — difícil de manter a pose de boazinha quando tô irritada, então foda-se — Talvez esteja na área de trabalho errada, amor. Não sou eu que vou te dizer como deve fazer seu próprio trabalho. — fitei Ivy, acariciando a cabeça da dragoa — Pode deixar que não vou na ambulância, não. Vou esperar na fila, com dor. Um péssimo marketing para o museu. — abri a bolsa, buscando uma blusa de alcinha de algodão e amarrando-a no tornozelo "machucado" — Filha, usa seu bafo de Ice Beam para deixar geladinho e apaziguar a dor. Depois me ajuda a entrar na fila, por favor. — voltei meu olhar para a mulher — Passar bem.

Se o jeito era entrar na fila para tentar ter alguma informação, que eu tivesse feito assim antes. Só perdi tempo até agora.