GRANDE NOVELUUM BRASIL - CÁPITULO 1: KARINNA DEL BAIRROUma história Virtuum, co-roteirizada pela @PandaEPÍLOGONo subúrbio empoeirado do Vilarejo de Fallarbor, onde as cinzas do Mt. Chimney pairam perpetuamente no ar, duas almas diminutas e inquietas buscam traçar seus destinos com as armas que a vida lhes trouxe. Karinna Bley, a loira, e Natalie Chase, a ruiva, duas meninas de espírito livre e mãos ágeis que conhecem as vielas e ruelas da cidade como a palma de suas mãos pequenas e imundas. Tendo crescido à sombra da montanha constantemente fumegante, a infância das duas foi marcada por uma pobreza que as obrigava a ter criatividade e sagacidade, além de um tiquinho de maldade, para garantir a sobrevivência.
Porém, assim como a desigualdade de Fallarbor tão palpável quanto as partículas de cinza que soterravam seus pulmões a cada respiração, dividindo a cidade entre os que respiravam ar puro e os menos afortunados, Karinna e Natalie, que resistiam dia após dia nas margens da sociedade, também viviam uma ambiguidade. Enquanto Natalie via o copo meio vazio e não abria uma perspectiva futura além daquela que já viviam, Karinna pretendia alçar voos mais longos. A loira, de atuação exímia em suas investidas criminosas, sonhava com o dia em que deixariam tudo isso para trás e ela poderia se tornar a maior atriz que Hoenn... Não! que o MUNDO já havia visto.
Por isso, conforme cresciam, as suas trajetórias, inicialmente indistinguíveis, iam afastando-se no bailar do ar da vida, separando-se como duas finas fitas de fumaça que se saiam nas chaminés da cidade, dissipando-se, cada vez mais alto na liberdade dos céus. E assim, aos 18 anos, Karinna tomou a difícil decisão de afastar-se de Fallarbor e, consequentemente de Natalie, correndo atrás de seu sonho na Grande Lilycove, a Cidade das Artes.
VILA JURUBINHA, Comunidade do Subúrbio de Lilycove.Karinna Bley, com uma mala surrada e olhar determinado, avança pelas ruas da comunidade de Vila Jurubinha. O cenário é simples, extremamente humilde, mas surpreendente vibrante, com crianças brincando nas ruas e pequenas lojas e barracas espalhadas pelo bairro, tão cheio de ruelas e vielas quanto de pequenas praças, como respiradouros em meio a tanta construção empilhada. Ela caminha observando tudo com atenção e cuidado, sendo seguida de perto por duas figuras: Luch Valassa, um rapaz alto, branco e de cabelos negros desgrenhados, com um olhar semicerrado e uma expressão avoada; e Artemísia Lovari, uma jovem baixinha, de cabelos longos e vistosos, loiro acinzentados, com olhos castanhos amendoados, uma pele bronzeada e um corpo bastante chamativo. Diferente de Luch, ela parecia ser mais extrovertida e espontânea, comunicativa e ousada.
− Eu não levo desaforo pra casa, não gosto disso! Aquela Loira BÁSICA nem é daqui, a patricinha DO CARALHO! Com todo REXXXPEITO! – Dizia Artemísia, gesticulando a cada exclamação. Seu rosto estava vermelho de ódio e era notável que não deixaria a situação ficar por isso mesmo. Quem a conhecia, sabia que isso realmente não acabaria ali...
− Ih, esquece isso, Mísia! – Disse Luch, dando um sorriso bobo, tentando ajeitar o cabelo extremamente bagunçado, mas sem sucesso
– Aquela lá é alguma adolescente do Cursinho Okido, nem sei porque construíram colado aqui na Vila Jurubinha. Era óbvio que ia dar merda esse pessoal na Vila, é que nem água e óleo, não se mistura... Para contextualizar, há mais ou menos uma hora atrás, Karinna descia do ônibus interestadual, arrastando sua mala grande e surrada, bem no ponto de ônibus de frente para o Cursinho Okido, um curso famoso que surpreendeu a todos no último mês, abrindo uma filial bem na rua principal que dá acesso à Vila Jurubinha. Ao descer do último degrau, contudo, Bley acabou se desequilibrando e quase derrubando uma menina bastante magra e não tão alta, que parecia não ter muita personalidade, além de rica mimada. Em segundos, os seguranças da garota estavam cercando Karinna, quando Artemísia surgiu na frente da recém-chegada, colocando o dedo na cara de cada segurança. Apesar da baixa estatura, a explosão de atitude de Lovari os fez recuar. Luch chegou um pouco depois, apressado e quando tudo se acalmou, os locais resolveram levar Karinna para conhecer a Vila.
− ...E é por isso que o melhor lugar para você ficar é na Pensão da Tia Lydia... Digo, Dona Lydia, perdão... Eu já me acostumei a chamar ela de Tia, tô todo dia lá... – Comentou Luch, sugerindo um lugar para que Karinna se hospedasse, que inclusive era a casa da mãe de Artemísia
– Ela é muito gente boa, deixa eu usar a cozinha pra fazer umas bagun...O jovem Valassa comentava despreocupadamente sobre sua experiência convivendo na Pensão quando foi interrompido por um som altíssimo de sirene de viatura policial, que vinha pela viela em que estavam, sorrateiramente. Artemísia e Karinna se viram rapidamente para olhar, mas quando o vidro abaixou não era um Policial que estava no banco do carona e sim Nicholas, também conhecido como Nicovaras lá na "quebrada". Ele era um jogador de futebol em ascensão, mas teve a carreira bruscamente interrompida por um acidente na Linha Amarela, via expressa de Lilycove, onde arrebentou a mureta e também sua perna, sem recuperação total.
− E aí, gatinhas? Só falta o fuzil, né não?! Tô trajadão de viatura. O Brisa até cantou pneu ó! – Disse o loiro, colocando o braço para fora, se sentindo bastante imponente por rodar numa viatura e rindo de Luch, a quem chamou de Brisa. Agora, as duas mulheres se viravam e viam que Valassa já estava desaparecendo no horizonte, provavelmente tendo corrido só por ouvir o som da sirene, sem querer saber de maiores informações.
Antes de qualquer esboço de reação por parte de Bley e Lovari, uma cabeça surgiu na janela de Nicovaras, com uma expressão de poucos amigos. Era o Policial Cariano, que não estava para quaisquer brincadeiras e, colocando o braço para fora, discutia acaloradamente com Artemísia.
− Misinha! Entra no carro e vamos conversar. AGORA! Sai do carro, Nicholas! – Gritava o Sargento, tentando parecer amoroso com o apelido, mas sendo extremamente tóxico com a garota, enquanto desbloqueava a porta do carona e empurrava o ex-jogador. Em resposta, Artemísia nem deu bola, ergueu o nariz e girou 180°, pronta para continuar caminhando junto de Karinna. Porém, o Policial não parecia disposto a deixá-la em paz. Saiu do carro, batendo a porta e foi até a jovem, puxando-a pelo braço.
Daí, começou a confusão. Karinna largou a mala e empurrou Cariano com as duas mãos no peito, que pouco lhe deslocaram, mas o fizeram largar Artemísia. Nicholas começou a buzinar na viatura para chamar a atenção dos brigões e Artemísia estava pronta para dar um tapão no rosto do Sargento, quando uma figura surgiu para apartar a briga. Um menino alto, de porte atlético e roupas de Ranger, impecáveis. Era ruivo e de olhos numa coloração âmbar tão distinta, que chamava a atenção de todos. Ele não precisou gritar, bater, agir agressivamente de qualquer forma, mas calmamente afastou o Policial e fez as meninas se afastarem também. A única pessoa que quebrou o silêncio foi Lovari:
− Tsc. Daisuke, vê se dá um jeito nesse seu irmão...Ao mesmo tempo, Karinna, curiosamente sem reação, observava embasbacada o ruivo, parecendo alheia a tudo e todos ao redor. Ela podia não ter falado nada naquele momento, mas seu olhar era uma certeza de que já havia decidido que a Vila Jurubinha seria o local onde se instalaria...
Algumas vielas de distância, ainda na Vila Jurubinha.Um Luch arfando intensamente, já suficientemente distante da cena anterior, recosta em um muro de tijolos e suspira, tentando buscar o ar que lhe faltava, ainda de olhos fechados. Ele então fala baixo, quase mentalmente
– Karinna... Mísia, foi mal...... ... ...
– Hmm. Dia difícil, colega? – Diz uma voz feminina, cortando o silêncio com extrema tranquilidade. A jovem dá um assopro que faz uma fina fita de fumaça subir pelo céu, até dissipar-se. Então, sua mão delicada e alva oferece um cigarro para Valassa e, ao abrir os olhos, Luch pode notar uma menina ruiva à sua frente, tendo certeza de era a garota mais bela que já havia encontrado na vida! Sem palavras vindo do rapaz, ela continua...
– Meu nome é Natalie Chase... E você, como se chama?