[Skies (were) blue] – Mt. Silver –

Como se não houvesse queimadura alguma ali, RNatalie franziu o cenho por completo ao ouvir Karinna falando que não falará mais com ela. "Ok", pensou a guria, dando de ombros. No fundo, não havia o que a moçoila falasse que mudasse sua opinião: esta Karinna aqui é bem infantil e surtada. Talvez, só talvez, Margo tenha feito bem a outra no outro mundo.

Mas não importa, né?! A moça só pegou um bom punhado de pomada e passou mais um pouco no rosto, na tentativa de esconder um riso frouxo (de vergonha alheia) por detrás das mãos. Não queria ser morta, ao menos não ainda.

Engoliu o chiste e começou a caminhar. Meteu o oxigênio na cara e depois de 400 metros de subida, finalmente estavam no topo.

Sim, no topo.

E se vocês quiserem parar um pouco para apreciar a vista, fiquem a vontade, porque vocês dificilmente verão em outro lugar nuvens tão densas e brancas como aqui. Todas juntas! Havia realmente uma sensação de que um tapete-de-neve estava logo ali, debaixo dos seus pés. Claro que não devem pular, né?! Pode até parecer neve, mas não é. São nuvens... muitas nuvens... um bocado delas. RNatalie decidiu não ficar perto da ponta, caso Karinna decida lhe empurrar lá de cima e tudo mais.

Ela já foi largando o cilindro de oxigênio para lá e entrando num rombo que era, nada mais nada menos, que a entrada da base.

Digamos que... bem... essa entrada era muito mais estranha porque ela era só um buraco. Um buraco que não cabia mais de uma pessoa deitada dentro dele. Um buraco em uma rocha que necessitava que você abaixasse esticasse seus braços e entrasse nele como uma minhoca entra em seus buraquinhos dentro da terra. Depois de uns 10m de decida acentuada - tornando o passeio quase um mergulho -, RNatalie despencou numa câmara de concreto.

O buraco dava, literalmente, no teto daquela sala. Seu despencar foi pouco - ou nada - gracioso, mas ao menos não havia caído de bunda no chão. Teve pressa para sair do local-de-pouso o mais rápido o possível, com medo que as outras meninas caíssem sobre si. Quando elas finalmente chegassem, poderiam dar uma boa fungada naquele ambiente e reparar que o oxigênio ali era quase-tão-normal quanto o do nível do mar:
- O ar aqui é pressurizado - Informou - Mas é bom pegar uns cilindros reservas no depósito.

Pois vejam bem, esta sala de concreto não tinha nada além de um furico no teto e um largo corredor a Norte. Foi pra lá que minha Natalie foi.

Pois não andaram demais, algo de dois ou três passos a norte, ou seja: entraram no corredor. Foi mais que o suficiente para entender que aquela base era feita de concreto e metal, muito semelhante a qualquer outra base subterrânea Rocket, e não de pedras rochosas e espaços naturais. Neste ponto, já havia um certo incômodo por parte da narradora que vos fala: o ambiente aqui existente nada parece com o ambiente que Natalie narrou.... seria essa outra... via?!

Não sei ao certo, mas ao entrarem no corredor, a luz ia se esvaindo. Para evitar tal penumbra, Natalie deu um bom tapa na parede e acendeu as luzes e, sem falar nada, foi à Norte junto com sua sósia, porém sempre um pouco a frente. A sensação que estava era que nossas amigas já cansaram desta rota e estão só seguindo o roteiro para acabar logo. Estão erradas? Não, porque ela ta bem cansativa mesmo. Mas isso.... isso poderia ser um erro.

Do fundo, uma voz que deveria ser conhecida falou algo. Digo deveria por dois motivos: não acompanho o personagem de vocês 24/7 para ter certeza que as duas tiveram contato com essa voz. O segundo motivo é que, se tiveram contato, teria sido uma só vez na vida e, quem sabe, agora na morte, não é?! E esta voz, que era um tanto angelical e um bocado infantil, deixava difícil saber se se tratava de uma criança ou de uma moça já jovem. Em alto e bom som, ela anunciou:
- Toda a Natalie é meio burra mesmo, né?! - Era irônico como a ofensa naquele tom se tornava meio aveludada.

A essa altura, o interruptor que RNatalie ora apertara acionara duas portas de metal que prenderam Wooper e Shuckler neste corredor... não havia muito como voltar.

Talvez agora percebam que, desde que entraram neste corredor, RNatalie ficara muito a frente, mostrando apenas as costas para vocês. Quando a voz disse aquilo, ela optou por não ter reação nenhuma, apenas seguindo em frente e indo ao encontro d'aquele que entonou a voz. Era possível ver suas madeixas ruivas se movimentando e o rebolado de seu quadril enquanto ela andava, calmamente, a Norte, até sumir na penumbra mais uma vez.

Alguns passos a mais a levaram para fora daquele corredor esquisito em outra saleta de concreto, também com só uma saída e, é claro, um retorno. Já ali, RNatalie ouvia com atenção as fofocaiadas que vinham de trás e os sussurros da frente. Fez algo?! Bem, o mesmo de antes: bateu a mão forte em um interruptor que acendia as luzes e, adivinhem?! Trancavam vocês ali também.

Com a luz acessa era mais fácil entender do que se tratava o bendito do lugar: uma câmara muito bem construída e a prova de um bocado de sons. Ali, ainda de costas, a Grunt Rainbow encarava uma pirralha bastante amarela, que talvez já tenham visto em algum evento corriqueiro deste mundo pokémon. Seu cabelo era amarelo, seus olhos amarelhos, sua roupa amarelo e... arg, seu sorriso também.
- Ah... já resolvi - Disse a moçoila, ainda sem virar-se uma vez sequer, olhando fixamente a menina a frente. Ainda assim, sua voz trêmula já relatava uma certa esquisitice em si.

Só era estranho perceber uma coisa: ela não abria a boca para falar. Quer dizer... ela até gesticulava, mas sabe quando você vê um filme dublado e a boca e o som são incompatíveis?! Pois é, o esforço para contracenar não era lá tão bom quando ela disse:
- hi hi hi... seu segundo desejo vai ser entregue em... INSTANTES! - O tom oscilava entre calma e terror. Se formos achar um verbo adequada para descrever esta performance aqui, este termo seria CORINGOU.

E repentinamente, todo e qualquer oxigênio foi sugado daquela sala. Num ato de miserircódia, RNatalie finalmente virou-se e olhou nos olhos das duas protagonistas. Ali, seus míseros segundos antes do desespero puderam ver o inacreditável: sua mancha de ácido havia sumido, a forma de seu rosto havia se alterado e seus olhos estavam em tons roxos. Agora, próximo da testa, era possível ver uma rede que prendia uma peruca cara e, nos cantos, a raiz de seu cabelo platinado despontava.

... afinal de contas, depois de uma página o dispositivo de ocultação começa a falhar, né?!

Já sem motivos para esconder sua identidade, RNatalie arrancou sua peruca e deu um sorriso um bocado frouxo, deixando o restante dos seus longos fios platinados caírem até a cintura.
- Desculpa Karinna... - Suspirou o ar-sem-ar. Fora o último dito até pegar o cilindro de oxigênio que Yellow tinha consigo e encaixar no rosto. Estranhamente, a pirralha não precisava de um desses.

Espero que vocês tenham treinado bem o fôlego de vocês antes de virem para cá. O tempo de consciência que vocês duas tem para resolver o problema é o tanto que aguentarem sem oxigênio. Três minutos? Quatro? Me digam você. Só posso lhes dizer que pokémons de grande porte e aquáticos aguentaram mais que outros...  Fantasmas não precisam de oxigênio e pokémons de fogo não farão nada aqui. Se forem usar o resquício de oxigênio que ainda há no cilindro de vocês - porque não jogaram fora -, já lhes adianto que encontraram um resquício que só servirá para quebrar o sopro de esperança.

Gosto de pessoas criativas, mesmo que sinta inveja.

Uma coisa que eu gosto muito é de lembrar que a temporalidade descrita e a acontecida podem ser bem distintas, né crianças?! É por isso que eu tive o desafio mais maluco da face da terra que é... pasmem... desenvolver isso aqui. Pois eu pedi criatividade, não é?! Eu que lute.

Apesar de rememorar o paradoxo temporal, tentarei manter uma ordem aqui: em primeiro momento, uma telepatia. Aqui eu já lhes adianto, foi árduo ao aliem localizar o tal Steelix naquela estrutura toda de metal-concreto-pedra sobre suas cabeças. Sem contar que... bem, o rapaz não era só cabeça tudo, como também era, literalmente, um CDF. Pois se todos aqui bem sabem, cabeças-de-ferro não deixam muita coisa não-seletiva entrar nelas... a culpa é do CDF? Não mesmo, a culpa é da Game Freak que decidiu que metal é resistente a poderes psíquicos...

... e por isso é tão difícil influenciar alguém que tem ferro na cabeça. Pode ser um aparelho dentário, um piercing, um dente de metal, placas na cabeça, pino na mandíbula... se tiver ferro na cabeça, já dificulta!

Mas Kaleo é Kaleo, né?! Super Homem, vindo de Kripto e sendo um senhor aliem...

... que de quebra não precisa de nem um tico de oxigênio, né?! Depois de muito tentar localizar e dialogar com o Kelsier, o bendito topou ir para o resgate, mas vocês devem imaginar que isso não foi nada rápido, né?!

Margo ainda não havia nem pensado sobre nada estratégico quando notou, extremamente perturbada, que o cilindro que outrora segurara havia sumido sem mais nem menos. Confusa olhou para um lado, para o outro e depois para o chão. Quando estava de cabeça baixa recebeu, de surpresa, um gancho bem dado de Karinna. O ataque era um bocado inédito para ela, que jamais pensou que a loira teria coragem de amassá-la desse jeito: nem aqui, nem na china, nem em outro "aqui" e nem em outra China. Quando viu, estava colocando as duas mãos no rosto e tentando se proteger.

Meio inútil, né?! Karinna já havia a deitado no chão, já lhe acertado um gancho e estava livre de qualquer ofensiva, afinal de contas, nossa Margozinha aqui não tem coragem alguma de revidar... E sabe o mais engraçado? É que Bley nem perguntou se era a real ou a falsa Margo, ela nem queria saber, só meteu a porrada mas... nah, não existe essa possibilidade... né?! NÉ?! NÃO É NARRADORA?????? Eeer eu não sei de nada, menines.

Só sei que foi assim.

E meteu porrada, meteu mais porrada, meteu mais um pouco de porrada até que a inimiga desmaiou. Falta de ar ou dor? Ou os dois? Não sei, mas uma coisa MUITO ESTRANHA que Karinna (talvez) não tinha se tocado ainda era que ela estava ótima. Não havia dor de cabeça, nem sensação de cansaço, muito menos falta de ar. Seu fôlego estava maravilhoso e se olhasse pra frente ela entenderia muito bem o porquê.

O motivo... bem, Quando o bendito do Rotom deu Trick (o que funcionou, inicialmente com muita maestria) o fantasminha pegou o tal cilindro e trouxe com bastante pressa em sua direção, o fazendo flutuar no ar com pressa. Neste meio tempo, Dragonite obedecia as ordens de sua dona e executava um Extreme Speed tão raivoso e cego quanto Karinna a pediu.

Pois bem, a dragão alada conseguiu bater a bendita testa no cilindro, cambaleando um pouco e caindo meio desorientada no chão, enquanto o cilindro alterara sua órbita em 180º, batendo com força contra a parede de concreto. Dali, sua trava de segurança quebrara e a máscara se dissociou do item, além disso, a tampa soldada se soltou com a força do impacto, fazendo uma enorme quantidade de oxigênio vazar de uma só vez.

... Oxigênio é inflamável, né? Então rol- ... não gente, eu não vou fazer isso, é só meme.

O que rolou é que a quantidade de gás era suficiente para impulsionar o cilindro para o chão e, já no chão, ele foi perdendo força da vazão e se aquietando no chão, apenas rodopiando e andando devagar em direção à Karinna. Próximo dela e de Margo, o cilindro de oxigênio parou e ficou ali rodopiando ao chão, liberando Oxigênio suficiente para mantê-la segura durante os próximos minutos.

Já Natalie?! Bem, ela não teve nem um pouco esse privilégio de respirar um ar-enlatado. Vendo que sua primeira tentativa dera errado por vias certas, Rotom botou a segunda em prática, forçando-se a captar grande parte do CO² do ar e transformá-la em oxigênio. Deu uma boa quantidade? Não. Daria para manter muitas pessoas vivas por muito tempo? Não. Por sorte, Balthazar podia apenas focar em uma vida e ponto final.

Sua dificuldade principal era achar o CO², afinal de contas, estávamos em um quarto de despressurização e, como eu sou uma boa fanfiqueira, sem oxigênio não há respiração, o que também faz o CO² ser escasso. Ainda assim, ele conseguiu e pode comemorar, mocinha: levou cerca de um minuto e vinte para você sentir o alívio de respirar novamente, graças aos desafios enfrentados por Balthazer, mas ele fez uma belíssima Energy Ball e a segurara por TRINTA SEGUNDOS, até a força se dissipar em luz e calor.

Ele já estava se preparando para fazer isso de novo quando um barulho estrondoso chamou a atenção de todos na direção da entrada. Instantes depois, os dentinhos de Kelsier apareciam mastigando completamente aquele metal pesado que outrora chamamos de porta-de-aço, a engolindo com um pesado movimento de garganta.

Ao fim da refeição, o mostrengo deu um sorriso tosco e terminou de adentrar a sala, deixando atrás dele um enorme rombo que permitira o equilíbrio de oxigênio entre essa saleta e os corredores de onde vieram.

Eu diria que todos estavam bem, mas eu estaria mentindo. A coitada da Ivy ainda estava com um galo bastante dolorido na cabeça e um bocadinho desorientada, Yellow dera sete ou outro passinhos para trás e viu a cena com um sorriso diabólico, deixando meio óbvio que bem ela não tava - talvez algum surto psicótico, uma esquizofrenia ou algum delirum - e Margo... bem... essa ta inalando tanto sangue que mesmo que tivesse 100% de oxigênio na atmosfera, ela não conseguiria respirar.

Dou a ela mais alguns minutos de vida... no máximo.

E isso, de uma forma bem estranha, alegrava Yellow. Era como se isso fosse, de alguma forma, bom. Uma gargalhada infanto-juvenil maligna ecoou na saleta nestes últimos minutos e a mulher de olhos roxos apenas tossiu em resposta, mostrando a boca com menos dentes que antes.