Lá e de volta outra vez

Ah, os sentimentos! Ferramentas que nos tornam tão humanos, mas são tão traiçoeiros quanto a própria natureza humana, cheia de seus desejos, mentiras e, claro, seus segredos! Esses sentimentos estão explodindo dentro da criadora naquele instante, como uma sequência de desastres naturais rompendo as estruturas da terra. Bom, pelo menos as estruturas da sua terra, seu centro de equilíbrio. Aquela garota poderia ser muito bem sua melhor amiga, ou até um algo a mais se os flertes fossem correspondidos. Mas a circunstância, as experiências passadas, o R colorido. Tudo parecia jogar aquelas duas personalidades tão parecidas uma contra a outra. Maldito destino!

Bom, algo deveria ser feito, e rápido. Kiki entrava na delegacia e buscava alguém para ajudá-la. Logo um policial vem ao seu encontro para ouvir o que tinha a dizer. O homem coça a cabeça, olhando para a criadora de uma forma bem confusa. - Olha moça, eu até posso chamar uma ambulância, mas não da pra enquadrar ela em nada. Esses tipos “dimensionais” são jurisdição dos Rangers. A gente só consegue trabalhar com precedentes… bem, da NOSSA dimensão. - ele agira como se não acreditasse no que ele próprio dizia, e pelo visto ele já tinha repetido esse discurso algumas vezes. No entanto, a ambulância logo chegaria para ajudar a garota. Antes disso, em algum momento, a grunt segurava firme o braço de Kiki. - Por favor… não quero ficar sozinha… - aquele pedido era sincero, sem tom de flerte, deboche, ou provocação. Era um pedido vindo do fundo do peito da jovem RR.                
         

Calma, era necessário ter calma. Sim, fazia todo o sentido sentir uma revolta brutal dentro de si diante da impotência de uma instituição pública refém de suas burocracias. Isso é muito normal e mais frequente do que parece. Fazia sentido toda aquela indignação, mas não era possível fazer muita coisa. A garota estava com febre, seu joelho muito machucado, e havia pedido para não ficar sozinha. Isso era um adendo muito maior ao caldeirão de sentimentos que fervia dentro do peito de Kiki.

Não demorou muito para a ambulância chegar. Os paramédicos, um casal deles na verdade, informa a Kiki que era possível acompanhar a garota na parte de trás, se assim desejasse. - Ela é… um deles? - a paramédica aponta para o R colorido no peito da grunt e encara a criadora com um olhar de julgamento puro. - Você não é um deles… é? - o paramédico completava o combo de desconfianças. De qualquer modo, ela precisava de ajuda, e mantinha sua mão segurando o braço de Kiki.              
         

Os paramédicos arregalam os olhos e se entreolham. - Ah, ok… er… meus pêsames? - o homem dá de ombros, pensando que deveria dizer algo depois de Kiki dizer que estava morta na realidade de onde aquela grunt veio. A paramédica revira os olhos e dá um tapa na cabeça do homem, soltando uma risada depois. Eles então colocam a garota na maca e fazem os primeiros procedimentos. Conectam o aparelho de aferir a pressão, um soro para ajudar a manter a hidratação, Com os instrumentos devidamente conectados, agora era só esperar chegarem no hospital. - Ei, moça… - a grunt chama a atenção da paramédica que estava logo ao seu lado - Me ajuda a convencer aquela moça bonita ali a sair comigo? - ela continua com o bom humor pelo menos, já que ainda podia fazer piadas. A paramédica olha para Kiki e solta uma risada. - Eu vou ministrar um sedativo para você descansar, tudo bem? - ela diz para a grunt, que só concorda com a cabeça e solta um “boa noite” antes de apagar.

A caminho da ambulância, a criadora conseguiu um contato com os Rangers. - Certo, vamos enviar um patrulheiro para o hospital para acompanhá-la. - disse o atendente que recebeu a ligação de Kiki. Pelo visto essa parte já estava encaminhada. Chegando no hospital, a grunt fora encaminhada para o pronto atendimento, e foi solicitado para que Kiki aguardasse na sala de espera, já que se tratava de uma invasora de outra dimensão. Alguns minutos depois, uma médica baixinha, de cabelo cacheado preso e pele em um tom muito parecido com a da criadora surge no salão. - Nakeisha? - ela chama pelo nome da jovem adulta (que possivelmente deu seus dados quando entrou no hospital xD) - A paciente está estável. Ela teve lacerações e queimaduras no joelho e tinha um princípio de infecção que causava a febre. Ela foi medicada e pode ser liberada ainda hoje. Você a acompanhará até… qualquer lugar? - ela iria dizer “sua casa”, mas se lembrou que não era possível já que, bem, casa da grunt estava a algumas dimensões de distância!              
         

A médica, cujo nome no crachá indicava tendo o nome de “Dra. Bailey”, só respirava fundo e concordava com a cabeça, dando de costas e voltando para os seus afazeres. Não havia muito para fazer no fim das contas. Kiki não se responsabilizaria por aquela grunt, nem tinha essa obrigação. Ela só cumpriria seu papel com a lei, como cidadã, e era isso, somente isso.

Novamente não demorou muito, só alguns minutos. Um rapaz de 16 ou 17 anos adentra pela porta do hospital, trajando o uniforme padrão da corporação Ranger. Ele tem a pele bronzeada e a cabeça raspada. Indo até a mesa da recepção, ele recebe a informação de quem era a mulher que havia os contatado sobre uma invasora RR naquele hospital. - Com licença, você é a moça que trouxe a RR pra cá? - ele foi direto perguntando para Kiki e começando a conversa - Cadete Hamilton, é um prazer conhecê-la. E então, do que se trata? - ele se assenta ao lado da criadora, e estava pronto para ouvir os detalhes.            
         

Sentados naquela sala de espera, a criadora dava seu depoimento para o jovem cadete, que franzia o cenho na medida que a história se aprofundava. Em uma fala ou outra, ele intervia com algum ponto, tipo “Eles estavam lutando entre si?”, “Espera, um deles tá morto”, “Então, eles estão por trás do incidente na Diglett Cave?”, etc. Ele anotava todos os detalhes possíveis, e fazia traços com possíveis conexões. - Certo, obrigado pela sua cooperação, senhorita! Eu assumo daqui! - o cadete então se levanta, estendendo a mão para Kiki e indo na direção novamente da mesa de recepção para falar com a médica responsável por atender a grunt. Bom, missão cumprida! Agora estava ao encargos das autoridades competentes, e a jovem criadora poderia voltar para sua fazenda!

Do lado de fora do hospital, Kiki encontrava seus parceiros, Aerodactyl e Woobie. Hora de volta para a casa… certo? O sol já estava próximo ao meio do céu, indicando a boa e velha hora do almoço. Bom, ela estava na cidade, poderia aproveitar o almoço em algum lugar diferente, algum restaurante interessante de Pewter, ou poderia voltar para casa e fazer a boa e velha comida caseira de fazenda. Escolhas, possibilidades... todas nas jovens mãos!