[This is NOT a drill] – Mossdeep City –

Eu preciso admitir que estava "ocupada demais" para ver o que Freya estava aprontando por trás de mim. Sim, literalmente POR TRÁS. Isso porque eu havia avançado em direção a Araquanid e, após curá-la um pouco, eu já estava bem próxima do vilão-de-filme-da-Marvel.

Por isso, narrarei MAIS OU MENOS o que ocorreu, já que sou uma narradora em primeira pessoa e me contento com completar minhas explicações (normalmente equivocadas) com o que ACHO QUE OCORREU, não me comprometendo completamente com a verdade.

O fato é que num súbito momento eu me virei e vi Freya com os tentáculos amaranhados dentro de um caixão, agarrando para si um homem que estava caído moribundo pela beirada do sarcófago. Flagrei-a bem com a boca na botija: quando já havia abraçado metade do corpo do infeliz e carregado esta mesma metade para fora, consumindo o resquício de alma que tinha ali.

Ela não se deu o trabalho de tirá-lo todo o caixão; provavelmente para não ser tão difícil retorná-lo depois. Quando a vi, fiz um "tsk" alto e ela virou imediatamente os olhos para mim.

Ainda com os olhões bem fixos em mim, levou um braço humano até sua boca e chupou-o sem nenhuma vergonha ou pudor. A cena seria muito semelhante a uma pessoa que está sugando macarrões longos e, ao ser chamada, olha para cima mas não deixa de o fazer. A diferença? Bem, não era macarrões.

Eu cogitei deixar o que estava fazendo para chamar-lhe a atenção, mas aceitei que aquilo foi um presente de péssima-fé de Cofagrigus e eu podia passar um pano para isso ao invés de criar um mal-estar com Natalie, que claramente era muito mais ameaçadora do que imaginei outrora. Ela sabia que não podia arranjar sua própria caça e isso teria que ser suficiente para mim. No mais, voltemos a atividade que estava fazendo.

Importa-se dizer que essa atividade consistia em interrogar o sujeito com ao menos duas perguntas que eu tinha curiosidade de saber:
- Tem mais ou menos quantos de vocês lá dentro? - Perguntei primeiramente, apontando para o galpão e para a porta de onde vieram - E... só pra saber, o mais forte dali é quanto mais forte? No nível... sei lá... do ginásio daqui?

Minha segunda pergunta era um bocado pertinente, porque ela me faria decidir se eu poderia ou não ter recursos suficiente para lidar com essa besteira. É importante lembrar que eu vim pra cá com um pokémon recém conquistado (Staryu) e um ovo, o que fazia com que eu me sentisse uma burra por tomar essa decisão.

Inclusive, meus caros, foi justamente o barulho de um ovo eclodindo bem ao meu lado que me fez virar o rosto rapidamente e ver aquela pouca vergonha que narrei mais cedo. Depois de passar um belíssimo pano para Jellicent, continuei seguindo a origem do barulho com os olhos e encontrei Natalie empurrando um filhote para dentro da bolsa.

Em qualquer circunstâncias normais, eu a reprovaria internamente por trazer um ovo a esta situação. Como eu estava na mesmíssima situação, apenas suspirei aliviada e decidi caminhar até ela na maior descrição possível, mas não sem antes terminar meu interrogatório:
- Você viu aquilo, né? - Perguntei, apontando para o jantar de Freya - Pois é, meu querido. Prometo que se me ajudar não termina assim... mas agora, me diz, a polícia já sabe de alguma coisa?

Esta era a pergunta "final", após ela, eu me afastava paulatinamente e ia até Natalie, lhe dando um cutucãozinho antes dela falar aquele bocado de coisas pra Miss B.
- Ei, acho que é melhor ela não ver isso - Murmurei - Pior que eu to com o mesmo problema...

OFF: O JAETE, eu to "trocando" Staryu com o Larvesta só por este momentinho, então não precisa alterar na Box, é só pro meu Pincurchin nascer logo. Só zera a felicidade dos bonitos ai e pronto. Discurpa o auê

Meu deus tem simplesmente uns 25 anos que não faço uma prova O QUE EU APERTO? A, B, C, D OU E???? QUAL A ALTERNATIVA CERTA...

Deixa eu ver...

D!!!! EU CHUTO D!!!

> finaliza o momento Vitória e volta para o momento Winnie baseado na letra D de DOIDAS<

Sabe quando o útil se junta ao agradável? Pois é, Natalie não só >precisava< que eu levasse aquele problema comigo, como ele tinha Flame Body e chocaria mais rápido o meu próprio problema. Chique, né?! Confirmei com a cabeça sem pensar duas vezes e toquei a bola FERVENDO daquele pokémon. Como minhas mãos são bem calejadas (Litwick, eu precisei cuidar muito de você e várias vezes), não foi tão complicado botá-lo no cando da bolsa, bem acomodado do lado do meu próprio ovinho.

Como SEI que não posso deixar Natalie com 5 pokémons e nem eu mesma com 7, para não criar problemas futuros com nenhuma patrulha por ai (ou mesmo com Miss B), dei uma esfera-oca para Natalie, que pertence a Staryu que está liberada nesse cenário:
- Fica com ela por enquanto - Continuei murmurando, mas desta vez meu dedo indicador navegou rapidinho até a estrela de cinco pontas - Não conheço direito mas ela já se mostrou bem útil.

Bem, depois de todas as interações que aconteceram, os fantasminhas tentando flertar entre si, com um presente um tanto mórbido oferecido pelo sarcófago para a agua-viva fantasmagórica, acabou que Natalie havia oferecido uma espécie de "plano" para Miss B., na tentativa de deixar a mulher que causava arrepios em Karinna longe dela. A ruiva estava se sacrificando em fazer a incursão do local junto de uma mulher supostamente perigosa para proteger sua "irmã". Que fofo.

O que ela não contava era com o que a senhorita B. diria em seguida. — Na verdade, era exatamente o que eu iria propor. — Se isso é verdade ou se ela apenas disse isso para parecer mais inteligente, ninguém sabe. — Vamos nos dividir e cobrir mais terreno. Não devemos ter uma resistência muito grande mas, não baixem a guarda. — Ela literalmente começava a caminhar na direção da grande porta de onde saíram aqueles 9 homens. Ela aparentemente iria pela porta da frente mesmo. Se Winnie e Karinna quiserem tentar encontrar uma outra entrada, é uma opção. Ou, então, apenas entrar pela porta da frente também mas seguir por outra direção no interior do armazém.

A forma como Miss B. estava se comportando indicava apenas uma coisa: ela tava puta. Não com vocês, mas com a situação. Pelo mesmo motivo que fez Natalie rir, o fato da Equipe Rocket ser passada pra trás em diversas situações, isso era o suficiente pra deixar a madame com raiva. Ela realmente estava passando uma aura de que ia fazer uma limpa ali dentro. Talvez até pudessem esperar do lado de fora e ela resolveria tudo sozinha, tamanha era sua aparente vontade de cortar a garganta de todos eles.

De toda forma, o interior do armazém seria um mistério. Os homens não estavam mais saindo para enfrentar vocês, parecia tudo calmo após a batalha caótica. Ou vocês já haviam lidado com todos e o armazém agora estava vazio - o que era uma situação muito improvável - ou o resto deles estava esperando, escondidos nos cantinhos mais obscuros do local, tentando tramar armadilhas, sabendo que iriam entrar. Natalie podia ter uma certeza: A Miss B. certamente tá indo pra uma arapuca, ela não parece estar pensando direito, a emoção parece ter tomado conta da razão da mulher.

Não me parece muito inteligente da minha parte dizer isso em voz alta, mas devo registrar aqui que a concordância de Miss B me pegou desprevenida. Eu já havia entendido aquele diálogo, é claro, mas eu realmente não esperava me separar de Natalie tão rápido assim.

Veja bem, não é como se eu precisasse de Natalie, mas eu assumo minha completa ignorância e burrice nos temas Rockets, tê-la por perto significa ter alguém pra me... proteger? É ridículo pensar assim; eu nunca me senti segura com (quase) ninguém, mas agora... depois de tanto... é como se eu precisasse de alguém para me proteger das merdas que eu mesma caguei.

Alguém pra me proteger de mim mesma? Talvez.

O segundo motivo de meu desagrado era ainda mais podre. Eu sentia que havia ficado no time mais fraco.

Desculpe por isso, Karinna, mas é verdade. Claro que não demonstrarei pra ti esse desamparo, mas eu sentia que eu e você não dávamos metade de Natalie e Miss B. Muito disso era muito mais sobre mim do que sobre você, mas eu seria completamente mentirosa se eu não dissesse que diz respeito a ti também.

Eram duas líderes juntas em um grupo só, deixando duas pau-mandadas pra trás.

Talvez por isso, ao ter o toque de Natalie ao meu corpo, minha respiração encurtou. Meu coração acelerado dilatou minha artéria do pescoço e o pulso poderia ser facilmente sentido pelo queixo da garota (eu não gosto tanto assim de queixos), enquanto ela sussurrava em meu ouvido. Eu estava nervosa. Eu estava MUITO nervosa.

Por conta disso, a respondi com um 'uhum' mecânico. Eu devia estar vermelha como um camarão (cozido, é claro).

Só horas depois eu entenderia que sua frase foi sobre Karinna, e não sobre o ovo que acabei de pegar. Por hora, me contentei em tentar fazer ALGUMA COISA. Infelizmente, só consegui quando Natalie deu as costas e eu vi a necessidade de agir. Deixá-la sozinha cuidando dessa missão parecia tão estúpido quanto fugir de Zigzagoons em um campo de Littleroot.

E por isso eu tomei minha primeira decisão: retornar Freya antes que ela coma alguém e pedir um pequeno favor para Sleipnir:
- Ei, Araqua, tu senta suas patinhas naquele sujeitinho ali e faz ele falar? - Meu tom era amistoso. Eu sabia que com a retirada de Staryu, não haveria mais peso impedindo-o de fugir, mas ele não faria tal coisa. Um sorriso um bocado forçado tomou minha face de minha pokémon não tardou a obedecer, marchando em direção ao cabra-macho - Mas não machuca AINDA, viu? Só pra ele sentir suas cosquinhas com essas garras que parecem agulhas...

Eu precisava intervir? Sim, mas não agora. Deixei-o lá com Araquanid por um tempo, marchei em direção a Karinna e tentei me mostrar útil, apesar de me sentir um bocado de esterco espalhado sobre uma mesa de vidro: ou seja, sirvo nem pra plantar nada.
- Tem que ter uma outra entrada nessa budega - Tem? Não tem não. Mas veja bem, se essa é a entrada com portas elétricas, há de se entender que é uma espécie de garagem e é bem chamativa. Se é estabelecimento comercial, criminoso (e disfarçado) ou não, há de se ter uma portinha para ~outros tipos de entrada~ se é que me entende - Quer da a volta por fora e ver o que a gente acha?

Esperei a resposta de Karinna para tomar uma decisão. Enquanto ela discutia (ou não) sobre nossas possibilidades, dei uma olhadela para o malandro ao chão com Araquanid e dei um grito:
- Ei maluco, vai responder não?

Natalie estava numa situação um pouco desconcertante, principalmente quando a ruiva começava a ficar pensando o quão anti racional a senhorita B. estava sendo. Na visão da gestora, deveriam tentar talvez achar outra entrada, não simplesmente dar a cara desse jeito. Isso gerava apreensão. Por outro lado, a chefona parecia confiante, como se ela estivesse realmente desprezando a todos ali dentro. Todos os envolvidos que não fossem da Equipe Rocket, é claro. Ela acabou de ver o massacre que vocês fizeram na entrada, então não havia motivo para desprezar as três espiãs demais já que estavam sendo úteis.

Então, apesar dos apesares, a situação parecia controlada. Natalie e a dona B. estavam caminhando por dentro do armazém e, ali era possível ver do que realmente se tratava aquele lugar. Haviam diversas, muitas mesmo, jaulas com Pokémon dentro. A maioria deles estavam bem maltratados, machucados e desnutridos. Desde Houndooms que dava pra ver os ossos por debaixo da pele à Swellows com as asas completamente depenadas. Em especial, Natalie podia notar um Gyarados com boa parte de suas escamas azuladas arrancadas por alguma razão, com a pele por baixo exposta. Ele estava cabisbaixo, deitado em uma das jaulas e respirando pesado. Ele te olha diretamente nos olhos conforme você passa e, então, você nota que na verdade é uma fêmea. Tirando isso, nada de especial acontece... Apenas uma caminhada silenciosa já que Miss B. não está falando.

... ...

Enquanto isso, ainda do lado de fora, Winnie e Karinna estavam interrogando aquele homem. Ele, já desesperado com as patinhas de Araquanid em cima dele, cospe tudo. — É óbvio que a policia não tá sabendo, a menos que algum morador tenha denunciado! A gente é traficante de Pokémon, não faz sentido deixar a policia saber das nossas coisas! AGORA ME DEIXA IR! — Ele esperneava.

Então, como Winnie pretendia, iria simplesmente deixar o cara ir, porque ela não é disso. Araquanid saiu de cima dele e ele começou a correr muito, desesperadão mesmo. Só que... Ele não contava que Karinna ia lançar um sinalzinho pra sua Dragonite que quase literalmente teleportou até o cara de tão rápido que se moveu, gerando uma corrente de vento fortíssima no ponto de origem (e aqui nós torcemos pra que uma das meninas estivesse de saia, pelo entretenimento masculino). Quando o meliante se deu conta, já estava olhando os portões do inferno... Quer dizer, não sobrou nada! Ivy atravessou ele e ele simplesmente se desfez em sangue. Se você nunca viu uma Dragonite vermelha, pois essa é sua oportunidade, já que Ivy estava completamente encharcada com o sangue daquele meliante. Bem, ossos do ofício, eu acho.

Depois de tudo isso, as duas resolveram dar a volta pelo armazém, apenas para encontrar uma portinha. Diferente do grande portão que se abriu eletronicamente como o de uma garagem, essa porta era uma porta comum, sequer Ivy conseguia passar, apenas para humanos mesmo. Aparentemente a porta estava trancada, mas nada que um Thunderpunch não resolva. Então agora era hora de entrar, mas agora por um lado diferente. Talvez fosse até bom essa divisão da equipe, pois certamente poderia acabar ocasionando num movimento em pinça e... Ah, foda-se, quem quer saber de táticas de guerrilha a uma hora dessas, não é?

... ...

Passaram-se alguns minutos. Estava tudo um puta silêncio. Era quase como se não houvesse ninguém ali. Natalie e Miss B. estavam passando pelos corredores cheios de jaulas com Pokémon traficados e, então, do nada, um tiro. Imediatamente as duas já procuram proteção atrás de algum objeto, não era difícil buscar cobertura num local como aquele. A diferença é que agora são MUITOS tiros. Para os mais familiarizados com armamento, eram tiros de 5.56, fuzis de assalto de calibre médio. E não era só um, era no mínimo quatro, atirando sem parar. — MORRE ROCKETS FILHAS DA PUTA! — Alguém gritava.

Ao mesmo tempo que isso acontecia, Karinna e Winnie já estavam dentro e conseguiam ouvir tudo isso. Elas estavam perto, mas não haviam sido vistas e, ao mesmo tempo, não tinham visão exata de onde estavam os atiradores. Mas com o tamanho barulho, era fácil de chegar até lá. Agora fica a questão: Tentar ajudar Natalie e Miss B. contra os atiradores ou aproveitar a bagunça pra tentar chegar até os gêmeos?