#009 Mísia e Luch em: "Erva e Fogo: A Lenda do Musharna Verde"

Trabalhando um pouco a respiração, como um velho colega monge havia me ensinado, fui capaz de manter o controle da situação. Obviamente não estava sóbrio e nem era isso que queria! Contudo, estava suficientemente apto a interagir com outras pessoas não-chapadas e foi por isso que dei o primeiro passo em direção ao prédio do Laboratório que havia nos contatado. Como disse antes, não lembrava exatamente o nome da Pesquisadora que nos chamou, era apenas uma assinatura no rodapé do e-mail, então passou despercebido. Sendo assim, para evitar pagar um belo "aipom" vergonhoso, não tentei nome algum, apenas me apresentei — Opa, isso! Somos os dois voluntários que trocamos mensagem! Eu sou o Luch — Disse, assinando e depois deixando espaço para que Mísia se apresentasse como quisesse. Apesar de estar razoavelmente bem, não arriscaria falar demais para não dar espaço para besteiras saírem da boca. Além disso, me escorava na parede logo atrás de mim para evitar balançar para lá e para cá. Quanto mais alto, mais torto, né?

Muito gentilmente a atendente nos levou até o segundo andar, onde máquinas super tecnológicas e estranhas, além da Professora nos esperavam. E por falar nela, a Professora se identificou como "Fennel" e isso fez todo o sentido para mim, por isso achei que era "Fennekin". Minha reação imediata foi trocar olhares com Mísia e dar aquele "sorrisinho" de "então é isso!", enquanto sacudia um dedo indicador na direção da jovem. Antes do cenário ficar mais constrangedor, retomei a atenção para a Professora, que explicava sobre uma tal anomalia no Mundo dos Sonhos. Nas palavras dela, seria "fácil", mas eu tinha algumas dúvidas sobre isso. Afinal, se fosse tão simples ela mesmo poderia resolver, né? — Deixa eu ver se compreendi. Nós sentamos nessa máquina aí? Apagamos com soninho de névoa. Vamos para um sonho bem louco. Lá a gente pode interagir? Com nossos Pokémon também? Aí vamos atrás dessa "anomalia" e bah, resolvemos, voltamos e tudo certo. Tem problema se eu tiver rinite? Porque algumas fumaças me deixam mal... E esses Musharnas, são todos rosinhas, normais, né? Nada demais, só por curiosidade mesmo... — Assim que me foi permitido, comecei quase um interrogatório com a tal Fennel, tinha muitas dúvidas apesar de estar super disposto a me aventurar nesse troço.

Para o meu alívio, não haviam muitas sequelas pela inalação da "névoa" perfeitamente comum de Musharna padrão. Mísia estava animada e com um espírito aventureiro inabalável, assumindo quaisquer riscos em nome da descoberta e da... diversão. Pois é, às vezes precisamos deixar de lado os medos e partir adiante. Ou seja lá o que isso signifique... Foda-se, estou chapado. Quando me dei por mim já estava sentado no tal equipamento e o vidro que nos encerrava lá dentro, baixando. Fiz um sinal de positivo para a Pesquisadora e depois um "V" de vitória para Mísia e... bem... Foi a última coisa que vi nessa vida.

Geralmente as pessoas descrevem a sensação de "partir deste plano" como algo belo e cheio de efeitos épicos transcendentais, mas não é bem assim... Mesmo sob efeito de uma substância psicoativa, a passagem da realidade para os sonhos foi quase instantânea. Como virar a chave de um interruptor, como piscar. Numa hora estava lá e agora estou aqui. Mas o que é "aqui"? Seria esse o paraíso? Haviam nuvens, muitas nuvens... Eu enxergava uma coloração rosácea e as nuvens pareciam pulsar, mas talvez fosse só a minha mente sofrendo efeitos do recente consumo... Mísia estava ali também, então é provável que tudo tenha dado certo. Enfim, eu esperava mais daquele lugar, mas era tudo tão plano e sem graça. Era óbvio que tínhamos que seguir para um lugar específico, uma Ponte de Arco Íris.

— Não é bem um Stairway to Heaven, mas também espero que não seja um Highway to Hell — Disse, em um tom mais alto para Mísia ouvir — Wyvetta... Vou precisar de você, vamos dar uma olhada do alto se o caminho é de boas... — Comentei em seguida, lançando a Poké Ball da Staraptor. Aparentemente, estavam certos ao dizer que os Pokémon também vinham parar aqui e poderiam interagir com o ambiente. Sem mais, segui na direção da Ponte.

Aos poucos me estabilizava mais. Resultado: as nuvens pararam de pulsar como se estivessem respirando profundamente e agora pareciam bem mais normais. Contudo, a sensação ainda era estranha, como se eu estivesse em câmera lenta e tudo que se movia na minha frente deixava um rastro para trás, incluindo Mísia, que se aproximou para julgar minhas referências e também fazer as dela — Quando eu to chapado eu fico meio boomer, às vezes... Só um Baile de Favela pra me consolar... — Comecei a dizer, com um sorriso bobo no rosto ao notar o também sorriso bobo no rosto da garota — Ai merda... O que a gente fala o pessoal escuta, né? Eu retiro o que eu disse então, tá? 'Diga não' e os carai... Estamos andando! — Disse, olhando para o céu e com as mãos erguidas em desistência, conforme caminhava para o arco íris. Enquanto isso, a Staraptor parecia me chamar para que andasse mais rápido — Coé, preciso me controlar para não colocar tudo a perder aqui Hahahaha!

Como não havia exatamente NADA para investigar nesse cenário inicial, seguimos pela Ponte do Arco-Íris e realmente não tínhamos do que reclamar, passamos por uma mudança de cenário bastante tecnológica, como se estivéssemos dentro daquele jogo Assassins Clayson. O cenário novo era medieval e bastante tumultuado, tinha desde Policial Maluco até Pivete Ladrão, quase como as ruas de Castelia. Como tinha experiência com lugar assim, resolvi ficar na encolha, ainda mais estando chapado. Os Policiais podiam ser bananões, expressão que a Karen costuma falar no PokéZap, mas com certeza era só dar bobeira e parecer alto que eles já iriam pra cima na ignorância. E bem, eu já sou naturalmente alto, né?

— Carai... Bagunça danada, mas to gostando disso aqui. Nossa mente no brilho criou isso tudo? Eu tenho medo do que sou capaz... Hehe... — Comentei com Mísia, com as mãos para trás, andando um pouco de costas e observando os arredores. Havia um Castelo bastante convidativo e tudo mais, mas será que não havia algo mais pé no chão para darmos uma olhadinha? Se for produto da nossa mente em conjunto, eu tinha certeza que haveria... — Opa, tem uma placa ali. Se tiver algo escrito é porque deve ser importante, afinal estamos meio que na nossa mente, né? Eu não sou de pensar em placas com texto... Então, na pior das hipóteses nós achamos a anomalia...