[EVENTO / 001] — THE ROAD COMES WITH A MYSTERY.

Lyla percebia que o símio estava cansando dos esforços para acabar com a raça de Vulpix. O problema é que Kyuubi também estava cansando, e a loira conseguia sentir e entender a pokémon que lhe pertencia mais do que ninguém. A garra da raposa, no entanto, assemelhava-se a sua própria. E se Mankey estava dando aquele trabalho todo, Lyla deveria prestar um pouco mais de atenção a ele. E realmente começou a percebê-lo de uma outra forma. Forte. Resistente. Mas não o suficiente para vencê-la.

— Aguente só mais um pouco, Kyu. Você consegue, não é? — a voz de Lyla agora soava sem tremor. Podia passar confiança e certeza para sua parceira e estreitar o elo que as ligava como um par mais que compatível. — Vamos acabar com isso agora. Você já sabe, sim? Ember duas vezes, use contra o ataque!

Enquanto comandava os ataques de Vulpix, a destra da treinadora lentamente se entremeava à entrava da bolsa que carregava, como se seus movimentos fossem calculados e o mínimo esgar brusco pudesse fazer esvair a ideia que lhe ocorrera. A batalha ainda não estava decidida, mas ela estava confiante, pela primeira vez. Pela primeira vez não temia seus traumas e via uma oportunidade. Precisava ganhar. Precisava dar aquela vitória a Kyuubi.

Precisava dar aquela vitória a si mesma.

OFF:
Pretendo nocautear e capturar no próximo post. Se der!

Apesar de extremamente cansado e abatido, Mankey ainda tinha forças para desferir mais ataques a Kyuubi, que encontrava-se igualmente fraca depois de um embate acirrado e violento. Contudo, aquela batalha encaminhava-se ao seu fim com as chamas da pokémon raposa atingindo o símio em cheio e drenando o que restara de sua capacidade de permanecer de pé e acordado. Mankey caiu ao chão derrotado, e, tão rápido quanto ele havia tocado o gramado tostado, Lyla, que tinha uma mão dentro de sua bolsa, puxou a poké bola vazia para atirá-la contra o animal selvagem. Ela visualizou o objeto esférico abrir-se e puxar para o seu interior o pokémon que não tinha sequer forças para tentar sair.

Mas então seu olhar voltou-se para Kyuubi e a viu perder as forças nas perninhas curtas antes de também cair ao chão. Argh! O coração da loira começou a pulsar violentamente dentro de sua caixa torácica. De repente, a ansiedade voltou e também o medo que estava à espreita enquanto a batalha se desenrolava. Agora via a Vulpix ferida e tremendo no chão, e só conseguia pensar que aquilo era culpa sua.

— Kyuubi... — Lyla correu em direção à sua companheiras e ajoelhou-se ao seu lado. O que poderia fazer para salvá-la? Estavam na metade do caminho, não havia previsão de quando conseguiria chegar até a cidade seguinte, então muito provavelmente teriam que retornar a Celadon para que pudesse levá-la direto ao Centro Pokémon. A viagem sendo em vão.

Uma voz atrapalhou sua linha de raciocínio e a face de Lyla voltou-se tão rapidamente para a sombra que o corpo daquele rapaz estranho fazia sob o sol ardente que o pescoço da treinadora até mesmo doeu com o movimento brusco. Via-se pela primeira vez diante do que menos queria — uma pessoa. Certo, estava em fuga e não poderia se privar de contato humano para sempre, mas queria passar pelo menos algumas semanas completamente isolada para que os rumores dos contrabandistas não mais a alcançassem. E então estaria mesmo livre. E em paz para seguir uma jornada completamente diferente do que a que tivera até encontrar Kyuubi.

— Quem é você? — sua falta de tato pelo momento de aflição a fez soar grossa e um tanto rude, mas aquilo não pareceu surtir efeito no estranho, que parecia querer ajudá-la. Estranhamente. Lyla não estava acostumada com pessoas querendo oferecer ajuda de graça. Tudo tinha sempre um valor, e muitas vezes ele vinha alto demais quando se envolvia com as pessoas erradas. Ela havia aprendido isso da maneira mais dolorosa; dolorosa porém eficaz, tão eficaz que havia ficado marcado em seu próprio corpo em forma de uma cicatriz.

Lyla estava pronta para negar tudo e pedir para que o rapaz seguisse seu caminho, até que ele se ofereceu para ajudar o estado crítico de Kyuubi. Então a semente da dúvida foi plantada em seu cérebro. Tudo bem, elas ainda tinham uma garrafa de água, mas como seria possível que levasse a Vulpix até um centro de tratamento pokémon sem que ela sofresse com os espólios de batalha, ainda que dentro de sua poké bola? A loira infiltrou os dedos pelos pelos macios da raposa enquanto encarava fixamente o rapaz.

— Então você quer me dar água, curar a Vulpix e ainda me dar para carregar esse ovo? — ela recapitulou. E apesar de sua desconfiança, já estava inclinada a aceitar. Por Kyuubi. — Okay. Okay, eu aceito. Só cuide dela logo, por favor. — Levantando-se de sua posição, Lyla pegou para si a garrafa de água extra e a incubadora com o ovo, colocando ambos os objetos dentro de sua bolsa. Mas as orbes púrpuras da loira continuavam fixas em qualquer movimento feito pelo estranho em direção a Kyuubi.

STONJOURNER EGG — (01/40)

Apesar da desconfiança de Lyla, ver a Vulpix sendo devidamente tratada com os materiais e o cuidado corretos a deixou mais aliviada. Os machucados provocados pelos arranhões contínuos da batalha agora eram embalsamados pelas poções curativas e enfaixados. Ao fim, ela só precisava de um descanso de verdade para que pudesse se recuperar totalmente. Por isso, seguindo a recomendação do ainda estranho, Lyla buscou a poké bola pertencente a Kyuubi e a chamou de volta ao objeto esférico.

— Obrigada por ser forte, Kyu. Descanse agora e se recupere — Lyla a prendeu no próprio cinto e se voltou para o rapaz. Ela pegou a garrafa de água da própria bolsa — a sua própria, não o presente — e bebeu um gole para se hidratar. Não havia percebido ainda o quanto sua boca estava seca. — Obrigada por ajudá-la. E pelos presentes. — Ele havia lhe dado de presente mais três poções, daquelas que havia usado para curar a raposa. Lyla no fundo gostaria de dizer para que ele parasse de lhe ajudar, porque quanto mais ele continuava, mais desconfiada ela ficava. Contudo, não era como se ela não estivesse precisando. Até o fim da rota, quantas outras coisas não podiam acontecer? — Vou aceitar a ajuda ao Mankey também — pegando a poké bola que havia recém usado para capturar o símio selvagem, a loira o chamou de volta par a quentura da pradaria.

Mankey estava zonzo e ainda muito fraco, e por isso caiu sentado assim que se viu liberto de sua bola-moradia. Lyla ainda precisava decidir como iria chamá-lo, mas talvez devesse passar um tempo com ele — que não fosse em uma batalha onde tentava derrotá-lo — para o conhecer melhor. Ainda assim, ela o ofereceu para receber o mesmo tratamento médico que Kyuubi havia recebido.

— Ah, então você é um médico pokémon. Entendi o porquê de todos esses presentes e benfeitorias — a treinadora comentou, de braços cruzados, enquanto o assistia trabalhar. Certamente ele não estava mentindo sobre sua atribuição — ele era realmente bom cuidando de machucados e realizando os primeiros socorros. Talvez até mesmo trabalhasse em algum Centro nas cidades adjacentes. — Uma companhia não vai ser ruim. Mas acho que primeiro preciso saber o seu nome, não é? — Nesse momento, ela ponderou se deveria dizer-lhe seu nome real ou deveria inventar uma nova identidade para se apresentar às pessoas ali. Talvez fosse melhor, pelo menos enquanto ainda houvesse rumores sobre seus antigos parceiros pelas redondezas. — Me chamo Alice.

STONJOURNER EGG — (02/40)

Assim que Mankey havia sido devidamente cuidado, como a Vulpix que agora descansava, Lyla o chamou de volta ao interior de sua poké bola para que pudesse fazer o mesmo. Os queria bem e fortalecidos para o caso de precisar usá-los em batalha novamente, ainda que a treinadora precisasse revisar mentalmente que tipos de ataque o símio utilizava — e também precisava saber se ele reagiria bem ao fato de que agora pertencia a uma família. Mas isso podia esperar um pouco, já que as condições de saúde dele, naquele momento, pediam uma atenção maior.

— Muito prazer, Luan. — A loira agora prestava atenção nas "notícias" que o médico pokémon lhe trazia. Soando mais como um aviso, os rumores de pessoas estranhas pelas redondezas atingiram Lyla como um impacto da mais que conhecida ansiedade. Imediatamente, ela sentiu o estômago pesar e afundar na própria barriga. O suor tornou-se frio. Ela pensou nos mercenários, embora pudesse se tratar de outras pessoas. De qualquer forma, não era seguro permanecer naquela região por muito mais tempo.

Por um momento ela encarou o rapaz cujo nome agora sabia. Ele não lhe parecia uma má pessoa, mas sua desconfiança não permitia que acreditasse cem por cento em ninguém. Encontrá-lo ao acaso no meio daquela rota poderia ser uma grande coincidência, mas também poderia ser totalmente premeditado. É claro, havia de levar em consideração também o fator de que Luan a ajudara e aos seus pokémons, e ela duvidava muito de que, se fosse alguém na intenção de sumir consigo — como nos boatos —, a última coisa que faria era deixá-la com pokémons aptos a defendê-la.

— Isso é realmente muito estranho. Mas não encontrei ninguém suspeito desde que deixei Celadon. — Até encontrar você, é claro, Lyla complementou mentalmente. — Espero que nada surja no nosso caminho até lá. Se qualquer coisa acontecer, bem, acho que Kyuubi e o Mankey estarão ótimos para lutar. — A loira deu um último gole de água antes de guardá-la novamente na bolsa, ajeitando os pertences sob o ombro e preparando-se para a caminhada que tinham à frente. — Vamos. Pretendo chegar em Saffron antes de ser tostada por esse calor.

Rezava por uma viagem tranquila. Isso era pedir muito?

OFF: Beleza! Aliás, as capturas contam BCs também, não é?

STONJOURNER EGG — (03/40)

A preocupação com o perigo permaneceu guardado como um calombo incômodo no fundo da mente de Lyla. Havia muito chão pela frente e muito o que arriscar, segundo aquelas notícias. Não queria ter de fazer uma viagem relâmpago até Saffron, mas as circunstâncias pediam para que se apressasse e passasse o menor período de tempo possível naquela rota. No fundo, Lyla estava com medo, mas era durona demais para que admitisse estar sentindo algo tão fraco e destinado a pessoas covardes. Pelo menos, era o que ela pensava e a visão que havia adquirido pelos anos de vida não tão saudáveis para seu psicológico e emocional. Nem mesmo para o seu corpo.

Concordava com Luan, apesar de tudo. Vulpix tinha uma garra imbatível e uma sede por vitória quase que insaciável, então a treinadora podia contar cegamente com sua companheira de viagem no que dizia respeito a segurança. E, pelo que notou de Mankey — cujo nome ainda não havia pensado —, o símio também demonstrava uma força e uma resiliência que casava com o estilo de pokémon que Lyla gostaria de ter em seu time. De fato, eram criaturas duronas. Contudo, apesar de confiar cem por cento nas forças de seus monstrinhos, Lyla sabia que eram inexperientes e podiam não ser o suficiente para lidar com perigos mais profundos.

Bom.

Respirou fundo, tomando o fôlego que se precisava antes de um mergulho. E seguiu a viagem.


Lyla podia não notar, mas seus ombros estavam ardidos e, sua pele, extremamente quente. As queimaduras de sol se espalhavam pelas áreas da pele branca — agora avermelhada — que não estavam protegidas o suficiente do sol. Mas não era exatamente isso que a incomodava. Estavam andando havia um bom tempo e suas pernas doíam — afinal, não haviam parado para descansar sequer por um breve momento, no intuito de chegar ao seu destino o mais rapidamente possível. Lyla sentia fome, mas a água ingerida de tempos em tempos servia bem para enganar o estômago. Sua mente só pensava numa cama macia após um banho gelado para matar aquele calor dos infernos.

Seus olhos foram atingidos pela placa que delimitava a chegada à cidade de Saffron. Um alívio quase que cômico — se for levar em consideração os acontecimentos posteriores — a atingiu. Mas este, como era de se esperar, só durou o tempo em que a frase do médico pokémon foi interrompida bruscamente.

— Mas que porr—

O chão literalmente tremia. À frente, a treinadora pôde visualizar o motivo daquele mini terremoto. E o motivo não tinha nada de mini. Tudo o que conseguiu reconhecer naquele momento foi o Venusaur e o Electivire. E um fodendo Caterpie. Um Ca. Ter. Pie.

Estava fodida.

Seu corpo reagiu mais rápido do que seu cérebro no trabalho de reconhecer as criaturas que agora avançavam desgovernadas em sua direção. Luan havia corrido, e Lyla havia corrido atrás dele. Esqueceu a dor nas pernas enquanto forçava os músculos a tirarem-na da estrada, fugindo pela mesma direção — a direita — que o companheiro de viagem havia seguido. As pedras soltas do chão ricocheteavam em suas canelas e doíam, por vezes efetuando cortes. Mas tudo o que sua mente conseguia repercutir era:

Um fucking Caterpie?

STONJOURNER EGG — (04/40)