Conto 2 - Limpando a Neve

Neve. Muita neve. O frio até poderia castigar a pele do dracônico se não fossem as suas pelagens preparadas para algumas situações como essas, até mesmo porque a temperatura é seu inimigo natural. O nosso protagonista era um monstrinho... peculiar, se é que podemos dizer assim. Eram como um único corpo dividindo o mesmo espaço, contudo com duas personalidades diferentes. O agravante é que as duas não se davam tão bem.

— Olha esse frio, a neve caindo. Um ótimo dia para simplesmente não fazer nada, não é? — era uma retórica calma vindo da cabeça à esquerda.

— Ah, se liga, porra! Você nunca quer fazer nada, zé ruela — a cabeça destra, como uma boa pentelha e hiperativa ímpar, deu uma pescoçada em sua gêmea de espaço, em um sonoro tuc.

E claro, conforme andavam para a saída de sua própria caverna em suas brigas e discussões, depararam com sua calçada imersa naquela imensidão nívea condizente com a época do ano.

— Tá vendo aí? Tá achando que nosso apê aguenta isso aí tudo? Vamo virar picolé, seu maluco! — esbravejou a destra, revoltado com o comportamento preguiçoso de seu gêmeo. — E ainda digo mais: tá vendo aquele Rotom desgraçado lavando tudo e fodendo com geral? Se liga!

— NÃO, NÃO FAZ ISSO!

Abocanhando um pouco de neve rapidamente antes mesmo que o berro da cabeça mais calma alcançasse o pobre bombril, lançou uma bola de neve que não era das menores de maneira certeira sobre o pobre fantasma que tentava lavar a neve abaixo. Pobre Rotom...

— Toma cuidado aê, ô animal! — gritou de longe, como uma provocação ao fantasma. Mas no mundo dos pokémons, eles não são análogos aos animais? Bom, esse questionamento é somente seu e, quiçá seu também, caro leitor.

E assim passaram o resto da tarde: enquanto o brigão e hiperativo vez ou outra lançava neve sobre outros monstrinhos, sua metade mais calma pedia desculpa e ganhava um cascudo de seu irmão gêmeo.

Ao final, até estava limpa, todavia tenho dó de todos os vizinhos por conta da barulheira de Zweillows em suas infindáveis discussões e cascudos.

...Mas que frio.

De onde veio toda essa neve? Estávamos no inverno? Eu tenho certeza que eu estava na tropicalíssima Hoenn, como eu vim parar aqui? Será que aquele Espeon me pregou uma peça, ou era algum dos "testes" daquela Hatenna esquisita? Mas apesar de o frio machucar e ser bem desconfortável, de me deixar sem energia pra fazer nada, esse lugar não era de todo ruim. Era bem calmo, e tinham vários Pokémon diferentes.

Se bem que estou me sentindo uma intrusa aqui. Primeiro não sei como cheguei aqui e agora ouvi que eles querem lidar com o problema do excesso de neve. Mas era realmente um problema? Eu não gosto do frio, logo porque não ficamos todos quietinhos com bebidas quentes? Bem, se eu não quisesse me sentir uma intrusa, acho que vou resolver ajudar esse povo. É o que costumam dizer: "É bom sair da zona de conforto". Mas conforto é tão bom...

Eu pensava no que eu podia fazer... bem se eu pudesse enxergar seria ótimo, mas infelizmente não posso. Inclusive eu queria enxergar nesse exato momento pois eu senti algo curioso, para dizer o mínimo, e amedrontador para ser exata. Tenho certeza, era um de minha espécie, mas ele falava sozinho? Uhh... ok. Eu não vou ser assim né? Esse negócio que Deinos criam uma cabeça nova é só uma lenda né?

Bem, como uma dragão cega, eu tentei sentir onde a neve estava mais acumulada e saí correndo com uma investida com a minha maior força para dispersar aquele monte... e isso foi a última coisa que eu me lembro desse lugar... pois eu apaguei. Mas sobrevivi... eu acho.