029 - [MISSÃO DE SOCIEDADE] O Bacomel Vegano é Viciante

Eu teria que ser muito inocente para acreditar que dividir um doce na metade ia ser o suficiente para aplacar a vontade do Dratini por açúcar, né? E bem, talvez eu seja... Quando achei que tudo estaria bem entre o Charmander e o dragão, eis que a serpe praticamente saltou para o lado de Ishikeru, fazendo aquela carinha de pidão que só os grandes olhos de um Dratini podem proporcionar. Tal qual eu, o Pokémon de fogo não resistiu ao charme do irmão e acabou entregando praticamente toda a sua parte do doce. Ora, ora... E as personalidades iam sendo moldadas, não é mesmo? Um bobo bonzinho e um espertalhão esfomeado. Acho que podemos começar daí a analisá-los... Mas enfim, voltando...

Enquanto um Charmander ficava "chupando o dedo", meu papo com Celeste progredia. Sobre a hamburgueria, a senhora concordou comigo sobre a dificuldade de trabalhar com frutos do mar em um lugar como Oreburgh, informando o quão caro seria trazê-los de fora para cá. Ela pretendia falar algo mais, mas nessa eu "mosquei"... Sinceramente, não entendi bem o que ela quis dizer antes do "deixa para lá", mas não iria insistir. Aproveitei que ela pegou mais um biscoitinho para pegar mais dois também. Não resisto a eles... — Talvez seja uma hamburgueria gourmet. Ele consegue de algum parceiro os frutos do mar mais barato e depois vende caro, com a justificativa de que não tem por aqui... Seira uma estratégia e tanto. Suja, né? E sem caráter também, mas uma estratégia... — Disse, por fim, tomando o finalzinho do café.

Pois bem, encerrando o assunto da hamburgueria, foi a vez de pedir ajuda sobre onde poderia fazer um anel. Ou pelo menos conseguir materiais para tal... — Perfeito! Valeu pela dica, Celeste... Muito obrigado, mesmo! Eu vou aproveitar que tô com tempo sobrando e ver o tal ferreiro... Se eu não conseguir fazer tudo, pelo menos vou adiantar bastante o que tenho em mente. Depois volto aqui e te mostro o resultado pra você dar uma avaliada. Tenho certeza que tem bom gosto com essas coisas! Hehehe

E ao agradecer a senhora, aproveitei para pegar o Rotom Phone no ar, preparando-o para pagamento — Vou pedir a conta. Aceitam RotomPay por aproximação, né? — E esperando a resposta, me preparava para pagar no débito mesmo. Em seguida, me voltaria para as três "crianças" que precisariam me seguir até o nosso próximo destino, o tal ferreiro indicado — Ishikeru, Kawaii, Hmm... Eu ainda não sei que nome te dar, mas enfim... Dratini. Vamos lá, pessoal? Tatum também, temos Ovos para chocar e Anéis para fazer. Isso vai ser divertido, assim espero. Foi um prazer, Dona Celeste! Desejo ótimas clientelas para você. Até mais!

E é isso, vamos ao ferreiro...

Felizmente a Padaria aceitava pagamento por aproximação, pois não estava com meus cartões físicos... Então, depois de pagar e antes de sair, restaram apenas as despedidas. Celeste disse que a garota que receberia o anel seria muito sortuda e pediu que eu não ficasse mentindo por aí, o que era justíssimo, né? — Nah, sortudo sou eu de ter alguém como ela em minha vida e poder me divertir fazendo uma loucura dessas, mas torço que dê tudo certo e fique ótimo o resultado final. Mas enfim... Prometo que também não vou ficar mentindo por aí. Não sou disso, juro... Até a próxima, Celeste! Obrigado por tudo! — Disse, encerrando o assunto com meus cumprimentos e despedidas.

Encerrada a aventura na Padaria, deixei o estabelecimento na companhia da "trupe" e ainda me despedi do garçom de nome esquisito, sem esperar para ver a reação exata dele. Em seguida, peguei a rua na direção indicada por Celeste no mapa e fui indo, tentando mais ou menos me guiar. E... Que surpresa! Apesar do calor infernal, potencializado pela falta de nuvens para esconder os raios solares, a cidade exalava energia e alegria. Crianças saindo da escola, vendedores "vendendo o magikarp" deles, carros buzinando! Quase me senti em casa... A casa mesmo, Nimbasa, com todo seu neon e movimento, só que aqui era até "pior"! E, como agravante, ainda carregava comigo o Dratini, enrolado no pescoço como cachecol. Ele estava na altura ideal para se sentir atraído pelas vitrines e mostruários, quase me enforcando quando dava um puxão.

— Ai, ai ai! Muita calma, muita calma! Eu vou parar numa barraquinha de picolé sim! Mas será que os doces de antes não foram o bastante? Lá eu torrei uma grana, hein? Aqui vai ser só UM picolé! — Comentei, afrouxando um pouco o corpo do dragão sobre mim, me dirigindo ao vendedor a seguir — Hmm.. Me vê um só! Quanto é? Ah, ok... Toma aqui então. E você, segura firme esse picolé e cuidado para não derreter tudo em mim, hein?

Mais um mimo realizado para o Pokémon... Agora acho que poderíamos andar sem interferências externas, né? O Dratini já até havia descido de mim e serpenteava pelos paralelepípedos com seu picolé, não queria guerra com ninguém. Ishikeru desfilava contente bem na nossa frente, com o rabo pegando fogo pra valer. Já Kawaii, coitada, vinha atrás, toda hora secando a testa, pois a peruca lhe dava trabalho. Apesar de que não pretendia tirar, né? Eu tentava cuidar de todos e, vez ou outra, mandava que fossem para o canto da calçada já que caminhões pesados e carregados passavam dando um fino na calçada, quase pegando alguém. Foi por isso que dei Graças à Arceus por finalmente chegar a um lugar sem rua, apenas calçada. O próprio Calçadão de Orebugh, um lugar famoso por ter lojinhas de artigos baratinhos, alguns úteis e outros não, mas que costumavam chamar a atenção do povo.

Eu procurava não dar muito ibope para as lojinhas para não ativar nem o meu consumismo, tão pouco o dos Pokémon. Meu foco era chegarmos no tão falado ferreiro, mas ficaria de olhos e ouvido bem abertos com qualquer oferta relacionada ao meu objetivo das joias e do metal. Além, é claro, de me preparar para anotar qualquer informação de restaurantes com almoço em conta, para quando a saciedade rápida dos doces fizesse efeito.. Porém, não entrava em nenhum estabelecimento e me mantinha na direção do tal estabelecimento comentado por Celeste, lá na Padaria. Enfim... Que tipo de lojas e pessoas eu encontraria por ali?

Quando eu disse que ficaria "atento a qualquer cosia que chamasse atenção" não imaginava que tinha TANTA coisa chamando atenção. Eu não via um lugar tão cheio desde a época de frequentar o Nimbasa Park e olha, era bem mais espaçoso e menos cheio que esse sufocante calçadão. Era muita informação sendo jogada na minha cara ao mesmo tempo e, no fim, poucas conseguia fixar. Cartomante? Compro ouro? Bem, eu também vendo nuggets de vez em quando no Centro Pokémon mesmo, qual era o diferencial? Sex Shop? Bem, curioso... Porém, no meio deste mar de ofertas, uma chamava a atenção: almoço por PK$ 10?? Se fosse minimamente decente, estava muito em conta, né?

— Depois que formos até o ferreiro, a gente vai almoçar, pessoal. Se a Karen chegar até lá, a gente vai junto, mas se a fome bater eu vou ter que falhar nessa... — Comentei, após ir para o "cantinho" do calçadão com os Pokémon, onde não poderiam esbarrar na gente e nem empurrar produtos (eu acho). Abaixei-me na altura dos pequeninos para falar meus planos e ver se estavam todos bem. Contudo... Parece que nem todos estavam, né? Com uma cara de ânsia de vômito, Dratini forçava o rosto e parecia sentir, no mínimo, um desconforto. Levei as mãos até o rosto dele, segurando-o e fazendo um carinho com os dedões  — Meu querido, tu não vai vomitar aqui no meio de todas essas pessoas, né? Vamos com calma....

Em seguida, coloquei a mochila na frente do corpo e vasculhei para retirar um Full Heal. Esse negócio resolvia todos os problemas agudos de saúde, né? Não era exatamente um envenenamento, mas se eu colocasse algumas gotinhas na boquinha do Dratini talvez trouxesse um alívio estomacal e diminuísse o enjoo. (ou faria ele colocar tudo para fora, o que seria uma solução da pior forma possível. Porém, coisas de pai, né?) — Esse troço tem um jeito de ser amargo, hein... Mas é pouquinho e juro que não vai precisar tomar mais... Hoje... — Comentei, sorrindo e fazendo um movimento circular na testa do Pokémon com o nodo dos dedos indicador da mão direita. Vamos ver se isso dá um jeito.

Essa turminha que trouxe comigo era realmente engraçada, hein? Enquanto o Dratini passava mal e parecia uma bomba relógio, prestes a explodir, Kawaii expressava suas emoções da melhor forma possível e Ishikeru tentava me imitar, fazendo movimentos circulares na nuca do dragão. Não tinha jeito, eu não conseguia segurar a risada — Vocês são umas figuras mesmo... Hahaha! Vamos ver se isso vai resolver... — Comentei, enquanto pingava as gotinhas. Porém, o resultado disso não foi exatamente o que eu esperava. Na verdade, não sabia dizer se funcionou ou não, porque após as gotas de Full Heal, o Dratini praticamente se tornou um torpedo de vômito. Ele se disparou em direção à parede próxima, arrebentando o chão com o "golpe" que espalhou vômito para nós três que nos mantínhamso ao redor.

Depois dessa verdadeira explosão (ou seria implosão), ficamos nós três sujos nos entreolhando, enquanto o Dratini - já se sentindo bem melhor ao liberar tudo que o prendia - se aproximava sorridente... E também sujo... — Como a Karen diria... "Misericórdia"! Que bom que você tá melhor, parceiro, mas agora a gente tem que achar um lugar para tomar um banho... Será que tem algum Centro Pokémon perto? Ou talvez um Lava-Jato. Sei lá... — Comentei, me levantando, com o líquido escorrendo do corpo — Primeiramente, ninguém toca em NADA, pessoal... Em segundo lugar, Rotom Phone... Favor indicar o caminho de onde podemos nos limpar, o mais próximo possível... — Comentava com os pequenos e depois com o smartphone, que flutuava diante de nós. Não iria tocar nele e acabar sujando tudo ainda mais.

Como esperado, ao meu comando de voz, o Rotom Phone traçou algumas rotas de sugestão para limpeza dos Pokémon e também de mim. Haviam opções interessantes mais próximas, apesar de estarem em direções opostas, como um Lava Jato e uma Pensão, bem como um Centro Pokémon, só que distante demais, sendo muito contramão para mim. Pois é... Além de estar muito cheio aqui, fazia muito calor e o cheiro se espalharia cada vez mais rápido se continuássemos "fermentando" nesse calçadão, todos ensopados de vômito. Pensando nessa situação já deplorável em que estou e tentando ser o mais lúdico possível com os Pokémon (e com a minha vontade interna de fazer merda), decidi que a melhor escolha naquele momento era fazer um deep cleaning no Lava Jato mais próximo. Com a ajuda dos Pokémon de Fogo e do calor que fazia hoje, secar não seria exatamente um problema, né?

— Tá, tem um lava jato nessa direção, aparentemente... — Disse, após respirar profundamente, apontando com o braço na direção indicada pelo Rotom Phone. Ainda com o braço esticado, dei mais um "confere" — É isso mesmo, vamos seguindo! E não encostem em NADA ainda! — Disse, esperando que fossem na minha frente naquela direção, enquanto os observava e tomava conta dos pequenos na retaguarda. Durante o caminho fui pensando em como faria essa limpeza... Kawaii e o Dratini eram fáceis de limpar, mas não poderia usar um jato de água gigante para escovar o cheiro ruim do Ishikeru ou ele acabaria nocauteado. Será que o Lava Jato tinha algo específico para limpar "montarias pokémon" de tipos fracos contra a água? Em uma cidade com foco nas pedras, isso poderia ser bem provável, né? Enfim...

Assim que avistei o Lava Jato, me aproximei com os Pokémon e procurei um atendente, tentando manter um sorriso no rosto, apesar de estar todo vomitado na presença de três Pokémon vomitados. É isso...