SHIMMER RUINS DUNGEON #7 - RAYSSA E RAFAEL

Os treinadores recolheram os pokémon que não precisariam naquele momento para poupá-los dos efeitos da tempestade e então se prepararam para adentrá-la. Eles haviam treinado para aquilo. Desbravaram o deserto para alcançar as Ruínas e não seriaum ventinho e um punhado de areia que os faria parar.

Apressaram-se para tentar alcançar Banette, mas o fantasma se movia rapidamente sem o efeito da areia. Entraram por entre as ruas da cidadela e começaram a fazer um percurso que o pokémon parecia conhecer de coração, mas que certamente faria os rangers se perderem se não prestassem atenção .

Direita. Duas quadras. Esquerda. Direita mais uma vez. Segue reto. Esquerda. Tantas voltas. Eles não sabiam mais onde estavam ou por quanto tempo estavam caminhando, mas enfim Banette parou. De frente para uma casa que, para os olhos estrangeiros, parecia igual a todas as outras no bloco.

O fantasma observou a construção por um tempo antes de entrar. Ela não tinha nada de especial. Construída de arenito, tinha dois andares e apresentava sinais de desgaste pelo tempo abandonada.

No interior, Banette foi direto em direção às escadas rumo a um dos quartos. A primeira coisa que os treinadores notaram foi a cama. Era pequena. Nem mesmo Rayssa conseguiria esticar seu corpo todo em cima dela. Será que o povo do Império tinha uma estatura menor? Então repararam nos brinquedos bagunçados pelo piso empoeirado. Era o quarto de uma criança.

Fantasmas não conseguem chorar. Mas, se pudesse, Banette estaria em prantos.

Banette, que já estava emocionado, ficou impressionado com o carinho e o afeto ofertados pelos treinadores. Decidiu por uma terceira opção. Lançou um olhar para Avalon e um aceno da cabeça do Gardevoir foi o suficiente para demonstrar que entendera o recado. O fantasma segurou uma mão de cada um dos rangers e então começou a se concentrar. Uma aura de energia psíquica envolveu os três.

Um brilho intenso fez com que ninguém conseguisse enxergar nada por alguns instantes, forçando-os a fechar os olhos. Quando abriram novamente, ainda estavam no quarto, porém tudo estava diferente. Era manhã. Os raios de sol penetravam pela janela e inundavam o ambiente, que não estava mais sujo ou bagunçado. Muito pelo contrário. Tudo parecia estar em seus devidos lugares.

Não conseguiam se mexer, nem mesmo a cabeça para olhar ao redor. Sua visão periférica apenas podia lhes dizer que estavam cercados por brinquedos. E, na frente a porta de entrada. Por ela, uma menina entrou. Não deveria ter mais do que oito anos. Vestia um vestido branco de malha fina e um laço na cabeça. Ela olhou na direção em que estavam e abriu um grande sorriso, correndo para alcançá-los.

Foi só aí que perceberam um problema de proporção. Aquela menina e, agora que prestavam atenção, o quarto inteiro parecia gigante. Ou talvez eles que ficaram pequenos. A garota os levantou pelos braços e começou a rodopiar no ar soltando gargalhadas. Mas aqueles braços não eram os dos treinadores. Eram feitos de pano.

A visão ficou embaçada e, de repente, estavam em outro lugar. Na rua. Uma praça talvez? A garota ainda os arregava no braço enquanto corria pelo espaço aberto. Mais uma transição e agora estavam no chão. Atrás de um banco feito de pedra. Com a cabeça caída para o lado. Observando enquanto o dia se tornava noite. Não sentiam fome e nem frio, mas uma tristeza muito grande.

O tempo pareceu avançar mais rápido, como em um timelapse. Viram o nascer e o pôr do sol mais vezes do que podiam contar. O sentimento de melancolia e abandono transformando-se gradualmente em raiva. Rancor. Uma energia negativa se acumulando de maneira tão forte que parecia que iriam explodir. E então, esse sentimento deu um jeito de sair.

Sentiram-se começar a deixar o piso. Estavam flutuando e agora se movimentavam livremente, embora não decidissem pra onde iam. Algo estava no controle. Ao olharem ao redor, tudo estava vazio. Abandonado e escuro, assim como se sentiam. Fugiram o mais rápido que puderam. Atravessaram paredes de pedra até se depararem em um ambiente fechado. Levemente iluminado pelo brilho azulado dos símbolos nas paredes. Aos poucos a luz se apagou. O breu completo reinou.

Os rangers perceberam enfim que ainda estavam de olhos fechados. Ao os abrirem, estavam de volta ao quarto corroído pelo tempo. Lágrimas escorriam por seus rostos, mas não sabiam dizer se eram suas ou de Banette. O fantasma ainda segurava suas mãos e olhava na direção de Rafael temendo a forma como ele iria reagir.

Ele havia os mostrado suas memórias mais antigas. O seu nascimento. Deixou que conhecessem todos os seus piores sentimentos, toda a amargura que sentia pelo abandono que sofrera, a força que o fez levantar e criar vida.

A cena que seguiu foi bela. Ambos os treinadores e todos os seus pokémon aceitando Banette e o acolhendo, prometendo que seriam amigos, uma família. Vendo aquilo, o fantasma encantado começou a olhar ao redor, procurava alguma coisa. Foi em direção a uma gaveta e de lá tirou um punhado de penas.

Entregou uma metade para Rafael e a outra para Rayssa. As do garoto era adornada por uma bela pedra de coloração rosada. As da jovem tinham um enfeite semelhante, porém era ciano.

- Rafael recebeu 3 Clever Feathers
- Rayssa recebeu 3 Genius Feathers

Em seguida, permitiu-se ser capturado com um sorriso no rosto. Não o sorriso de deboche que lhes ofertara na caverna, mas dessa vez um de felicidade pelo sentimento de acolhida. A pokébola esverdeada usada na captura flutuou por uns instantes e então desapareceu, sendo transportada para o depósito do rapaz.

Rafael então decidiu buscar por alguma lembrança que pudesse levar para seu novo companheiro. Vasculhou o quarto, olhou embaixo da cama, nas gavetas e então abriu as portas do armário. Imediatamente dezenas de folhas envelhecidas caíram sobre si. Analisando-as com atenção, apesar da dificuldade por conta da ação do tempo, conseguiria distinguir uma escrita errática, provavelmente de uma criança, formada pelos símbolos Unown e abaixo um desenho rabiscado. Parecia uma boneca de pano.


PERDIDA. O rapaz tinha agora em mãos uma prova de que Banette nunca fora abandonado. Nunca fora esquecido. E carregaria consigo também a sua promessa de dar a ele um novo lar. Uma nova família.


Após deixarem depararam-se com um novo desafio. Como retornariam à avenida principal agora que seu guia não estava mais ali?

Enfim deixavam a casa que os trouxera tantos sentimentos, certamente não fora a experiência que imaginavam que teriam ao decidir explorar aquelas ruínas, mas definitivamente seria algo inesquecível. Optaram por montarem em seus pokémon voadores para conseguir enxergar melhor a região e encontrar novamente o caminho principal.

Não foi difícil. A grande avenida que cortava a cidade ao meio se destacava e, conforme muito bem apontado por Rayssa, o centro da tempestade impedia que eles perdessem o templo de vista. Avançaram com dificuldade, pois tempestade de areia continuava forte, mas não demorou muito para que conseguissem discernir melhor a construção imponente. Era realmente gigantesca, feita com o mesmo material que viram nos portões do império.

Por suas paredes, desenhos e hieróglifos representavam os Unown e também o que pareciam ser outros pokémon: um sol, uma lua e uma figura maior que era impossível de identificar. No topo do templo havia um indicativo que poderia ser familiar aos rangers por suas outras aventuras: um vórtice de nuvens vermelhas pairava sobre o local.

Conforme se aproximavam, algo na energia do lugar, combinado com a ação da tempestade de areia, forçava Dragonair e Vikavolt a deixarem o ar e pousarem próximo à escadaria que os levaria à entrada do templo.

A subida poderia ser tediosa se não fosse a ansiedade de estarem se aproximando do ápice da aventura. No fim, não viram o tempo passar e logo estavam diante das enormes portas de entrada. Que estavam bem fechadas e parecia que estavam assim há muito tempo.  Em frente a elas dispunham-se três estátuas. Figuras de pokémon. A do meio, os treinadores rapidamente reconheceriam como um Banette, as demais pareciam um sol e uma lua feitos de pedra.

Ao se aproximarem, as estátuas ganharam vida e não pareciam muito felizes coma presença dos invasores.