Ato 09 — Ventos da mudança. [swarm]

— Eu não sei se é só burrice. Eles são loucos. Tem uma filosofia e até fazem lavagem cerebrais nos membros de classe mais baixa para absorverem aquilo — recostou as costas sobre a árvore, cruzando os braços conforme divagava sobre essas equipes no geral. Bom, quiçá o loiro realmente entendesse alguma coisa sobre essas equipes no geral.

A interação entre a hoenniana e Hermos antes da besta esmeralda ser recolhida tinha uma particularidade amical e — e por quê não — acalentadora? Com a língua quase batendo no chão, diria que pela primeira vez, Tyranitar agradeceu por voltar para sua cápsula. Agora, era a vez de Artemísia divagar sobre a sua conquista perante a Liga Pokémon.

— Ah, qual foi. Entusiasta com licença da liga já é uma especialista. O que cê precisa é só de tempo, então nem se culpa — respondeu. Ergueu bem a sobrancelha, sentindo que a garota estava diminuindo uma conquista ímproba. — Por Arceus, de modo algum. Não precisa ficar comparando. Seu avanço foi tão grande como o meu — de certo modo, o loiro sentiu a brecha para repreendê-la de forma amical. Depois, ouviu a indagação mais abrangente. — Sobre o que eu vou fazer? Eu devo tá pensando muito a frente — fitou o véu negrume no céu. — Quero derrotar todos os ginásios, e depois de conseguir todas as insígnias de Hoenn, vou desafiar e vencer a Elite dos 4. Acho que andando pra cima e pra baixo como treinador, herdei a vontade de alguém que considero muito. É um sonho bem distante e bobo, mas vai que... — Respirou mais fundo. — E você?

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— Um sonho que agora é realidade. Não é mais só uma fantasia, tá acontecendo, e em pouco tempo, ainda conseguiu a assinatura da liga como um talento a ser lapidado como uma especialista em aquáticos.

A conversa fluía com alguns elogios e menções sobre de quem o loiro herdara a vontade de ser um mestre em batalhas — ainda mais quando ele não pode ser citado, afinal, quiçá sua ambição nobre fora atirada aos Lechonks, restando somente resquícios ínfimos emaranhados a um desejo irracional por vingança e se provar. Com a indagação que o kantoniano fizera outrora, era a vez de Mísia divagar sobre as suas vontades futuras; no início, uma mera reflexão sobre ainda assimilar estar se aventurando como uma nômade no mundo para revelar o que aspirava.

— Kanto? Eu pensava que ia se manter aqui em Hoenn — divagou, afinal o loiro percebia não somente os traços fenotípicos de hoenniana da – agora – especialista em aquáticos, como seu orgulho em pertencer à terra tropical —, mas a Misty é uma ótima escolha. Ela e as irmãs cuidam do ginásio de Cerulean tem um bom tempo e os aquáticos são quase parte do DNA delas — completou. — Eu fico me perguntando o que será que ocorreu nos bastidores de Sootopolis, ou se foi só a ver com burocracia — após matutar alto, então viera a ideia da garota de seguir como uma modelo à parte, quiçá seguir com exibições junto de sua Crobat. — Você ia pegar top 1 do mundo assim — Nicholas estralou os dedos, indicando uma ascensão meteórica — e ficaria bem satisfeito se sempre recebesse uma prévia dos ensaios. Se quiser mandar outros tipos de fotos também, baby — em outras palavras: “manda nudes”. — Tem um horizonte e tanto pra você explorar.

Tal encontrar um oásis após calcorrear por dias infindáveis no deserto, uma brisa pairou pelo recinto. O kantoniano até mesmo cerrou suas pálpebras e aproveitou aqueles segundos numa doma que sabia o quanto delongaria a retornar. Todavia, aquela sensação aprazível fora para os cafundós quando o emaranhado de uma respiração somado a um soído — nem sabia que era possível — vindo de um arbusto que farfalhava conforme o ar sibilava.

Não preciso ficar aqui escrevendo um artigo de mestrado de que não era natural, correto? Tampouco, o kantoniano não era besta e logo notou. Ergueu-se de sua postura relaxada com as costas recostadas da árvore e fixou os orbes cerúleos na direção do “arbusto vivo”. Cruzou então os braços com as pálpebras semicerradas.

— Sai logo daí — deu o anuncio. A voz grave como de costume passando uma sensação de firmeza intrínseca. — Não me obrigue a ter que te atacar.

Seria possível ser um pokémon?

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— Mas é claro. Duvido que exista alguém que mereça mais que eu — o que uma pessoa não faz por certas fotos de uma loira apetitosa, não é?

Agora, depois da resposta, podemos volver ao presente momento quando a abordagem da hoenniana fora distinta do treinador ás, parecendo ser bem mais convidativa. Nicholas por versão de fábrica não é assim tão cortês, ainda mais com algo ou alguém com aquele excêntrico disfarce — estamos falando de um arbusto trajando um chapéu díspar do verde musgo das plantas. Artemísia com toda a sua generosidade esticava os braços e conseguia trazer de fora daquela fachada arbustiva uma garota com uma espinha na bochecha, madeixas róseas e como principal característica a espinha em sua bochecha.

O motivo dela estar ali era... Como posso dizer? Estranho. O loiro matutava em como uma história ilógica, com um motivo tão torpe e modus operandi mais desconexo ainda se espalhou junto ao sibilar do vento até chegar em seus ouvidos e, ora, a garota achou uma ideia excepcional investigá-la. Conforme dizia o motivo de estar ali, era nítido o torcer de cenho junto a um erguer de sobrancelha do kantoniano; sério como sempre, pensara ser algo completamente fugaz dada a ocasião cataclísmica nos arredores de Lavaridge — e, defendendo-o, dar uns amassos é sim necessário, entendeu?

Um Vulpix se revelou em negação com os dizeres da garota de róseas madeixas, e em milissegundos, após o nome do “homem folha” ter sido revelado junto de seus motivos fúteis, um arbusto ganhou vida e açodou mata adentro, inferindo que sairia dali antes de ser pego. A detetive de indecências anunciou a identidade daquele fenômeno estapafúrdio: seu próprio alvo, o homem folha.

Nicholas caminhava morosamente até próximo da garota e de Artemísia agora já com os braços descruzados e postura desarmada.

— A Polícia alertou que várias espécies invasoras pra cá, que perturbam a cadeia ecológica, já que algumas dessas invasoras vão competir pelo mesmo nicho de alguns pokémons nativos, diminuindo a população das espécies daqui por competição, predação e várias outras relações. Isso pode dar até em extinção — começou, posicionando-se ao lado de Mísia, repousando suas mãos no bolso de sua calça. — Não só isso. Tá na cara de que esse sol e esse tempo seco é presságio de algum cataclisma, e com certeza tem gente bem grande envolvida e, se não resolvido, sabe Arceus o estrago que faz — Nicholas respirou fundo, agora fitando a garota de cabelos rosas. — E você vem pros quintos dos infernos pra investigar um punheteiro que se camufla entre arbustos? — O treinador ás balançou a cabeça com a boca semiaberta, em claro sinal de indignação, como se buscasse - em vão - uma reação menos indisposta para aqueles fenômenos excêntricos. — A gente tem mais o que fazer, não é, baby? — dirigiu-se à Artemísia, na esperança de a hoenniana compartilhar da mesma cólera que ele.

Mas, ainda assim, vai que ela está intrigada com o tal “homem folha”.

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: 151.