002 - Baterias Recarregadas: Hora do Treino!

Bater na porta rapidamente surtiu efeito, mas ofertou-me um resultado inesperado, pois além de ser recepcionado por uma voz, também pude ter um breve vislumbre da pessoa por trás dela. Apesar de ter sido rápido, era evidente que havia uma espécie de uniforme com um R grande no peito, o que batia muito com a descrição da vendedora de sorvete sobre os criminosos envolvidos na invasão e furto da sua casa. Se tinha alguma dúvida de que ali encontraria os Rockets, essa dúvida foi sanada agora, o que me rendeu um breve sorriso nos lábios, enquanto ouvia a voz tentar me enxotar, dizendo que não era ali que esse tipo de coisa era resolvido - Ah, certo... Perdão pelo incômodo então, vou tentar na porta principal mesmo. - E arrastando minha placa, caminhei até a porta de entrada do Cassino, pois parecia uma ideia um tanto estranha, adentrar o local com este pedaço de madeira semi-limpo em meio a um lugar tão movimentado por pessoas ricas. Coloquei a placa apoiada no muro e entrei por conta própria, depois de limpar uma mão na outra.

Novamente, fui até o balcão dos atendentes mal-educados e abri o melhor sorriso possível no rosto - Olá, estou de volta. Tem uma placa ali fora sobre Vagas para Faxineiro, estou precisando de dinheiro e adoraria trabalhar, tenho muitas habilidades com Pokémons e pessoas. Sou ágil, posso ser silencioso e além do mais, não me meto na vida de ninguém, sério mesmo... - Começo a enumerar minhas habilidades, tentando não deixar que eles falassem e me interrompessem. Talvez eles possam até não me chamar para ser faxineiro, quem sabe outro cargo ou melhor ainda, quem sabe não tentam me convencer a ajudá-los em alguma coisa, se o que eu ouvi foi claro o suficiente, ela estava com problemas na "produção criminosa" e um jovem bem disposto poderia servir de grande ajuda. Guardaria inclusive a informação de que trabalhava para uma Gangue de Unova para um momento oportuno, talvez servisse de experiência criminosa e recomendação.

Nunca imaginei que a minha tentativa de arranjar um emprego no Game Corner seria tão fácil. O rapaz atrás do balcão nem prestou atenção no que eu falei e já estava me empurrando algumas roupas de faxineiro e me contratando para o serviço. Ao que parece esses Rockets eram realmente mal organizados e eu precisava usar isso a meu favor para desmascará-los. Depois de tentar esconder a expressão de espanto do rosto, sorri para o rapaz debochado e para a mulher, que me olhava desconfiado, então saí tranquilamente, caminhando até o local onde se encontrava meus materiais de trabalho, balde e esfregão. Ali mesmo, como recomendado, vesti o macacão de faxineiro por cima da roupa. Era bem largo, o que facilitava o serviço. Ficava pensando o motivo de não ter ninguém na vaga e terem supostamente desistido de contratar, já que haviam jogado a placa no lixo. De qualquer modo acreditava que não teria problemas com isso, se eu limpasse todo o salão com rapidez, talvez mandassem eu para o interior do local, onde poderia investigar melhor.

Com o material em mãos comecei a esfregar o piso, molhando o esfregão no balde de tempos em tempos e passando pelo chão. Quando entrava em um corredor para limpar, colocava uma placa de "Piso Molhado" nos dois lados, assim ninguém entraria enquanto eu estivesse limpando, ou então entraria mas por sua conta e risco. Enquanto limpava aproveitava para procurar mais moedas espalhadas, certamente algumas deviam cair no chão. Esse povo rico não é de se abaixar para catar o que cai, possivelmente tinha muito mais de onde tinha vindo aquela. Mesmo enquanto trabalhava, não tirava os olhos da movimentação dos dois suspeitos no balcão ou de qualquer outra pessoa que parecesse envolvido com esse tal "esquema" criminoso. se eu tivesse sorte podia até encontrar algum cliente insatisfeito, pois aposto que muitos clientes também deviam ser furtados aqui enquanto jogavam. Se eu tivesse alguns relatos ou no mínimo pistas e suspeitas, podia traçar um plano.

Continuei esfregando o chão até ele parecer brilhante, mas como sempre, mantendo um olhar atento em tudo que podia, já que precisava caminhar bastante pelo Cassino para limpar tudo. Em uma das muitas voltas que eu dei entre as máquinas, cadeiras e clientes, notei que um homem muito bem vestido e com um porte elegante de superioridade havia adentrado o local, se dirigindo diretamente para o balcão de atendimento, onde os dois energúmenos se encontravam. Finalmente uma movimentação interessante ocorria por ali! Fui passando o esfregão pelo chão indo atrás do senhor com cara de chefão e fiquei alguns passos distantes, apenas para ver os dois atendentes se atrapalharem e ficarem cagando de medo do tal cara. Não aguentei e acabei soltando um riso abafado, enquanto me apoiava no equipamento de limpeza.

Depois de uma conversa rápida, o homem misterioso se dirigiu a uma porta que levava para os fundos do Game Corner, o que claro, fez meus olhos saltarem de curiosidade e me aproximar mais para tentar dar uma espiada. Para minha surpresa e alegria, o Chefão derrubou um copo cheio de bebida no chão quando tentava passar pela porta. Era a minha oportunidade perfeita de adentrar nos bastidores do local. Não esperei nem o chamado do rapaz do balcão, e assim que ele me olhou com uma cara feia, já me encontrava do outro lado do balcão, com uma pá e uma vassoura que peguei do carrinho de limpeza. - Com licença, senhor. Boa tarde! Vou limpar agora mesmo essa bagunça - E fui empurrando os cacos de vidro para a pá, mas mantendo meu próprio corpo para o lado de dentro da porta. Enquanto empurrava os cacos devagar, dava uma boa espiada no que tinha ali atrás e disfarçadamente carregava o conteúdo da pá para uma lixeira próxima. Voltando para catar mais e depois pegar o esfregão para tirar a bebida espalhada. Às vezes ficava cara a cara com o homem misterioso e dava um sorriso sem graça para quebrar o gelo, talvez com um bom serviço eu consiga mais espaço por aqui.

Fazer um bom trabalho com agilidade e eficiência pode ser a chance de escalar ao sucesso em qualquer empresa de respeito, porém diante de um possível mestre do crime como chefe, as chances de sucesso eram um pouco menores e da humilhação pessoal altíssimas. Entretanto, não me abalei com a fumaça de cigarro lançada diretamente no meu nariz e as cinzas no chão, afinal atrás do balcão haviam dois cães raivosos lutando para não esbravejar na frente de um superior. Segurei firme para não tossir e abri ainda mais meu sorriso encarando os dois jovens, que tiveram de sair da sua zona de conforto para ir conferir as máquinas de caça-níquel e me deixaram sozinhos com uma oportunidade única, afinal a porta para o corredor interno do Cassino havia ficado aberta e se fechava lentamente. Disfarçadamente assoviando, continuei esfregando o chão e dei um empurrãozinho no balde de água e sabão que possuía rodinhas, fazendo-o ficar bem na frente da porta e a segurando.

Tendo cautela de que ninguém me veria fazer esse movimento ousado, fui usando o esfregão corredor à dentro, espiando aquele lugar estranho, cheio de portas conforme passava. Assim que meu corpo finalmente adentrou o novo local, retirei o balde e deixei a porta fechar. O lugar inteiro estava completamente vazio e aproveitei para espiar com calma a primeira porta, primeiro tentando visualizar por um possível vidro ou fechadura, mas caso não fosse possível, tentaria simplesmente abrir a porta, sempre carregando meu esfregão. Se a porta estivesse fechada tentaria com a próxima, até que alguém me interrompesse ou uma delas finalmente abrisse.

Fiz uma análise das portas presentes e a maioria estava escura e silenciosa, possivelmente sem nenhuma pessoa. Não saberia se era algo bom ou ruim, afinal estava ali para investigar e às vezes era melhor ouvir do que ver. Pensando nisso, caminhava na direção da última sala, de onde vinha um som de pessoas conversando e uma luz, tentaria me esgueirar para ver o que descobriria e se me vissem fingiria estar limpando apenas, afinal esse é o meu trabalho, ao menos é o meu trabalho há pouco mais de uma hora. Entretanto, quando me aproximava da porta em questão ouvi um barulho vindo de outra antes silenciosa e aparentemente vazia. Um grunhido manso me fez voltar e tentar conferir o que era pelo vidro, mas sem sucesso. Possivelmente era um Pokémon e considerando o grunhido, poderia estar em perigo ou algo parecido. Tenho um fraco muito grande por esse tipo de situação, então mesmo com todo o risco, coloquei a mão na maçaneta e girei com cuidado para abrir, torcendo para não ser uma armadilha ou acabar destruindo todo meu disfarce.