n.2 Snake Oil

O elétrico ao lado de Johan parecia tão indisposto para tudo que chegava a ser patético. Ele observava seu próprio Pokémon com um risco de desprezo nas linhas de sua expressão. Talvez decepção? Ao menos aquelas ordens monótonas ainda fizeram com que ele se movimentasse um pouco. Pelo visto, o selvagem inimigo parecia ainda sofrer da batalha. Magnemite pareceu muito feliz em lança-lo ao tronco em certo momento, já estava até mesmo animado, esperando o decorrer da batalha. Johan deu um fino sorriso no rosto, talvez para encorar o que estava ao seu lado e lhe desse algum motivo para que continuasse seguindo ordens e batalhando. O treinador acabou por ter uma diferente opinião sobre Magnemite.

Sorriu um pouco ao ver a situação favorável para si mesmo. Magnemite parecia animado para mais alguns ataques. Era uma situação perfeita. Johan precisava continuar a luta da maneira mais natural possível, e, no fim, seria vitorioso em algum momento. Mesmo que o magneto acabasse por cair, ele terá feito o suficiente para que a vitória fosse alcançada e Johan pudesse continuar para a próxima sala. Era uma simples escolha de golpes que ajudaria Magnemite ficar mais tempo na luta.

— Parece que você leva a sério, Magnemite. Ótimo! Vamos com tudo, Supersonic e depois um Tackle! — Bradou Johan, com um grito de guerra para aumentar o espírito de seu Pokémon.

A situação não poderia ser mais favorável. Magnemite se encontrava em uma posição que favorecia sua auto estima e fizesse com que ele seguisse ordens como deveria. Era um cenário tão bom quanto o que Johan havia pensado. Os olhos de Johan ainda observavam bem aquele Magnemite, estava começando a notar algo nele... o que viria a ser?

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Magnemite continuava a dominar a luta contra o Kecleon maior. Ele estava tendo um rendimento melhor do que o esperado. Continuava a deixar Kecleon em um vórtice de sofrimento, impossibilitado de contra-atacar ou de fazer qualquer movimento que não fosse encolher-se em desespero e esperar pela morte. Isso também era mostrado na continuidade da batalha. Ele tentava fugir de todas as maneiras, mas acabava por sempre colidir com o maior obstáculo que poderia encontrar: um sedento e selvagem treinador. Psicótico. Deturpado. Apesar de tudo, a arma do treinador era um fraco Magnemite, mas estava sendo bem utilizado.

Magnemite ainda continuava a ficar fervoroso e preparado para a batalha. Parecia estar aproveitando as chances dadas a ele pelo universo, ou talvez pelo seu treinador, mesmo que o mesmo não colocasse tanta fé no elétrico. Estava confiante de que venceria. Talvez por ter deixado Kecleon na pior, talvez por ter sentido que ele havia feito aquilo com a força de si mesmo. Johan observava aquilo um tanto quanto intrigado. Imaginava o que estava se passando com Magnemite para que ele houvesse ficado daquela maneira. Embora, em poucos segundos, ele já soubesse os motivos, e dera um sorriso sobre ele.

— Muito bom, continue agora com mais uma sequência de Tackle, ataque com tudo! — Ordenava Johan.

Sua voz tinha um tom de quem encorajava Magnemite. Johan fazia isso com bons motivos. Não queria ter que passar novamente pelo perrengue de ter que ficar convencendo Magnemite à lutar para que pudesse ter um bom resultado em sua batalha, então a melhor forma de continuar o combate era manter o nível de confiança de Magnemite nas alturas, enquanto ele continuaria a lutar até que suas forças viessem a se esgotar, ou ele fosse derrotado pelo selvagem numa outra reviravolta. Johan ainda precisava decidir o que fazer com o Pokémon, suas opiniões continuavam a mudar à medida que a batalha dava continuidade.

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Kecleon continuava a se debater, e sua condenação naquela batalha já estava imposta. Era um tanto quanto interessante a maneira como Magnemite era conduzido na batalha, a menos para Johan. Ele mostrava que poderia seguir ordens o quanto quisesse, contanto que estivesse levando a melhor na batalha. E ainda conseguia resistir ao máximo para continuar servindo como a ferramenta que deveria servir naquela batalha. Enquanto isso, Kecleon já estava desnorteado. Não sabia mais o que deveria fazer, e somente sentia as dores infligidas à si pelo seu oponente quando tentava fazer qualquer outra coisa.

O treinador deu um sorriso malicioso. A batalha já parecia se aproximar do fim. Pelo visto, o Pokémon já havia saído da confusão, mas a paralisia ainda afetava os seus músculos. Era uma ótima situação para Johan. Ele só precisava continuar tomando proveito disso e causar mais problemas para ganhar mais tempo e continuar causando mais danos.

— Magnemite, vá até o fim! Continue com Supersonic e depois use mais um Tackle!

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E, finalmente, o momento do brilho de Magnemite apagou-se. Antes que se tornasse completamente fora de combate, ele conseguiu infligir mais uma confusão contra Kecleon. O selvagem, embora completamente entorpecido pelos efeitos negativos em seu corpo, conseguiu derrubar Magnemite com um golpe qualquer logo em seguida. O magneto havia lutado bem. Quem sabe realmente havia impressionado Johan para que ele decidisse realmente usar aquele Pokémon? As opiniões de Johan sobre Magnemite realmente mudaram naquela batalha. Mas não foi para melhor.

Retornando o desacordado Magnemite para a Poké Ball, Johan não poderia sentir mais nada do que uma apatia e uma sensação de que isso já havia acontecido antes. Era verdade que Magnemite havia feito uma boa luta, mas do ponto de vista de Johan, a história era outra. Magnemite, infeliz e desamparado com a vida, não passava de um covarde e fracote. Não lutava com tudo. Não tinha aspirações. Vivia apenas uma existência miserável. A prova disso era que, ao longo da batalha, somente por observar que estava levando a melhor sobre o oponente por conta de alguma virada do destino, ele ficou extremamente animado. Que defeito mais ridículo. Então, quer dizer que, se alguém julga que não vencerá uma batalha, ele tem automaticamente que desistir dela? E se a situação fosse outra? Se Magnemite não houvesse seguido os comandos de Johan e não houvesse conseguido fazer o que fez durante a batalha, como o treinador ficaria? De mãos abanando?

Patético. Era isso o que aquele Pokémon era. Patético e miserável. Que piada. Johan não precisava de um Pokémon como aquele. Ficava animado se as coisas estavam bem para o seu lado? Não havia de existir um defeito mais ridículo e patético. O treinador, observando como Kecleon se portava, precisava decidir qual o próximo Pokémon da lista. Deveria continuar com Scizor e terminar rápido com a batalha? Ou talvez seria melhor lançar um Pokémon mais saudável, menos cansado, para batalhar? Talvez torturar um pouco mais Kecleon? Sem demoras, Johan pegaria a próxima Ball, lançando então o seu "inicial", Gastly.

— Como vai, Gastly? Comece sua luta com um Hypnosis e em seguida use Toxic, hora de alguns pesadelos. — Diria Johan, serenamente, para o seu Pokémon.

Gastly ainda seria um bom combatente, mesmo que tivesse uma personalidade um tanto quanto passiva em relação à batalhas. Como um bom observador, um ótimo analista, ele conseguiria em algum momento ver aberturas suficientes para que Kecleon continuasse a acumular cada vez mais injúrias e efeitos em seu corpo. A começar por fazer com que ele dormisse tranquilamente. Johan já estava cansado de ter uma luta baseada no patético Magnemite, precisava ver mais algum de seus Pokémon em jogo. A massa de gás tóxico também precisava de experiência. Precisava continuar a lutar, mesmo que o seu papel fosse o de um conselheiro para Johan. Será que algum dia ele iria ser influenciado pelo seu treinador, e, no fim, se tornaria também um psicótico ser?

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Gastly entrava em campo e parecia satisfeito em lutar mais uma vez. Dado os comandos, eles começaram a movimentar. Antes que Gastly pudesse induzir o sono em Kecleon, ele acabou por tentar livrar-se do efeito por si mesmo, metendo sua cabeça em uma rocha, se machucando no processo mas conseguindo se livrar do movimento. Logo depois, tentou uma estratégia de camuflar-se para que Gastly não o encontrasse. E deu certo, de certa forma, ele conseguiu atingir o fantasma em meio às sombras, causando grande injúria contra o Pokémon, que revidou então com um envenenamento. A situação ainda estava boa, mas Johan estava um tanto quanto astuto em relação à batalha. Kecleon poderia até estar em más condições, mas se ele conseguisse atingir mais um movimento no frágil Gastly, era provável que o mesmo não conseguisse resistir muito tempo. Ele era forte, mas seu corpo não era projetado para receber quaisquer ataques à vontade.

Na continuação, a presa resolveu então utilizar a vantagem de sua habilidade corporal e tentou ficar semi visível. Presas costumavam ter um truque na manga quando estavam em maus lençóis. Foi a mesma coisa contra a batalha anterior, contra aquela estúpida garotinha. Johan observava a tentativa de Kecleon de continuar vivo, mas já estava planejando uma outra estratégia. Seria como se estivesse utilizando um coringa, mas não queria retirar Gastly da batalha naquele momento somente para que continuasse vivo. Apesar disso, havia o fato de que aquela não era uma batalha normal, e sim um desafio no Battle Pike. Se fosse muito imprudente, poderia acabar nem mesmo conseguindo avançar.

Era necessário, portanto, tomar uma decisão. Johan trincava seus dentes com a decisão que havia tomado, mas não tinha outra escolha. Se quisesse continuar a avançar e conseguir ficar mais forte dentro do corpo daquela Seviper, precisava segurar-se e não utilizar todos os seus recursos para obliterar seu oponente, mas sim racioná-los para que continuasse a vencer. Portanto, pegou a Ball de Gastly e apontou para o Pokémon.

— Gastly, eu preciso de você num futuro próximo, então retorne! — Diria Johan, trazendo de volta seu Pokémon e depois pegando outra Ball — Saia, Scizor! Procure o inimigo e desfira um Metal Claw!

A melhor opção era enviar Scizor para o campo. Ela tinha um corpo resistente, capaz de suportar os golpes de Kecleon, e sua resiliência era tamanha. Além disso, como um soldado, era natural que fosse enviada para a batalha para finalizar o seu oponente. Considerando estes pontos, havia também o fato de que Kecleon nem mesmo pudesse se mexer, ou seja, não haveria um perigo maior e nem preocupação alguma com um dano que, em teoria, não existiria. Johan observava o combate interessado no que aconteceria em seguida. Seus olhos pareciam devorar cada momento daquela luta, enquanto procurava qualquer sinal de Kecleon pelo campo, preparado para sua aparição repentina e pronto para observar Scizor metendo-lhe suas rubras garras metálicas em seu corpo. Será que iria se despedaçar? Talvez seu corpo se partiria ao meio? Ou um impacto somente seria o suficiente para lança-lo ao chão e terminar a luta, sem que seu corpo fosse comprometido pela eternidade?

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