#001 On the Run

A conversa final com Emily, antes de esta partir fora o suficiente para me deixar pensativo. A treinadora, especializada no tipo fada, tomou seu próprio caminho em busca de conhecimento e experiência. Havíamos tido um contato raso, mas fora o bastante para considerá-la uma pessoa boa.

Em sua despedida, apenas acenei com as mãos e com um singelo ‘nos vemos por aí’ cada um de nós tomou o seu caminho. Parti, novamente para as ruas da cidade. Enquanto caminhava, não consegui evitar olhar para atrás, como uma ultima despedida a garota que fora minha companheira de trabalho.

Suas palavras ainda estavam na minha cabeça, enquanto caminhava pela calçada. Olhei para Spheal, que me seguia de prontidão. Ao olhar para minha companheira percebi que a resposta sobre o que fazer, estava ali o tempo todo.

“Certamente uma batalha Pokémon, será mais interessante do que o treinamento, isso para nós dois”, foi o súbito pensamento que veio em minha cabeça. De repente paro e mudo meu caminho em direção ao Centro Pokémon local, certamente haveriam pessoas ali dispostas a uma batalha amigável.

O  Centro Pokémon mostrou-se movimentado. Certamente o local servia como ponto de encontro para muitos treinadores. A quantidade de conversas paralelas que aconteciam era considerável. Algumas pessoas conversavam com conhecidos por vídeo chamadas; outras pareciam ter se encontrado com alguns conhecidos, logo, colocando toda a conversa em dia.

Quanto a mim, um pedaço de carne fresca, me sentia completamente deslocado e perdido. Não estava acostumado com uma movimentação daquelas em o que seria praticamente um hospital. Na minha mente, lugares como este certamente seriam calmos e tranquilos, onde apenas ouviríamos a voz das enfermeiras e o choro de Pokémon enfermos. A situação que via era totalmente inversa aos meus pensamentos.

A enfermeira Joy, conhecida mundialmente pela quantidade gritante de irmãs que tinha, parecia sequer estar ali. A presença da bela dama de cabelos rosas era praticamente nula, quase como se fizesse parte da mobília. Sabia que tal maneira de ver as coisas era um tanto cruel, afinal comparava a mulher com um objeto inanimado e sem alma, mas era o que transparecia no momento.

Spheal, no entanto, parecia ater sua atenção em outra coisa. Assim que adentramos no local, poucos segundos depois, minha pequena já se escondia atrás de mim – embora, considerando seu tamanho e diâmetro, tal ação não se mostrava muito efetiva. Quando percebi do que se tratava pude notar que mais a frente um recém-conhecido nos agraciava com sua presença.

- Olha só, Spheal, é o seu amiguinho! – o tom de deboche na minha voz era nítido, fato este que surpreendeu até mesmo a mim. Um sorriso, com o mesmo temperamento, seguiu minha fala. A resposta que obtive foi um olhar de censura de minha Pokémon.

Meus pés impulsionaram meu corpo em direção a mulher alta que vestia branco. Parecia até mesmo que não era eu que estava sob o domínio mais. Toquei, gentilmente, no ombro da moça de cabelos azuis e, assim que essa se virasse para mim, iniciei um dialogo.

- Com licença, não pude deixar de notar que você possui um Spheal. Eu também tenho uma – apontei em direção a minha Pokémon. Spheal passara de azul para branca, uma cor atípica para a espécie. Imediatamente, procurando refugio, passou para detrás de um dos bancos. – Ela é um pouco tímida... Mas bem, há quanto tempo vocês dois estão juntos?

Parecia que havia me encontrado com a personificação da palavra ‘desinteressante’. A moça de cabelos azuis, a primeira vista, demonstrou ser alguém um tanto apática e completamente inversa a jovem treinadora que eu acabara de me despedir. Seu Pokémon, o Spheal, era outro que tinha uma personalidade completamente oposta a de sua dona.

Minha Spheal estava ocupada demais fugindo do ‘Don Juan’ para prestar atenção no que acontecia. A personalidade galanteadora de Spheal, em comparação a sua dona, chegava a ser agradável. Minha Pokémon, por sua vez, jamais concordaria comigo. Spheal buscava refugio dentre outros Pokémon e treinadores ali presentes.

- Sim, eu sou um treinador iniciante. Fica tão na cara assim? – olhei para mim, observando as minhas roupas e procurando alguma marca que evidenciasse o fato de eu ser um novato – Sobre o acasalamento... não tenho interesse nisso e acho que minha Spheal também não – olhei para a Pokémon, rindo internamente da situação que se encontrava – Dicas são sempre bem vindas, mas eu estava interessado em saber se você conhece algum ponto onde eu possa encontrar alguém para uma batalha.

Expliquei então para a moça de cabelos azuis a razão de eu ali estar. Em um tom natural e buscando ser educado, pois não queria ser mal interpretado. Disse para ela que eu e minha Pokémon éramos inexperientes no combate e como havíamos começado a nossa jornada há apenas algumas horas, ou seja, éramos ‘carne fresca’. Minha explicação fora breve, pelo jeito da mulher, ela não parecia muito disposta a conversas, afinal havia atrapalhado seu momento – já que estava a fazer uso de seus fones.

De prontidão, sem sequer fazer questionamento algum, segui a garota de cabelos azuis. Pude sentir certa satisfação vindo dela, quando esta exibiu suas insígnias. Estava de frente a uma grande treinadora, certamente. Os objetos eram pequenos e, para leigos, poderia passar um certo ar de meros brindes, mas a carga emocional que eu sentia emanando deles era grande – afinal tratava-se de um símbolo de vitória.

Parecia que, ao perguntar sobre desafios, uma chama acendia dentro da mulher. Teria eu me encontrado com uma amante de batalhas? Será que, depois de certo tempo de experiência como treinador Pokémon, eu ficaria daquele jeito também? Os questionamentos que fazia comigo mesmo eram infinitos.

Partimos em direção ao campo de treinamento, minha Spheal, percebendo que eu me afastava, não demorou muito para rolar em minha direção. A Pokémon passara com tanta velocidade que logo me deixou para atrás, sendo a primeira a passar pela porta que separava o campo da ala médica.

“Parece que teremos um desafio e tanto, Spheal..”. Olhava para minha Pokémon e para a mulher de cabelos azuis, certamente ela possuía um vasto conhecimento em batalhas. Quanto a mim, tudo que eu tinha obtido até aquele momento se dava por meio de batalhas transmitidas pela televisão.

A treinadora experiente parecia ter o dom de leitura da mente, logo, respondendo se tratava ou não de uma amante de batalhas, palavras estar que haviam sido mencionadas apenas em minha cabeça. Considerando que eu não era a pessoa mais expressiva ali, não havia sido minhas feições que deram a dica para ela, reforçando a ideia de leitura da mente.

Enquanto caminhávamos estas explicava sobre o seu elo com os Pokémon do tipo gelo e como dava tudo de si para extrair o melhor deles, de suas personalidades. Os conceitos que ela possuía, suas metas, objetivos e razões eram de se admirar. Se eu estivesse com um bloco de notas teria anotado tudo ali dito.

“Atribuir meus próprios conhecimentos para o crescimento dos Pokémon”, tomava nota mentalmente. Tais palavras entraram no meu coração.

De repente a treinadora saca uma Pokéball e libera a criatura de bolso ali contida. Era um Pokémon grande e pesado e seu tom era muito similar ao de Spheal, talvez por se tratar de sua forma evoluída. Eu e Spheal trocamos olhares, como se incrédulos que algum dia minha ela viesse a se transformar naquele ser colossal. Walrien, nome indicado pela minha Pokédex, tinha um porte de campeão.

A mulher que se encontrava a minha frente revelou-se uma colecionadora nata de insígnias, explicando brevemente o funcionamento e a vasta quantidade que havia. Com as suas palavras pude supor que ela já viajara por outros continentes, terras desconhecidas por mim.

Novamente outro Pokémon é retirado de sua Pokéball, dessa vez uma Vulpix – estava me tornando sagaz com a Pokédex. Esta possuía uma coloração alva como a neve. Ela seria a oponente de minha Spheal, que estava simplesmente admirando o grande ser imponente que era sua evolução.

- Muito bem, vamos Spheal. Parece que teremos uma batalha – minha pequena olhou em minha direção e foi ao meu encalce. A batalha iria começar. Pegando minha Pokédex conferia os movimentos que Spheal tinha. Seria uma experiência interessante para nós dois.

Respirando fundo e concentrando-me, começo a dar os comandos de ataque. O primeiro deles é para que meu Pokémon use o movimento Defense Curl, para aumentar sua defesa e embora eu não soubesse, consequentemente bonificar o próximo comando que era Rollout. Spheal, tinha praticidade em rolamento, afinal era o modo que esta usava para locomover-se na maior parte do tempo. Minha ideia era simples que ela fizesse uso disso, atacando seu oponente nunca na mesma direção, enquanto rolava.