(004) - This Is Why We Can't Have Nice Things

Mochi conseguia realizar o que eu pedi com perfeição. Utilizando de seus poderes psíquicos, conseguia colocar os esporos de um dos lados do túnel, enquanto atravessávamos rapidamente pelo outro.

— Muito bem, meu amor! Estou orgulhosa! — comentava com Kirlia, que parecia feliz com seu êxito — Vamos caminhando que ainda temos bastante chão pela frente.

Talvez estivesse errada, já que andamos por mais alguns metros até perceber uma espécie de Pokémon mais distante. Parecia uma flor, que certamente eu já havia visto em algum lugar. Saquei minha Pokédex e logo obtive as informações necessárias: se tratava de um Vileplume, comum na região de Kanto. Apesar de bela, a planta não parecia feliz em me ver, já que rapidamente começava a lançar mais esporos em nossa direção. Batalhar naquelas circunstâncias não era o essencial, qualquer tremor poderia trazer aquele túnel abaixo.

— Mochi, preciso que faça o que fez da última vez, coloque os esporos de um lado só da parede. — apontei na direção da Pokémon — Vou tentar conversar com ela.

Dei mais alguns passos, enquanto observava os esporos serem envoltos pela energia psíquica de Confusion. Me aproximei um pouco mais de Vileplume, mas não muito, já que não sabia o que ela poderia fazer. Me agachei, na intenção de ficar na altura do rosto do Pokémon; li uma vez que isso ajuda a dar confiança a eles. Sei lá se era verdade, mas não custava tentar.

— Oi Vileplume, tudo bem? — acenei para ela, com um sorriso simpático — Estamos fugindo de duas pessoas muito más e ainda tenho um Pokémon ferido comigo! — voltei um pouco para pegar Starmie no colo novamente, fazendo carinho em seu rubi que piscava — Precisamos de ajuda, será que você pode nos ajudar?

Dei outro sorriso na direção da planta, tentando mostrar ao máximo que não continuasse lançando esporos e que nos acudisse; sabe-se lá se ela tinha algum treinador e que pudesse nos ajudar? Na pior das hipóteses, ela ao menos nos deixaria passar para continuarmos fugindo.

Com mais uma vez Kirlia conseguindo limpar os esporos do caminho, comecei a perceber que Vileplume diminuía a intensidade dos mesmos até eventualmente parar. Ao poucos, uma discussão no idioma ininteligível deles começava a se dar; conseguia ver que a planta se comunicava com a estrela-do-mar, no final até mesmo meus pequeno entravam na conversa. Parecia que ela e Starmie se conheciam, talvez fossem da mesma treinadora? Quem sabe?

Aguardei por alguns segundos para ver no que se dava, mas no final das contas, Vileplume encerrava a discussão com seu bracinho. Começou a caminhar na direção de uma bifurcação. Pensei um pouco se realmente era seguro, mas eu não tinha opção: voltar por onde tinha vindo só me levaria até os assassinos. Segui a Pokémon de planta na esperança de chegar a um lugar a salvo.

— Vileplume, acho que sua amiga precisa de cuidados... — disse com um baixo tom de voz, na esperança dela simpatizar um pouco mais comigo — Kirlia ainda usou alguns Heal Pulse nela mas acho que não foram suficientes

Para onde será que estava me levando?

Não sabia o que estava acontecendo. De fato, minha consciência pesava ao lembrar que Zoroark praticamente havia se sacrificado para me salvar; um Pokémon nobre com um coração de ouro. Respirei fundo enquanto seguia Vileplume com meus psíquicos, Starmie parecia continuar conversando com sua aliada, até que chegávamos em um depósito diferenciado.

O cheiro de pólvora era evidente desde que entrei junto com a planta e com as diversas caixas gentilmente distribuídas por toda extensão do local, mostrava que ali certamente não era um lugar onde alguém se esconderia se tivesse escolha. Caminhamos por mais alguns segundos, até adentrarmos uma porta protegida por outro Pokémon; esse eu conhecia bem, era um Marowak, monstro de bolso famoso por ser brigão e estar sempre de mal humor. Este, porém, era diferente: parecia preocupado demais para agir pelo esteriótipo que sua espécie carrega.

Percebi que deitada no chão, jazia uma mulher loira, com feições belíssimas. Loira, assim como eu, porém com uma cicatriz distribuída em sua testa na diagonal. Não parecia respirar direito e era gentilmente cuidada por outro Pokémon; este eu não sabia o nome, mas não era hora de retirar minha Pokédex para obter informações sobre. Minha feição mudava para surpresa, sem sombra de dúvidas, aquela era a mulher que eu procurava anteriormente. Aquela era Margo.

— Olá, pessoal. Me chamo Karinna e esses são Sushi e Mochi. — entrei aos poucos na sala, me apresentando para todos os Pokémons ali presentes — Estava a procura de sua treinadora... — comentei com o Pokémon voador que soprava ventos gélidos no rosto da jovem — Ela parece estar bem mal.

O que podemos fazer? Em breve os malfeitores passarão por Zoroark e nos encontrarão aqui.

Pensa, Karinna.

Engoli seco, tentando absorver toda aquela imensidão de informações na cabeça, sem deixar que a ansiedade e o pânico tomassem conta de mim. Naquela situação, Margo não conseguiria correr, não conseguiria fugir e acabaríamos todos vítimas dos malfeitores acima de nós.

É claro.

Caminhei calmamente até onde a jovem loira estava deitada. Retirei o moletom cor-de-rosa que visto com certa dificuldade, talvez por estar tremendo um pouco com tudo que está acontecendo. Pedi licença gentilmente para o Pokémon azul voador e posicionei a vestimenta como um travesseiro.

— Mochi, coloque Starmie gentilmente no chão. — o psíquico obedecia — Agora venha aqui, coloque suas mãozinhas sobre o tórax dela. — Kirlia caminhava com certo receio, mas confiando plenamente em mim — Precisamos ajudá-la a melhorar, tente utilizar seu Heal Pulse quantas vezes seguidas conseguir.

A ideia era mais um tiro no escuro, mas comparado a tudo que já havia passado hoje, era o necessário. Claramente os Pokémons da jovem a amam demais para estarem cuidando sozinhos dela; de fato, algo que acalentava meu coração em meio à essa loucura que me meti. Aliás, era isso que me fazia ajudá-la: se essa mulher criou um Pokémon tão bom quanto Zoroark, era no mínimo uma pessoa decente.

— Margo, o que aconteceu? — disse enquanto tirava um pouco do cabelo da jovem de seu rosto para que pudesse respirar melhor — Estão atrás de você e agora acho que de mim também. — observei o corpo da jovem ser envolto por uma aura cor-de-rosa projetada por Kirlia — Preciso que você acorde.

O estresse era evidente. Meu corpo começava a suar, não só pelo local ser quente por ser embaixo da terra, mas também por toda a tensão que pairava sobre o ar. Agora com Kirlia realizando seu movimento de cura, Margo parecia recuperar um pouco de sua consciência e a primeira coisa que fazia era me mandar fugir. Fugir. De novo.

— Não posso te deixar, aqui. — olhei para a garota, que parecia estar a beira da morte — Seu Zoroark foi muito bom comigo, é uma dívida que tenho a pagar. — ajeitei a cabeça da garota no meu moletom, levantando e ajeitando sua coluna — O que está acontecendo, Margo? Fala comigo. — sinalizei com a mão direita para que Mochi continuasse utilizando Heal Pulse — Podemos tentar sair juntas daqui.

Meu ouvido esquerdo conseguia escutar um barulho estranho vindo da saída de ar, parecia chuva? Estranhei porque o céu estava limpo quando cheguei na rota, mas havia perdido completamente a noção do tempo e espaço desde que Oswald apareceu.

— Preciso que você seja forte. — joguei meu rabo-de-cavalo para trás, não queria que caísse sobre o corpo da garota — Tente se recuperar.