(004) - This Is Why We Can't Have Nice Things

Margot agora melhorava um pouco e era visível, porém mesmo assim não era o suficiente para sairmos rapidamente dali. Meu coração batia a mil por hora, minha boca seca de tanto tempo sem beber ou comer algo começava a me incomodar. Observei o túnel e de repente uma voz ecoava pelo outro.

Gelei.

Respirei fundo novamente. Entrar em pânico não era o ideal, mas é como se eu pudesse sentir a adrenalina correndo pelas minhas veias. O frio na barriga era evidente e de repente meus olhos encheram d'água: se eles chegaram até aqui, é porque passaram por Zoroark. O que será que aconteceu com o Pokémon?

Só tinha uma saída. Eu não podia entregar Margo de bandeja para os malfeitores. Seus pequenos estavam preocupados e nervosos com tudo que estava acontecendo. Olhei para Sushi e sorri; o psíquico consentiu imediatamente. Somos amigos de longa data, então ele sabia exatamente o que eu estava pensando. Kadabra foi meu primeiro Pokémon, com ele que percebi que era possível amar e se apegar novamente. Que era possível ter uma família de verdade.  

— Mochi, preste atenção. — me abaixei para falar com Kirlia — Quero que você use seus poderes para levar a Margo e seus Pokémon na direção daquele túnel, tudo bem? — coloquei minha bolsa com os ovos, meu violino e os demais pertences no braço da jovem loira — Eu e seu irmão ficaremos aqui para distraí-los enquanto vocês fogem. — o Pokémon fada parecia não aceitar os meus termos, ele de fato não gostava de ficar longe de mim — Faça isso, por favor. Assim que sair, procure ajuda. — fiz um carinho na cabeça dele, já levantando — Não se preocupe com a gente, já lidamos com coisa pior.

Era complicado. No fundo, me arrependia de ter me metido em toda essa confusão; mas sendo uma grande fã da frase "tudo acontece quando tem que acontecer", não me restava dúvidas do que fazer. Mandei todos andarem na direção do túnel e comecei a tapar junto com Sushi a entrada do túnel de onde os malfeitores vinham. As caixas de explosivos eram bem pesadas, então, existia certa dificuldade em colocá-las lá. Se quisessem me matar, ao menos morreriam junto.

— Quero que ele se foda junto com vocês. — comecei a deixar a Karinna não-tão-adormecida sair — A não ser que queiram explodir junto comigo aqui embaixo. — gritei me afastando das caixas e indo para a entrada do túnel que Kirlia e os demais seguiriam — O que querem comigo?

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Queria começar a tremer, mas entrar em pânico naquele situação não era a melhor coisa a se fazer. Com a organização das caixas, comecei a criar uma trilha que levava até o começo do túnel que Kirlia seguiu com Margo. Corri, na intenção de tentar alcançá-los.

— Tenho certeza que ela vai superar... — continuei debochando deles, na intenção de passarem sem cuidados pela armadilha — Se não, tenho certeza que consegue comprar em qualquer sex shop. Inclusive... — corri mais um pouco, tentando chegar próxima a eles — Que fetiche estranho esse de vocês.

Minha ideia era simples, mas talvez efetiva. Quando alcançassem as caixas eu mandaria Kadabra utilizar Psybeam na direção da primeira caixa da trilha, que causaria com que as outras explodissem em cadeia, até chegarem no empilhado de caixas que explodiriam todas de uma vez. Talvez, se eu corresse mais um pouco, encontraria a saída. Talvez desse sorte da explosão não pegar em mim. Muitos talvez e poucas certezas. Mas não tinha o que fazer.

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Sabia que era uma ideia maluca, mas era tudo que eu podia fazer no momento. Ao ouvir as ordens do homem para seu Gigalith atacar, abracei Kadabra e fechei os olhos, esperando o fim mais próximo: não dava tempo de fugir, não dava tempo de correr, nada. Os poucos segundos antes do Pokémon de pedra atacar pareceram uma eternidade, minha mente só conseguia pensar que eu poderia ter mandado meu psíquico embora junto com os outros e ficado sozinha. Talvez tenha sido egoísmo, mas sei que ele não me deixaria só também. Começamos juntos, terminaremos juntos.

Acordei.

Como assim, acordei?

Estava em lugar estranho, com algumas pelúcias e uma cama muito confortável, talvez a melhor que já deitei na vida. Minha primeira reação foi procurar Sushi, mas não o vi diretamente. Será que eu estava no céu? Esquisito, já que jamais imaginei que seria uma das pessoas escolhidas para irem para lá. Uma voz feminina me chamava do lado de fora do quarto me chamando de filha. Filha? Não ouço essa palavra há tanto tempo se referindo a mim que meu cérebro até demorou até processar a informação.

— Oi? — levantei aos poucos, abrindo a porta logo em seguida — Está falando comigo?

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Minha cabeça continuava confusa: como saí de uma morte iminente para aquele quarto? Quem era essa mulher que insistia em me chamar de filha e querida? Muitas perguntas ainda sem respostas. Me ajeitei, levantando e soltando meu cabelo, já que o clima aparentemente era mais tranquilo e não precisava prestar muita atenção. Apesar disso, não abaixaria minha guarda imediatamente, já que estava em um local desconhecido com uma mulher também desconhecida.

Segurei a maçaneta, mas sem abri-la.

— Onde estou exatamente? Estou um pouco confusa. — perguntei, tentando entrar na onda da conversa da mulher, porém ainda sem abrir a maçaneta — Sabe onde estão meus Pokémons?

Decidi olhar em volta do quarto, para ver se reconhecia alguma coisa, além de procurar alguma janela que me mostrasse onde estava. Além disso, meus pequenos não estavam em lugar algum a vista, nem minha bolsa com meus pertences. Algo estava muito estranho, mas talvez eu estivesse com a guarda levantada demais: o tom da mulher parecia verdadeiro.

Bufei, já preparada para que alguma merda acontecesse assim que abrisse a porta.

E assim, abri.

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Abri a porta.

Assim que a grande porta de madeira se abriu, meus olhos não conseguiram acreditar no que estava na minha frente. Era... Minha mãe? Mais bem cuidada, mas exatamente como eu me lembrava. O problema de se perder alguém tão jovem quanto eu perdi minha família era o fato de ter começar a esquecer as coisas. Haviam dias que eu esquecia a voz dela e da minha avó. O cheiro dos seus cabelos. Do cozido de legumes que empesteava a casa inteira e que eu detestava, mas que hoje é uma das minhas memórias favoritas. Como era possível?

Meus olhos encheram d'água. Minhas pernas tremiam e eu mal conseguia abrir a boca para falar; eu tentava mas apenas gaguejava. Meu coração palpitou de uma maneira nunca antes sentida, ao menos agora batendo aliviado ao saber que meus Pokémons estavam bem. As lágrimas escorriam pelo meu rosto tão rápido que alcançavam meu queixo e o chão em milésimos de segundos.

Abri um sorriso ao ver a mesa de café da manhã lotada de comida. Sempre foi o sonho da minha mãe ter uma dessas quando era viva, mas não tínhamos condições. Era um pão com manteiga e olhe lá, sem falar no café passado no coador e que mal dava para todo mundo. Ela se orgulharia muito de fazer uma dessa antes de falecer.

Antes de falecer.

A ficha estava caindo aos poucos. Ter minha mãe fisicamente ao meu lado era tudo que eu queria na vida. Minha avó não parecia estar presente, mas tudo bem, não se pode pedir muito. Mas como eu sonhei com o momento de vê-la novamente. Quantas vezes pedi para Arceus para que me desse ao menos um minuto com elas para que dissesse tudo que nunca pude dizer. E agora estou aqui, estática.

Corri para abraça-la, mesmo sabendo que ela detestava abraços. Talvez por causa do agressor que chamava de pai ela nunca foi a pessoa mais afetuosa do mundo.

— Mãe, que saudade. — continuei chorando, com os olhos já vermelhos e irritados — Eu te amo, mas... — olhei para ela: o sol refletido da janela deixava os olhos azuis dela ainda mais mágicos — Como isso é possível? Eu morri também?

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