[Battle Tower] Terceira Fase Amadora: Luta B2

Tá.

Talvez eu não esteja tão mal quanto imaginei. Duas vitórias seguidas! Quem diria, né? Comecei esse evento duvidando da minha capacidade, ainda mais depois de deixar para trás o suposto Pokémon lendário que vivia no Monte Pyre. Triste imaginar que se tivesse tido um tiquinho mais de confiança eu teria subido aquele morro e talvez encontrado o causador de toda aquela tempestade.

Depois de um merecido descanso nos dormitórios do Centro Pokémon, era hora de seguir para minha última batalha antes da invencível Anabel. Se eu queria ter chance de ir para Galar, a hora de dar tudo de mim era agora. Um único obstáculo me separava do que tanto almejei durante todos esses dias: Yellow de Veridian. Que nome tosco, inclusive. Imagina se eu me chamasse Karinna de Olivine, haha.

Essa tarde me reservei ao direito de não surtar. Depois de arrancar sangue da fada de Ren essa manhã, me divertir com isso e adquirir mais uma reputação para o meu currículo — como se já não bastasse a que consegui na Wallace Cup. Se eu tiver que ganhar da loira de farmácia, vai ter que ser na pura força de vontade, sem desonestidade, nada.

Comecei a subir os elevadores da Battle Tower um pouco antes da hora. Minha antecipação tinha um nítido motivo: passaria no andar de baixo para ver, mesmo que brevemente, a batalha de Natalie contra Katakuri. Respirei fundo umas duzentas vezes. Claro, "duzentas" é uma hipérbole, mas a verdade é que minha cabeça sequer consegue funcionar direito agora. Minhas pernas tremem e minha mente parece não querer se conectar com elas. Me pergunto se isso é o certo a se fazer, mas meu coração merece ao menos um conforto em saber que ela ficará tão incomodada quanto estou todas essas semanas.

Em um ato súbito de adrenalina, adentrei a maldita arquibancada.

Meus olhos primeiro se voltaram para o treinador de dragões. Pra variar, ele estava flertando. Nada de novo sob o sol: imagina se eu ia pensar que era a única mulher no mundo que Katakuri azararia? Só pela nossa batalha já dava para saber que ele era um expert nisso, apesar de ser todo sem jeito para tal coisa. Balancei a cabeça negativamente e meu consciente finalmente libertou minha vista para enxergar Natalie.

A verdade é que antecipo esse momento há muitos e muitos anos, mas meu corpo parecia ter sido paralisado instantaneamente assim que percebi suas ruivas madeixas refletindo sobre as luzes da arena. Não conseguia me mexer. Gritar. Dar o dedo do meio. Nada. Nenhuma das possibilidades que pintei na minha mente para fazê-la pagar pelo que fez comigo. Tinha todo o script pronto na minha cabeça! Mas que merda! Era como se agora só restasse a carcaça do que uma vez foi Karinna Bley.

E fiquei assim por uns bons minutos. Atônita, completamente desorientada. Quando dei por mim, era como se toda aquela imensidão de água que cerca Mu Island estivesse saindo pelos meus olhos. Fiquei fraca e acabei me escorando na parede de uma das entradas da arquibancada. Engoli seco e esperei. Ela tinha que me ver. Ver como eu estava. Ver o que fez comigo durante todos esses anos. Ninguém pode fazer tão mal a uma pessoa e viver exímio de culpa.

Não consegui resistir e debulhei em lágrimas. Não como se tivesse chorado tudo que guardei durante todos esses anos, isso estava reservado unica e exclusivamente para Chase, mas foi bastante. Meus olhos começaram a arder e não podia mais ficar ali, sob nenhuma hipótese: mais alguns segundos e tenho certeza que aquela sensação mórbida e pesada de tristeza drenaria toda minha energia. E eu ainda precisava batalhar.

Já soluçando, busquei a esfera de Alakazam e liberei o psíquico. Sushi geralmente tendia a agir feito um adolescente, mas sendo do tipo que é, já sabia do que se tratava e não fez uma única gracinha. Com seus braços me ajudou a levantar e juntos subimos até o vigésimo segundo andar. Com meu nome sendo anunciado, não tinha tempo de me recompor e caminhei até a arena. Lá, Yellow queria interagir comigo a qualquer custo enquanto liberava Espeon em campo. Inclusive, sequer reparei na belíssima mulher que julgaria meu embate.

— Tsc. Me erra, garota. — com os olhos avermelhados, tratei de limpar o que restava das lágrimas e ignorei todas as perguntas da treinadora — Sushi, não se preocupe comigo! Precisamos vencer! Comece com um Shattered Psyche no Pikachu, siga com seu Psychic no mesmo alvo. Se ele já tiver caído foque a borboleta. — respirei fundo, tentando me concentrar — Espeon, use Psychic e Shadow Ball no Pikachu. Se ele já tiver caído, foque Butterfree.

Battle Tower!

Precisava me controlar. Quer dizer, não entendo muito bem o porquê de sentir tanto assim o que aconteceu muitos anos atrás. É exagerado, sem dúvidas, mas perder minha família repentinamente quando pequena e depois uma amiga-irmã tão repentinamente quanto me marcou muito. Talvez fosse hora de finalmente deixar Natalie para trás junto com Olivine City e as memórias daquela maldita cidade. Sou uma adulta hoje, mãe/treinadora de vários psíquicos que me dão bastante trabalho: ir até aquela arquibancada e me prestar aquele papel foi algo completamente ridículo. Pra que me submeter a algo assim? Pra tentar ser vista? Pra dar o troco? Não existe nada pior que o esquecimento e a indiferença. E é assim que a banda vai tocar daqui pra frente, hoje tenho ótimos amigos e pessoas que tenho certeza que me darão cobertura quando precisar.

Quando dizem por aí que sou maluca, talvez seja verdade. Vezes meu consciente luta para segurar certas emoções e vezes não. Quem diria que essa epifania mandaria minha tristeza embora quase que instantaneamente? Sei que é um processo, mas se for assim, estamos começando bem. Cogitei brevemente a ideia de ser bipolar, mas acho que só estou acostumada mesmo: aconteceu o mesmo na primeira vez que fui à rota 121 e passei por aquele pesadelo com Margo e Maxima... Se eu tivesse me rendido ao medo e nervosismo, talvez estivesse morta.

Respirei fundo e abri o primeiro sorriso depois de muitas e muitas horas. Aproveite para soltar minhas longas madeixas, o que já virou quase que um sinal quando estou prestes a focar de verdade em uma batalha: inclusive, não sou muito disso, mas talvez devesse pedir desculpas a loira adversária. Tão nova e eu aqui igual uma velha desgraçada, caduca e mal educada.

— Muito bem, Sushi! Agora tente acordar! Sei que vai ser difícil por estar confuso em seus próprios sonhos, mas lembre-se de todos nossos treinamentos! Tente usar seu Psychic mais duas vezes! — voltei minha atenção para Manju — Filha, utilize seu Covet e siga com mais uma Shadow Ball! — abaixei a cabeça e juntei ambas as mãos como em prece — Yellow, sinto muito pela grosseria. Tive um dia ruim, mas não é sua culpa. Que tal eu te pagar um sorvete depois da batalha como pedido de desculpas? — agora me virava para a platéia, não poderia deixar de interagir com o público sendo uma coordenadora — Como vai, Mu Island? É uma batalha difícil e ambas daremos nosso máximo para vencer!

Battle Tower!

E... não é que venci? A tão poderosa Yellow e seu forte Pikachu eram derrotados pelos meus pequenos. Abri um enorme sorriso e assim que a apresentadora terminou de dizer nossos nomes, corri até Manju e abracei o ainda adormecido Sushi.

— Vocês são incríveis. — dei um beijinho na testa de cada um, retornando-os logo em seguida ao ver a garota se aproximar — Yellow! Vamos, então? Estou faminta. — dei uma risada, permitindo que envolvesse seu braço no meu — Bom que no caminho você me conta como anda sua jornada com seu Pikachu. Ele dizimou os outros times! Vocês tem uma conexão muito forte.

Assim sendo, nos retiramos da Battle Tower e fomos diretamente até a sorveteria. Diante do calor característico de Hoenn nada melhor do que isso, certo? A loira parece falar de mais, mas acho que é até bom pra mim... Estava precisando de alguém que me fizesse rir nem que fosse das menores bobeiras do universo. Em pensar que tratei-a mal à toa.

Depois, era hora de descansar para o monstro que me aguardava no dia seguinte: Anabel. E sua reputação falava por si só.

Battle Tower!