Capítulo 12 - Mogno [Tielo]

Cap. 12 — Mogno.

Transparecendo preocupação, Dustox acabava abaixando sua guarda ranzinza e demonstrando para seu treinador que, de fato, sentia muitas coisas dentro de seu coraçãozinho. Por enquanto o cigano não sabe, mas talvez uma conversa sincera no futuro revele uma mariposa diferente da que ele conhece há todos esses meses — ao menos uma camada desconhecida por trás do grande muro de emoções que Dustox levantou sobre si própria. Diferente da venenosa, Miltank parecia animada em procurar Trubbish, talvez por conta de sua personalidade acredita que pode acalmá-lo o mais rápido possível. Assim sendo, ambas monstrinhas seguiram na direção que o pequeno saco de lixo fugira.

O desespero no rosto do homem era evidente: se resumiu a não falar absolutamentte nada, somente encarando Tielo, que pouco se importava com sua presença. Swampert e Machoke trocavam os mesmos ataques mais uma vez, só que agora o aquático conseguia nocautear o lutador com seu último golpe. E aí que mora o problema: irritado e já sem Pokémon para defendê-lo ou impedir Tielo, ele partiu para cima do cigano. Swampert, ao entender a intenção do malfeitor e buscando proteger seu treinador, arremessou sua mão aberta contra a cabeça do homem, arremessando-o contra a árvore de grande caule que enfeitava o campo de batalha. Um único barulho de estalo era escutado quando o corpo do homem acertou a árvore, com o malfeitor caindo como se não fosse nada em cima do folhiço. Swampert voltou sua atenção para Tielo com ambos olhos arregalados, que logo mutaram e deram lugar a uma expressão entristecida, com o aquático correndo até o cigano como se ainda fosse um pequeno Mudkip, buscando por refúgio com lágrimas nos olhos. Tudo aconteceu rápido demais e qualquer um que conhecesse Swampert sabia que o Pokémon, sempre tão amigável e simpático, não estava confortável com o que fez. Quiçá a absurda força recém-adquirida com a evolução somada ao calor da emoção teve um resultado diferente do esperado, mas como Tielo lidaria com seu inicial que agora muito provavelmente teria medo de usar sua própria força depois disso?

Além disso, Miltank e Dustox estavam procurando por Trubbish dentro da floresta, com o treinador sem saber onde se encontravam no momento.

Muitas coisas para resolver, bufão...

E agora?

Cap. 12 — Mogno.

A relação entre Tielo e Swampert era tão forte que tornava-se quase palpável. Como uma criança amedrontada, o aquático pediu colo para o cigano, que prontamente lhe encheu de ternura, com palavras doces e explicações mais do que necessárias para um infante que duplicou de tamanho sem mais e nem menos. O inicial ainda estava tentando entender a sua força e, sinceramente, Tielo não se importar com o malfeitor talvez tenha sido a melhor escolha. Deixe Swampert acreditar que somente machucou o homem e, bom, não que o ceifou a vida. É um probabilidade...

O que os olhos não vêem o coração não sente, certo?

Com o aquático mais calmo e descansando dentro de sua esfera metálica, Tielo caminhava sozinho pelo folhiço da floresta temperada de Mahogany. A direção que suas pequenas seguiram atrás de Trubbish parecia ter sido muito pouco explorada, com quase nenhuma interferência humana visível a olho nu. As árvores começavam a ficar mais afastadas umas das outras, dando lugar à pequenos arbustos cheios, alguns formando diversos "montinhos" de folhiço, muito provavelmente lares de algum roedor selvagem.

O treinador caminhou por cerca de cinco minutos; apesar da beleza infindável do local, onde as folhas alaranjadas caíam sopradas pelo vento gélido que dançava dentre a floresta, não havia nenhum sinal de Dustox e Miltank. Nenhum.

Até que o cigano conseguiu ouvir um leve latido ecoar à noroeste. O latido continuou, agora em um ritmo controlado, quase como a percussão de uma música. Não demorou muito para que um segundo latido se juntasse ao primeiro; desajeitado e um pouco fora do ritmo, mas claramente se esforçando ao máximo. Ao se aproximar o suficiente, Tielo veria Miltank e Trubbish, ambos interagindo com dois selvagens. O primeiro era um Houndour, dono do primeiro latido; o segundo, um Snubull. Miltank dançava no ritmo da música improvisada, aproveitando para pegar alguns folhiços e jogar para o alto, principalmente em cima de Trubbish, o qual estava sentando rindo e se divertindo bastante com toda atenção que lhe estava sendo dada. Dustox não estava presente à princípio, mas logo apareceu carregando algumas Oran Berries com seu Confusion, colocando-as gentilmente no chão.

A venenosa foi a primeira a perceber a presença de seu treinador. Dustox, que até mesmo dançava no ar disfarçadamente no ritmo dos latidos, parou, sem graça -- igual como quando pegamos crianças fazendo coisas no flagra. Ao perceber a mudança repentina de sua amiga, Miltank voltou seu olhar na direção que Dustox olhava, encontrando Tielo. Houndour e Snubull a princípio se assustaram bastante, cessando a cantoria e correndo para trás de um arbusto próximo, onde somente seus olhinhos e orelhas ficaram de fora, observando o que o cigano iria fazer. Era uma cena cômica, para não dizer adorável. Em seu idioma initeligível, Trubbish e Miltank pareciam conversar com os selvagens, tentando explicar que o bufão não iria lhes fazer mal, o que demorou um tempinho, mas conseguiram convencê-los. Exibido, Houndour ja saiu balançando seu rabinho e se introduzindo para Tielo, enquanto Snubull timidamente acenava para o treinador.

Em que universo o rapaz acreditaria encontrar outros dois amantes de artes no meio de uma floresta gelada?

Cap. 12 — Mogno.

Depois de alguns minutos bem conturbados, era bom ver Tielo estreitar seus laços com ambas pequenas naquela floresta de beleza incomparável. Com seu violão, o cigano decidia tocar uma música, uma atitude que encantou ambos canídeos de tal maneira que até demoraram para acompanhá-lo na cantoria. Miltank, com um sorriso de orelha à orelha, dançava no ritmo da música, jogando mais e mais folhiço para o alto como se funcionassem como confettis de comemorações. A Normal-type parecia levar o jeito para apresentações, apesar de novinha. Trubbish concordava com a fala de Tielo, aproveitando seus minutos restantes com o bando de artistas para, então, retornar para Aiko.

Encerrada a música, cada monstrinho pegou uma Oran Berry, com exceção de Dustox que parecia reclamar em seu idioma ininteligível que já teve trabalho para encontrá-las, então não carregaria nada. Houndour e Snubull, mesmo conhecendo Tielo há pouquíssimos minutos, se sentiam confortáveis o suficiente para caminhar ao seu lado, com o ígneo tentando cantar no ritmo da música que o musicista o fez, mesmo que abafado pela frutinha em sua boca. Uma graça.

Nosso grupo não demorou muito para encontrar a trilha de volta, mas todas aquelas pessoas transeuntes deixavam os canídeos um pouco receosos. Com pequenos cries, tanto Houndour quanto Snubull parecia se comunicar com Tielo, dizendo que estavam preocupados e intimidados com todas aquelas pessoas -- isso porque Mahogany é um vilarejo pequeno, imagina se fosse uma metrópole -- reforçando que, muito provavelmente, ambos pequenos não tiveram qualquer interação com seres humanos desde que nasceram.

Trubbish e Miltank, então, começaram a conversar com os pequenos. A mais nova membra da família Soul parecia explicar que não precisavam ter medo, apontando para Tielo, como quem disesse que o treinador deixaria ambos seguros, custe o que custar. A confiança que Miltank possuía no cigano era de se admirar, ainda mais por conta do pouco tempo que estão juntos. Ainda assim, parecia que o treinador que precisaria conversar com os cachorrinhos para tentar convencê-los de acompanhá-lo até a barraca de Choco e Aiko.

Caso Tielo o fizesse, veria que os mesmos possuíam uma espécie de ferida próxima da ponta de seus rabinhos, provavelmente por coceira; não era nada demais, evidente ser por conta de viverem sempre na selva em meio à micro-organismos e sujeira. Muito provavelmente sairia com um banho bem esfregado.

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Sem muitos esforços, Tielo pedia para que Trubbish confirmasse que Swampert era bem forte e poderia protegê-los no caso de qualquer ameaça. E assim o pequenino saco-de-lixo o fez, conversando em seu idioma ininteligível ao ponto de arrancar um sorrisão de Houndour e Snubull, com direito ao ígneo até mesmo colocar sua língua para fora e ficar arfando, curioso para conhecer o aquático. Com isso, toda a trupe decidia seguir o venenoso até sua dona, que o aguardava ansiosamente.

Alguns olhares estranhos observavam o cigano, muito provavelmente por estar caminhando com dois monstrinhos selvagens e machucados pela cidade. Até mesmo cochichos poderiam ser ouvidos, com Miltank colocando as mãos na cintura, aborrecida pelo comportamento dos humanos. Não demoraram muito e chegaram na barraca de Aiko, onde a pequena, assim que viu Choco, correu para abraçá-lo.

— Obrigada, tio Tielo! — a pré-adolescente sorria de orelha à orelha, abraçando o cigano logo em seguida — Ele te deu trabalho, né? Esse cabeçudinho! — deu uma risada, observando Houndour e Snubull — São seus também? Que bonitinhos! — o buldogue se escondeu atrás das pernas de Tielo, tímido, mas o ígneo deixou que Aiko o acariciasse, deitando no chão e mostrando a barriguinha — Fofinho! — Aiko sorriu, voltando sua atenção para o cigano — Muito obrigada, tio. Aqui, ó... — buscou uma sacola abarrotada de tortinhas, entregando-a para o treinador — Tem o suficiente para todos vocês, acho até que sobra! Não é como se vendêssemos muitas... — deu de ombro, apontando para o estado de sua barraquinha — Mas tá tudo bem! Tem muito carinho e amor, não precisamos de belezura. Né, Choco? — o venenoso concordou, acenando para Tielo, como quem agradecesse bastante — O que farão depois daqui?

Cap. 12 — Mogno.

Era difícil para Tielo tentar compreender o porquê de todos daquela cidade tratarem mal a pobre garota e seu Pokémon. Desde os capangas na floresta maltratando Choco até os olhares julgadores das pessoas nas ruas; sim, Mahogany poderia ser bela e cintilante por fora, mas por dentro parecia estar bem, bem podre. Aiko ouvia a recomendação do cigano, finalmente parando para prestar atenção no corpo de Trubbish, que estava bem machucado dos golpes dos malfeitores. Os olhos da criança encheram d'água quase que automaticamente e, sem pestanejar, consentiu com o que Tielo dissera, ajeitando as coisas para fechar sua barraquinha.

— ... — Aiko ouvia a pergunta do cigano, mas parecia pensar bem antes de responder; com a ajuda de Miltank, Houndour e Snubull, a pequena conseguia fechar sua barraca em tempo recorde — Eles... — suspirou — Sumiram. — a pequena tomava a frente com seu Trubbish, caminhando na direção do Centro Pokémon — Meu papai um dia foi explorar a Ice Path e não voltou. Então, alguns meses atrás, minha mãe, que cuidava da barraquinha comigo, foi procurar ele. — Aiko parecia incrivelmente tranquila, era de fato uma criança bem madura para sua idade, muito provavelmente por ter que se virar sozinha junto com Trubbish — E não voltou também. — a pequena virava uma esquina, dando de frente para o Centro Pokémon — Mas... Tá tudo bem. Mamãe disse que isso poderia acontecer e que, se ela demorasse muito, é porque ainda está procurando o papai em algum outro lugar. — adentrou o edifício principal, caminhando até o balcão — Mas eles vão voltar já já. — a enfermeira-chefe se aproximava do balcão, abrindo um sorriso simpático para Aiko e Tielo — A tia Joy também me ajuda bastante enquanto eles não voltam, né?

A enfermeira concordou com a cabeça, dando uma leve piscadela disfarçada para Tielo; parecia querer mudar de assunto e logo o fez:

— Olha quanto Pokémon bonito por aqui! — comentou, observando todos os monstrinhos presentes — Choco, você tava metido em encrenca de novo? — balançou a cabeça negativamente, sinalizando para que ele subisse no balcão — Vamos, pode ir na máquina que faz cosquinha, você sabe o caminho. — a enfermeira voltou sua atenção para Aiko — Aiko, sabe que adoro te ver por aqui, mas... Seu tio não vai brigar por ter fechado sua barraca cedo? — Joy parecia genuinamente preocupada e, bom, bastou falar essas palavras para que a expressão de Aiko mudasse, ficando amedrontada, apreensiva — Desculpa, pequena... Só não quero que se meta em encrenca. — acariciou a cabeça da criança, que sorria, um pouco sem graça — E o senhor? — voltou sua atenção para Tielo — É para cuidar de todos seus Pokémon? — começou a contar com os dedos; Houndour parecia agitado, correndo em círculos enquanto Snubull ainda se escondia atrás das pernas de Tielo — Você pode aguardar aqui que levarei todos para recuperar suas vitalidades, tudo bem? — abriu uma porção do balcão, sinalizando para que todos passassem — Vai demorar uns minutinhos, só. Já volto. — começou a caminhar para os fundos da recepção, acompanhando os montrinhos — Aiko, temos os biscoitos que você gosta lá no refeitório! Por que não leva seu amigo lá para um café ou um chá?

A adolescente consentiu com a cabeça, abrindo um sorriso para Tielo e convidando-o para irem até o refeitório. Como os pequenos precisavam se recuperar, nada como um bom cafézinho para passar o tempo, né?