A patroa chegou!

   Agradecida por Beatriz ter cuidado de distrair os fregueses, Ame pediu que continuasse nisso e garantisse um bom almoço do casal.

  — Alguém traga um pouco de comida, vamos acalmar e tirar esse Pokémon daqui sem causar mais perturbação. — Ame mandou pra um dos funcionários que estava fazendo a limpeza enquanto ela andava até o lado do deque onde estava o meowth nervoso.

Suna veio até sua treinadora, meio preocupado, só que bem mais interessado em se livrar do problema também, estava tudo tão bem sem essa zona.

— Suna, distrai ele um pouco com baby doll eyes. Tenta dizer que logo será servido, então não precisa de drama.

   Ver como o funcionário estava "entregando" a comida que ela pediu aue trouxessem para o pokemon quase fez a gerente de cabelo azul gritar de raiva.

  — Você. — Ame chegou de devagar e colocou a mão no ombro do rapaz, num aperto forte — Não é assim que servimos alguém, não acha? Arrume uma tigela.

   Isso foi tudo que a jovem disse antes de perceber que havia mais fregueses chegando. O salão! Como estava a limpeza? Já tinham colocado as toalhas de volta?

   Se não tivesse Beatriz, Ame com certeza estaria muito sobrecarregada agora. Agradecida que a maitre parecia estar cuidando bem dos clientes (tinham quatro apenas, certo? Ainda estava aceitável).

   Ame pediu que Suna vigiase o meowth enquanto ela ia averiguar a situação do primeiro salão antes de Beatriz pudesse acomodar os novos clientes (Ame temia que eles pudessem não querer ficar no deque, por isso ela tinha que se apressar).

  — Situação aqui! Temos fregueses chegando e o deque esta sendo limpo, precisamos apressar o ritmo! O que falta ser arrumado aqui? — Ame exigiu ao chegar pro auxiliar que ela deixou cuidando do salão antes de ir resolver o tumulto do pokemon gato lá fora.

   Como não foi respondida pelo funcionário, Ame decidiu decidir sozinha o que estava faltando ser feito no salão. As coisas pareciam bem lá fora, com exceção de que tinham um gato ainda aparentemente faminto no deque.

  — Alguém leve aquele meowth pra fora do restaurante sem escândalo, temos clientes almoçando ainda. — Ame chegou de devagar e colocou a mão no ombro do rapaz, num aperto forte — As mesas foram arrumadas, o chão esta limpo, imagino que limparam os cantos das janelas e o vidro delas também. Os banheiros devem estar limpos também, não é?

  O pobre auxiliar geral que estava acompanhando a nova gerente a ouvia atentamente e, claramente, ele estava ficando nervoso, pois Ame falava rápido e o tom dela era muito de alguém ficando com raiva.

  — Tudo parece em ordem, só falta mesmo alguém me dizer quando os moveis gastos serão trocados.

  Ame esperou pela resposta, queria ir lá fora ver se resolveram a situação com meowth como ela pediu, mas enquanto isso, ela acabou se dando conta que havia algo faltando.

  — Alguém viu meu ivysauro?

   Champion tinha se enfiado no bar e comidoos ingredientes dos drinks. O pokémon só foi perceber que foi flagrado quando se deu conta que havia uma sombra sobre si. Era Ame o encarando por cima do balcão com pura indignação em seus olhos azuis.

  — Você... Traidor. — ela disse por entre dentes antes de recolher o pokemon para a pokeball.

   Respirando fundo, a coordenadora empurrou toda sua irritação pro fundo da sua mente e se concentrou no que importava: restaurante! Ame se virou ao seu "fiel" auxiliar e pediu que fosse checar na despensa se tinha mais frutas para repor o bar.

  — Terminem o salão e os banheiros. Volto já.

  Ame foi até Beatriz, perguntar como estava a situação com os clientes e se precisava de algo ali, fora isso Ame queria ver se já tinham tirado o meowth do deque.

  Assim que Ame apareceu no deque, vulpix veio até ela.

  — Diz que ta tudo bem aqui, Suna. — Pediu Ame, pegando seu pokémon no colo por um momento antes de larga-lo novamente e ir logo até Beatriz.

  As coisas pareciam estar enfim se ajeitando, o salão e o deque estavam limpos, os banheiros também (!) e logo os clientes estaria servidos. Ame respirou aliviada enquanto voltava ao salão, bem a tempo de ver o barista preparar um drink com bastante agilidade. Logo um belo copo alto adornado com fruta e canudo foi servido ao freguês.

— Devia ver quando temos o salão cheio, as pessoas simplesmente ficam encantadas quando eu sirvo todas de uma vez. É tão fácil. — Disse Ângelo a Ame, muito convencido de si.

  — Todos ficam encantados quando você entrega o pedido certo, o cliente pediu um drink de limão, não de maçã. — Cortou Beatriz, vinda do deque com o recém saído drink. Ela sorria, mas era tão séria e assustadora que Ame, mesmo sendo tecnicamente a superior ali, recuou. — Pare de tentar fazer charme para nossa chefe e se concentre no trabalho, o almoço mal começou ainda.

  Com isso dito, Beatriz colocou uma nota com mais dois drinks para serem feitos e retornou ao seu posto como a boa maitre que era.

  — Ela é bem... Imponente.

  — Vai ficar pior no jantar quando o salão de cima abrir. — Ângelo disse antes de se concentrar nos novos drinks, desta vez certos, não queria repetir essa infeliz cena de agora.

  Depois desta cena interessante, o dia se desenrolou muito rápido conforme mais clientes chegavam e toda a equipe tinham se dedicava em atender todo mundo da melhor forma possível. Ame também acabou servindo mesas e dando uma ajuda na cozinha (um tanto quanto forçada, pois tão logo ela entra lá para saber dos pedidos, a chef a colocou pra cortar batatas e ajudar o chef das sobremesas a terminar a parte dele). Tão logo foi "liberada" da cozinha, Ame foi "gentilmente solicitada" a ajudar no bar por Beatriz que estava visivelmente aborrecida, pois Ângelo estava mais ocupado em entreter os clientes do que servi-los propriamente.

  — Eu não sei fazer drinks!.

  — Imagino que não, mas não é sua função, senhora. Apenas faça ele cumprir o trabalho dele. Eu consigo cuidar de todo o resto se a senhora puder mantê-lo focado no trabalho. Por favor. — Beatriz afirmou com um belo sorriso que agora parecia angelical invés de ameaçador.

  Manter o barista focado não foi tão difícil quanto esperava, ele pareceu ficar menos distraído com a própria chefe do lado bancando a "babá". Nesse tempo, vendo como Beatriz estava realmente lidando com todas mesas da salão e do deque e coordenando os garçons junto, Ame ficou se questionando porque ela estava ali se não era tão necessária? "Parecia fácil quando o pai trabalhava.."

  Uma taça foi deslizada para frente da gerente perdida em pensamentos, aquilo era suco?

  — Um brinde ao primeiro dia como chefe, senhorita Sakigami. Eis uma especialidade da casa para comemorar. — Ângelo falou pondo gelo no drink.

  Foi só então Ame percebeu que tinham encerrado o dia. Foi como magica! As coisas foram tão ligeiras que a nova gerente só sentiu que acabou bem depois do fim do expediente.

  Sendo membro da avengers, Ame não preciso ir pedir abrigo no centro pokemon, ela pode dormir num dos tantos quartos disponíveis para o uso da sociedade no segundo andar. Sua noite foi reflexiva até ela pegar no sono, pensou tanto em como quando era criança, ver seu pai trabalhando na confeitaria parecia tão simples e fácil e ele parecia tão importante lá, já aqui, ela era como uma simples intrusa brincando de chefia.

  Ao acordar de manhã, Ame se levantou meio atordoada de uma noite mal dormida. Ela vestiu seu uniforme e ficou um tempo encarando o espelho do banheiro. Não se sentia confiante mais, só pressionada. Pressionada por si mesma.

  "Eu sou a chefe." pensou antes de lavar o rosto e descer para o restaurante. Um novo dia, uma nova chance de melhorar.

   Uma semana se passou tão rápido quanto começou, a coordenadora passou todos os dias praticamente colada na maitre do restaurante, ouvindo dela tudo sobre o que vinham fazendo até então antes de Ame chegar, Beastriz falou sobre quantos clientes recebiam por dia, o tanto de comida que era servida de manhã até de noite, as escalas dos funcionários, a lista de fornecedores, as vezes tinham visitas do chefe da sociedade querendo saber como iam também.

  Muito aos poucos, Ame foi se habituando, sua função se limitava mais ao escritório no fim das contas lidando mais com contas e pedidos para fornecedores, Ame só era útil mesmo (na sua visão) realmente quando Beatriz parecia estar virando um monstro com todo mundo da equipe no salão. Ame aprendeu que a maitre era um tanto... Controladora e que tudo devia seguir uma ordem, a dela.

  — Ela é pior que uma miltank passando rollout em todo mundo, pensa que é a gerente de verdade. — Ângelo reclamava pelas costas da loira sempre que tinha chance.

  A maioria da equipe concordava com ele nisso, todos menos Danica que se mantinha sempre longe das conversinhas, sempre concentrada em sua cozinha aperfeiçoando os pratos do novo menu.

  — Beatriz tem botado ordem nas coisas desde que a outra equipe foi trocada, ela não vai ceder tão fácil se você não souber como mostrar claramente quem é a gerente mesmo. E por agora, você nem de longe parece chefe, dona Ame. — Foi tudo que a chef disse quando Ame quis saber se a maitre era tudo isso mesmo, pois na sua visão Beatriz era só difícil, não tirana.

  Foi um grande balde de água fria ouvir aquilo depois de tanto esforço em aprender o funcionamento do restaurante. Ame estava ficando irritada.

  Em sua segunda semana como gerente, os movéis novos enfim chegaram. Animada, Ame correu até a entrada dos fundos onde recebiam as entregas, toda contente em poder receber os entregadores e guia-los até onde deviam colocar os novos moveis, no entanto, para sua surpresa, assim que veio até a entrada, ela viu que Beatriz já os tinha recebido e assinado os papeis e já estava apontando aonde tinham de ir.

  — A cor do estofado esta errada e não pedimos por bancos para o bar. Quem fez esse pedido? — Beatriz dizia ao entregador enquanto olhava no recibo.

  — Eu fiz. — Ame respondeu, pegando os dois de surpresa já que não tinha sido notada — É meio dia, o salão não esta cheio agora, Beatriz? Por que esta aqui?