A patroa chegou!

  O movimento começava a crescer no salão, ainda era cedo e não tinham muitos pedidos grandes ainda, o que permitiu um pouco de relaxo da equipe como ficar parado no bar lendo o jornal de Vermillion!

  Como quem não queria nada, nosso querido barista Angelo espiou por cima do ombro do colega e assim viu o que aparecia ser uma bombástica notícia.

  — Arceus do céu!

  Angelo quase tirou o jornal das mãos do garçom coitado. Seu nervosismo foi crescendo conforme chegava nas últimas linhas. Não foram as críticas a organização geral que o fizeram temer por sua vida, mas o comentário sobre a comida.

  — Alguém mais leu isso?! Danica leu isso?!!

  — Não! Eu acabei de comprar!

  — Então joga fora! Danica não pode ver isso!

  — O que eu não posso ver?

Angelo se virou com o coração na garganta e encontrou a chef atrás deles, de mãos no quadril e claramente raivosa. Junto com ela vinha seu fiel e também furioso munchlax.

  — Cade a droga da nossa gerente? Eu preciso da droga dos mantimentos da dispensa já! Como infernos eu posso trabalhar com uma cozinha vazia, ahm!?

   Enquanto Danica xingava e falava como ela não podia completar o novo cardápio de sobremesas sozinha (pois isso nao era sua especialidade), Munchlax imitava sua dona, resmungando igual ela e apontando para os dois coitados alvos de sua fúria.

  — Você, vai buscar a chefe agora! — Danica mandou o coitado garçom que saiu apressado, deixando o jornal amassado com Angelo.

   Enquanto a chef estava de costas olhando o rapaz correr, o barista tentou esconder o jornal, só que infelizmente, Munchlax tomou isso dele e entregou para Danica.

   Não teve muito tempo depois disso para sequer implorar aos céus por ajuda.


  Enquanto isso, na área de descarga do restaurante!

  Ame e Beatriz ainda se encaravam, entre elas o pobre funcionário que só queria que alguém assinasse o documento de recebimento.

  — Eu estou fazendo o meu trabalho, senhora. — Beatriz enfim respondeu, com seu doce sorriso que Ame já cansou de ver, ele era só fachada, dava pra ver que a loira não estava contente.

  — Seu trabalho é cuidar do salão, não receber entregas. Esse é seu jeito de dizer que não gosta do seu trabalho?.

  — Perdão? Mas creio wue temos um pequeno engano, senhora. Como responsável pelo restaurante, eu devo cuidar de tudo até que consigas fazer isso sozinha, por isso eu...

  — Você está largando o seu posto pra se meter no meu trabalho? Você acha que eu não consigo, é isso?.

  — Não! Eu só acho wue ainda é meio cedo para que faça as coisas sozinhas, como isso. — Beatriz apontou para os móveis supostamente errados —  Estes sofás não são da mesma cor que os outros, não combinam e tem esses bancos que não estavam no pedido original, eu sei que a senhora tem ideias, mas devemos pensar no restaurante invés de...

  — Eu desenhei esse projeto, Beatriz! Não tem móvel errado! Você não era pra estar aqui, era pra estar no salão cuidando de lá enquanto eu cuido de todo o resto! Arceus, eu tinha de ter dito onde deviam por os móveis e depois levado os ingredientes da Danica há quase meia hora!.

— Moças?

  — Bom, eu não teria de estar aqui tentando garantir o bom trabalho de tudo, se alguém tivesse me dito que a nossa nova chefe era uma pirralha sem experiência!

  — Entao o problema é pessoalmente comigo mesmo, é?!.

  — Moças!

  — QUE?! — Gritaram as duas para o pobre funcionário.

— Eu tenho de ir, será que alguma de vocês pode assinar o recibo logo?!

Ainda de cabeça quente, mas sentindo mais leve que no resto da semana, Ame tomou a prancheta e assinou os papéis, enfim liberando o entregador.

Agora tinha de cuidar de levar as entregas da despensa pra cozinha e depois, talvez, conseguir ter algum diálogo não tão fora de hora com a maitre.

  Beatriz foi rapida em juntar a equipe e já colocar todo mundo em seus lugares nos devidos quadrantes, fora mandar Angelo se arrumar para servir.

  Meio que por hábito, Ame ia ajudar no bar, mas foi detida e arrastada para a cozinha. Danica queria ajuda extra.

  — Mostre que sabe mesmo cozinhar, preciso de uma chef da confeitaria pras sobremesas, eu não posso dar conta de tudo assim!

  Tinham cinquenta pessoas famintas no salão, era horário de pique, e esta era a primeira vez que a nova gerente Ame atuava na cozinha como chef também, não só assistente de Danica. Isso foi bem... Animador.

  — Perfeitamente!.

   Enquanto a cozinha iniciava as preparações com os primeiros pedidos, No salão, a maitre cuidava dos garçons e ainda do bar, garantindo que Angelo estava trabalhando, não só se exibindo. Ele estava, como estava!

  No mesmo ritmo que a cozinha fazia pratos e porções depressa, o solitário barista tinha de ir no dobro da velocidade.

Ângelo contava com seu minccino lhe ajudando com a louça para ele se focar só nas bebidas, boa parte do seu "show" foi deixado de lado pra priorizar velocidade.

  — Beatriz! Eu to ficando sem berries! Esses caras não sabem beber um copo pôr vez, não! — Ele quase gritou pra loira quando ela veio cobrar porque estava demorando.

  — Você tinha de ter visto isso antes!

   Cerrando dentes, Beatriz foi até a despensa da cozinha, passando reto pela equipe lá, por Danica e por Ame.

  — O bar esta ficando sem berries para os drinks, os pedidos não estão chegando as mesas no ritmo esperado também, vamos, pessoal! Qual o problema de vocês hoje? — Beatriz falava enquanto tirava uma caixa da despensa e já fazia seu caminho de volta ao salão, mas foi impedida.

  Munchlax muito mal encarado bloqueava o caminho, ele queria a caixa. Sem nem deixar sua estação, a voz de Danica foi ouvida por toda a cozinha.

  — O meu problema é a minha cozinha sendo invadida no meio do trabalho por alguém que não devia estar aqui.

  Antes que a maitre fosse responde, o pokemon tomou-lhe a caixa de berries e apontou para ela sair.

  Do fundo da cena, mesmo que curiosa por ver as duas discutindo, Ame teve de intervir, era seu trabalho afinal.

  — O estoque do bar foi colocado no próprio bar, Beatriz. Diga pro Ângelo isso, ta?.

Sem responder, a maitre deixou a cozinha. Ela apenas dirigiu um olhar fulminante a Ame antes disso.

  — Ei, sabia que temos uma nova geladeira aqui? Minccino achou enquanto arrumava os copos. — Angelo avisou assim que viu Beatriz passar pelo bar.

Parecia tudo bem no salão mesmo que metade das mesas ainda não estivesse servidas, pelo menos todas tinham bebidas já.

"Foi uma boa jogada" Beatriz pensou sobre isso de o estoque do bar ficar no próprio bar. "Quando ela fez isso?".

De volta a nossa equipe da cozinha: Danica estava em chamas (felizmente por agora, não literalmente). A chef tinha enfim concluído o novo cardápio do restaurante justo agora e iria coloca-lo em prática.

Nada de fato foi tirado do cardápio, só aperfeiçoado, ganhado mais sabor, mais charme.

  — Vai engolir suas palavras, crítico de merda! E vai pedir mais! — Disse enquanto dispensava o primeiro prato para ser entregue.

  — Parece muito bom e tudo, Danica, agora podemos continuar com os outros? Tem tipo mais trinta pra servir!?.

  Vulpix (pequeno fujão!) tinha decidido por conta que agora atuar no salão sendo quase um ajudante de Beatriz era sua função e ele se divertia com a atenção do grupo de críticos que estavam bobos por verem um pokémon incomum como ele.

  A maitre aproveitou este instante para ir até o bar, mandar Ângelo ser o melhores drinks novos que tinham enquanto ela mesma atendia a mesa importante de críticos.

  — Ah, faz favor!!

  — O que disse!

  — Você bancando a anfitriã puxa saco? Enquanto Danica deve estar possuída de raiva com tanta frescura desses caras?!

  — Não é frescura, são alergias! Nós podemos ser processados se acontecer algo com essas pessoas por erro da cozinha, Ângelo! — Beatriz disse por entre dentes, bem nervosa. — Eu sou a melhor anfitriã!

  Nesse momento, um garçom veio da cozinha, tinha duas bandejas em cada mão e ele nem olhou para a loira ou o barista, foi direto servir as mesas e então retornar a cozinha, de onde veio outro garçom igualmente carregado. Todos pareciam amedrontados.

  Num ritmo bastante surpreende, as mesas foram sendo servidas. Todas menos a do grupo dos críticos, os quais já pareciam cansados do adorável vulpix (Suna não estava feliz com isso).

   Poucos minutos depois, da cozinha, toda confiante em seu andar, vinha Danica.

  A chef sempre de cara fechada e xingamentos na ponta da língua, vinha sorrindo e alegre, cheia de palavras gentils. Era medonho na visão de Beatriz e Angelo.

  Logo atrás de Danica, vinha a gerente empurrando um carrinho cheio de pratos cobertos — Ame trocou um rápido olhar com Beatriz, num reflexo rapido ela fingiu ajeitar um diw pratos, mas na real deu a maitre um deslumbre da refeição — que ela mesma serviu para cada cliente da mesa.

  — Agradecemos por sua visita, espero que apreciem o novo cardápio. Tivemos um período de adaptação da nova gerência e da nossa chef com ele, por a demora no preparo, peço vossa compressão nisso.

  Ame finalmente descobriu os pratos, revelando um singelo pedaço triangular de torta que não era nada imponente, mas o que fisgou a atenção da mesa toda foi o saboroso aroma.

  Danica sorriu imensamente.

  — Permitam-me apresentar o mais novo item do menu: minha torta salgada especial de verduras. Nada de leite, nada de berries e nada de condimentos fortes, apenas o sabor reconfortante de um bom almoço. Recomendo comer junto da nossa sangria.

  Ao ouvir tal bebida ser citada, Ângelo chegou com uma bandeja de copos com uma bebida vermelho sangue cheia de gelo e adornada por rodelas de maçã.

  — Meus caros. Creio que não temos exigências quanto aos drinks, correto? Esta é nossa espetacular sangria de maçã.

No fundo da cena, Ame tinha pego Suna e recolhido o na pokeball. Logo depois, ela ficou esperando alguma reação de qualquer um dos clientes que degustavam a comida.

O som de um pigarro fez Ame se virar, olhos azuis novamente se cruzavam com verdes.

  — Cozinha. — disse Beatriz já indo para a cozinha.

  Uma vez lá, Beatriz viu como o resto dos cozinheiros estavam a todo vapor, concentrados e insanos tentando manter a qualidade que a chef prezava. Tudo sob o olhar atento do munchlax sisudo de Danica ali quietinho no canto com uma colher de pau.

   Ignorante isso, Beatriz de meia volta oara encarar Ame que estava olhando para a cena, claramente questionando o que o pokémon estava fazendo batendo a colher na palma da mão enquanto encarando os cozinheiros.

  — Ele ta...

  — Eu aceito.

  — Oi!?!.

  — Ahm?! — Os cozinheiros disseram também.

  Munchlax bateu em todos com a bendita colher de pau por terem parado de trabalhar.

  — Eu aceito que você seja nossa gerente. Você esteve na minha frente hoje, como eu não sei, mas esteve.

  — Eu...

  — Não interrompa, por favor. Ainda não terminei. Danica esta sendo muito menos impossível de lidar desde que a senhora chegou e até mesmo Ângelo está menos preguiçoso, embora ainda atrevido.

  A maitre comecou uma espiral de coisas wue tinham entrado nos eixos desde o início da semana, como a constate limpeza dos banheiros, o cuidado com a limpeza geral, menos bagunça do estoque, menos problema com o bar (porque agora Ame era quem mais lidava com Angelo invés de Beatriz).

  A agora aceita (mesmo?) gerente estava muito contente por essa mudança da maitre, mas Ame estava muitíssimo preocupada, pois já estavam ali um tempo e até agora, nada se Danica, nem um piu do salão. Ame estava suando frio.

  Um dia depois da visita dos criticos, tanto o jornal quanto as midias já estavam com suas opiniões estampadas. No bar do restaurante, a equipe estava ao redor de Angelo que era quem lia a reportagem em seu telefone pra todos.

   — Parece bom! Conseguimos! — Disse o auxiliar geral feliz.

  — É. Mas é isso mesmo, só disseram que estava bom, nada de criticas elaboradas ou firulas, só um "será que vão continuar assim?". Danica já leu isso?

  Todos se entre olharam e só o auxiliar se pronunciou dizendo que não sabiam. O som de algo caindo, batendo ou sendo quebrado na cozinha anunciou que a chef enfim soube das noticias.


  Ame acordou mais disposta naquela manhã. Já tinha se habituado a se ver num dormitório desde que assumiu o restaurante, quase se sentia em casa. Ela se vestiu rápido com seu uniforme, fez um simples café na cozinha da base (junto com seus recém nascidos Oshawott e Morellul que decidiram chocar ontem bem antes dela dormir) e depois arrumou sua bolsa, enfim chegava no fim da semana e logo poderia ter um dia de folga.

  Tão logo a gerente desceu e entrou no escritório, a maitre pediu licença e veio dar "relatório" do dia.

  — Finais de semana são os dias mais cheios, então devemos ter tudo limpo e pronto para noite, eu já cuidei de arrumar os moveis novos no salão. Danica está tendo um acesso de raiva na cozinha, ela deve voltar ao normal logo e podemos começar a preparar o cardápio do almoço logo.

  — Certo, eu...

  Beatriz não esperou que terminasse, se foi rapidamente de volta ao trabalho. Ame supôs que a relação delas iria ser assim agora, aos poucos talvez fosse melhor. De toda forma, ela não ficou sonhando acordada, precisava ver a situação na cozinha!

  Na cozinha, nada parecia errado. Os cozinheiros e auxiliares seguiam o trabalho normalmente e Danica estava na estação dela, quieta, picando carne. "Ela parece bem" Ame pensou dando um passo na direção da chef, sendo prontamente detida por dois cozinheiros que a arrastaram de volta para a entrada dizendo que não devia fazer isso, não agora.

  — A chef esta de mal humor, senhora. Muito!

  — Isso, é melhor deixar ela se acalmar! Garantimos que tudo vai estar certo antes do almoço.

  Praticamente expulsa da cozinha, Ame se viu meio que livre para trabalhar sem se preocupar com Danica então? Não estava muito certa, mas resolveu confiar na equipe da cozinha, eles conheciam Danica há mais tempo que ela afinal.

  Tudo estava sob controle, o ritmo do movimento estava tranquilo, logo estavam arrumando as mesas para o almoço e Ame decidiu se retirar de cena e deixar a maitre assumir o salão enquanto ela dava assistência na cozinha como já vinha fazendo desde o começo (Danica regia com punho de ferro a cozinha, nada fora do esperado). O ritmo ficou mais frenético de noite na hora do jantar e foi assim durante o final de semana inteiro.

  Os burburios que Ame ouvia dos funcionários sobre estarem preocupados com "tudo voltar ao que era antes" quando ela fosse embora só se tornaram mais fortes ao longo daqueles dias, isso estava consumindo a coordenadora. "Eles acham que sou temporária ainda?" pensava preocupada.

  Diante de algo assim, Ame pediu que reunissem todos no salão, ela tinha um breve pronunciamento. E assim que todos os funcionários estavam presentes e olhando para a jovem de cabelo azul com expectativa, Ame disse de uma única vez:

  — Eu estou há uma semana praticamente trabalhando com vocês e tentando fazer um bom trabalho, creio que estou conseguindo. Quero deixar algo claro: Eu sou a gerente deste restaurante permanentemente até que algum superior decida o contrário, entenderam? Fora isso, como parte da sociedade, eu posso morar bem aqui encima, eu vou estar sempre aqui! E quando eu não estiver, Beatriz vai cuidar de tudo até eu voltar, porque eu vou voltar, não se preocupem com isso mais.

  Todos ficaram quietos, ainda olhando para a gerente, alguns parecendo aliviados.

  — Posso servir o champanhe para comemorarmos?

  — Isso vai ser descontado do seu pagamento. — disse Beatriz — Não temos tempo para brindes ou comemorações, achei que tudo já estava bem obvio, francamente. Voltem aos seus postos, sim?

  Enquanto boa parte da equipe hesitou em voltar serviço, Danica voltou pra cozinha sem nem pensar, ainda estava mal humorada.

  — Dispensados! — Ame enfim disse depois de pensar muito.

  Finalmente, a maioria enfim se dispersou e voltou a trabalhar, Beatriz foi quem sobrou, assim como Angelo que veio "bajular" a agora estabelecida gerente como Beatriz chamou depois que ele se foi.

  — Ser gerente é algo exaustivo e se a senhora vai realmente habitar na base da sociedade permanentemente como diz, então logo a senhora vai estar se lamentando do tanto que sua vida pessoal deixou de existir.

  — Beatriz, eu não...

  — Não terminei. Lembre-se que mesmo que seja a gerente e tecnicamente seja responsável por tudo, eu ainda sou a maitre deste restaurante e até então eu ocupava esta e a sua função, e eu sempre dei conta. Sua ausência nunca vai ser um problema, mesmo que os outros discordem.

  Aquilo soou incrivelmente grosseiro e insubordinado num primeiro instante que se Ame já não estivesse se habituando ao jeito da loira, iria querer xinga-la, mas ela manteve a acalma e refletiu antes de enfim poder responder.

  — Eu sei que sabe como cuidar de tudo se for preciso, e é muito bom poder contar com alguém como você. Mas por favor, melhore o jeito como fala com as pessoas, você soa uma esnobe do caramba!

  Bem alto lá do bar, um riso que parecia um grasnado ecoou pelo salão todo. Beatriz se virou e marchou até o bar, fulminando de raiva e acusou Ângelo de estar espiando a conversa. Ele não negou, só continuou rindo.

  Ame também riu da cena, e pela primeira vez, sentia-se enfim leve com todo o ambiente, mesmo que no final do dia estivesse exausta, ela estava feliz. Este era o seu restaurante enfim.