cap i — mosquitos são realmente necessários?

OFF COMMENT:

Novamente eu estava toda confusa com o que acontecia à minha frente. Eu não havia conseguido ordenar um ataque para o Trapinch e ele simplesmente havia agido por conta própria??? E, o melhor de tudo: com um ataque novo???? Eu não sabia o que ele havia acabado de fazer, aquele movimento não estava na lista de coisas que o meu Avocado sabia fazer na primeira vez que eu olhei a Pokédex. Talvez ele tivesse aprendido no meio de alguma das duas batalhas e só se manifestou porque eu não sabia o que fazer e o que comandar?

DE QUALQUER FORMA, eu via o voador dar um rasante contra Avocado e usar seu bico para atacá-lo, mas meu laranjinha revidava com uma... mordidona super potente e que parecia bastante efetivo contra aquele pássaro. Aquilo me pegou pelos cabelos. Então alguns tipos de ataques eram efetivos em certos tipos de pokémon, mas poderiam não ser absolutamente nada para outros? OH SIM. Eu estava começando a compreender. Travar batalhas pokémon não era, afinal, apenas mandar um bichinho lutar contra o outro e ordenar ataques aleatórios na sorte de que pudesse funcionar. TINHA QUE TER A TAL DA ESTRATÉGIA.

Mas como eu ia saber o que fazer????????


Ei????

Btzz... btzzz.

Senti algo tremer na mochila e percebi que era o meu Rotom Phone. Talvez fosse a minha mãe me mandando mensagens pra saber se eu estava bem??? Mas tão cedo? — ignorando o fato de eu já ter passado por poucas e boas em tão pouco tempo.

Busquei o aparelho no bolso onde ele estava e então levei um susto. Ele... tinha OLHOS. E BOCA. E NA VERDADE ESTAVA VIVO. Eu não fazia IDEIA de que ele estava vivo. MEU CELULAR HAVIA SIDO POSSUÍDO NO LUGAR DE AVOCADO????? POR QUE ELE ESTAVA ME OLHANDO DE CARA FEIA?

— Certo, mocinha, eu estava tentando NÃO me meter na sua vida e deixar você fazer as coisas por conta própria. Mas você é bastante tapada, hein? — ele dizia para mim. E eu estava perplexa, então apenas escutei ele me xingar com a maior cara de tacho possível porque ainda não sabia que meu celular era uma coisa VIVA com PERSONALIDADE e acho que também estava me ODIANDO. — De agora em diante vou ter que me meter na sua vida para poder salvar seu pescocinho magricela e o coitado do Trapinch.

Foi então que o Rotom Phone acessou a Pokédex sozinho, voltando-se para o voador que havia acabado de ser derrotado e estava fora de combate, totalmente desmaiado, no chão. E, como se não bastasse ter me chamado de burrinha — o que talvez eu realmente fosse, ok... —, ele também achava que eu era surda, porque as informações foram talhadas alto e claro para que não houvesse nenhum tipo de DÚVIDA da função que ele teria de agora em diante.

Hoothoot. Pokémon coruja. Fica sempre em um pé. Ele muda de pé tão rápido que o movimento raramente pode ser visto. Esse espécime possui Olhar Aguçado/Keen Eye como habilidade especial. Está fora de combate.

Então ele se voltou para Avocado, me olhou feio, e voltou a apitar.

Trapinch, conhecido como Avocado. Este espécime aprendeu Mordida/Bite, um ataque do tipo Escuro que causa dano e pode fazer o alvo recuar, caso ainda não tenha se movimentado.

Era muita informação para que eu absorvesse de uma vez. Meu cérebro ainda estava lidando com o fato de que meu Rotom Phone tinha vida própria. Então ele era um Rotom pokémon ligado a um celular comum????? Minha mãe não havia me dado essa informação! E eu nem sabia que era possível! E agora ele continuava me olhando feio como se eu fosse a pior treinadora do mundo e estivesse maltratando meu pokémon e EU JURO VOU COMEÇAR A CHORAR.

— Ah... ok, senhor Rotom Phone... Pode deixar, vou conferir tudo...

— Acho bom mesmo! — e então ele voltou à inanimação. Não sem antes me traumatizar.

Me voltei para o meu Trapinch e corri para abraçá-lo. Afinal, ele havia agido sozinho para deter o tal do Hoothoot e havia sido o garoto mais esperto do mundo usando o seu ataque novo. E um ataque novo!! Isso queria dizer que ele estava ficando mais forte a cada batalha que lutava, não é? Talvez o sonho dele de ser um Flygon estivesse um pouco MENOS longe de se tornar realidade agora. Envolvi o pescoço dele com os braços e o apertei com força.

— Acho que o perigo passou agora, não é, Vovozinho? Acho que nada mais vai nos surpreender. Acho que podemos ficar aqui perto do fogo e nos esquentar... — eu disse para ele. Queria que fosse verdade. Afinal precisávamos de um descanso. Mas também continuávamos perdidos, o que era preocupante.

E MEU CELULAR ME ODIAVA.

Avocado e eu nos reunimos pertinho do fogo para nos mantermos bem aquecidos. É claro que eu havia tomado conta para que os pokémons selvagens também ficassem aquecidos. Eu não sabia o que fariam caso acordassem de repente, mas eu não queria deixá-los desprotegidos naquela floresta onde coisas malucas aconteciam. Tipo assim... Eles haviam me atacado e havíamos brigado, ok... Mas eu era uma boa samaritana, de qualquer jeito, e eu esperava que eles notassem que eu havia cuidado deles enquanto estavam desmaiados. Agora havia passado certo tempo — eu não sabia ao certo quanto, porque não queria pegar o Rotom Phone encapetado e ranzinza para ver as horas —, e eles pareciam apenas muito bem adormecidos. Embalados num sono muito gostoso. DIFERENTE DE MIM E DE AVOCADO. Me perguntei o que eles talvez estivessem sonhando...

Notei que a fogueira começava a ficar miudinha e a perder sua força quando senti meu corpo começar a tremer um pouco. Percebi que minhas mãos estavam bem geladas e meu nariz estava vermelho. Como assim as fogueiras não duravam a noite toda??????? Bem quando eu pretendia realmente dormir! Assim não dá pra continuar, né? Uma coisa dando errado atrás da outra!

— Avo, acho que vamos ter que buscar mais madeira para alimentar a fogueira... — eu me voltei para o meu Trapinch, e, ao som do que eu havia dito, ele fez a maior cara de quem tinha recebido a pior notícia de todas. Acabei descobrindo que essa espécie de cabeçudos conseguia ser muito caricata. — Vamos lá, eu sei que podemos simplesmente tentar achar outro lugar, um lugar mais quente, mas e esses amiguinhos aqui? — voltei meu olhar para a bola de pelos e o pokémon-corujazinha. — Além do mais, nós precisamos dormir! Eu sei, eu sei... Você pode ficar na sua pokébola... mas eu não queria ficar sozinha...

Me levantei e voltei a colocar a mochila nas costas. Fiz um carinho na cabeça do Trapinch, o qual ele respondeu sussurrando o nome da própria espécie, e então me voltei para o mesmo caminho o qual eu ia seguir fugindo se não fosse a cabeçada do meu parceiro.

— Vamos por ali. Vamos ver se achamos algo.

Ah... Hm... Ah, ok.

A situação não parecia ser muito favorável para o meu Avozinho e eu. Afinal, eu não era nenhum sinônimo de maromba e o Trapinch era literalmente só cabeça, portanto não havia como carregarmos muito dos suprimentos para fogo que encontrávamos pela frente. Mesmo assim, eu era teimosa — uma característica que minha tia-avó costumava frisar bastante, inclusive —, então continuei buscando algo que fosse suficiente para reanimar nossa fogueirinha e que eu e Avocado pudéssemos carregar.

O problema era que... Bem, eu não era nenhuma expert em trilhas e acampamentos, e Avocado parecia fiel demais a me seguir para se preocupar com o caminho que havíamos tomado. Em determinado momento, me dei conta de que fomos extremamente BURRINHOS, pois estava ESCURO, e, agora, parecíamos muito PERDIDOS.

— Vovozinho... errr. Acho que deu ruim, ó! Conseguimos achar o caminho de volta?? — perguntei ao meu fiel escudeiro, mas o pokémon apenas me olhou com aquelas bolotas oculares extremamente inexpressivas como se eu fosse maluquinha. E talvez fosse culpa minha mesmo... admito...

Tudo o que eu via quando olhava aos meus arredores era mato e mais mato. Ou seja... Não havia sequer uma pegadinha que eu pudesse seguir de volta à clareira. Ao menos, não que eu tivesse me esforçado para ver... A realidade é que tudo já estava dando errado em minha jornada e minha mãe me mataria quando soubesse de tudo!

— Vamos tentar por aqui? — apontei para qualquer direção que eu tinha à minha frente, sem ter muita certeza de para onde estava indo, mas certamente tentando soar confiante o suficiente para Avocado não sentir muito medo. — É! É! O ar não parece ser tão ruim por aqui.

Eu esperava.

Acho que eu deveria chamar Avocado para sua pokébola, não é? Assim ele poderia descansar, ficar a salvo, não sentir tanto frio. Mas a verdade é que eu começava a ficar em pânico conforme andávamos e andávamos e não chegávamos a lugar nenhum. Pelo canto do olho, eu via as sombras mais escuras — isso era POSSÍVEL???? — se movendo. Os bichos-papões estavam se comunicando para, enfim, me capturarem. Seria o fim!

— Chega! — falei, mais alto do que deveria, na realidade. E parei bruscamente, o que fez o Trapinch bater forte contra minhas canelas porque não estava esperando uma parada repentina. Ele murmurou seu próprio nome e se aninhou contra mim, e eu percebi que ele estava com muito medo também. — Vamos tentar algo...

Larguei com tudo todas as madeirinhas e folhas secas que havia recolhido para a fogueira no chão. Me sentei sobre as graminhas e peguei minha mochila, caçando o Senhor Rotom Phone. Ele havia me dado uma broncona antes, mas quem sabe podia me ajudar agora. Né? NÉ???? Segurei o aparelho em minhas mãozinhas e o levantei no ar, como se quisesse pescar sinal. Ele parecia inanimado agora. Como fazê-lo funcionar???

— COM LICENÇA??? SENHOR ROTOM PHONE??? Pode me ajudar? Alôooou? — tentei chamá-lo. Era assim que mexia, né? — Oi?? Precisamos encontrar um caminho para fora disso. Pode nos ajudar?? TENHO FRIO E FOME!! — e, como onomatopeia dramática para meu próprio filme, minha barriga roncou.

OFF:

O que eu poderia esperar? Na realidade, eu já estava preparada para a bronca, e ela realmente veio. Meu celular era um velho ranzinza, pelo visto, como o ex-namorado da tia-vó ao qual eu e meu primo expulsamos da família porque não aguentou nossas brincadeiras. Mas esse velhinho ranzinza em questão, meu Rotom Phone, estava ali para me ajudar. E, afinal, ele iria mesmo.

— SIM, SIM, SIM SENHOR, SENHOR! — concordei com todas as instruções, até mesmo com ele me chamando de tapadinha. Estava errado, afinal? Não estava!!! E, conforme ele foi falando dos vultos, fui me aprumando e fazendo cara de má e os encarando de volta. Eu me sentia grandona!! Apesar de ter cinco centímanos ??? centímetros de altura. — Aham! Pode deixar! AVOCADO, CARA DE MAU! HA!

E já que iríamos mesmo sair dali, finalmente, eu me apressei a pegar os gravetos e folhas secas. Meu Trapinch me ajudou, pegando alguns com sua bocona, delicadamente. Ele era um amorzinho mesmo, tão pequenitucho. Me voltei para o Rotom Phone, de acionava o mapa.

— Pronto, senhor! Pronta para seguir! Vamos!