Dawn Metropolis

“Afinal, o futuro é cheio de maravilhas”, me disseram. “Vai ser legal.”

Nada disso é verdade. Nunca foi. O futuro é sombrio, tenebroso, triste. Nada do que falaram sobre ele é um fato. Então, os ignore. Provavelmente estar relatando isso não é a melhor maneira de começar a história, pois bem, o leitor deve estar confuso. O que tem o futuro? Quem é você? Quem mentiu pra você? Bem, acho melhor eu começar essa história pelo começo. Bem pelo começo, por que sinceramente, o que eu mais quero é lembrar das coisas boas, e não das ruins. Não quero me lembrar de como ela me traiu. Ou de como meu próprio irmão me deixou nessa situação deplorável. Não... Eu só quero lembrar das coisas boas. Do passado.

Mas eu estou divagando. Vamos voltar de uma vez, não? Afinal, é para isso que você está lendo essa história... Tudo isso começou 2 anos atrás.

2 anos atrás, 2010.

- Então... você está indo embora, irmão? – Perguntou meu irmão menor, que tinha acho que 13 anos na época, vendo eu empacotando as coisas do meu quarto.
- Sim, Kyu. Vou morar com ela. Minha namorada. – Falava eu. Meio tranquilo na época. – Relaxa. Eu vou visitar, cara. Eu te amo, carinha.

Então... Eu e Kyu. Eu sou o tal “herói” dessa história. Tenho o nome de Ven. Ven, nome estranho. Sempre achei. Enfim, se eu fosse me descrever fisicamente, diria que... eu sinceramente não lembro, desculpe. Sei lá. Me imagine eu como você, por que agora eu simplesmente não consigo lembrar de mim. Lembro minha situação, no mínimo. Tenho uma namorada, Manchester. A gente se ama ou coisa assim, e eu vou bem, agora morar com ela. Deixando Kyu na casa dos meus pais... O que é um saco. Kyu é bem pequeno, tem mais ou menos 1,50m de altura. Ele tem cabelos azuis (ele pintou, viu um daqueles “animes” e decidiu copiar, eu sei lá), e tem olhos da mesma cor. Ele sempre está com um sorriso no rosto, mas agora está triste. Está na cara dele. Até alguém bateu na porta e a abriu. Era Manchester... Descrevê-la era fácil. Ela tinha cabelos longos castanhos, e dois olhos vermelhos (lentes), e vestia sempre uma roupa preta, não importa qual. Ela era bem branquinha, então até que caía bem.

- Tudo pronto aí, amor? – Ela falava, com um sorriso no rosto.
- Sim. Já vou ir. Até, Kyu...

Olhar a cara dele agora era impossível. Lágrimas saíam do rosto dele, ele chorava muito. Ele não queria que eu fosse embora jamais... Mas infelizmente é o certo. Tenho que seguir minha vida. Seguir com a Manchester, minha futura noiva. E sem Kyu. Mas eu vou visitá-lo, claro. Iria... Se não fosse o que aconteceu. Um blackout na cidade inteira. Tudo estava escuro. Ouvi uns gritos da Manchester e uns do Kyu... Mas eu fiquei calmo. Tentei localizar os dois, mas... A luz voltou. E o que eu vi era aterrorizante. Eu não estava na minha casa. Manchester estava comigo, mas Kyu sumiu. Nós dois olhamos apavorados pela situação.

O que estava acontecendo?

Então. Kyu havia sumido e eu estava com Manchester, no lugar onde não era minha casa, após o blackout. A pergunta é – onde eu estava? E claro, um olhar no robô gigante que nos esperava lá fora – que tampava o por do sol quase inteiro dava uma pista bem óbvia – estávamos no futuro. Mas o que aconteceu, é o que eu me pergunto? Seja lá o que for, eu gosto desse lugar. Tinha um ar bem “futurístico” – com paredes metálicas e algumas bugigangas que nunca vi na vida. Mas tinha também, o sonho de todo mundo. Uma mochila a jato. Aquelas, que voam. Ou aparenta voar. Peguei ela em minhas mãos, feliz... Até que me lembrei de Kyu. Ele nesse futuro pode não ser bom.

- Amor... onde estamos? – Perguntava Manchester, olhando pros lados. Ela não parecia preocupada, e sim curiosa.
- Assumo que no futuro. – Respondo, ainda olhando a mochila. Kyu. – Temos que encontrar o pivete. O meu irmão.
- Futuro? Você só pode estar brincando. Por que estamos no futuro?! – Boa pergunta que eu não sabia responder. Fiquei calado e pensando, olhando a mochila.

E eu não ia poder responder mesmo. O robô gigante que estava tampando o por do sol nos olhava. Literalmente, ele nos olhava. Seu corpo todo cinza, exceto pelas lentes negras em sua face, e a voz metálica e sem emoção que saía dele me dava medo. E ele dizia sempre o seguinte – “Intrusos detectados. Matar.” Será que ele se referia a nós dois? Bem, agora que eu estou lendo isso, é bem óbvio que sim. Ele estava andando em nossa direção, e chegou bem mais rápido do que parecia.

Ele quebrou o telhado de nossa “casa”, e seus visores apontavam para minha cara. Ele deu um soco enorme no chão, em minha direção. Felizmente, consegui desviar... Por um raspão. Manchester estava gritando, com razão. Peguei a mochila rapidamente e coloquei nas costas, e a ativei. Segurei Manchester com as duas mãos e comecei a voar no tal foguete mochila. Era de mais. Infelizmente, não consegui aproveitar tanto assim. O robô continuava a nos atacar, e segurar Manchester e voar ao mesmo tempo era complicado. Saí de casa e fui para a metrópole, onde o pôr do sol começava.

Eu fui cara a cara com o robô. Larguei Manchester num lugar seguro antes (um telhado de uma casa aleatória aí), e era eu contra ele. “Corri” em direção do visor dele, e lhe dei um soco bem dado. Ou daria, se não tivesse levado um soco metálico no estômago após sofrer a dor de socar metal bem forte. Meu corpo estava dolorido. Estava morrendo bem mais rápido do que eu pensava. “Destruir”, ele repetia. Estava ficando doido. Peguei a mochila e voei para onde estava Manchester e tentei pegá-la novamente, mas...

O robô daria outro soco. E dessa vez pegou em cheio...

Em Manchester.

Só de olhar aquela cena, só de descrevê-la, me dá uma tristeza infinita. A raiva estava me matando. Os olhos de Manchester estavam vazios, e todo seu corpo estava machucado. Ela era forte ou o robô não quis destruí-la em um milhão de pedaços e deixar seu corpo, para eu ficar olhando aterrorizado. Não sabia o que me concentrar.

- Amor! Amor, não se vá! Por... favor! Fique comigo! – Gritei desesperado. Lágrimas saíam dos meus olhos, e caíam nela... Ela não respondia. – Sorria para mim... Uma última vez. No mínimo, por favor...

E ela sorriu.

Mas o robô não tinha intenções de esperar o momento durar para sempre. Ele dava outro soco, que dessa vez me acertava em cheio. Fiquei na mesma situação que Manchester, mas ao contrário dela, não morri. Meu ódio não deixaria morrer sem vingança. Ativei a mochila e corri em direção ao robô, diretamente no visor dele. Dei o soco mais forte que consegui dar, e magicamente – o visor quebrou. Era feito de vidro. Quebrei o visor e entrei nele, deixando a mochila voar.

E eu vi o controlador da máquina. Aquele que matara Manchester, e aquele que eu mataria.

Era Kyu.