[Breaking Illusions] - Limbo -

Por alguns segundos, ela ficou em silêncio, admirando aquela peculiar, complexa e perfeitamente bela estrutura. E com esse foco, deu adeus ao senso e lógica de manter-se cuidadosa sobre o lugar. Era pra morrer? Que morresse. Era pra viver? O faria. Estava de saco cheio sobre tanto mistério, ainda mais quando viu a joça espelhada num pedestal. Correra, tipo, uns bons quilômetros pra encontrar um espelho? Puxa vida!

Bateu levemente o pé no chão, frustrada, e andou a passos firmes até o objeto. Direto. E se ele não fizesse nada também - pra variar... -, iria ter que explorar o local todo por si só. Ah, cara, uma ruiva definitivamente não tem paciência de Jó, e Natalie Chase muito menos.

Parou na frente do espelho.
O olhou.
E por fim, tentou tomá-lo em mãos.

Ok, palhaço Pennywase, apareça para nós.

Dor, tontura... Isso já estava ficando comum naquele lugar. Não era masoquista e a sensação era terrível, mas quando perdeu a consciência, questionou-se enfim durante quanto tempo aquele loop continuaria.

Suas pálpebras se entreabriram outra vez. Ergueu o tronco ao sertir a superfície fria e lisa no qual se deitava... E piscou algumas vezes. Novamente, nada aparentava vida. A diferença desta vez, era a predominância completa de água ou gelo.

Ela ergueu-se e olhou em volta. Seria impossível sair dai? Quer dizer, a frieza provavelmente a mataria antes que pudesse pensar em nadar na direção de alguma margem. Chegou a pensar em utilizar algum dos próprios companheiros, mas encolheu os ombros e enxotou a ideia. Era melhor não deixá-los nesta situação consigo, a menos que fosse estritamente necessário.

Ajeitou uma mecha rubra e ainda pensava num modo de locomover-se com aquela plataforma, antes de focar outras surgindo e formando uma trilha. Como... Uma trilha amarela para Oz. Ela suspirou e apertou levemente os próprios braços. Tinha jeito?

De uma em uma, ultrapassava-as, sempre hesitando sair da última em que pisara. Sempre cosntatando se não havia alguma armadilha ali.

Sempre com... Receio.

Morrer era uma coisa, mas levar seus pokémons junto de si era outra completamente diferente e, isso, ela definitivamente não poderia aceitar.

O frio que quase congelava-lhe os ossos em um afago sob sua espinha de nada auxiliava naquela viagem. Arrependeu-se de nenhum casaco estar consigo no momento. Não os levava... Mas, sinceramente, a partir de agora faria o possível para ter alguma destas preciosas peças sempre junto a si.

Após o que mais pareceram eternidades andando sob os pisos gélidos, primeiro ouviu a brisa.... E parou. Calou-se. Um novo som idêntico, e dessa vez uma voz ao longe, familiar. Mas... Familiar, de onde? A ruiva franziu o cenho com sutileza e concentrou-se.

Buscou a direção de onde a voz se originava e tentou decifrar o que ela lhe dizia.

Mas o que era aquilo agora?

Alguns segundos. O eco repetiu-se, e junto com ele o murmúrio de seu próprio nome. Estancou por um tempo e olhou em volta, pouco antes de aperceber-se da névoa que se erguia da própria natureza. Um suspiro suave escapou de seus lábios ao reparar na complicação que se dava ao tentar avançar o menor passo que fosse. Cruzou levemente os próprios braços em frente ao peito e os encolheu contra o tronco, esfregando a pele alva com suavidade em busca do mínimo aquecimento.

A outra presença também não passou despercebida e, sinceramente, este fato lhe agradava. Afinal, não desejava ser pega de surpresa por quaisquer outras coisas daquele lugar - que, aliás, nem sabia mais do que se tratava -. Passos. O vulto a alguns metros de distância de si própria, a névoa percorrendo e encobrindo o corpo do oposto ali. Natural? Duvidava. Nada ali era natural, não?

Ajeitou suavemente uma das mechas atrás da orelha e respirou profundamente, tentando distinguir a imagem de quem era ao apertar um pouco as pálpebras e forçar a visão.

- O que você quer?... Aliás; Quem é você?

A brisa fria percorria a área e o silêncio era apenas abafado pelo sopro gélido que brincava com as mechas avermelhadas da jovem. Os cachos rodopiavam suavemente no ar e o inicio da aproximação desconhecida fez-lhe recuar em torno de dois passos, tal como a inclinação que ocorrera a segundos atrás. Não compreendia o motivo da figura sombria calar-se e tampouco o lugar onde estava mas, duvidava que fosse algo tão comum quanto o que realmente parecia. Se mais da metade das coisas já a fizera simplesmente perder o chão, psíquica e fisicamente, não poderia ignorar que o máximo de cuidado era indispensável... E ainda mínimo.

Abriu um pouco mais os olhos quando a névoa pareceu clarear, embora não soubesse se apenas havia acostumado-se com a situação ou se tal empecilho realmente reduzira drasticamente. Porém, ao finalmente distinguir a imagem de sua aparência, a voz fora roubada de sua garganta. Os ombros caíram com suavidade... Baixou o olhar. Não. Não poderia permitir-se enganar, não? Só poderia ser mais uma ilusão. Gabriel... Gabriel não estaria ali. Ele não seria capaz de fazer todas essas coisas com a área... Mas, pensando bem, que provas existiam que realmente era a culpa do loiro ali presente?

O olhar desviado não permitiu-lhe reparar na aproximação cada vez maior e mais rápida do outro, e seu equilíbrio quase findou-se por completo ao ter de suportar o peso do loiro e ver-se envolvida por seus braços. Lentamente, apoiou as mãos em seu peito e pensou em abraçá-lo também...

Mas não. Aquele não era o loiro. Não poderia ser, céus! ...Até mesmo por aquele gesto de carinho. Não, não conseguia acreditar que ele realmente faria algo do tipo dirigido à si. Ou que sequer estaria ali, um lugar completamente inóspito, até onde pudera ver.

Seu olhar fitou as mechas alheias e a bochecha alva ao virar levemente a face para tentar fitá-lo.

Quem ou o que era aquela criatura, afinal?